Ciência em rede por um futuro alimentar mais sustentável

A ilustração mostra o ciclo do morango, desde o cultivo até o consumo. Dividida em quatro partes coloridas (azul, verde, vermelho e amarelo), retrata morangos na planta, em destaque e dentro de uma tigela com salada de frutas variadas, como kiwi, banana e manga. A arte, vibrante e estilizada, foi criada por Guille Cordeiro para o projeto Conexão Ciência.
O NAPI Rede AgroBioAlimentar fortalece inovação e sustentabilidade, com uma importante parceria internacional do outro lado do oceano

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Esta é a história de como uma rede de ideias e pessoas se transformou em uma força concreta para a ciência e para a sociedade. 

Era 2020 e, em meio às incertezas de uma pandemia, um movimento começava a ganhar forma nos campi da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). A parceria com o Instituto Politécnico de Bragança (IPB), de Portugal, já havia rendido frutos importantes — intercâmbios, programas de dupla diplomação e projetos conjuntos. Mas agora a proposta era ainda mais ambiciosa: construir uma rede de pesquisa capaz de atravessar o oceano e unir, de forma transdisciplinar, diferentes saberes.

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UTFPR lançou o edital que abriria caminho para essa nova fase. Inicialmente, esperava-se selecionar seis propostas internas. Mas a resposta surpreendeu: dez projetos foram aprovados, espalhados por várias áreas do conhecimento em seis campi da universidade. 

Com o apoio inicial da UTFPR e, depois, com o reforço da Fundação Araucária, nascia o NAPI Rede AgroBioAlimentar — uma rede construída sobre três pilares: as Ciências Agrárias (agro), a Biotecnologia (bio) e a Ciência dos Alimentos (alimentar), num esforço de juntar mundos que nem sempre se cruzavam dentro das universidades, aproximando pesquisadores, estudantes, laboratórios e produtores rurais.

Mapa Paraná com todos os campi da UTFPR Descrição: A imagem apresenta um infográfico com o título “Mapa Paraná com todos os campi da UTFPR” e mostra um mapa do estado do Paraná com destaque para as cidades onde estão localizados os campi da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Cada campus está marcado com hexágonos que contêm números coloridos, os quais representam diferentes subprojetos vinculados ao NAPI Rede AgroBioAlimentar, um arranjo de pesquisa e inovação. No canto direito superior da imagem, há o logotipo da Rede AgroBioAlimentar, composto por três ícones que remetem às áreas temáticas abordadas. A parte inferior do infográfico é dividida em três faixas diagonais coloridas, que representam as áreas de atuação dos subprojetos: azul para Agronomia, Tecnologia e Inovação para Agropecuária, Fitotecnia, Zootecnia e afins; verde para Biotecnologia, Processos Biotecnológicos Aplicados e Bioenergia; e vermelho para Ciências de Alimentos, Tecnologia dos Alimentos, Engenharia de Alimentos e afins. Cada uma dessas áreas tem uma lista numerada com os subprojetos correspondentes. Por exemplo, na área azul, estão os subprojetos sobre tecnologias de produção de alimentos orgânicos, biomonitoramento ambiental na produção animal e o uso de IoT em sistemas de irrigação no oeste do Paraná. Na área verde, há projetos envolvendo antimicrobianos naturais, bioinoculantes, sulfato de condroitina extraído de tilápias e banco de germoplasma microbiano. Já na área vermelha, são destacados projetos relacionados a fontes naturais de aditivos alimentares, desenvolvimento de agentes antimicrobianos e dispositivos eletrônicos para análise de compostos voláteis. O mapa indica a distribuição desses subprojetos pelos campi da UTFPR, com os números coloridos nos hexágonos correspondendo aos projetos descritos nas legendas.

Hoje, o NAPI reúne dez subprojetos em execução, cada um com seu próprio coordenador e equipe. As atividades são descentralizadas e fortemente interdisciplinares, fortalecendo conexões internas e fomentando novas colaborações.

A estrutura em movimento

No câmpus de Dois Vizinhos, o subprojeto coordenado pelo professor Paulo César Conceição — “Protagonismos em Tecnologias de Produção de Alimentos Orgânicos” — avança rapidamente. A equipe, composta por professores, estudantes de iniciação científica, mestrado e doutorado, está sendo reforçada com a contratação de bolsistas de pós-doutorado e técnicos de campo, viabilizados pelos recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).

A chamada pública em questão destinou R$132 milhões para apoiar projetos de Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) voltados à agricultura familiar, dentro do Programa MCTI de Segurança Alimentar e Erradicação da Fome. Entre os 38 projetos contemplados, destacou-se a proposta submetida pela equipe da UNEPE Orgânica, sob coordenação do professor Paulo César, que conquistou a segunda melhor nota entre aproximadamente 170 propostas avaliadas.

O projeto aprovado destinará cerca de R$5 milhões ao desenvolvimento de ações em agroecologia e agricultura orgânica. Segundo Paulo, o objetivo central é “promover a produção de alimentos saudáveis da agricultura orgânica com adoção de tecnologias e conhecimentos embasados no saber científico e popular, mediante integração com empresas privadas e entidades parceiras”.

A imagem mostra cinco homens posando para uma foto atrás de uma bancada com sementes organizadas em pequenos potes transparentes. Eles participam da 3ª Semana dos NAPIs, evento que ocorreu nos dias 11 e 12 de março, conforme indicado na faixa frontal da bancada. No centro da bancada há materiais de divulgação e premiações, incluindo uma placa com o título “Incubada Destaque dos NAPIs no Paraná” e uma caixa com a marca CAMP Sementes. Um dos homens veste camisa com a logomarca da UTFPR, indicando uma possível parceria acadêmica. Ao fundo, banners institucionais reforçam o contexto científico e de inovação.
Estande do NAPI Rede AgroBioAlimentar na 3a Semana dos NAPIs. Da esquerda para direita: Maicon Reginatto (CAMP Sementes), Prof. Dr. Rodrigo Eduardo Catai (UTFPR-Reitoria), Prof. Dr. Alexandre Alfaro (UTFPR – Campus Francisco Beltrão), Prof. Dr. Eder da Costa dos Santos (UTFPR – Campus Francisco Beltrão) e Prof. Dr. Paulo Cesar Conceição (UTFPR – Campus Dois Vizinhos) (Foto/NAPI PRFC)

Dentro do NAPI Rede AgroBioAlimentar, o projeto atua junto a cinco comunidades rurais, com participação ativa de empresas como a Gebana Brasil e a CAMP Sementes, além de entidades de pesquisa como o IDR-Paraná. “A intenção é gerar alternativas de renda para a agricultura familiar por meio de cursos, projetos conjuntos e ações coordenadas”, explica Paulo.

Outro foco estratégico do trabalho é o desenvolvimento e disseminação dos sistemas de plantio direto orgânico de grãos, hortaliças e dos Sistemas Agroflorestais (SAFs). “Essas estratégias demandam tempo para resultar em mudanças efetivas nas comunidades. A nossa rede foi pensada justamente para garantir a transferência tecnológica e a adoção sistemática dessas práticas”, completa o professor.

A parceria internacional 

O Instituto Politécnico de Bragança (IPB) é um parceiro central do NAPI. A UTFPR mantém um dos maiores programas de intercâmbio com o IPB, com mais de mil estudantes brasileiros já enviados a Portugal. A colaboração, dentro do Arranjo, fortaleceu ainda mais essa relação, especialmente nas áreas de Ciências Agrárias, Engenharias e Biotecnologia.

A imagem mostra três mulheres posando para uma foto em frente ao muro do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), especificamente da Escola Superior Agrária, em Portugal. Elas estão em pé sobre um calçamento de pedra, sorrindo para a câmera.
As professoras do NAPI Rede AgroBioAlimentar na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), em Portugal. Da esquerda para direita: Profa. Dra. Mayka Reghiany Pedrão (UTFPR – Campus Londrina), Profa. Dra. Patricia Dayane Carvalho Schaker (UTFPR – Campus Toledo) e Profa. Dra. Elisângela Düsman (UTFPR – Campus Francisco Beltrão) (Foto/Arquivo pessoal)

Para o coordenador-geral do NAPI, o professor Rodrigo Catai, a aproximação internacional é estratégica. “Tanto é que, em 2023, organizamos o I Workshop Internacional AgroBioAlimentar UTFPR-IPB, com apoio da Fundação Araucária”, ressalta Catai. 

Esta importante parceria amplia as fronteiras do conhecimento e proporciona aos pesquisadores brasileiros acesso a novas abordagens, metodologias e tecnologias de ponta que potencializam os projetos em andamento. A expertise do IPB em áreas como biotecnologia, engenharia e ciências aplicadas se traduz em contribuições essenciais para a criação de soluções inovadoras, como bioinoculantes, bioprotetores naturais e tecnologias sustentáveis de produção de alimentos.

Outro reflexo significativo é a internacionalização do conhecimento científico produzido no Paraná e no Brasil. A forte conexão com o IPB fortalece a competitividade global dos pesquisadores brasileiros, atraindo novos investimentos e aumentando a visibilidade da ciência nacional no cenário internacional.

A sustentabilidade também ocupa um lugar central na colaboração entre a UTFPR e o IPB. Os projetos desenvolvidos buscam soluções que minimizem o desperdício de alimentos e promovam práticas agrícolas sustentáveis. Confira o infográfico!

A imagem é um infográfico colorido e vibrante, com fundo rosa e elementos gráficos que lembram frutas ou flores tropicais em tons de laranja, verde e vermelho. Em destaque, sobre um fundo verde-água em forma de polígono, está o título “Sustentabilidade na Rede AgroBioAlimentar”, seguido por uma lista de seis eixos temáticos que sintetizam os focos de atuação da rede no campo da sustentabilidade. O primeiro item é “Processamento”, que se refere à utilização de antimicrobianos naturais. O segundo, “Monitoramento”, menciona o uso de sensores e tecnologia IoT (internet das coisas) na irrigação. Em seguida, “Agricultura” aparece como área voltada à expansão da produção orgânica. O quarto item é “Logística”, que trata da análise de compostos voláteis. O quinto eixo é “Colaboração”, enfatizando a articulação entre academia, governo e setor privado. Por fim, o item “Economia Circular” aborda o aproveitamento de resíduos.

Entre as iniciativas, destaca-se a inovação no processamento de alimentos, com o desenvolvimento de antimicrobianos naturais capazes de conservar carnes e outros produtos, prolongando sua vida útil e reduzindo perdas. Outra frente é o investimento em tecnologias de monitoramento e controle, utilizando sensores e a Internet das Coisas (IoT) para otimizar a irrigação e monitorar as condições de produção agrícola, aumentando a eficiência e diminuindo o desperdício. 

Também é foco da parceria a promoção da agricultura sustentável, por meio da expansão da agricultura orgânica e do desenvolvimento de tecnologias específicas para este setor. Além disso, há a inovação no transporte e armazenamento de alimentos, com a criação de dispositivos para análise de compostos voláteis, o que melhora a logística e aumenta a segurança alimentar. 

Resultados e impactos 

Em três anos, o NAPI Rede AgroBioAlimentar acumulou resultados expressivos: cerca de 30 artigos científicos publicados, quatro pedidos de patente protocolados e dois registros de software concedidos. O Arranjo também reforçou sua atuação junto ao setor produtivo e à sociedade, expandindo a interação com associações de produtores e pequenas empresas.

A imagem mostra um homem usando fones de ouvido e segurando um microfone enquanto faz uma apresentação diante de uma tela digital. Na tela, aparece o título "DISSEMINAÇÃO DOS RESULTADOS" e logotipos de instituições espanholas de pesquisa agrícola, como ICA (Instituto de Ciências Agrárias) e IRNASA. O texto na tela destaca que os institutos visitados são equivalentes à Embrapa no Brasil. O homem está em um ambiente iluminado naturalmente, com vegetação visível do lado de fora da janela.
O professor Alexandre Alfaro apresenta o NAPI na 3a Semana dos NAPIs (Foto/NAPI PRFC)

No caso do projeto coordenado em Dois Vizinhos, o impacto já ultrapassa as fronteiras do Paraná: com atuação prevista em mais seis estados, a iniciativa deve beneficiar diretamente cerca de 6 mil agricultores familiares.

Perspectivas futuras

O plano do NAPI é duplo: garantir a renovação da Rede como uma plataforma robusta de pesquisa e inovação e, ao mesmo tempo, fortalecer a autonomia e o impacto social de seus subprojetos. Segundo o professor Rodrigo, a ampliação das redes de colaboração fortalece a troca de conhecimentos e aumenta a capacidade de inovação. “A ideia é manter e fortalecer essa parceria com o Instituto Politécnico de Bragança, mas também trazer mais instituições para fazer parte do Arranjo”, projeta.

  • Alimentos como frutas, carnes e embutidos nos laboratórios do NAPI Rede AgroBioAlimentar.
  • Alimentos como frutas, carnes e embutidos nos laboratórios do NAPI Rede AgroBioAlimentar.
  • Alimentos como frutas, carnes e embutidos nos laboratórios do NAPI Rede AgroBioAlimentar.
  • Alimentos como frutas, carnes e embutidos nos laboratórios do NAPI Rede AgroBioAlimentar.
  • Alimentos como frutas, carnes e embutidos nos laboratórios do NAPI Rede AgroBioAlimentar.

Seja pela via da produção científica ou pelo apoio direto a produtores rurais, a Rede AgroBioAlimentar se firma como um exemplo de como a articulação entre diferentes áreas do conhecimento, em dois continentes, pode construir caminhos sólidos para uma ciência aplicada e inovadora.

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Texto:
Guilherme de Souza Oliveira
Revisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Guille Cordeiro
Supervisão de arte: Lucas Higashi
Edição Digital: Guilherme Nascimento

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