Bienal de São Paulo: artes visuais em coreografia

C² vai ao maior evento de arte do Brasil e mostra o espaço que o país ocupa no cenário artístico mundial

Quando pensamos em Arte, em especial aquela considerada erudita, geralmente nossas referências nos remetem a museus como o Louvre, D’Orsay, Prado, MoMA e a cidades como Paris, Londres, Madri e Nova York. Erroneamente, julgamos que o Brasil não pertence a esse circuito e esquecemos que, por aqui, há alguns dos museus mais importantes do mundo, como Museu de Arte de São Paulo (MASP), Museu de Arte Moderna (MAM/SP), Inhotim (MG), Museu Oscar Niemeyer (MON/PR). Além disso, sediamos um dos mais importantes eventos de Artes Plásticas do mundo, a Bienal de Arte de São Paulo. 

A história da Bienal está intimamente ligada aos museus MASP e MAM e aos nomes de Assis Chateaubriand e Ciccillo Matarazzo. Ao visitarmos a 35ª Bienal de São Paulo – Coreografias do Impossível, que ocorreu entre os dias 6 de setembro e 10 de dezembro no Pavilhão de Exposições do Parque Ibirapuera, nos aproximamos da história desses museus, dessas pessoas e mesmo da cidade de São Paulo. 

O evento, criado em 1951, já na sua 1ª edição, se concretiza como um dos eventos mais importantes da Arte Contemporânea mundial. Em 1947, o jornalista Assis Chateaubriand, também responsável pela chegada da TV ao Brasil, em 1950, juntamente com Pietro Maria Bardi, fundou o Museu de Arte de São Paulo. O período pós-guerra fez com que países da Europa abrissem mão de parte de seus preciosos acervos, como tentativa de uma recuperação econômica, após a devastação causada pela 2ª Guerra Mundial (1939 – 1945). Assim o museu pode adquirir obras de artistas de diferentes períodos e estilos, tais como: Botticelli, Perugino, Goya, El Greco, Max Ernest e Chagall, inicialmente. Nos anos de 1950, nomes como Manet, Renoir, Cézanne, Matisse, Van Gogh, Degas, Picasso, entre outros, passaram a integrar o acervo, colocando o museu como um dos mais importantes depositórios da Arte mundial.

Em 1948, Ciccillo Matarazzo, amigo de Chateaubriand, juntamente com sua esposa Yolanda Penteado, funda o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, cuja proposta inicial era a de criar um espaço para a divulgação das novas tendências das Artes Plásticas mundiais. Obras de artistas como Alexander Calder, Samson Flexor, Kandinsky, Joan Miró, Picabia e Vasarely fizeram parte das primeiras exposições e nomes como Picasso, Anita Malfatti, Giorgio Morandi, Alfredo Volpi e Di Cavalcanti, compuseram o acervo inicial do museu, inclusive com doações do próprio Ciccillo, da esposa Yolanda e do milionário norte americano Nelson Rockfeller. O surgimento desses dois grandes empreendimentos, na área das artes plásticas, colocou o Brasil no roteiro de locais importantes para o conhecimento e a preservação da história da Arte. Por iniciativa e com recursos de Matarazzo, ainda no final dos anos de 1940, iniciou-se o processo de realização da 1ª Bienal de Arte de São Paulo.

A 1ª edição foi realizada entre os dias 20 de outubro e 23 de dezembro de 1951 e reuniu mais de 1850 obras, de 729 artistas de 25 países. Entre esses artistas estavam Anita Malfatti, Fernand Léger, Livio Abramo, Max Webber, René Magritte, Lasar Segall, Victor Brecheret, Goeldi. Vale destacar que, na 2ª Bienal, a obra Guernica (1937), de Pablo Picasso, esteve presente.

Cartaz da 1ª edição da Bienal (Foto/Divulgação Bienal de São Paulo)

Túnel do tempo

Em 2023, realizou-se a 35ª Bienal de São Paulo, tendo como título “Coreografias do Impossível”, reunindo 121 artistas e 1100 obras, da pintura clássica à performance digital. Como tantos outros eventos, essa edição foi a primeira realizada no período pós pandemia. Em 2021, a 34ª edição contou com uma participação menos expressiva e um público que ainda utilizava máscaras contra o Covid-19. A volta a uma Bienal com circulação sem restrições foi conduzida por um coletivo de curadores formado por Diane Lima (Brasil), Grada Kilomba (Portugal), Hélio Menezes (Brasil) e Manuel Borja-Villel (Espanha). Uma curadoria definida a partir da problematização: como corpos em movimento, coreografam possibilidades em um mundo de impossibilidades?

Ao adentrarmos no pavilhão da Bienal, entramos num espaço onde Arte, Ciência e Tecnologia comungavam para nos responder sobre as infinitas possibilidades que nos são apresentadas. Impossível não tentar, pelo menos, ressignificar a nossa percepção sobre o mundo no qual nos movimentamos e vamos definindo, no dia a dia, coreografias que nos permitem o deslocamento físico, social, emocional. Logo de início, um longo segmento de trilhos nos é dado como possibilidade, na obra do artista ganense Ibrahim Mahama (1987).

Para os curadores “… os trabalhos expostos desafiam o impossível de incalculáveis formas e jogam luz sobre as questões mais urgentes do nosso tempo”. Justamente sobre essas questões, a partir de uma ótica quase hollywoodiana, é que o artista filipino Kidlat Tahimik (1942), apresenta uma gigantesca instalação em madeira (especialmente), que retrata, como num filme, o choque entre culturas. Talvez, esta tenha sido a obra mais impactante de toda Bienal, face as suas extensões físicas e ideológicas. 

Obra da 35ª Bienal (Foto/Nelson Silva Junior)

C² na Bienal

Enfim, a Bienal de São Paulo, desde sua 1ª edição, tornou-se referência para apreciadores, pesquisadores e profissionais das Artes Visuais. Milhares de pessoas circularam durante os 96 dias, nos três pisos (andares azul, roxo e verde) projetados por Oscar Niemeyer (1907 – 2012), um marco da arquitetura moderna brasileira. Assim como coletivos de todos os continentes visitam a Bienal de São Paulo, neste ano o Conexão Ciência esteve lá junto com um grupo formado por mais de 40 estudantes e professores de Artes Visuais, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Durante algumas horas participamos das “Coreografias do Impossível”. 

Para alunos e professores, a visita à 35ª Bienal foi um momento único em suas vidas acadêmica e pessoal. A professora Adriana Rodrigues Suarez, doutora em Educação e coordenadora do curso de Licenciatura em Artes Visuais, destaca que a experiência que a Bienal traz para a formação profissional dos alunos reside, principalmente, “na relação dos olhares que o evento proporciona, quando confronta o olhar acadêmico e em formação, com os olhares múltiplos de artistas tão diferentes, seja em estilo, técnicas, poéticas e em especial, histórias de vida”. A professora ainda destaca a forma como a natureza, em suas diferentes manifestações, e a tecnologia compartilham o espaço da produção artística, trazendo para os alunos e professores novas possibilidades de produzir e fruir.

Adriana Suarez e a obra de Kidlat Tahimuk (Foto/Nelson Silva Junior)

Já a professora de Artes e arquiteta, Jeanine Mafra Migliorini, destaca que uma visita à Bienal possibilita “a partir das diferentes produções, ali presentes, estabelecer uma relação entre nosso dia a dia e nossas origens, enquanto seres que vivem a coletividade dos espaços”.

Para o acadêmico de Artes Visuais, Leonardo Rasmussen, bolsista do C² na área de ilustração, “a parte mais legal de ir até esses espaços é que, muitas vezes, temos a visão de que eles são inalcançáveis. Coisas que vemos em livros durante a escola etc. Mas, não. É um local ‘tátil’, acessível e, no caso da Bienal, muito receptivo. O tempo que passei lá dentro, ainda que pouco [para a Bienal], me mostrou diferentes visões de como a Arte pode interagir e mexer com o público.”

A formanda Tamiris Tabella destaca que “Coreografias do Impossível” não apenas desafiou as fronteiras tradicionais da Arte, mas, também, proporcionou um espaço para diálogos profundos sobre questões contemporâneas, provocando debates e reflexões intensas. “Ao final da minha visita, fiquei encantada e inspirada, desejando visitar novamente o espaço, e levando comigo um tesouro de memórias visuais e inspirações, que continuarão a ressoar em minha mente por muito tempo. Portanto, a visita à Bienal de São Paulo de 2023 foi sem dúvida, uma experiência que deixará uma marca permanente na minha jornada artística e cultural.”

Se não teve oportunidade de ir presencialmente à Bienal, não se preocupe. Pode acessar tudo sobre a 35ª edição em: https://35.bienal.org.br/.  

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Texto:
Nelson Silva Junior
Revisão: Silvia Calciolari
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Mariana Muneratti
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

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