Do campus ao mercado: preparando jovens para o 1º emprego

A imagem mostra uma colagem artística com pessoas em meio a prédios e engrenagens. Um homem sorri entregando um papel, uma mulher olha pensativa e outra comemora com diploma e salto na mão. Ao fundo, há livros e prédios altos, simbolizando educação, progresso e trabalho. A paleta de cores em tons terrosos cria um ambiente acolhedor e urbano. A arte é assinada por Camila Lozecky para o projeto Conexão Ciência.
Projeto da Unioeste capacita jovens e conecta educação pública ao mundo do trabalho

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Conseguir o primeiro emprego é um marco na vida de qualquer jovem. Mais do que uma conquista financeira, representa o início de uma trajetória de independência, novos aprendizados e responsabilidades. Mas esse passo importante, muitas vezes, vem acompanhado de dúvidas, inseguranças e dificuldades, especialmente para quem nunca teve contato com o mundo do trabalho.

No Brasil, o desemprego entre jovens de 18 a 29 anos é mais que o dobro da taxa registrada entre adultos mais velhos. De acordo com uma pesquisa feita pela FGV Ibre, com base em números do IBGE, no último trimestre de 2024, a taxa de desemprego dos jovens era de 10,1% frente a 4,5% da população acima dos 29 anos.

Entre os principais desafios estão a exigência de experiência prévia, a dificuldade de acesso à qualificação e a falta de preparo para o ambiente profissional. Muitos não sabem como funciona uma empresa, quais são os comportamentos esperados em um processo seletivo ou mesmo o que significa ter um emprego formal. Isso os deixa inseguros e os afasta das oportunidades disponíveis.

Outra dificuldade encontrada é a falta de orientação sobre os caminhos possíveis. Sem apoio da escola ou da família, é comum que adolescentes sintam que não pertencem a certos espaços, como universidades ou grandes empresas. Soma-se a isso o fato de que, em diversas situações, a necessidade de contribuir com a renda da casa faz com que esses jovens busquem qualquer tipo de ocupação antes mesmo de concluir os estudos. A informalidade, nesse caso, não é uma escolha e sim uma saída emergencial.

O infográfico intitulado "Desafios do Primeiro Emprego – As principais barreiras que os jovens enfrentam" apresenta, no centro, a imagem de um jovem com as mãos cobrindo o rosto, transmitindo uma sensação de angústia ou preocupação. Atrás da cabeça dele, há uma explosão gráfica em tom amarelo. Ao redor dessa figura central, há formas irregulares em tons de laranja contendo frases que representam os principais obstáculos enfrentados pelos jovens na entrada no mercado de trabalho. São eles: "falta de preparo para o ambiente profissional", "trabalho precoce", "acesso limitado à qualificação e informação", "desigualdade social" e "exigência de experiência prévia". As frases estão escritas em letras grandes, escuras e com uma tipografia forte. O fundo do infográfico é composto por tons neutros, como bege e cinza claro, que contrastam com os elementos em laranja, ajudando a destacar as informações principais. No canto inferior direito, está o crédito: “© Conexão Ciência | Arte: Camila Lozecky”.

A precarização das oportunidades e a ausência de políticas públicas consistentes para essa faixa etária colaboram para que o primeiro emprego se torne uma meta difícil de alcançar. A juventude, mais especificamente a que vive em contextos de vulnerabilidade social, precisa de apoio concreto para passar por essas barreiras.

O projeto “Emprego e Renda: oportunidade para todos”

É nesse cenário que iniciativas de extensão universitária mostram sua importância ao atuar de forma direta e prática junto à comunidade. Um exemplo disso é o projeto “Emprego e Renda: oportunidade para todos”, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), no campus de Toledo. Criado em 2011, ele surgiu com o propósito de contribuir diretamente para a formação de jovens e sua preparação para o mercado de trabalho. 

O projeto, antes chamado “Secretariado Executivo Preparando para o Primeiro Emprego”, foi pensado para enfrentar justamente esses desafios. A proposta nasceu a partir da percepção de que jovens em situação de vulnerabilidade social precisam de suporte, orientação e capacitação para dar os primeiros passos rumo à inserção profissional.

“A motivação inicial foi possibilitar a jovens e adolescentes com menos de 18 anos, treinamento, capacitação em forma de oficinas, capacitando-os para ingressar no primeiro emprego”, explica Ednilse Maria Willers, professora da Unioeste e atual coordenadora da iniciativa. 

A foto é de uma das oficinas do projeto "Emprego e Renda: oportunidade para todos". A cena mostra uma sala de aula com paredes em tons claros e um grande quadro verde ao fundo. Nela, há três mulheres de pé na frente da sala, duas vestindo coletes laranja (indicando que são oficineiras), e uma ao centro, com camiseta bordô, que parece estar conduzindo a atividade. Uma das mulheres de colete está em pé ao lado da instrutora, e a outra está sentada atrás de uma mesa, observando. Na foto, aparecem seis estudantes sentados em carteiras escolares, voltados para a frente, ouvindo atentamente. Eles parecem estar no ensino médio, vestem roupas casuais e estão distribuídos em carteiras com cadeiras azuis e mesas brancas. A iluminação é fluorescente, e há um projetor pendurado no teto, voltado para frente da sala. No canto superior direito, há uma tela ligada, exibindo os slides da oficina.
Equipe do projeto “Emprego e Renda: oportunidade para todos” ministrando uma das oficinas (Foto/Arquivo pessoal)

O projeto se organiza com a participação de estudantes dos cursos de Secretariado Executivo Trilíngue, Ciências Econômicas e Serviço Social, que atuam como oficineiros, sob supervisão de professores das respectivas disciplinas. Para Ednilse, isso é um ponto extremamente estratégico, porque são jovens falando para jovens e a maneira como os participantes se identificam com o jovem é diferente.

As atividades são aplicadas em parceria com entidades da cidade, como a Casa de Maria, o Centro da Juventude, a Ação Social São Vicente de Paulo, o Espaço Florir Toledo, o Centro Integrado Amigos da Família (Dorcas) e várias escolas estaduais de Toledo. Essas instituições são fundamentais para a conexão entre a universidade e os jovens atendidos, pois já realizam trabalhos sociais e acolhem adolescentes em situação de vulnerabilidade.

Segundo a professora, “as oficinas geralmente duram três horas, são realizadas aos sábados pela manhã e nós dividimos elas por semestre”. A metodologia prioriza atividades práticas, dinâmicas em grupo e linguagem acessível. O material é produzido pelos próprios alunos e, em algumas edições, são utilizados apostilas e slides, conforme os recursos disponíveis.

O infográfico apresenta o título central “Oficinas do Projeto Emprego e Renda”, em destaque, cercado por oito blocos que representam os diferentes temas abordados nas oficinas. Cada bloco tem um fundo laranja e está conectado visualmente ao centro por linhas pretas. No canto superior esquerdo, está o bloco “Educação Financeira”, representado por uma mão segurando várias cédulas de dinheiro. Logo acima do título central, está o tema “Entrevista”, com a imagem de uma prancheta sendo assinada por uma mão. À direita, está o bloco “Empresa, Rotinas e Carreira”, ilustrado por um calendário de mesa. Um pouco abaixo, à direita, aparece “Recursos Tecnológicos”, representado por um notebook. No canto inferior direito, está o tema “Empreendedorismo”, com a imagem de uma maleta executiva. Abaixo e à esquerda do centro está o bloco “Ética e Postura”, ilustrado por um aperto de mãos. À esquerda, vê-se “Formação Continuada”, com a imagem de um diploma enrolado com fita. Todos esses blocos estão ligados ao título principal “Oficinas do Projeto Emprego e Renda”, que aparece centralizado em um fundo laranja mais intenso. O fundo geral do infográfico é em tons terrosos e suaves, e os textos estão em letras maiúsculas pretas. No canto inferior direito, estão os créditos: “© Conexão Ciência | Arte: Camila Lozeckyi”.

O impacto das ações é percebido na mudança de postura dos participantes e no despertar de novas perspectivas. Ednilse conta que muitos jovens atendidos passam a vislumbrar a universidade como uma possibilidade real. “Eles não veem o projeto como uma aula. Eles veem como um sábado legal, onde levantam de manhã, vêm até a universidade, conhecem o que é uma universidade e já amadurecem a ideia: ‘puxa daqui três, quatro anos eu posso estar aqui, eu posso ser um universitário”, relata.

Os resultados concretos dessa atuação vêm sendo percebidos ano após ano. Alguns jovens já atendidos procuraram a universidade para comentar que conseguiram seu primeiro emprego por causa das orientações recebidas nas oficinas. Outros revelaram que ingressaram na universidade após serem incentivados pelos alunos do projeto. Há também pais que relataram terem conseguido encaminhar seus filhos para boas vagas de estágio, como menor aprendiz ou em empregos formais, graças às informações e ao apoio oferecidos pelo projeto.

Além de mudar a vida dos adolescentes atendidos, a iniciativa tem um papel fundamental na formação dos estudantes universitários envolvidos. A experiência extensionista promove o desenvolvimento de habilidades pedagógicas, de comunicação, liderança e empatia. “É uma oportunidade que os alunos têm de replicar o conhecimento das disciplinas técnicas que eles têm nos cursos para a comunidade”, observa Ednilse.

Expansão e futuro do projeto

Em 2024, o projeto foi reestruturado e passou a se chamar “Emprego e Renda: oportunidade para todos”, com o objetivo de expandir sua atuação e acessar editais de fomento. A nova fase incluiu planos de expansão para outros campi da Unioeste, como Marechal Rondon, Cascavel, Francisco Beltrão e Foz do Iguaçu. Além do mais, parcerias com empresas estão sendo retomadas para garantir que os jovens que participam das oficinas tenham prioridade ou pontuação diferenciada em processos seletivos de programas como Jovem Aprendiz e estágios.

A proposta é ampliar não apenas o número de jovens atendidos, como também a qualidade das formações oferecidas, a articulação com políticas públicas e a inserção em novos territórios, sempre com o compromisso de fortalecer o papel social da universidade pública para com a comunidade.

A imagem mostra um grupo de 33 pessoas reunidas para a foto de encerramento do projeto "Emprego e Renda: oportunidade para todos". Elas estão organizadas em três fileiras: algumas sentadas nos degraus de um palco, outras ajoelhadas e o restante em pé. Praticamente todas seguram certificados, simbolizando a conclusão das oficinas do projeto. O ambiente é um auditório com paredes cinza e piso de madeira, transmitindo uma atmosfera acolhedora e solene. As pessoas na imagem, com expressões de alegria e orgulho, vestem roupas casuais e elegantes, celebrando o momento de conquista após a participação nas oficinas que abordaram temas como entrevista, ética e postura, educação financeira, empreendedorismo, entre outros. A imagem transmite o sentimento de realização coletiva, encerrando um ciclo de aprendizado e crescimento profissional.
Entrega de certificados para os concluintes do projeto (Foto/Arquivo pessoal)

A história do projeto “Emprego e Renda: oportunidade para todos” mostra que oferecer suporte, escuta e ferramentas concretas pode mudar o rumo da vida de muitos jovens. A conquista do primeiro emprego deixa de ser um salto no escuro e passa a ser um passo firme, construído com apoio, conhecimento e confiança.

E por que o primeiro emprego é também um reflexo da luta por direitos? Ouça o podcast especial do C² sobre o Dia do Trabalho! Entenda as origens dessa data, as conquistas trabalhistas que marcaram a história e os desafios que ainda persistem para garantir trabalho digno no Brasil. Uma escuta essencial para compreender como passado e presente se encontram nas trajetórias de quem luta por oportunidades.

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Texto:
Maria Eduarda de Souza Oliveira
Revisão de texto: Silvia Calciolari
Arte: Camila Lozeckyi
Supervisão de arte: Lucas Higashi
Edição Digital: Guilherme Nascimento

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