Você com certeza já se deparou com instruções como “não deixe água parada” ou “evite acúmulo de lixo no quintal”. Estamos constantemente sendo bombardeados por informações desse tipo, seja na escola, no trabalho e, até mesmo, quando sentamos no sofá para assistir aquele programa na televisão, de modo que ouvir sobre dengue já não é mais uma novidade. Muito se fala sobre as ações necessárias para evitar a reprodução dos mosquitos. Mas você realmente conhece essa arbovirose e seu mosquito transmissor, o Aedes aegypti?
Antes de tudo vamos entender o que é uma arbovirose e porque a dengue é classificada como tal.
São compreendidas como arbovirose as doenças virais que são transmitidas por artrópodes, nesse caso o Aedes aegypti. Já o vírus causador da doença, a dengue, chamamos de arbovírus.
Mas deixando de lado todos esses termos técnicos, podemos simplificar apenas dizendo que a dengue é uma doença viral, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
Os sintomas são diversos e variam de acordo com os quatro sorotipos existentes, podendo manifestar dores musculares e nas articulações, cansaço, febre alta, náuseas e dores de cabeça, e manchas vermelhas na pele.
“Geralmente, um quadro de dengue leva à imunização natural para o sorotipo que acometeu a pessoa, mas não para os outros”, informa a professora entomóloga Elaine Soares, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Nesse sentido, é possível ser contaminado novamente por um vírus, quando infectado por outro sorotipo.
É imprescindível estar atento ao número de plaquetas – célula que possibilita a coagulação sanguínea – presentes na corrente sanguínea de quem é contaminado. Durante a manifestação da doença, é comum ocorrer a queda de plaquetas. Mas quando esta é acentuada, caracterizando-se como dengue hemorrágica ou dengue grave, pode levar a sangramentos nos tecidos internos, afetando órgãos como o fígado.
A dengue hemorrágica pode ocorrer em qualquer sorotipo, porém apresenta maior incidência na segunda vez em que se é contaminado pelo vírus.
Vale lembrar que os sintomas listados acima podem ser observados em outras doenças e, por isso, é muito importante procurar um médico. “Algo importante sobre a dengue é que, apesar da febre e dor, nem todos os analgésicos são recomendados. Alguns ainda podem ser perigosos, como é o caso das aspirinas e alguns anti-inflamatórios”, alerta Soares.
A nova vacina que imuniza contra o vírus da dengue já está sendo disponibilizada para alguns grupos prioritários. Ficou curioso sobre a nova vacina? O C² preparou uma matéria explicando tudo! Não fique de fora e clique aqui para saber tudo sobre essa novidade.
Agora vamos conhecer o mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti, popularmente conhecido como “mosquito da dengue”. O Aedes não passa despercebido, suas patas articuladas listradinhas são facilmente reconhecidas, mas o que de fato sabemos sobre esse artrópode para além da dengue?
O mosquito é frequentemente associado por causar a dengue, mesmo que também seja transmissor de outras duas doenças, o Zika Vírus e a Chikungunya. Mas você sabia que nessa história toda de dengue ele não passa de um mero coadjuvante? Isso porque o que causa a doença é o vírus da dengue, o mosquito é apenas o vetor, ou seja, o agente que transmite a doença quando infectado.
O Aedes se infecta com a doença quando se alimenta do sangue de uma pessoa portadora do vírus. A partir desse momento, o mosquito também está contaminado e tem capacidade de transmitir o vírus para pessoas saudáveis.
Outra informação importante é que a transmissão da doença ocorre sempre pela fêmea do Aedes, porque ela depende do sangue humano para o pleno funcionamento do seu organismo e desenvolvimento dos seus ovos.
Portanto, nem todo Aedes aegypti é transmissor da doença, uma vez que, para isso, é necessário que o mosquito, antes de tudo, seja fêmea, e já esteja contaminado no momento da picada. Logo, sem o vetor para transmitir a doença, o vírus se torna inofensivo.
Para saber quais ações devem ser realizadas para combater a doença é necessário entender o ciclo de vida do mosquito transmissor, desde os ovos e desenvolvimento das larvas, até o momento em que ele chega à fase adulta. O esquema abaixo ilustra o ciclo de vida do Aedes:
Depois de compreender o ciclo de vida do Aedes aegypti e como ele transmite a dengue, é essencial discutirmos estratégias para combater e prevenir essa ameaça. Afinal, a dengue é um problema de todos nós! Cada pequena ação pode ter grande impacto e a conscientização é o primeiro passo.
Para isso, o combate ao mosquito é essencial. Estar atento se não há foco de água parada em sua residência, especialmente nos dias mais quentes e chuvosos, que tendem a criar pontos artificiais de acúmulo de água. Para além disso, Soares recomenda que a vizinhança verifiquem suas calhas, caixas d’ água abertas, piscinas sem tratamento, vasos de planta e, principalmente, lixo abandonado, como sacos plásticos, pacotes, copos e entre outros objetos que possam acumular água.
“Devemos ficar de olho nos detalhes, como nos espaços pequenos e artificiais, onde não existem outras larvas de mosquito ou predadores, pois são neles em que as fêmeas do mosquito gostam de depositar seus ovos”, explica Soares. Por isso, a importância de limpar e verificar esses pontos de acúmulo de água, a melhor maneira de evitar a doença é com a eliminação dos criadouros, para que assim, o ciclo do mosquito seja interrompido e seu nascimento não aconteça.
Outra medida é o uso de roupas que minimizem a exposição da pele durante o dia – período em que os mosquitos estão mais ativos – podendo ajudar a prevenir picadas, principalmente em tempos de surtos. Repelentes e inseticidas são outra opção, desde que utilizados conforme as instruções do rótulo. Mosquiteiros oferecem excelente proteção para quem dorme durante o dia, como bebês, pessoas acamadas e trabalhadores noturnos.
Todos os anos milhares de brasileiros são afetados pela dengue, não deixe os cuidados para depois, é importante sempre estar alerta e nunca relaxar. Soares ressalta: “as arboviroses humanas não têm como serem transmitidas sem dois fatores: pessoas infectadas e populações de mosquitos com competência para transmiti-la”. Assim, quanto maior a quantidade de pessoas contaminadas e de mosquitos disponíveis, maior será a transmissão da doença.
No Paraná, existem algumas ações de conscientização sobre a dengue e o Aedes aegypti. Vamos conhecer algumas!
LabMóvel ZikaBus
Esse micro-ônibus bonitinho e fofo da imagem, o ZikaBus, tem uma grande importância para a conscientização sobre o Aedes aegypti no Paraná. O micro-ônibus integra o programa Laboratório Móvel de Educação Científica (LabMóvel), da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Tudo começou em 2018, com os professores Emerson Joucoski e Rodrigo Reis, que idealizaram um ônibus itinerante que tornasse mais acessível o acesso a informações sobre o mosquito Aedes aegypti. O projeto de fato só saiu do papel no segundo semestre do ano seguinte, 2019, mas mal começou e já foi preciso parar, o inimigo agora era outro. Em razão da pandemia, o ZikaBus ficou um período inativo, retornando às atividades em 2022.
Por meio de visitas interativas, o micro-ônibus leva conhecimento, diversão e ciência aos alunos da educação básica de escolas de Curitiba e região. O ZikaBus é bem organizado e aproveita todos os espaços possíveis, dispondo de três televisões, que exibem vídeos produzidos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), parceira do projeto, maquetes no chão do ônibus e banners informativos na lateral.
O micro-ônibus itinerante desempenha um importante papel na divulgação científica, conscientização e combate do Aedes aegypti, sobretudo em períodos de surto da doença, por meio da transmissão de informações de qualidade e simplificada, tornando o conhecimento acessível para as crianças e adolescentes, público alvo do projeto.
Para além disso, a ideia do projeto acontecer justamente em um micro-ônibus foi para que a informação chegasse em locais de difícil acesso, que a universidade ainda não consegue alcançar, como bairros e cidades afastadas dos grandes centros urbanos. Nas palavras do bolsista supervisor do projeto, Cleiton de Oliveira: “Uma bela ferramenta para essa conscientização e combate [do Aedes], e também para a divulgação científica, divulgar o que tem na universidade, mostrar para as pessoas que tem universidade pública e de qualidade […] para as crianças e os adolescentes se interessarem em ir para essas universidades”.
As visitas escolares são adaptadas de acordo com a demanda das escolas. Oliveira explica que, normalmente, o projeto propõe que todas as turmas da escola tenham a oportunidade de conhecer o micro-ônibus interativo, mas nesse caso, em razão do grande volume de alunos, o tempo de visita é mais curto.
O projeto possui três modelos de visita: curta, longa e de evento. O último só ocorre em feiras científicas, como por exemplo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O modelo escolhido depende da quantidade de turmas que irão conhecer o ZikaBus, não podendo exceder o número de quatro dias de visita em cada escola.
A ação itinerante é dividida em duas etapas. Na primeira etapa, é realizada uma conversa com os alunos, dentro do ZikaBus. Já a segunda etapa ocorre fora do micro-ônibus, na chamada “mesa de análise”, que nada mais é que uma mesa que tem espécies reais dispostas, larvas, ovos e a pupa do mosquito. Utilizando um mini microscópio, os estudantes conseguem visualizar o material e, até mesmo, identificá-lo!
O projeto conta com nove bolsistas. São eles que fazem a mediação com os alunos, guiando-os na visita e transformando todos os termos técnicos sobre o assunto em informação acessível e de qualidade.
Monitoramento do Habitat do Aedes aegypti
Outro projeto em desenvolvimento é o “Monitoramento do Habitat do Aedes aegypti”, realizado pelas professoras biólogas Ana Alice Eleuterio e Elaine Soares, da UNILA, que monitora os habitats do mosquito transmissor da dengue. O objetivo da iniciativa é implementar o protocolo “Mosquito Habitat Mapper” (Mapeamento de habitats de mosquitos), desenvolvido pelo programa GLOBE.
Por trás desse monitoramento, há diversos pesquisadores e estudantes que atuam em campo, coletando dados, que, posteriormente, são inseridos no GLOBE Observer. Este aplicativo permite a coleta de dados georreferenciados sobre possíveis criadouros de mosquitos, bem como a coleta e identificação de larvas de mosquitos.
O projeto faz parte do “Programa Institucional de Ciência Cidadã na Escola” (PICCE), lançado em 2022, que representa uma inovação educacional ao integrar alunos e professores da rede pública na construção de projetos de pesquisa e coleta de dados científicos. O programa visa não apenas educar, mas capacitar cidadãos cientistas a explorar e compreender seu ambiente de forma prática e significativa, alinhado aos objetivos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
A execução ocorre nas escolas, por meio de cursos de formação de professores, que combinam atividades práticas e teóricas para serem utilizadas com seus alunos, visando transmitir conhecimentos por meio da experimentação. Dentro desse contexto, a armadilha de ovitrampa é um experimento prático apresentado aos estudantes. Mas o que exatamente é uma ovitrampa e como ela funciona?
Elas são dispositivos que simulam o ambiente propício para a reprodução do Aedes aegypti. São compostas por vasos pretos com água e uma palheta de madeira que facilita o depósito de ovos pelas fêmeas do mosquito. Esse método permite aos pesquisadores e alunos monitorar rapidamente a presença de mosquitos na área, sem permitir que eles se desenvolvam.
Mas, atenção! “Uma armadilha abandonada é um criadouro”, alerta Soares, que ressalta a responsabilidade por trás da aplicação dessa atividade nas escolas e da necessidade de comprometimento dos estudantes em estarem atentos ao experimento.
A formação científica das crianças também busca substituir a ideia de “vilão assustador”, que as pessoas têm em relação ao Aedes. A ideia é que passem a compreender que ele é apenas uma entidade biológica, que pode vir a transmitir a doença.
“E é isso que nós passamos para as crianças, para quando elas forem para as comunidades e estarem no seu dia a dia, possam entender o que é esse organismo [Aedes aegypti] e como ele funciona”, conta Soares.
A aplicação dessa atividade ocorre, principalmente, com turmas do ensino fundamental II e ensino médio, em oito semanas de desenvolvimento de atividades e monitoramento do experimento. No fim da coleta de dados e acompanhamento das armadilhas, as turmas organizam os resultados e realizam uma apresentação para escola sobre os aprendizados que adquiriram durante a formação. Apresentando, fecham com chave de ouro seus novos conhecimentos sobre a dengue e o mosquito Aedes aegypti.
As professoras Ana Alice Eleuterio e Elaine Soares estão envolvidas, ainda, em outros projetos na área, como a criação de cursos de formação para professores e a elaboração de materiais didáticos. Elas também são participantes ativas do projeto Ecologia e Saúde, cujo objetivo é divulgar os projetos científicos desenvolvidos na universidade em que trabalham, incluindo o mapeamento mencionado anteriormente. A divulgação ocorre por meio de textos publicados no portal Ecologia e Saúde, e postagens no instagram @ecologiaesaude.
A professora Elaine Soares também está à frente do projeto “Conhecendo Aedes aegypti e Aedes albopictus”, desenvolvido em conjunto com outros dois professores, Carmen Gamarra e Cristian Rojas, ambos da UNILA.
Juntos, os projetos apresentados aqui, assim como tantos outros desenvolvidos no nosso Estado, somam forças no combate à dengue e comprovam que a ciência continua sendo a principal arma para a promoção da saúde e bem estar. Mais do que isso, evidenciam que a universidade pública e de qualidade é uma forte aliada na produção do conhecimento e no desenvolvimento de tecnologias inovadoras.
Essa não é a primeira vez que o C² apresentou projetos que atuam no combate à dengue. Clique aqui para conferir o que já preparamos sobre o tema!
EQUIPE DESTA PÁGINA
Texto: Sabrina Heck e Yumi Aoki
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Guille Cordeiro
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior
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A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:
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