Esta é a história de como uma rede de ideias e pessoas se transformou em uma força concreta para a ciência e para a sociedade.
Era 2020 e, em meio às incertezas de uma pandemia, um movimento começava a ganhar forma nos campi da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). A parceria com o Instituto Politécnico de Bragança (IPB), de Portugal, já havia rendido frutos importantes — intercâmbios, programas de dupla diplomação e projetos conjuntos. Mas agora a proposta era ainda mais ambiciosa: construir uma rede de pesquisa capaz de atravessar o oceano e unir, de forma transdisciplinar, diferentes saberes.
A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UTFPR lançou o edital que abriria caminho para essa nova fase. Inicialmente, esperava-se selecionar seis propostas internas. Mas a resposta surpreendeu: dez projetos foram aprovados, espalhados por várias áreas do conhecimento em seis campi da universidade.
Com o apoio inicial da UTFPR e, depois, com o reforço da Fundação Araucária, nascia o NAPI Rede AgroBioAlimentar — uma rede construída sobre três pilares: as Ciências Agrárias (agro), a Biotecnologia (bio) e a Ciência dos Alimentos (alimentar), num esforço de juntar mundos que nem sempre se cruzavam dentro das universidades, aproximando pesquisadores, estudantes, laboratórios e produtores rurais.

Hoje, o NAPI reúne dez subprojetos em execução, cada um com seu próprio coordenador e equipe. As atividades são descentralizadas e fortemente interdisciplinares, fortalecendo conexões internas e fomentando novas colaborações.
A estrutura em movimento
No câmpus de Dois Vizinhos, o subprojeto coordenado pelo professor Paulo César Conceição — “Protagonismos em Tecnologias de Produção de Alimentos Orgânicos” — avança rapidamente. A equipe, composta por professores, estudantes de iniciação científica, mestrado e doutorado, está sendo reforçada com a contratação de bolsistas de pós-doutorado e técnicos de campo, viabilizados pelos recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).
A chamada pública em questão destinou R$132 milhões para apoiar projetos de Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) voltados à agricultura familiar, dentro do Programa MCTI de Segurança Alimentar e Erradicação da Fome. Entre os 38 projetos contemplados, destacou-se a proposta submetida pela equipe da UNEPE Orgânica, sob coordenação do professor Paulo César, que conquistou a segunda melhor nota entre aproximadamente 170 propostas avaliadas.
O projeto aprovado destinará cerca de R$5 milhões ao desenvolvimento de ações em agroecologia e agricultura orgânica. Segundo Paulo, o objetivo central é “promover a produção de alimentos saudáveis da agricultura orgânica com adoção de tecnologias e conhecimentos embasados no saber científico e popular, mediante integração com empresas privadas e entidades parceiras”.

Dentro do NAPI Rede AgroBioAlimentar, o projeto atua junto a cinco comunidades rurais, com participação ativa de empresas como a Gebana Brasil e a CAMP Sementes, além de entidades de pesquisa como o IDR-Paraná. “A intenção é gerar alternativas de renda para a agricultura familiar por meio de cursos, projetos conjuntos e ações coordenadas”, explica Paulo.
Outro foco estratégico do trabalho é o desenvolvimento e disseminação dos sistemas de plantio direto orgânico de grãos, hortaliças e dos Sistemas Agroflorestais (SAFs). “Essas estratégias demandam tempo para resultar em mudanças efetivas nas comunidades. A nossa rede foi pensada justamente para garantir a transferência tecnológica e a adoção sistemática dessas práticas”, completa o professor.
A parceria internacional
O Instituto Politécnico de Bragança (IPB) é um parceiro central do NAPI. A UTFPR mantém um dos maiores programas de intercâmbio com o IPB, com mais de mil estudantes brasileiros já enviados a Portugal. A colaboração, dentro do Arranjo, fortaleceu ainda mais essa relação, especialmente nas áreas de Ciências Agrárias, Engenharias e Biotecnologia.

Para o coordenador-geral do NAPI, o professor Rodrigo Catai, a aproximação internacional é estratégica. “Tanto é que, em 2023, organizamos o I Workshop Internacional AgroBioAlimentar UTFPR-IPB, com apoio da Fundação Araucária”, ressalta Catai.
Esta importante parceria amplia as fronteiras do conhecimento e proporciona aos pesquisadores brasileiros acesso a novas abordagens, metodologias e tecnologias de ponta que potencializam os projetos em andamento. A expertise do IPB em áreas como biotecnologia, engenharia e ciências aplicadas se traduz em contribuições essenciais para a criação de soluções inovadoras, como bioinoculantes, bioprotetores naturais e tecnologias sustentáveis de produção de alimentos.
Outro reflexo significativo é a internacionalização do conhecimento científico produzido no Paraná e no Brasil. A forte conexão com o IPB fortalece a competitividade global dos pesquisadores brasileiros, atraindo novos investimentos e aumentando a visibilidade da ciência nacional no cenário internacional.
A sustentabilidade também ocupa um lugar central na colaboração entre a UTFPR e o IPB. Os projetos desenvolvidos buscam soluções que minimizem o desperdício de alimentos e promovam práticas agrícolas sustentáveis. Confira o infográfico!

Entre as iniciativas, destaca-se a inovação no processamento de alimentos, com o desenvolvimento de antimicrobianos naturais capazes de conservar carnes e outros produtos, prolongando sua vida útil e reduzindo perdas. Outra frente é o investimento em tecnologias de monitoramento e controle, utilizando sensores e a Internet das Coisas (IoT) para otimizar a irrigação e monitorar as condições de produção agrícola, aumentando a eficiência e diminuindo o desperdício.
Também é foco da parceria a promoção da agricultura sustentável, por meio da expansão da agricultura orgânica e do desenvolvimento de tecnologias específicas para este setor. Além disso, há a inovação no transporte e armazenamento de alimentos, com a criação de dispositivos para análise de compostos voláteis, o que melhora a logística e aumenta a segurança alimentar.
Resultados e impactos
Em três anos, o NAPI Rede AgroBioAlimentar acumulou resultados expressivos: cerca de 30 artigos científicos publicados, quatro pedidos de patente protocolados e dois registros de software concedidos. O Arranjo também reforçou sua atuação junto ao setor produtivo e à sociedade, expandindo a interação com associações de produtores e pequenas empresas.

No caso do projeto coordenado em Dois Vizinhos, o impacto já ultrapassa as fronteiras do Paraná: com atuação prevista em mais seis estados, a iniciativa deve beneficiar diretamente cerca de 6 mil agricultores familiares.
Perspectivas futuras
O plano do NAPI é duplo: garantir a renovação da Rede como uma plataforma robusta de pesquisa e inovação e, ao mesmo tempo, fortalecer a autonomia e o impacto social de seus subprojetos. Segundo o professor Rodrigo, a ampliação das redes de colaboração fortalece a troca de conhecimentos e aumenta a capacidade de inovação. “A ideia é manter e fortalecer essa parceria com o Instituto Politécnico de Bragança, mas também trazer mais instituições para fazer parte do Arranjo”, projeta.
Promover a excelência em pesquisa, desenvolvimento e inovação na área AgroBioAlimentar é um dos principais objetivos do Arranjo (Foto/Arquivo pessoal) Promover a excelência em pesquisa, desenvolvimento e inovação na área AgroBioAlimentar é um dos principais objetivos do Arranjo (Foto/Arquivo pessoal) Promover a excelência em pesquisa, desenvolvimento e inovação na área AgroBioAlimentar é um dos principais objetivos do Arranjo (Foto/Arquivo pessoal) Promover a excelência em pesquisa, desenvolvimento e inovação na área AgroBioAlimentar é um dos principais objetivos do Arranjo (Foto/Arquivo pessoal) Promover a excelência em pesquisa, desenvolvimento e inovação na área AgroBioAlimentar é um dos principais objetivos do Arranjo (Foto/Arquivo pessoal)
Seja pela via da produção científica ou pelo apoio direto a produtores rurais, a Rede AgroBioAlimentar se firma como um exemplo de como a articulação entre diferentes áreas do conhecimento, em dois continentes, pode construir caminhos sólidos para uma ciência aplicada e inovadora.
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Texto: Guilherme de Souza Oliveira
Revisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Guille Cordeiro
Supervisão de arte: Lucas Higashi
Edição Digital: Guilherme Nascimento
A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:

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