Pare para pensar: você acorda de noite e precisa se locomover no quarto, mas não quer acender a luz para não despertar de vez. Como enxergar faz falta, apenas para dar alguns passos até o banheiro, por exemplo. Tem muita gente por aí, preocupada com as pessoas que têm limitação da visão. No Paraná, há quem seja referência neste cenário.
Com mais de 13 anos de existência, o Banco de Olhos Regional de Londrina (BOL), do Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina (HU-UEL) se firmou nacionalmente, contribuindo significativamente para que o Sistema Estadual de Transplantes do Paraná seja reconhecido em todo o Brasil como um dos principais em termos de doação e transplante. No caso do BOL, o foco são as doações de córneas.
Idealizado por docentes do setor de oftalmologia, o projeto teve início em abril de 2011 para suprir as demandas de pacientes que necessitavam de transplantes de córnea na época. Na linha de frente estão os doutores Sérgio Pacheco e Antonio Marcelo Casella e a doutora e atual coordenadora Ana Paula Oguido. Com o apoio da Universidade Estadual de Londrina e do Hospital Universitário Regional Norte do Paraná, o Programa foi idealizado e estruturado.
Atualmente, o BOL atende a cinco Regionais de Saúde do Paraná, sendo elas: a 17ª Regional de Saúde de Londrina, 16ª Regional de Apucarana, 18ª Regional de Cornélio Procópio, 19ª Regional de Jacarezinho e 22ª Regional de Ivaiporã, que representam mais de 2 milhões de habitantes.
A iniciativa também conta com um trabalho anual de formação de profissionais, por meio de cursos ministrados por médicos que fazem parte da equipe do Banco de Olhos de Londrina. As capacitações são oferecidas pelo Hospital Universitário de Londrina.
Como funcionam as doações
As doações de córnea só são possíveis após a morte do doador e requerem a autorização da família, além da presença de duas testemunhas. O doador pode ter tido morte por parada cardíaca ou encefálica. A retirada do órgão deve ser realizada em até seis horas. Após a remoção, a córnea é enviada ao Banco de Olhos, onde é mantida em meio de preservação por 14 dias.
A médica responsável pelo BOL detalha que “a córnea chega ao Banco de Olhos e é analisada, classificada e disponibilizada para a fila única de transplante. Com segurança, é distribuída pela Central Estadual de Transplantes, localizada em Curitiba”, explica Ana Paula Oguido,
Toda córnea deve estar dentro das normas e resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde, que prevê todos os exames necessários para que o paciente que a aguarda volte a enxergar.
Além das análises e do controle oferecido pelo BOL, todo o processo de doação é monitorado pelo Ministério da Saúde, por meio do Sistema Nacional de Transplante, reconhecido como um dos maiores e melhores sistemas de transplantes de órgãos, tecidos e células do mundo, com 95% dos transplantes financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O histórico do doador também é alvo de rigorosa avaliação, já que o processo de seleção e validação envolve desde o histórico pessoal dele, como doenças prévias, hábitos de vida, até os atendimentos médicos recentes. Além disso, o monitoramento de eventos e reações adversas são de responsabilidade do Banco e dos hospitais em termos de vigilância no processo de doação e transplante.
“Prestar atenção a cada detalhe é super importante no manuseio, na preservação e no controle de qualidade das córneas”, enfatiza Ana Paula.
Fila de espera
Em 2011, no seu primeiro ano de funcionamento (a partir de abril), o Banco de Olhos de Londrina recebeu 74 doações de globos oculares. Devido às restrições da pandemia de Covid-19, as doações caíram de 307, em 2019, para 76 em 2020. Em 2023, o número voltou a subir, chegando a 273, número considerado satisfatório.
Apesar do alto número de cirurgias feitas, a quantidade de pessoas aguardando um órgão continua grande. Atualmente, a fila em Londrina e região tem um tempo de espera em torno de seis a oito meses. A lista conta com 260 pacientes aguardando um transplante e varia entre as regionais em que o BOL atua. No Brasil, 26 mil pessoas aguardam uma córnea para voltar a enxergar. No Paraná, mais de 1 mil pessoas encontram-se na lista de espera.
A modernização é fator crucial para a diminuição da fila de espera no Estado, segundo o farmacêutico do Banco de Olhos de Londrina, Fernando Pagotto, há projetos encaminhados que visam capacitar ainda mais o Banco de Olhos.
“O BOL é um projeto que segue as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa], com o objetivo de manter a segurança das doações de córnea em Londrina e região. Essas mudanças ainda estão sendo alvo de estudo, mas devemos ter isso como uma prioridade. A meta é alcançar a fila zero. Trabalhamos para que o paciente possa receber uma córnea em menos de dois meses de espera, para que possamos atender pessoas de outras regiões do Estado’’, registra Pagotto.
Desafios e Futuro
No Paraná, o Banco de Olhos do Hospital Universitário de Londrina é o único serviço público do Estado. É referência nacional ao lado do Banco de Olhos de São Paulo (Sorocaba) e do Rio Grande do Sul (Porto Alegre). As demais unidades paranaenses estão em Curitiba, Maringá e Cascavel e todas são privadas.
Ana Paula comenta os desafios de coordenar o único Banco de Olhos público do Estado. ‘’As dificuldades são inúmeras como em todo serviço público e o Banco de Olhos de Londrina também não sai da regra, o subfinanciamento e a carga de ser o único serviço público para esse nicho nos sobrecarrega’’.
Apesar de todas as dificuldades, o BOL é referência em qualidade e segurança. ‘’É um privilégio estar como médica responsável técnica deste serviço desde a sua inauguração. Há 13 anos ajudamos o Estado a preservar e continuar cuidando e investindo nos órgãos de tamanha importância e qualidade para a população’’, complementa a doutora.
Junto com Ana Paula, o Banco de Olhos de Londrina possui em sua equipe os especialistas em oftalmologia Plínio Ângelo Boin Filho, que atua como responsável técnico substituto; os plantonistas Isadora José; Elaine Regina Ferrarezi Sampaio e Luiz Ângelo Rossato, outro plantonista do time.
Serviço
Local: Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina (HU/UEL)
Endereço: Avenida Robert Koch, 60
Telefone: (43) 3371-2708
EQUIPE DESTA PÁGINA
Texto: Fábio Augusto
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Camila Lozeckyi
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior
Glossário
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