Ciência cidadã: de todos, para todos

Compartilhar ciência pode transformar o ensino em uma experiência mais prática e colaborativa

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Nós vivemos em um mundo compartilhado. Para agilizar a ida ao trabalho, por exemplo, combinamos caronas com os colegas que moram ao longo do caminho. Quando queremos ler um livro sem ter que pagar por ele, podemos emprestá-lo da biblioteca. Durante uma viagem legal, compartilhamos várias fotos nas redes sociais. Até o vestuário entra nesse ciclo de compartilhamento. Afinal, atire a primeira pedra quem nunca pediu uma roupa emprestada para algum amigo ou alguém da família!

E se eu te contasse que a ciência também pode ser compartilhada? O professor das séries finais do ensino fundamental Cleyton Machado de Oliveira descobriu isso desde cedo. 

Quando criança, ele sempre foi curioso por temas científicos do dia-a-dia. Na época do ensino médio, uma professora do Colégio de Aplicação Pedagógica (CAP), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), o levou para conhecer o departamento de geografia e biologia da universidade. Toda aquela curiosidade se juntou ao encanto pelo ambiente acadêmico. Já estava decidido: ele iria ingressar na graduação em geografia e seguir a carreira da pesquisa, que era a menina dos olhos de Cleyton naquela época.

Mas, como todos sabemos, a vida é um filme sem roteiro: já graduando na UEM, Cleyton percebeu que adorava apresentar seminários e mostrar às outras pessoas as informações que resultavam das pesquisas dele. O encanto por compartilhar a ciência o fez trocar o bacharelado pela licenciatura. Mas, na prática, o ambiente acadêmico ainda não é nem um pouco aberto ao compartilhamento, e Cleyton sempre se incomodou com essa lacuna entre a sociedade e o conhecimento produzido na universidade. 

Quando ele começou a atuar como professor do ensino básico, percebeu que tinha feito a escolha certa. O interesse pela pesquisa acadêmica e a paixão em aprender e ensinar se encontraram na carreira pedagógica. Cleyton tinha, agora, a chance de contribuir para que os alunos se aproximassem do conhecimento produzido na universidade: “Como professor, estou em constante formação, e, durante toda minha carreira docente, procurei adaptar os planos de aula para que os alunos percebessem que eles são os protagonistas do processo de aprendizagem. Tirá-los da posição de espectadores e transformá-los em aprendizes ativos mostrou que eles também podem participar da produção e compartilhamento de conhecimento, assim como os pesquisadores nas universidades.”

Foi no ano passado que as duas paixões se uniram: compartilhar ciência e ensinar com abordagens alternativas. Ele e 24 alunos do CAP – UEM passaram a integrar o time do Programa Interinstitucional de Ciência Cidadã na Escola (Picce). A iniciativa tem como objetivo promover a ciência cidadã nas escolas do Paraná e Cleyton trabalha, desde dezembro de 2022, com os protocolos de caracterização da qualidade do solo e segurança no trânsito no entorno escolar. O solo e o trânsito no entorno do CAP foram analisados e documentados pelos alunos. O professor aponta que a proposta do Picce é perfeita para a abordagem de ensino dele. “Os alunos articulam as experiências da ciência cidadã com o conhecimento científico aprendido em sala de aula. Além disso, eles fazem uma ponte entre a escola e a família. Vários alunos analisaram o solo em casa, por exemplo.”

Aposto que a esta altura você deve estar se perguntando: o que é ciência cidadã? Esta é uma prática que se baseia na colaboração voluntária entre cientistas amadores e profissionais para realizar a coleta de dados utilizados em pesquisas científicas. Seu foco é proporcionar abordagens ativas, nas quais os participantes possam sentir na prática parte da experiência que os próprios pesquisadores têm em sua rotina.

Essa forma alternativa de ensinar a ciência é um dos principais pilares para a iniciativa do Picce, iniciado em 2022, graças à parceria entre sete instituições de ensino superior do Paraná e a Secretaria Estadual de Educação. O objetivo principal do projeto é levar esse aprendizado na prática para as salas de aula, tornando os estudantes  e professores co-produtores da ciência – de bônus ainda deixando as aulas bem mais interessantes para os dois lados.

Até o momento, ainda em suas fases iniciais, o programa elaborou um conjunto de 16 protocolos que norteiam os temas a serem abordados pelo projeto. Os tópicos vão desde práticas para ajudar na reciclagem de lixo na natureza, passando por estudos de monitoramento do mosquito Aedes aegypti e práticas de educação no trânsito. 

Ciência cidadã 

A Ciência Cidadã faz parte do conceito chamado de Ciência Aberta, movimento que ocorre mundialmente permitindo um maior acesso dos cidadãos ao mundo científico. Esse envolvimento da comunidade dentro da produção de pesquisas colabora para a desmistificação de que toda a ciência precisa ser algo extremamente difícil de se entender. Quem aí nunca desejou que a física fosse um pouco menos abstrata ou que a geografia não se baseasse apenas naquele mapa da sala de aula?

Além disso, a participação colabora para que os resultados sejam muito mais diversos graças ao maior mapeamento de informações. Um cientista apenas não seria capaz de fazer sua catalogação em tantos espaços ao mesmo tempo, mas essa rede de tecnologia torna isso uma possibilidade.

As expectativas para o futuro do projeto contam com a possibilidade de uma maior abrangência para atuar dentro de cada vez mais de escolas por todo o estado. Confira abaixo a fala de Rodrigo Arantes Reis, coordenador do Picce e Pró-reitor de extensão da UFPR, a respeito dos planos para as próximas fases do programa:

🎧Rodrigo Arantes Reis, coordenador do Picce, fala sobre as expectativas para o futuro do projeto

O Picce faz parte do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) Educação Para Ciência, financiado pela Fundação Araucária, que conta atualmente com quase 30 NAPI ativos. O arranjo tem por objetivo justamente incentivar a participação de professores e alunos na coleta de dados científicos, utilizando os resultados obtidos para melhorar a realidade na qual estão inseridos. Ou seja, um “match” perfeito para a Ciência Cidadã.

Outros projetos

Ficou interessado pela proposta da Ciência Cidadã? Saiba que existem outros projetos e plataformas nas quais você mesmo pode participar com seu lado cientista!

A Plataforma de Ciência Cidadã (Civis) e o Sistema de Informação Sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr) são atualmente os principais sites quando o assunto é a Ciência Aberta. Juntos, os dois somam quase 150 projetos cadastrados nos quais qualquer um pode participar de forma online, independente de idade ou localização geográfica.

O protocolo varia de acordo com o projeto escolhido, mas para a maioria dos casos você pode participar através dos aplicativos ou sites informados. Em resumo, para ser um cidadão cientista basta ter um dispositivo com acesso à internet e muita curiosidade para explorar o mundo à sua volta.

Caso queira conhecer melhor a Ciência Cidadã ou o Picce, ouça o podcast produzido pelo Conexão Ciência – C² a respeito do assunto. Nele o estudante Jailson Rodrigo Pacheco conta para a gente mais sobre suas experiências com essa essa ciência compartilhada e os resultados que observou até o momento.

EQUIPE DESTA PÁGINA
Texto: Isadora Monteiro Silva e Luiza da Costa
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Leonardo Rasmussen
Edição de áudio: Luiza da Costa
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes objetivos ODS:

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