Cerca de 100 mil pessoas vêm se mobilizando em todo o país em conferências municipais, estaduais, regionais de Ciência, Tecnologia e Inovação, além de encontros livres e temáticos. Tudo isso começou no segundo semestre de 2023 e teve ampla participação social. A ideia era que, agora, em junho, o resultado das discussões e as propostas apresentadas ajudassem a construir a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI) para os próximos dez anos. Estava agendada para o período entre 4 e 6 de junho a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, organizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em Brasília (DF). Porém, o evento foi adiado. Vai ocorrer de 30 de julho a 1º de agosto.
A Conferência não acontecia há 14 anos. A 5ª Edição foi lançada pelo presidente Lula, em 12 de julho de 2023, por meio do Decreto Presidencial n.º 11.596. O objetivo é discutir junto à sociedade as necessidades na área de CT&I e propor recomendações para a elaboração de uma nova Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI), que deverá ser seguida na próxima década. A nova estratégia vai substituir a de 2016-2023. A ideia é revisar esses programas, planos e resultados analisados.
Porém, em solidariedade à situação de emergência climática no Rio Grande do Sul e para que todos os esforços no momento sejam concentrados na reconstrução do Estado, a CNT&I ganhou uma nova data.
“A situação do Rio Grande do Sul exige que o Governo Federal e todas as entidades nacionais, além da sociedade civil estejam concentrados em unir esforços para superar as dificuldades impostas pela emergência climática e a comunidade de CT&I do país também está focada em contribuir da melhor forma para que o povo gaúcho possa superar esse momento tão difícil”, justificou a ministra de CT&I, Luciana Santos, quando anunciou o adiamento.
A conferência de Brasília vai encerrar, enfim, um processo, que começou ano passado. Mais de 200 encontros foram realizados em todo o Brasil durante a fase preparatória para a etapa nacional. Os eventos aconteceram de dezembro de 2023 a maio de 2024 e reuniram mais de 70 mil pessoas em conferências livres, temáticas, municipais, nos 26 estados, além do Distrito Federal, e regionais, demonstrando o compromisso do Governo Federal em construir um espaço de diálogo para refletir sobre o papel da CT&I no país.
Eventos temáticos
Para o povo do Paraná, a caminhada começou na Conferência Temática de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social, realizada na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), entre 14 e 16 de março.
O Museu Dinâmico Interdisciplinar, da Universidade Estadual de Maringá (MUDI/UEM), o Conexão Ciência – C², o Programa Institucional de Ciência Cidadã na Escola (PICCE) e a Agência Escola, os dois últimos ligados à Universidade Federal do Paraná (UFPR), estavam presentes, representando um dos Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação. O chamado de NAPI Paraná Faz Ciência (PRFC) contribuiu com as atividades dos dois dias de palestras e workshops, junto com cerca de 1500 pessoas de todo o país.
A equipe discutiu, especialmente, a importância da divulgação científica para a valorização da ciência e dos cientistas, com objetivo de garantir que a cultura científica chegue até às pessoas. Uma das contribuições ao documento final da Conferência foi em relação à necessidade de formação de novos divulgadores.
As sugestões propostas pelos integrantes do NAPI foram acolhidas pela mesa de divulgação da ciência do evento, formada pela diretora de Ciência, Tecnologia e Educação Científica, Juana Nunes; a coordenadora de Popularização de Ciência e Tecnologia do Ministério, Luana Meneguelli; e a Coordenadora de Educação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Cláudia Maya.
O grupo ainda participou de um segundo evento, nos dias 15 e 16 de março: a “Conferência Temática de Meninas e Mulheres na Ciência: por uma agenda de equidade e interseccionalidade”. Entre os temas debatidos estavam mais espaços de poder para as mulheres, além de questões de gênero, raça e acessibilidade na academia e nas ações e editais de pesquisas.
Os eventos contaram com a participação da ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos; da deputada federal pelo Rio de Janeiro, Jandira Feghali (PC do B), e do secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social, do MCTI, Inácio Arruda.
Conferência estadual
No mês seguinte, foi a vez da 5ª Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação do Paraná, que ocorreu nos dias 3 e 4 de abril, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em Curitiba.
A iniciativa foi do Governo do Estado, por meio da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), com apoio da Secretaria da Inovação, Modernização e Transformação Digital (SEI), da Fundação Araucária e da UTFPR. O evento contou, ainda, com a parceria das demais instituições de ensino superior públicas e privadas paranaenses.
Cerca de 600 pessoas, entre estudantes, professores, pesquisadores, empresários e representantes da sociedade civil organizada participaram das discussões. O tema foi “Justiça, Sustentabilidade e Desenvolvimento”. Aliás, ele foi adotado para todas as conferências estaduais e regionais de CT&I.
O objetivo do evento foi debater as prioridades para a Ciência, Tecnologia e Inovação, a fim de impulsionar o desenvolvimento social e econômico sustentável com base no conhecimento. Os debates abrangeram diferentes eixos temáticos: financiamento e a gestão da pesquisa e inovação; juventude, formação de recursos humanos qualificados; reindustrialização e incentivo para inovação nas empresas; programas e projetos estratégicos; defesa, valorização e difusão científica e tecnológica; e desenvolvimento social e inclusão.
O diretor da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná, Luiz Marcio Spinosa, destacou a importância do debate participativo para o fortalecimento de políticas públicas na área de ciência, tecnologia e inovação. “Os encontros vão permitir que a sociedade defina as demandas para o futuro da ciência, tecnologia e inovação, contribuindo com a comunidade científica para coletar o máximo de ideias e sugestões”, afirmou.
Regional Sul
Depois da mobilização estadual, foi a vez dos paranaenses se fazerem presentes na Conferência Regional, em Curitiba. 411 pessoas participaram da 5ª Conferência Regional Sul de Ciência, Tecnologia e Inovação. O Encontro contou com a comunidade científica e de outros segmentos do Paraná, do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. O evento ocorreu entre 25 e 26 de abril, também na UTFPR.
Os participantes discutiram as propostas para a ciência em cinco grupos de trabalho: reindustrialização e apoio à inovação empresarial; programas e projetos estratégicos; desenvolvimento social; popularização da ciência; e expansão do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Uma das partes mais importantes das Conferências é, exatamente, a formação dos Grupos de Trabalho (GTs). Eles são realizados para aprofundar a discussão acerca dos temas da Conferência e das palestras. “Divididos por eixos temáticos específicos, os grupos são compostos por, no mínimo, um coordenador e um relator, que se reúnem junto com os demais para analisar documentos, promover debates, identificar problemas, apresentar propostas e elaborar relatórios com suas conclusões e recomendações. Em seguida, acontecem as plenárias, momento que as propostas levantadas pelos GTs são apresentadas e analisadas para depois serem colocadas em votação, podendo ser aprovadas ou rejeitadas. Posteriormente, essas propostas irão contribuir para a formulação de políticas públicas na área discutida”, explica a assessora da Fundação Araucária e membro do NAPI Paraná Faz Ciência, Débora Sant’Ana. A professora também foi uma das organizadoras da Conferência Estadual e trabalhou ao lado da pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UTFPR, Claudia Xavier.
Durante o encontro, foi apresentado o Relatório Nacional da Juventude, um documento organizado a partir de seminários e conferências regionais, que envolveram mais de 2 mil estudantes. O documento aponta ações essenciais para cada etapa do ensino, como: a criação de laboratórios em todas as escolas públicas; o apoio à permanência dos estudantes na graduação, incluindo moradia, transporte e alimentação; e a inclusão dos estudantes de pós-graduação na política previdenciária.
A ativista socioambiental Ingrid Sateré Mawé, que representou a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) na conferência, destacou a importância da ciência para as mudanças climáticas e a preservação de matas e rios. “As discussões precisam reforçar a importância da restauração da natureza, em parceria com a população, governo e indústrias, a exemplo do bioma da Mata Atlântica”, afirmou.
Políticas
A cerimônia de abertura contou com a participação remota da ministra Luciana, e com as seguintes presenças: do secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Inácio Arruda; do secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, Aldo Bona; do presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig; da diretora-geral da Secretaria de Estado da Inovação, Modernização e Transformação Digital (Sei), Jéssica Ieger; da secretária de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Simone Stülp; do diretor da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação de Santa Catarina, Diogo Wessling Quintino; entre outras autoridades dos três estados da Região Sul.
A diretora-geral da Secretaria de Estado da Inovação, Modernização e Transformação Digital (Sei), Jéssica Ieger, apontou a necessidade de se criar cada vez mais agências móveis de inovação para aproximar a ciência e a tecnologia do dia a dia da população. Além disso, ela comemorou “a participação do Paraná na organização de eventos importantes que vão contribuir para a definição de políticas públicas em nível estadual e nacional”.
O presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig, sugeriu que a Região Sul do país estabeleça estratégias de financiamento da CT&I permanentes, por meio do fortalecimento das fundações de apoio à pesquisa. “O Conselho das Fundações, o Confap, é uma das grandes novidades para organizar essas instituições. Além disso, é preciso não só determinarmos políticas nacionais, mas regionalizar algumas ações em CT&I”, enfatizou.
Orçamento
O secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, Aldo Bona, destacou a importância da estratégia nacional de CT&I no contexto de desenvolvimento do Brasil e do Paraná. Observou ainda que as discussões das Conferências podem e devem contribuir para a elaboração do Plano Plurianual, voltadas para uma economia com base no conhecimento.
“Estamos em um momento bem favorável da CT&I no Paraná. Temos investimentos recordes, 2% do orçamento estadual para Programas e Projetos na área, o que representa R$ 718 milhões. Os debates deste evento podem nos ajudar a definir onde aplicar esses recursos. Além disso, organizando as Conferências, estamos cumprindo o nosso papel de mostrar a importância que o Paraná e a Região Sul têm no Sistema Nacional de C&T”, destacou Bona.
O secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social, do MCTI, Inácio Arruda, fez um chamamento a estudantes, pesquisadores e todo o povo brasileiro para fazer “um reboliço” e garantir a retomada da CT&I como a principal estratégia para resolver os problemas brasileiros.
“Como vamos combater a violência, encontrar formas de habitação decentes para os menos favorecidos, pensar o uso do solo, os problemas ambientais? Com ciência. As conferências que estamos fazendo devem se tornar um marco para o futuro. Quem vai dizer como a comunicação vai funcionar no nosso país? Somos nós e não Elon Musk. Temos que responder a esses desafios com conhecimento científico. Contamos com todos para colocar a ciência e a tecnologia no topo do projeto de desenvolvimento da nação brasileira”, declarou Arruda.
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, falou sobre a importância da CT&I para o desenvolvimento e soberania do Brasil e o montante de investimentos destinado pelo Ministério para o setor em um ano.
“Em 2023, o FNDCT [Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia] alocou um total de R$4,9 bilhões em recursos não reembolsáveis em todo o Brasil. Quando olhamos o orçamento utilizado por região, vemos que 13% desses recursos vieram aqui para o Sul, que ficou atrás apenas do Sudeste. E, aqui no Sul, ficou mais da metade, R$ 2,4 bilhões”, contabilizou a ministra.
Os painéis e palestras que foram transmitidos pelo canal no YouTube, da Universidade Virtual do Paraná (UVPR), ficarão hospedados lá, à disposição de quem tiver interesse em conhecer ou rever as discussões do evento.
Outros passos do Paraná
O lançamento da 4ª Edição do “Paraná Faz Ciência” foi um dos pontos altos da abertura da 5ª Conferência Regional Sul de Ciência, Tecnologia e Inovação. Os representantes do Paraná assinaram o termo de cooperação com o reitor da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Leandro Vanalli. A Instituição maringaense vai sediar o evento, entre os dias 7 e 11 de outubro.
Assim como a Conferência tem importância para a CT&I em nível nacional, o Paraná Faz Ciência é um evento anual, com peso para o cenário científico e de inovação paranaense. A programação é organizada pela Seti e pela Fundação Araucária com o apoio das Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES). A iniciativa faz parte da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). A versão paranaense ganhou este nome específico, porque quer mostrar à sociedade que o Paraná faz ciência, sim, e de qualidade. E é importante destacar que o nome do evento vem do NAPI Paraná Faz Ciência, já que foi a equipe do Arranjo que realizou as primeiras edições do evento, ainda durante o período da pandemia da Covid-19.
Em 2024, a UEM vai sediar a programação e será a segunda versão presencial. Outras duas ocorreram on-line, em 2021 e 2022. Ano passado, o evento foi realizado na Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Segundo o reitor da UEM, Leando Vanalli, “é um privilégio ter a oportunidade de lançar o evento na Conferência que reúne os maiores expoentes da ciência da região Sul. “O Paraná Faz Ciência vai fazer da UEM o centro da ciência e tecnologia do Paraná, integrando a Semana Nacional da área. Faço convite a toda a comunidade científica e de estudantes para conhecer a ciência, a tecnologia e o ensino superior oferecidos pelas nossas Universidades”, convidou o professor.
A programação do evento na UEM ainda está em construção. Mas o responsável pelo planejamento e execução, o pró-reitor de Extensão e Cultura da UEM, Rafael da Silva, disse que há, pelo menos, quatro meses os preparativos começaram e que esse momento da Conferência marca a liberação dos recursos que vão permitir pensar a dimensão do que a Universidade de Maringá vai oferecer em outubro.
Silva, no entanto, adiantou que já estão previstas algumas novidades. “Teremos encontros de museus, trazidos por meio de uma proposta do Mudi [Museu Dinâmico Interdisciplinar da UEM]; um evento junto com o CREA-PR, que fechamos em Curitiba; e vamos criar uma oportunidade de diálogo com pessoas das comunidades indígena e quilombola para valorizar os saberes tradicionais”, detalhou o pró-reitor.
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Texto: Ana Paula Machado Velho
Revisão: Silvia Calciolari
Edição de vídeo: Maysa Ribeiro Macedo
Arte: Hellen Vieira e Mariana Muneratti
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior
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