Divulgação científica na prática

Inovação na forma de divulgar a ciência é uma das chaves do Conexão Ciência – C²

Quem nunca foi pesquisar sobre algum assunto científico e, depois de ler sobre o tema, saiu ainda mais confuso? Bom, eu já. E não foram poucas vezes que isso aconteceu. Sabemos que nem sempre é fácil compreender aquilo que cientistas e pesquisadores falam, principalmente, quando é relacionado a algo fora da nossa área de conhecimento. É aí que entra o tão importante papel da divulgação científica, que busca popularizar a ciência de forma que todos possam entender e ter acesso a esses conteúdos.

Com mais de dois anos de existência, a popularização da ciência é a missão principal do Conexão Ciência – C². Em 2021, o projeto iniciou a primeira fase com o desafio de divulgar as pesquisas que estavam acontecendo na Universidade Estadual de Maringá (UEM). O resultado dessa etapa foi tão satisfatório que, em 2023, o projeto retornou com a segunda fase, que integra as sete universidades estaduais do Paraná, veiculando o que está sendo produzido nessas instituições. 

Com uma equipe formada por professores, estudantes, profissionais e técnicos, o C² produz semanalmente duas reportagens multimídia, que, além de textos, são acompanhadas por fotos, vídeos, áudios, ilustrações e infográficos. Uma temporada também sai toda quinta-feira  junto com as matérias.

Mas, o que o C² tem de diferente? Além de divulgar a ciência pelos olhos dos pesquisadores, cientistas e professores, o Conexão Ciência busca trazer as pessoas comuns para dentro de uma história, mostrando como as pesquisas produzidas nas universidades podem impactar a vida de todo mundo. Tudo isso é feito com a ajuda do jornalismo que se aproxima mais do estilo literário, misturando a informação com a arte da literatura, aproximando e cativando os leitores por meio da identificação e da empatia.

Dentro desse cenário, a tarefa de entrevistar e escrever é um trabalho diário da equipe do Conexão Ciência – C². E, assim como é nosso objetivo popularizar o conhecimento científico, também pensamos em compartilhar o que a gente sabe sobre fazer divulgação científica na prática. Afinal, isso pode ajudar mais pessoas que querem espalhar a ciência por aí. Por isso, hoje, vamos dar algumas dicas importantes para a hora de realizar entrevistas e produzir textos.

Hora da entrevista 

“Como eu vou fazer isso?”. Esse foi meu primeiro questionamento quando recebi, da coordenadora do projeto, a minha primeira pauta. No papel, estava indicado o tema da reportagem e quem seria minha fonte, a pessoa que iria falar sobre o assunto. Na época, estava no segundo ano da graduação em Comunicação e Multimeios, e nunca havia entrevistado ninguém de forma ‘profissional’. Agora, atuando há dois anos no projeto e formada, já foram dezenas de entrevistas realizadas, que me permitiram aprender muitas coisas. 

Sempre que vou fazer uma entrevista, começo pesquisando sobre o tema e a fonte que falará sobre ele, de forma mais aprofundada. Esse passo é muito importante na hora de elaborar perguntas pertinentes para o entrevistado. Tendo conhecimento sobre o assunto que será tratado, é possível ir além daquilo que já está sendo dito na pauta, por exemplo. Essa pesquisa prévia também mostra seu interesse pela temática, algo que não passa despercebido pelo entrevistado, que pode ficar mais à vontade e contar sobre seu trabalho com mais entusiasmo.  

Porém, mesmo possuindo conhecimento do assunto, inicie a discussão com perguntas básicas, assim você terá a explicação da fonte sobre o tema de forma completa, sem precisar recorrer a outros meios de informações para acrescentar no texto. Mas, isso não te impede de ir além e trazer detalhes mais específicos do trabalho realizado pelo entrevistado, basta estruturar as informações de forma clara e direta, seguindo os princípios da divulgação científica. 

No dia anterior à entrevista, ou algumas horas antes dela, procuro sempre lembrar a pessoa que será entrevistada do nosso compromisso. É preciso ter em mente que muitos desses cientistas possuem agenda cheia… dão aulas, participam de palestras e outros eventos, o que pode fazer surgir imprevistos e necessitar remarcar a entrevista. Por isso, fazer essa confirmação mais próxima da data e horário combinado garante que você não perderá tempo se deslocando até o local da conversa e ela não se realizar. 

Não se esqueça de gravar a entrevista, seja por meio de gravador de voz ou captura de tela, em caso de entrevista on-line. Além da possibilidade de ter o material completo, que pode ser transcrito posteriormente, fazendo você não esquecer de nenhum detalhe importante que foi dito, a gravação também permite dar atenção completa ao entrevistado, já que não vai precisar ficar fazendo anotações. Isso vai deixar a conversa mais fluida.

(Foto/iStock)

Durante a entrevista, não tenha medo de perguntar novamente caso não entenda o que foi falado. Afinal, como passar esse conteúdo adiante, da forma mais simples possível, caso você mesmo não tenha compreendido o assunto? Também não fique com receio de pedir para o pesquisador simplificar alguma explicação que você tenha achado muito complexa. Na tentativa de resumir sozinho, depois, você pode se equivocar, reproduzindo algo diferente do que foi proposto pelo entrevistado.

Por último, mas não menos importante, preste atenção na sua conduta no momento da entrevista. É importante lembrar que, no ambiente acadêmico, local em que acontece a maior parte da produção da divulgação científica, é esperado certo comportamento das pessoas. Por isso, se atente à vestimenta, postura e modo de falar, quando estiver em contato com o entrevistado. Essas instruções valem não só para a entrevista, como para toda interação com a fonte, seja por meio do telefone, e-mail ou mensagens trocadas pelo celular.

Além dessas orientações, não podemos esquecer que a pandemia da Covid-19 trouxe para o nosso cotidiano muitas atividades que são facilitadas por meio das tecnologias. Uma dessas práticas é a entrevista on-line. Confira abaixo algumas dicas para realizar essa atividade.

Escrevendo a reportagem 

Depois das entrevistas, é hora de escrever o texto. Para facilitar o processo, comece organizando suas ideias para estruturação da reportagem, depois, arrume todo material, separando o que será usado. Com essas etapas prontas, é só lembrar da coesão e coerência e partir para a redação. Nessa parte, organize seu texto com clareza, seguindo uma linha de raciocínio, sem muito vai e vem, assim você assegura que o leitor não ficará perdido durante a leitura.

A divulgação científica preza por um materiais descomplicados, de fácil compreensão, mas, cuidado na hora de simplificar demais as informações. Às vezes, uma palavra diferente muda todo sentido da frase, especialmente no meio científico. Por isso, antes de publicar, peça para o pesquisador ler o texto e conferir se todas as explicações estão corretas. 

Em palavras ou ideias mais complicadas, em que não é possível fazer a simplificação, utilize o recurso do glossário. Ele normalmente é inserido no final da reportagem, trazendo a explicação das palavras ‘difíceis’ ou pouco conhecidas que foram indicadas ao longo do texto. 

Essas são algumas das ‘regras’ seguidas por toda equipe do Conexão Ciência – C², que tem contribuído com nossos resultados. Com esse texto, queremos inspirar mais pessoas a participarem do processo essencial que é a popularização da ciência. Saiba mais sobre os frutos do nosso projeto na matéria “Retrospectiva 2023: Conexão Ciência cresceu e apareceu”. Vida longa ao C² e viva a divulgação científica!

EQUIPE DESTA PÁGINA
Texto:
Milena Massako Ito
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Lucas Higashi
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

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A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS: