Explorando os sentidos no ensino de Geografia

Inovação e tecnologia na escola e na universidade com o projeto Geo Lab Maker

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Já pensou se, no lugar de imagens estáticas de uma página de um livro didático, pecinhas de madeira, resina ou filamento reproduzindo as regiões do Brasil pudessem ser manipuladas para montar um quebra-cabeça do país? Ou já pensou em tocar o relevo de uma extensa área da superfície terrestre reproduzida em miniatura? E que tal comparar o tamanho dos planetas do nosso sistema solar vendo e manipulando representações coloridas, em três dimensões? 

Parece brincadeira, mas é ciência. Esta é a proposta do projeto Geo Lab Maker que vem promovendo essas e outras experiências na compreensão de fenômenos ligados à área da Geografia.

Nunca é demais reforçar que a Geografia estuda nosso planeta e suas características, incluindo paisagens, climas e ecossistemas, e explora a interação entre sociedade e natureza, analisando como culturas, economias e sociedades influenciam e modificam o mundo físico. Portanto, muitas vezes, é inviável realizar análises diretas de diversos objetos de estudo geográfico. 

É aqui que as representações da realidade se tornam valiosas para a construção do conhecimento, especialmente, nas séries iniciais da Educação Básica. Neste estágio, é crucial dispor de materiais didáticos que reflitam aspectos locais e regionais, como a Geografia e a História local, para serem utilizados pelos professores.

Não é de hoje que educadores refletem sobre a eficácia de materiais didáticos com apoio visual e tátil. Comenius e Pestalozzi no século XVII, Rousseau no século XVII, Dewey, Montessori, Piaget e Vygotsky no século XX são alguns exemplos. Esses autores já defendiam que atividades manipulativas e visuais podem dar suporte ao desenvolvimento cognitivo do aluno na elaboração de conceitos, instrumento útil ao processo de ensino e aprendizagem.

O foco do Geo Lab Maker é o desenvolvimento de soluções educacionais, com centralidade em materiais didáticos e na utilização de recursos tecnológicos como prototipação e impressão 3D, óculos de realidade virtual, máquina de corte e gravação a laser, lousa digital, lógica de programação, cartografia digital, drones etc. 

Mapa do Brasil em relevo na cor verde sobre uma mesa, dividido em suas cinco regiões, montável como um quebra-cabeça.
O mapa do Brasil representado num quebra-cabeça para ensino da Geografia (Foto/Arquivo Ericson H. Hayakawa)

O projeto baseia-se nos princípios de um Espaço Maker ou seja, proporciona o protagonismo dos estudantes na construção do seu conhecimento por meio da prática do “faça você mesmo”. Isso acontece porque o aluno se vê tendo que manipular diferentes ferramentas e equipamentos. Além de protagonismo, lidam com o estímulo constante da criação e da criatividade.

O professor Ericson Hideki Hayakawa, atual coordenador do Geo Lab Maker, é graduado e mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e doutor em Sensoriamento Remoto, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Desenvolve atividades de ensino e projetos de pesquisa, extensão e inovação na área de geotecnologias (sensoriamento remoto e geoprocessamento) e suas aplicações em Geografia e Geociências. 

Desde o segundo semestre de 2022, o professor direcionou parte de suas pesquisas e ações de extensão, ensino e inovação para o uso de tecnologias no ensino de geografia, incluindo prototipagem e impressão 3D, CNC laser, linguagem de programação, bem como aplicações no Google Earth Engine. A colaboração com outros docentes do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Oeste do Paraná (Unioeste), os esforços conjuntos e a busca por financiamento, resultaram na criação do Geo Lab Maker.

Como tudo começou

O Geo Lab Maker começou a ganhar forma no ano de 2022. Mas, antes disso, a pegada de apresentar algo diferente para o curso de licenciatura em Geografia, sempre foi de interesse do professor Ericson. Docente da Unioeste desde novembro do ano de 2012, em 2014 foi contemplado com fomento da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), por meio do Programa de Extensão “Universidade Sem Fronteiras” com o projeto “Geotecnologias e a Geografia: novas ferramentas para o ensino de Geografia no ensino fundamental e médio”. 

Nesse projeto, parte das atividades consistia em apresentar aos professores e estudantes da Educação Básica conteúdos como as geotecnologias (imagens de satélites, GNSS, aplicativos de geolocalização, cartografia digital, dentre outros) fazem parte do dia a dia da sociedade. Aos poucos, foram incorporados elementos ao projeto como drones, equipamentos de geolocalização etc. À medida que os anos passaram, o projeto foi se tornando cada vez mais sólido e, mesmo com o término do fomento, o docente continuou com a atividade extensionista.  

Uma mesa grande de madeira na cor marrom contendo materiais de várias cores elaborados pelo GeoLab e oito estudantes do ensino básico ao seu redor, orientados por uma professora, observam e manipulam os objetos.
Conteúdo da Geografia se transforma para atrair a curiosidade dos alunos (Foto/Arquivo Ericson H. Hayakawa)

Durante os atendimentos nas escolas, o docente notou que os professores da Educação Básica frequentemente solicitavam materiais didáticos de cartografia e geografia física, que refletissem a realidade local. Além disso, com a introdução recente de ferramentas e tecnologias como tablets, lousas digitais e impressoras 3D nas escolas, surgiu outra demanda: a de pesquisar como integrar esses recursos tecnológicos ao conteúdo trabalhado nas escolas. As secretarias municipais de Educação precisavam de suporte teórico e prático para elaborar ou adaptar os materiais didáticos para o uso dessas novas ferramentas e tecnologias. 

Na maioria dos casos, os itens que podem ser produzidos com uma impressora 3D exigem ser modelados ou, no mínimo, adaptados a sua própria linguagem para serem impressos. No entanto, até então não havia materiais específicos para essa finalidade. Por isso os equipamentos de impressão 3D eram pouco utilizados em sala de aula. Além disso, não existem no mercado soluções personalizadas que atendam às necessidades locais e regionais, já que são desenvolvidas por empresas ou instituições distantes das áreas onde serão aplicadas. 

Soma-se ainda a preocupação de atrair mais alunos para o curso de licenciatura em Geografia. Dessa forma, o docente com outros parceiros – os doutores Vanda Moreira Martins, Mateus Marchesan Pires e Oscar Vicente Quinonez Fernandez -, passaram a buscar meios de contribuir com os professores da educação básica e, também, de atrair novos acadêmicos. 

Nessa perspectiva, em novembro de 2022, o professor Ericson participou da 14ª edição da Campus Party Brasil (CPBR14), o maior festival de tecnologia, empreendedorismo, ciência e inovação do mundo. O evento, que já teve mais de 70 edições em 30 países, visa criar um ambiente imersivo e disruptivo para debates sobre tecnologia, criatividade, inovação e educação, celebrando a cultura “geek” que abrange ficção científica, jogos, quadrinhos, dentre outros. 

A Campus Party inclui áreas como a Área Open, com atividades e exposições gratuitas para famílias, e o Arena, um espaço de aperfeiçoamento profissional que oferece palestras, workshops, hackathons e outros desafios.

“Ao participar do evento em 2022, vi que muito do que estava sendo apresentado tinha tudo a ver com a licenciatura. Voltei do evento e em seguida, com recurso próprio, comprei uma impressora 3D. Dois alunos, inicialmente, toparam a ideia de pesquisar e iniciar a produção de material didático. Hoje, esses dois alunos realizam mestrado na temática”, explica o professor Ericson.

Todo esse processo fez com que os professores submetessem projetos a órgãos de fomento como a Fundação Araucária e à Seti. Felizmente, alguns foram aprovados e foi possível adquirir outros equipamentos e ganhar mais projeção. O sucesso levou, inclusive, à conquista de outros recursos junto à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 
Com todo esse apoio, é fundado, então, em 28 de março de 2023, o Geo Lab Maker com os seguintes integrantes: Ericson Hideki Hayakawa, Vanda Moreira Martins e Mateus Marchesan Pires. Posteriormente ingressaram a Aparecida Darc de Souza, Marcia Regina Calegari e Cláudia Monteiro. Atualmente, permanecem Ericson H. Hayakawa, Vanda Martins, Cláudia Monteiro e Aparecida Darc de Souza.

Da esquerda para direita, os professores Ericson H. Hayakawa de camisa branca e calça jeans azul, Cláudia Monteiro de vestido preto, Aparecida Darc de Souza de blusa branca e saia azul, segura uma bolsa preta, e Vanda Moreira Martins de óculos, blusa verde, calça preta e trança no cabelo. Estão em pé em uma sala de conferências e posam para a foto sorrindo.
O professor Ericson H. Hayakawa, ao lado das integrantes do GeoLab (da esquerda para a direita) Cláudia Monteiro, Aparecida Darc de Souza e Vanda Moreira Martins (Foto/Arquivo Ericson H. Hayakawa)

O Geo Lab Maker conta com o apoio institucional a partir da Direção de Campus, Reitoria, Pró-reitoria de Pesquisa, Pró-reitoria de Extensão, Pró-reitoria de Graduação e da Agência de Inovação da Unioeste. “A reitoria, pró-reitorias, a agência de inovação e o campus da Unioeste de Marechal Cândido Rondon apoiaram a iniciativa e sempre estavam dispostos a auxiliar”, destaca Ericson Hayakawa.

O Geo Lab Maker tem se assentado sobre o princípio de buscar soluções pedagógicas educacionais para os diferentes níveis de ensino da Educação Básica e Ensino Superior, com o estímulo constante da criação e da criatividade. Sua missão é inovar transformando a educação, capacitando professores e alunos a explorarem seu potencial máximo através de experiências de aprendizado práticas, com o uso dos recursos tecnológicos avançados e materiais didáticos personalizados.

O espaço

O Laboratório possui três espaços físicos para desenvolver suas atividades, com equipamentos como impressora de resina, máquina de lavagem e curagem de impressão de resina, máquina de corte e gravação a laser, impressoras de filamento, drones, tablets, óculos de realidade virtual e aumentada, computadores de alta capacidade de processamento, dentre outros.  

Confira o vídeo em que podemos ver os principais aspectos do GeoLab enquanto um ambiente promotor de inovação:

Uma ideia, vários parceiros

Atualmente, o Geo Lab Maker contribui em vários projetos de pesquisa e extensão (muitos com fomento da Fundação Araucária e da Seti), formação de professores, pesquisas de mestrado e iniciação científica. Como Espaço Maker, tem buscado formalizar a possibilidade de prestação de serviços à comunidade externa, como startups, micro e pequenas empresas, indústria, municípios e demais órgãos públicos, ONG, dentre outros. Isso é importante não só para ampliar a abrangência de atuação do Geo Lab Maker, mas para, também, torná-lo autossustentável.

O espaço atende às demandas dos cursos de Licenciatura em Geografia e História da Unioeste, do campus de Marechal Cândido Rondon, bem como os demais cursos (seja de licenciatura ou bacharelado) dos seguintes campi: Cascavel, Toledo, Foz do Iguaçu e Francisco Beltrão. Além desses cursos e localidades, dá apoio ainda aos municípios de Toledo, Marechal Cândido Rondon, Diamante d’Oeste, Vera Cruz do Oeste, Ramilândia, Ouro Verde do Oeste. 

A inserção do Geo Lab Maker ocorre em toda a comunidade, principalmente na escolar, onde se desenvolvem projetos de ensino e de extensão, que atendem escolas públicas e privadas da região abrangida pela Unioeste. Além disso, o GeoLab procura estabelecer diálogos com outros agentes. 

“Firmamos parceria com o Ecossistema de Inovação Iguassu Valley, somos credenciados junto ao Governo do Estado do Paraná como Ambiente Promotor de Inovação e o GeoLab Maker também integra o Plano Municipal de Inovação do município de Marechal Cândido Rondon”, comemora o professor Ericson. 

O Geo Lab Maker conta com a parceria do projeto de extensão permanente “O Solo na Escola”, coordenado pela professora doutora Vanda Moreira Martins, também vinculado ao curso de licenciatura em Geografia. O projeto atua na popularização da Ciência do Solo, oferecendo para os professores e alunos da Educação Básica, apoio teórico, metodológico e prático em relação ao aprendizado significativo dos conteúdos Solos e Meio Ambiente na perspectiva de uma educação transformadora e cidadã.

Outro parceiro é o projeto de extensão “O Ensino de Geociências”, coordenado pelo professor doutor Oscar Vicente Quinonez Fernandez e pelo Laboratório de Pesquisa e Produção de Jogos Educativos (LabLud), sob responsabilidade das doutoras Cláudia Monteiro e Aparecida Darc de Souza. O LabLud é utilizado para pesquisa e desenvolvimento de protótipos de jogos analógicos e digitais dedicados ao ensino de História e Geografia na Educação Básica.  

O Geo Lab Maker, localizado no campus de Marechal Cândido Rondon da Unioeste, também está cadastrado como Laboratório Multiusuário em função de estar integrado ao LEDA – Laboratório de Estudos da Dinâmica Ambiental, coordenado pela doutora Márcia Regina Calegari. 

Espaço de feira de exposições. Mesa com equipamentos, cartilhas e materiais produzidos pelo GeoLab com impressora 3D. Ao fundo, escrito com luzes neon colorido, “Orgulho de ser Unioeste”.
Exposição de materiais do GeoLab para estudantes da educação básica (Foto/Arquivo Ericson H. Hayakawa)

Perspectivas para o futuro

O professor Ericson relata que um dos desejos dos idealizadores é o de consolidar o Geo Lab Maker como referência institucional na proposição de soluções educacionais personalizadas amparadas no uso de metodologias de ensino diferenciadas e no uso de recursos tecnológicos. 

Trata-se de uma forma de tornar o Geo Lab Maker sustentável financeiramente. Além disso, esperam que o projeto seja referência no desenvolvimento de materiais didáticos e auxiliar os demais cursos de licenciatura do Paraná a criarem seu espaço maker, uma forma de inovar nos cursos de formação de professores.

Outro objetivo é incentivar os acadêmicos e licenciados integrantes do Geo Lab Maker a atuarem no desenvolvimento e criação de materiais didáticos personalizados. “Estamos trabalhando na abertura de uma startup nesse segmento e já contamos com apoio institucional. Vislumbramos tornar essa possibilidade um case de sucesso nas licenciaturas e uma spin-off nascida na Unioeste”, anuncia Ericson Hayakawa. 

Um espaço de inovação dedicado a transformar o ensino e capacitar professores para contribuir para que seus alunos alcancem seu máximo potencial. Tudo isso, por meio de práticas imersivas, tecnologias avançadas e materiais didáticos personalizados. 

Geo Lab Maker é mais do que um ambiente, é uma possibilidade de construir um mundo melhor, um lugar de transformação ao inserir tecnologia e inovação na sala de aula. O Paraná tem que comemorar.

Para acompanhar o trabalho do Geo Lab Maker, siga a conta no Instagram: @geolabmakermcr ou entre em contato pelo e-mail.

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Texto:
Patricia Ormastroni Iagallo
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Revisão: Silvia Calciolari
Arte: Mariana Muneratti
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

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