Retrospectiva 2023: Conexão Ciência cresceu e apareceu

Este ano, o C² se consolidou como projeto de extensão e passou a divulgar pesquisas realizadas nas sete universidades estaduais do Paraná

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A equipe do Conexão Ciência – C² está prá lá de faceira, neste final de 2023. E não é para menos. 

São mais de 100 mil acessos e cerca de 300 projetos referenciados no site que traz conteúdo multimídia sobre as pesquisas desenvolvidas nas sete universidades estaduais do Paraná. Através de um grupo de professores, alunos, técnicos e profissionais, a cada semana, são publicadas duas matérias com textos longos e bem apurados, vídeos, podcasts e ilustrações autorais e inéditas sobre a ciência produzida no Paraná. 

Nesta retrospectiva, vamos contar como tudo começou e como se deram os processos que fizeram o Conexão Ciência encerrar 2023 com chave de ouro. Sem falsa modéstia, este ano representa a consolidação do projeto de extensão de divulgação científica paranaense, iniciado em plena pandemia, na Universidade Estadual de Maringá (UEM). 

Conexão Paixão

O Conexão Ciência nasceu do desejo da jornalista e servidora da UEM Ana Paula Machado Velho, doutora e mestra em Comunicação e Semiótica, em construir uma ‘ponte’ entre a ciência feita nas universidades e a sociedade. O desafio era criar uma estratégia para comunicar a produção científica de forma atrativa, numa linguagem que todos entendessem, mas sem simplificações, amparada numa plataforma multimídia vibrante. 

Na outra ponta do começo do C² está Debora de Melo Gonçales San’tana, graduada em Farmácia e com pesquisas na área de Neurogastroenterologia Experimental.  Cheia de experiência na extensão universitária em divulgação científica com foco em Neurociências, a professora da UEM está envolvida em ações vinculadas ao Museu Dinâmico Interdisciplinar da UEM (MUDI). Ela também é uma entusiasta da ideia de que é possível conhecer o mundo pelos óculos da ciência. 

E o que acontece quando uma pessoa apaixonada por divulgação científica encontra outra na mesma sintonia? Uma conexão fulminante, que, provavelmente, vai dar em algo excepcional como contar as histórias das pesquisas científicas e de seus pesquisadores, pessoas que enfrentam dificuldades e desafios, diariamente. Ou seja, o Conexão Ciência, nosso C².

Com apoio da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e fomento da Fundação Araucária (FA), o C² começou, no início de 2021, a definir os objetivos do projeto de extensão para a divulgação científica da produção realizada pelos pesquisadores da UEM. 

Acreditem, o Conexão Ciência nasceu do zero, com a proposta de um piloto, ou seja, uma espécie de ‘esquenta’ para ver se ia dar certo, que chamamos nos bastidores de Fase 1.

Após a seleção dos professores, alunos bolsistas e profissionais, foi dada a largada para a escolha da linha editorial, fontes, paleta de cores e a logo. O Conexão Ciência tem como inspiração uma mistura de jornalismo científico e literário. É possível criar conteúdo de qualidade e atraente, com seriedade e rigor metodológico que a ciência exige, para levar o conhecimento científico e despertar nas pessoas de todas as idades o interesse pelo o que acontece na universidade. 

Foi assim que, juntando paixões e sob a coordenação de Ana Paula e Débora, as primeiras matérias começaram a ser publicadas em julho, e uma delas chama atenção pelo oportunismo do tema. Em plena pandemia, quando a ciência estava sob fogo cerrado dos negacionistas, o C² começa seu caminho explicando o surgimento e funcionamento do Observatório da Covid-19 Maringá, matéria assinada pela então graduanda em Comunicação e Multimeios da UEM, Milena Massako Ito, de 26 anos.

“Conexão Ciência é um espaço de aprendizado”. – Milena Massako Ito, comunicóloga formada pela UEM (Foto/Arquivo Pessoal)

“Na época, eu já tinha uma experiência com a revista de divulgação da extensão da UEM, o Sebastião, mas nada se compara ao aprendizado e a experiência que eu tenho no C²”, afirma Milena, agora já comunicóloga formada e que está totalmente integrada e entregue à dinâmica da equipe. Aliás, ela é quase uma subeditora.

Para ela, o Conexão Ciência ajudou muito a definir o que queria fazer como profissional da área da Comunicação. “Além do aprendizado profissional e crescimento pessoal, o trabalho me fez conhecer melhor a universidade, como funcionam os projetos e quais os desafios para levar a ciência às pessoas”, reflete.

Conexão Tecnologia 

Enquanto bolsistas graduandos começavam a produzir as pautas, sempre sob a supervisão de profissionais, no campo da tecnologia a ideia era montar um site moderno, multimídia e que mostrasse a Ciência para além dos laboratórios.

É aqui que entra a valiosa contribuição do jornalista pós-graduado em Mídias Digitais e webmaster1, Gutembergue Lima Barbosa Junior, 37 anos, responsável por criar uma ferramenta que atraísse a atenção de jovens, prioritariamente, que estão saindo do ensino médio para a universidade.

“O C² nasceu em plena pandemia, e isso foi um facilitador” – Gutembergue Lima Barbosa Junior é jornalista e webmaster (Foto/Luis Felipe Gomes)

Uma pesquisa minuciosa foi feita para buscar referências em outros portais, no Brasil e no exterior. “Colocamos tudo num ‘liquidificador’ e o meu desafio foi concretizar uma plataforma que tivesse flexibilidade para construir essas narrativas e uma administração de conteúdo tranquila”, conta.

É preciso lembrar que a pandemia forçou a todos ao trabalho remoto, facilitando as conversas e os encaminhamentos, o que, em épocas normais, demoraria muito tempo e esforço. Assim, em reuniões on-line, a equipe participou das escolhas dos mínimos detalhes do site e dos objetivos do projeto.

“O C² já nasceu plural, com um público orgânico e dinâmico que gosta da linguagem acessível, podcasts, artes coloridas e instigantes. Nosso desafio sempre foi, e será, levar a ciência com leveza e seriedade, e estamos aumentando a cada dia o alcance”, explica.

Gutembergue chama atenção para as cores escolhidas para compor a paleta do C². “Como é um site para divulgação científica do Paraná, nós priorizamos as cores vivas, especialmente, o verde que lembra a bandeira no Estado”, conta.

Conexão Arte

Desde o início, uma das coisas que mais chamam atenção no C² são as ilustrações e a qualidade das imagens produzidas por artistas graduandos e profissionais. Mas, atenção, isso não é uma decisão aleatória.

“Nossa proposta é ter uma ilustração independente, mas que, paradoxalmente, dialogue com o texto e permita uma reflexão”, afirma o professor de Comunicação e Multimeios da UEM, Tiago Franklin Rodrigues Lucena, 38 anos, que está na Supervisão de Arte desde o princípio do projeto de extensão.

“A imagem deve ser independente e propor uma reflexão” – Tiago Franklin Lucena é professor de Comunicação e Multimeios da UEM (Foto/Arquivo Pessoal)

No processo de criação, o grupo da arte tentou diversas estratégias para ajudar a representar o tema em ilustrações e infográficos, inclusive, participar das entrevistas. Mas,  o tempo foi passando e, hoje, a dinâmica está focada em conversar com quem fez a entrevista e ouvir as sugestões, ou ainda ler o texto quando já está pronto. 

“No começo, a gente avaliava o rascunho e recebia duas ou até três vezes o arquivo antes de levar para avaliação da equipe geral. Agora, o fluxo está mais dinâmico, graças à criatividade e autonomia do grupo”, destaca.

E como Conexão Ciência quer contar as histórias por trás das pesquisas científicas, mostrando os desafios e a realidade dos pesquisadores, as ilustrações refletem esse desejo. “Procuramos propor uma discussão política da imagem, inserindo diversidade, pluralidade nos personagens, tudo para fugir do óbvio e dos estereótipos”, reforça Lucena.

Ao tratar de temáticas que, normalmente, não ganham espaço na mídia tradicional, o Conexão Ciência sempre privilegia mostrar as pesquisas que tratam de temas em que a ciência está atuando para mudar o olhar da sociedade. Por exemplo, são muitas as matérias que abordam o machismo, racismo, o corpo mercantilizado da mulher e como combater a violência contra elas, do invisível ao metafísico, tudo pode virar pauta no C². 

Afinal, nada escapa ao olhar e rigor do método científico. E o C² se vale desses princípios para abordar os mais relevantes e variados temas.

Conexão Universidades

No começo de 2023, o Conexão ganhou novo fôlego e alcance, quando o projeto chegou a Fase 2. Com alguns integrantes da primeira etapa, uma equipe diferente foi constituída e, além da UEM, o C² passou a divulgar as pesquisas das sete universidades estaduais do Paraná: Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro), Universidade do Norte do Paraná (Uenp) e Universidade Estadual do Paraná (Unespar).

Cada instituição passou a ser representada por um professor e um aluno bolsista e a equipe começou a produzir matérias que, a partir de um tema, mostravam como as universidades estavam pesquisando o assunto. 

“Aqui eu posso colocar meu trabalho em algo que acredito” – Hellen Vieira é artista e ilustradora (Foto/Arquivo Pessoal)

Foi neste contexto que, em 2023, Hellen Vieira, 26 anos, video maker, web designer e ilustradora, passou a integrar o Conexão Ciência. Com menos de dez anos de atividade no mercado, Hellen possui um portfólio de ar inveja a muitos profissionais. Dona de um estilo próprio, marcado pelas cores intensas e um traço original, não é de se admirar que suas ilustrações chamem atenção no C² e façam os conteúdos ganharem maior personalidade.

Fiel à proposta original de ilustrações autorais, o C² proporcionou à Hellen algo que ela ainda não havia alcançado, “colaborar com algo que eu realmente acredito, que é a importância da ciência e da divulgação científica na sociedade”.

Outro benefício foi poder atuar na área da Educação de novo, como no começo da carreira. “Coordeno o trabalho de ilustração de quatro bolsistas graduandos e tem sido um resgate para mim, porque há muita troca e feedbacks importantes entre o grupo de ilustradores”.

Para ela, o mais impressionante do C² é a variedade de temas. “Nunca imaginei fazer uma ilustração sobre a piracema. Sou suspeita, mas ficou lindo e gostei muito do resultado final”.

Hoje, quatro alunos bolsistas de diversas universidades, sob a supervisão de Tiago e coordenação de Hellen, são os responsáveis por apresentar – e representar – o que o Paraná está produzindo nas universidades estaduais.

Conexão Interdisciplinar

De tudo que o Conexão Ciência se propôs como projeto de extensão, pelo menos dois aspectos ganharam mais relevância entre tudo o que foi pensado nos objetivos iniciais. Para além da divulgação científica e da formação de novos comunicadores da ciência, o que mais chama atenção é a oportunidade de revelar novas aptidões e abrir novas fronteiras.

Um exemplo é Gabriele Christine, 26 anos, graduanda do segundo ano de Educação Física, na Uenp, campus de Jacarezinho, no Norte do Paraná. Com experiência em Artes dramáticas, ela sempre foi uma grande leitora e tinha muita afinidade com a escrita. No C², ela encontrou terreno fértil para ampliar seus horizontes.

“Quando escrevemos para o C², escrevemos para o mundo” – Gabriele Christine é aluna de Educação Física da Uenp (Foto/Arquivo Pessoal)

“Eu gosto de escrever, mas sempre sobre experiências pessoais e que somente eu tinha acesso. Neste ano, tive a oportunidade de escrever para as pessoas lerem, e isso me colocou um novo desafio. E eu gostei bastante”, diz. 

Assim como outros integrantes da equipe que não são da área da Comunicação, o Conexão Ciência proporciona vivenciar todas as experiências que jamais seriam possíveis fora do projeto.

“Participar da produção, fazer entrevistas, organizar o texto me ajuda, de certa forma, a ter uma nova postura mental, o que tem facilitado a minha vida dentro e fora da universidade”, pondera Gabi. Para ela, trabalhar em grupo também é algo novo, ainda mais quando envolve pessoas de outras universidades, temas e interesses. 

“Quando eu apresento o site para meus amigos e contatos, sempre tem um feedback super positivo, especialmente, quanto à linguagem jovem e atrativa e às ilustrações”, completa.

Além da Gabriele da Educação Física, o mais fantástico é que o C² também é formado por pessoas da Farmácia, Química, Artes Visuais, Marketing, Biomedicina, Letras, além do Jornalismo, claro. Todos participam pesquisando projetos, sugerindo fontes, esboçando uma escrita e interagindo com o universo da divulgação científica.

Conexão Linguagem

Fontes confiáveis, texto profundo e arte exclusiva, tudo ao alcance de todos ao mesmo tempo. Em 2023, o Conexão Ciência provou que a divulgação científica pode ser, sim, uma estratégia efetiva para mostrar à sociedade o que as universidades estaduais estão fazendo, mesmo diante da complexidade da ciência. Mesmo quando o jornalismo científico, ou especializado, como consta em alguns currículos, é escasso no país.

Para o professor de Jornalismo Rodolfo Rorato Londero, da UEL, a questão da linguagem é o maior diferencial para o C², já que essa é a grande barreira da Comunicação. “Com a perspectiva de uma linguagem acessível, a gente consegue atingir maior número de pessoas e fazer um conteúdo mais interessante”.

“O Conexão Ciência é uma experiência incrível para os alunos” –
Rodolfo Rorato Londero é professor do curso de Jornalismo da UEL (Foto/Arquivo Pessoal)

E mais: o bom trato com as fontes, no caso, os pesquisadores, tem sido um exercício interessante para haver uma sinergia entre cientistas e divulgadores. “Quando se conhece o conteúdo do C², consegue ver o resultado da ciência na vida das pessoas. Asssim, dá pra acreditar que é possível fazer a ponte entre conhecimento científico e da população”, avalia.

Rodolfo destaca, ainda, a linguagem da Arte, sempre descontraída, como atrativo para o público. “O C² teve que ultrapassar obstáculos muito grandes para chegar onde está hoje, em 2023, principalmente, num país que não tem nenhuma tradição em divulgação científica. Esse é um desafio que não podemos desconsiderar diante do desempenho que obtivemos nesse ano”.

Outro ponto analisado pelo professor da UEL é o fato dos alunos bolsistas de Jornalismo vivenciam no Conexão Ciência  uma experiência bem próxima da realidade do mercado. “Ouso dizer que, entre todos os alunos do curso, há uma certa inveja de quem participa do C², porque o projeto faz um jornalismo diferente da mídia tradicional”, brinca. 

Conexão 2024

Este ano foi um tempo em que a ciência e comunidade científica ganharam novo status, após um período sombrio, e que o obscurantismo ameaçou a todos. E o Conexão Ciência não ficou atrás. Ainda com o apoio da Seti e da Fundação Araucária, as perspectivas para 2024 são animadoras.

Em novembro, foi designado oficialmente o programa Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (Napi) Paraná Faz Ciência, e o C² passou a fazer parte da estratégia de divulgação científica do governo do Paraná, junto com eventos, feiras de ciências, apoio a museus e parques tecnológicos. 

Portanto, a equipe do Conexão Ciência está orgulhosa, pronta e disposta para entrar na Fase 3 do projeto de extensão. É o que chamamos de um Feliz Ano Novo!

Ah, não esquecemos o presente de Natal. Preparamos um podcast especial para esta retrospectiva, a Série Conexão com a Ciência, que traz mais algumas informações e curiosidades sobre como e quem faz o C². Dê um play!

EQUIPE DESTA PÁGINA
Texto:
Silvia Calciolari
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Leonardo Rasmussen e Hellen Vieira
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

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A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:

Glossário

  1. Webmaster: Profissional responsável por gerenciar e manter um ou vários sites na internet. ↩︎

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