Prevenir nunca sai de moda

Na semana do Dia Mundial sem Tabaco, o Conexão Ciência mostra que é preciso combater o Tabagismo entre os jovens, nas escolas

Uma tarde movimentada na escola. Dois monitores do Projeto Tabagismo do Museu Dinâmico Interdisciplinar (Mudi), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), o acadêmico de Educação Física, Felipe Lisboa Conegero, e aluna de Biomedicina Bianca Celin Possari, montavam banners explicativos para demonstrar as consequências do tabaco, enquanto uma estudante, pré-adolescente, se manifesta e diz: “Minha avó fumava e perdeu a perna! E meu tio também fuma, então vou levar dois folders com essas informações para que eles vejam como fumar faz mal”, avisou Mariana, de 11 anos. 

Essa é mais uma ação do Projeto do Mudi, que sai da sede do Museu e vai até a comunidade mudar hábitos. Desta vez, o foco foram alunos do Colégio Estadual Adaile Maria Leite, de Maringá. A demanda urgente em conscientizar os alunos foi observada pela direção do Colégio em parceria com a Unidade Básica de Saúde (UBS) Parigot de Souza, de Maringá. 

Para a pedagoga da escola, Alessandra Oliveira, “a proposta do Projeto Tabagismo atendeu a uma necessidade que a comunidade escolar vinha apresentando, principalmente quanto ao uso do cigarro eletrônico, hábito que cresceu muito entre os estudantes”, ressaltou. 

Cresceu tanto, que a acadêmica Bianca foi bombardeada com inúmeros questionamentos das crianças. Diante de tantas dúvidas, fez um alerta sobre o consumo do cigarro comum e chamou atenção para o narguilé/vape, muito conhecido e citado pelos alunos. “O uso dessas formas alternativas pode gerar dependência química e psicológica e causar várias doenças, devido à composição do produto, que também inclui nicotina”, destacou a acadêmica. 

A pedagoga Alessandra reforçou que houve uma desmistificação do uso desses produtos. Segundo ela, muitos colegas, pais e alunos acreditavam que a utilização do vape e do narguilé não causava mal à saúde e que o compartilhamento desses objetos também não oferecia riscos. “Os acadêmicos da UEM nos trouxeram conhecimento científico sobre um tema importante e atual”, completou. 

A intervenção se deu com o objetivo de orientar e conscientizar as crianças de 10 a 14 anos sobre os malefícios do tabagismo e, como dissemos, a interação e curiosidade foi enorme, as perguntas foram bem focadas e mostraram que esse é um tema atual que precisa ser amplamente discutido, especialmente, com os jovens.  

Por que o público mais jovem é tão refém desse “modismo”? 

Não podemos fechar os olhos para uma série de fatores que influenciam a experimentação do narguilé e do cigarro eletrônico: curiosidade, pressão do grupo de amigos e do ambiente no qual se está inserido, como a própria escola. 

E os dados justificam essa preocupação. Conforme pesquisas realizadas pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (IPEC), no Paraná, o consumo de cigarro eletrônico subiu de 0,9% para 3,4%. No Brasil, o uso quadruplicou entre 2018 e 2022.

Apesar de ser proibida a venda do cigarro eletrônico no Brasil, crianças e adolescentes conseguem adquirir esses apetrechos com facilidade pela internet ou em tabacarias que não controlam a venda para menores de idade.

De acordo com acadêmico Felipe Conegero, o outro facilitador da intervenção, essas novas tendências são vendidas como algo inofensivas e até indicadas para quem deseja parar de fumar. Escondido por cores, sabores e uma variedade de outros disfarces, muitas vezes, em forma de caneta ou pendrive, estes objetos se transformam em grandes armadilhas para conquistar novos consumidores.

Os perigos que rondam essa nova “moda” 

A professora Vanessa Veltrini, do Departamento de Odontologia (DOD/UEM), realiza investigações em Patologia Bucal e Estomatologia, com ênfase para o diagnóstico do câncer de boca. Ela conta que alguns danos agudos à saúde têm sido relatados em pesquisas, mas os efeitos tardios só poderão ser verificados em longo prazo. 

A docente Vanessa Veltrini é Mestre em Diagnóstico Bucal, Radiologia Odontológica e Imaginologia e Doutora em Patologia Bucal pela Universidade de São Paulo (USP) (Arquivo Pessoal)

Vanessa explica que o uso dessas formas alternativas, sobretudo o vape, pode comprometer as funções de vários órgãos e sistemas, como o pulmonar, o cardiovascular e o imunológico. Os usuários podem apresentar náusea, vômito, dor de cabeça, tontura, asfixia, queimaduras, irritação do trato respiratório superior, tosse seca, ressecamento dos olhos e mucosas, além de asma, bronquite e outras inflamações de natureza alérgica das vias aéreas. Que lista, heim? Mas há, também, indícios de aumento no risco para o desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como de pulmão e de boca. 

A professora esclarece que o cigarro convencional impacta no sistema cardiovascular devido à presença da nicotina e causa câncer devido ao alcatrão, que altera as células por indução de mutação no DNA. “O narguilé contém ambos, já o vape não contém alcatrão, mas acredita-se que a vaporização de outras substâncias presentes possa exercer efeito cancerígeno similar”, explicou.

Você pode conferir abaixo uma análise comparativa entre vape e narguilé, tema de pesquisa da professora Vanessa, juntamente com outros docentes do Departamento de Odontologia. 

Painel comparativo de estudos sobre os impactos do cigarro eletrônico e narguilé na saúde bucal  (Foto/Arquivo pessoal) 

Já o narguilé, de origem árabe, utiliza mecanismos de filtragem e exala aroma agradável. Por conta disso, seu consumo tem sido visto como menos nocivo à saúde. Para a professora Vanessa, porém, ele é tão ou mais prejudicial que o cigarro convencional. A dependência química vem da nicotina, cujos níveis são muito variáveis no narguilé. “Além disso, o consumo do narguilé se dá de modo prolongado”, destacou. 

“Uma sessão que dura, em média, 20 a 80 minutos, corresponde à exposição a todos os componentes tóxicos presentes na fumaça de 100 cigarros”, ressalta o acadêmico Felipe. 

O papo é muito sério! O pessoal que curte o narguilé precisa ficar atento! As substâncias químicas contidas nessa “curtição” são similares às do cigarro comum e podem gerar danos graves à saúde. 

Será que vale a pena entrar nessa “moda”? 

Penso que é melhor prevenir do que remediar! Tenha CONSCIÊNCIA! 

Glossário: 

Nicotina: alcalóide do grupo orgânico das aminas. É encontrada nas folhas de tabaco e é a principal responsável pela dependência do fumo, além de causar prejuízos à saúde.

Alcatrão: uma mistura de substâncias betuminosas, espessas, escura e de forte odor, que se obtém da destilação de certas matérias orgânicas, principalmente de carvão, ossos e de algumas madeiras resinosas. Destes tipos, o alcatrão de hulha é o produto mais conhecido e comercializado, geralmente por siderúrgicas.

Vaporização: processo de passagem de uma substância do estado líquido para o estado gasoso. Nesse processo, as moléculas do líquido são afastadas de seus aglomerados, e isso requer energia.

EQUIPE DESTA PÁGINA
Texto: Débora Arcanjo
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Mariana dos Santos Muneratti
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes objetivos ODS: