Admito que, quando fiz a matéria Logística Reversa: transformando resíduos em recursos para o C², fiquei surpresa em descobrir que não podemos chamar tudo que jogamos fora de lixo. Tudo aquilo que vale dinheiro e pode ser reciclado não é lixo e, sim, resíduo. Isso significa que pode ser reaproveitado. Então, fiquei ainda mais interessada no assunto quando lembrei do famoso “lixo eletrônico”. Será mesmo que todos os eletrônicos que descartamos são lixo?
Lendo mais sobre esse tema na internet, encontrei uma página que explicava: o Lixo Eletrônico pode ser chamado de e-lixo, resíduos de equipamento eletroeletrônico (REEE) ou simplesmente resíduo eletrônico. Isso me ajudou a entender melhor a diferença. ‘Lixo eletrônico’ se refere a equipamentos e componentes que foram descartados, enquanto ‘resíduos eletrônicos’ é um termo mais abrangente que inclui peças e subprodutos gerados durante a fabricação e o conserto. Então, nem todo resíduo eletrônico pode ser considerado lixo.

Isso significa que algumas partes dos eletrônicos descartados são reaproveitadas. Mas quais? E como isso é feito? Com qual finalidade? Para responder a essas perguntas, procurei pelo professor de Engenharia Eletrônica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná do Campus Campo Mourão (UTFPR-CM), Gilson Schiavon.

Vamos começar pelo básico. O professor nos explica de maneira bem simples: o lixo eletrônico engloba tudo que é ligado na tomada ou por meio de pilhas e baterias, e que possui um circuito eletrônico. Isso inclui, por exemplo, controles, equipamentos de computação, celulares, teclados, aparelhos de som, televisores e eletrodomésticos como geladeiras, microondas e ferro de passar.
“Os alunos de Engenharia Eletrônica tinham dificuldade em encontrar componentes eletrônicos para realizar pesquisas e projetos. As lojas aqui em Campo Mourão não tinham uma variedade legal de peças e, normalmente, algumas só estavam à venda pela internet, com um preço de frete caro e longo tempo para a entrega”, conta Schiavon.
A partir desse problema, eles resolveram receber lixo e resíduos eletrônicos para descarte e checar o que dava para ser reaproveitado. Em 2011, uma campanha de coleta arrecadou 11 toneladas de componentes e equipamentos. É muita coisa, né? Só para você ter uma ideia: se o peso médio de um notebook é aproximadamente 2 quilos, então a campanha arrecadou uma quantidade de eletrônicos equivalente a 5500 computadores desse tipo.
Com o sucesso da proposta, o Projeto de Recolhimento, Reaproveitamento e Encaminhamento Correto de Lixo Eletrônico continuou recebendo equipamentos, o que possibilitou a criação de um estoque de componentes ainda úteis. “Se nós recebemos, por exemplo, três computadores para descarte, damos uma “peneirada” nas peças que ainda podem ser usadas e conseguimos montar um computador que funcione normalmente”, explica o professor, que ainda ressalta que esses dispositivos também são doados para cooperativas e alunos de baixa renda.
Eletrônicos coletados pela gincana realizada em 2011 (Foto/Arquivo Pessoal) Eletrônicos coletados pela gincana realizada em 2011 (Foto/Arquivo Pessoal) Eletrônicos coletados pela gincana realizada em 2011 (Foto/Arquivo Pessoal) Trabalhos e pesquisas realizadas pelos estudantes da UTFPR (Foto/Arquivo Pessoal)
Na Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO), o projeto de extensão E-Lixo também busca, há mais de dez anos, promover o descarte correto do lixo eletrônico e, a partir disso, reparar equipamentos de informática que podem ser consertados. A coordenadora do projeto, a professora Angelita de Ré, conta que os equipamentos recebidos passam por uma triagem que verifica se há possibilidade de conserto. Em seguida, é feito o reparo pelos estudantes do curso de Ciência da Computação.

“Quando consertadas, as máquinas são doadas para projetos, alunos, professores e qualquer pessoa da comunidade externa que tenha interesse. Quando não conseguimos reparar, encaminhamos os materiais para empresas específicas de reciclagem”, explica a professora. Ela ainda nos lembra sobre um outro objetivo do projeto: conscientizar a comunidade acadêmica e externa sobre a importância de destinar corretamente o lixo eletrônico, em especial o de informática, e reforçar, assim, o senso de responsabilidade ambiental.
Ainda tem mais! O museu virtual do lixo eletrônico é outro projeto em desenvolvimento na Unicentro. A professora nos conta que já houve uma parceria piloto com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR – Campus Guarapuava) para a visualização de componentes e aparelhos eletrônicos recolhidos e, agora, uma nova exposição virtual do acervo físico do E-Lixo vem aí.
Projetos como os citados acima são o fundamento da universidade. As iniciativas que os dois professores nos apresentam conectam a comunidade geral com a acadêmica, por meio da extensão universitária. O resultado dessa parceria não é benéfica só para os estudantes, que desenvolvem pesquisas, teses e dissertações com o apoio das peças coletadas, mas também para a população, que recebe de volta os equipamentos em condições para serem usados.
Schiavon reforça que, quando não tem jeito e o eletrônico não pode ser consertado ou reaproveitado, o grupo providencia o descarte correto. “As partes eletrônicas têm que receber uma atenção especial, já que elas podem conter, por exemplo, mercúrio, chumbo, silício e germânio. Quando esses elementos são descartados incorretamente, podem liberar substâncias muito prejudiciais para o meio-ambiente, que podem, inclusive, contaminar o solo e os lençois freáticos”.
Isso é perigoso não só para a conservação ambiental, mas também para a saúde pública. A cadeia alimentar sofre, a partir disso, um grande desequilíbrio. Afinal, os cultivos que nós, humanos, e outros animais comemos são contaminados devido ao descarte inadequado.
Além disso, não podemos nos esquecer da extração de recursos naturais para a produção de novos eletrônicos. Por isso, projetos de reaproveitamento são tão importantes. É possível montar aparelhos a partir de componentes de dispositivos já existentes, o que reduz a necessidade da indústria eletrônica de extrair mais recursos naturais para fabricar novos produtos. As pesquisas realizadas dentro da universidade a partir de componentes e aparelhos recebidos têm um papel importantíssimo no desenvolvimento da produção sustentável desses eletrônicos.
Como fazer o descarte correto, então?
A nossa primeira dica remete à nossa matéria da Logística Reversa: transformando resíduos em recursos. Alguns fabricantes e lojas oferecem a coleta de eletrônicos defeituosos para o encaminhamento correto dos resíduos. Portanto, antes de descartar um aparelho, verifique se há algum estabelecimento do fornecedor que faça essa coleta.
Uma outra opção é procurar por pontos de coleta de lixo eletrônico perto de você. O site da Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos oferece um buscador de pontos de recebimento próximos. Quer saber mais dicas de como descartar lixo eletrônico e outros tipos de resíduos? Então, não deixe de conferir também o nosso podcast Conexão Descarte Correto!
O descarte correto vai além da sustentabilidade
O problema do lixo eletrônico vai muito além da contaminação ambiental. O descarte de dispositivos como celulares, tablets e computadores ainda com fotos, dados, senhas e conversas privadas, por exemplo, pode ser uma brecha para pessoas mal-intencionadas. Em uma época em que nossas informações pessoais são extremamente valiosas, é muito importante garantir a proteção dos dados ao descartarmos nossos aparelhos.
Então, para proteger essas informações sensíveis, faça um backup dos dados antes de se desfazer do dispositivo e o restaure as configurações de fábrica caso ele ainda esteja funcionando. Caso o aparelho esteja quebrado, certifique-se de tirar quaisquer chips e cartões de memória dele.
Lembre-se: o descarte correto não é uma tarefa só das grandes empresas. Todos nós somos responsáveis por encaminhar corretamente o próprio lixo e resíduo eletrônico. Descartar corretamente é um compromisso com o futuro que cabe a cada um de nós!
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Texto: Luiza da Costa
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Edição de vídeo: Luiza da Costa
Arte: Mariana Muneratti e Hellen Vieira
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior
A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:

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