Arte sobre imagem de observatório espacial com elemento alusivo ao coronavírus no espaço

A pandemia em dados: a Covid-19 decifrada para a sociedade

Três físicos da UEM fundaram o Observatório COVID-19 Maringá, um site que surgiu da necessidade de registrar e analisar dados sobre a pandemia da Covid-19 na cidade

De segunda a sexta-feira, o professor Haroldo Valentin Ribeiro, do Departamento de Física, e seus alunos de doutorado, Andre Seiji Sunahara e Arthur Augusto Barizon Pessa, frequentavam o Laboratório de Sistemas Complexos (Complex-Lab), que fica no bloco E90, no campus da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Ali realizavam discussões e estudos. Era essa a rotina até que tudo mudou com a chegada da pandemia da Covid-19.

No dia 20 de março de 2020, a Prefeitura de Maringá publicou o primeiro decreto com medidas restritivas para conter a transmissão do novo coronavírus. O documento determinava o início do isolamento social na cidade. E a UEM fechou, determinando que professores e servidores adotassem o trabalho remoto.

Naquele momento, não existia muito conhecimento acerca do vírus, mas os cientistas já alertavam sobre sua alta capacidade de disseminação em ambientes fechados e com aglomeração de pessoas. Por esse motivo, Haroldo, Andre e Arthur não puderam mais frequentar o laboratório. 

A situação deixou o professor e os alunos inquietos. Afinal, como dar continuidade aos estudos fora do laboratório? A saída encontrada foi cada um pegar os seus pertences e trabalhar em casa. Todos acataram a ideia e os três passaram a atuar onde mais se sentem confortáveis: os seus lares. 

Importante dizer que os físicos não se limitam apenas aos conhecimentos clássicos da disciplina. Esse grupo, especificamente, possui afinidade com os estudos de análise de dados. Esta área tem como objetivo transformar informações em conhecimento. 

Andre, doutorando em física, explica como atua a área Análise de Dados:

🎧 O que é Análise de Dados

Em meio à necessidade de informação sobre números no contexto da pandemia, os três decidiram aplicar seus conhecimentos para apoiar autoridades e informar a população sobre as questões epidemiológicas da Covid-19, doença causada pelo coronavírus. Para isso, decidiram utilizar como ponto de partida a análise dos dados do boletim sobre a doença, postados pela Secretaria de Saúde de Maringá todos os dias, e acompanhar a evolução da pandemia na cidade. Foi assim que surgiu o Observatório COVID-19 Maringá.

O professor Haroldo conta que a motivação inicial era analisar os dados para sanar a curiosidade dele e dos estudantes. No começo de abril de 2020, foi criado o site onde começaram a publicar os resultados das análises. 

“O boletim que a prefeitura divulga é uma foto, em que as pessoas leem os números, mas não há uma referência da evolução da pandemia para ver a melhora ou piora dos números. O objetivo do Observatório é ter esse histórico com o número de casos, quantidade de mortes, taxas de ocupação hospitalar, entre outras coisas. O Andre fez a maior parte do site e, depois que ficou pronto, nós fomos atualizando, sempre a partir do boletim da Secretaria, que é publicado no final da tarde. Nós extraímos as informações e passamos para o site, rodando um script”, explica Haroldo Ribeiro. 

Além da análise das informações principais, como casos ativos, novos casos, ocupação hospitalar, número de óbitos e número de pessoas imunizadas com a vacina, o site também disponibiliza um gráfico em que é possível traçar um comparativo entre o número de casos e mortes de Maringá, com os dados de outras cidades nacionais e internacionais. 

Os dados utilizados no site com informações que vão além da cidade de Maringá são retirados de uma base nacional, brasil.io, e as referências internacionais dos sites: Dati COVID-19 Italia e Johns Hopkins CSSE.

A escolha desses outros municípios foi feita levando em consideração as características deles. A ideia foi determinar cidades “parecidas” com Maringá em critérios como: o tamanho da população, a dimensão territorial, entre outras. Bolonha, na Itália, por exemplo, foi escolhida porque tem quase o mesmo número de habitantes de Maringá. As outras cidades escolhidas são: Condado de Monterey (EUA), Campina Grande, Diadema, Jundiaí, Londrina, Montes Claros, Piracicaba, Rio Branco, Santos, Suzano e São José do Rio Preto. 

Previsões 

No início do projeto, Haroldo, Andre e Arthur costumavam fazer previsões. Em meados de abril de 2020, por meio destas análises previram o fim da epidemia para fevereiro de 2021, o que assustou algumas pessoas. Essa pequena confusão influenciou na mudança de objetivo do grupo, que preferiu focar mais nos dados informativos, deixando as previsões de lado.

Atualmente, o Observatório recebe em torno de 250 visitas por semana, mas o professor revela um fato curioso: “da mesma forma que existem as ondas da pandemia, também ocorrem as ondas de acesso. Quando os números estão melhorando, o pessoal para de acessar o site, mas quando eles voltam a piorar, os acessos aumentam de novo”.

Para o professor, que tem acompanhado de perto toda a situação com os boletins diários, é frustrante ver que em 2021 a situação ainda está piorando, “ninguém esperava que a pandemia duraria tanto, nem mesmo nós, pesquisadores, que fizemos projeções logo no início de tudo. Ficar tanto tempo isolado é difícil e cansativo, ainda mais por um período tão longo de tempo”, comenta Haroldo. 

O professor também confessa que está cansado de olhar para os dados, “busco pensar em outras coisas e trabalhar em outros projetos, porque toda essa situação gera um pouco de ansiedade. Porém, agora temos uma rota do que fazer para melhorar a situação, as vacinas”, destaca o físico, que se diz esperançoso e confiante de que as coisas melhorem até o final deste ano.

Apesar de crerem que, de certa forma, contribuíram positivamente com a vida das pessoas durante a pandemia, gerando informações sobre ela, os pesquisadores se sentem frustrados por não terem podido ajudar mais.

Andre conta que, mesmo que eles possuam informações importantes, se encontram na posição de observador. “Não há muito o que nós possamos fazer para reverter a situação, o que nos coloca em uma posição de angústia. Você sente que fez o que conseguiu, com base na sua profissão e no que você trabalha, o restante foge do nosso alcance. Então, nosso objetivo principal é informar, não tem como nós agirmos com as políticas públicas, aconselhando o que é pior ou melhor, pois não somos epidemiologistas. Sem o conhecimento epidemiológico não tem como prever o que vai acontecer, mesmo com a ajuda dos dados e conhecimento de modelos.”

As análises feitas pelo Observatório e o acesso à base de dados do site, resultaram na publicação de um artigo que analisou o número de casos de Covid-19 em relação ao tamanho das cidades, usando os dados principais, como número de casos, ocupação de leitos de enfermaria e UTI, e quantidade de óbitos, oferecidos pelos boletins municipais. O artigo foi submetido em maio e publicado em setembro de 2020.

Planos para o futuro

O professor Haroldo conta, ainda, que o grupo estava acostumado a fazer gráficos e trabalhos na área de análise de dados, mas não para serem publicados em uma página on-line. Com a criação do site para exposição dos resultados encontrados pelo Observatório, a equipe precisou se reinventar. Passaram a criar os gráficos utilizando ferramentas disponíveis no mundo virtual e, assim, se depararam com funções interativas e muitas outras possibilidades. 

Os novos aprendizados adquiridos durante esse período animam o professor, que informou sobre os planos para explorar esse conhecimento em outros trabalhos. “Não sei até que ponto as pessoas teriam acesso aos conteúdos, mas desenvolver os trabalhos em sites facilita na divulgação, o que faz o conhecimento chegar a um público mais amplo, como as pessoas que não estão no mundo acadêmico e aquelas que não consomem o material publicado em revistas científicas”, complementa Haroldo. 

Enfim, durante a pandemia, a tecnologia se mostrou ainda mais como uma grande aliada dos seres humanos. Com o auxílio da internet, foi possível dar continuidade a trabalhos, pesquisas e reuniões importantes para a população, autoridades sanitárias e a própria comunidade acadêmica, independente da localização dos envolvidos. Um exemplo de sucesso deste processo é o Observatório, criado pelo professor Haroldo e seus alunos. 

O que são os observatórios?

O conteúdo desta página foi produzido por

Texto: Milena Massako Ito e Ana Paula Machado Velho
Supervisão: Ana Paula Machado Velho
Edição de áudio: Milena Massako Ito
Edição de vídeo: Karoline Yasmin Cera da Silva
Arte: Murilo Mokwa


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