Hora de regular os ritmos biológicos

Acostumados ao modelo remoto adotado em diversas áreas devido à pandemia da Covid-19, precisamos readaptar nossas rotinas para 2022

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A suspensão das aulas presenciais em escolas e universidades de todo o Brasil devido à pandemia do Coronavírus fez com que o ensino remoto emergencial (ERE) fosse adotado e que as atividades passassem a acontecer à distância. Quase dois anos após esse acontecimento, com o número de pessoas com o esquema vacinal completo aumentando e os registros de infecções e óbitos diminuindo, a vida começa a retornar ao presencial. Para ilustrar esse cenário, trazemos aqui o caso Universidade Estadual de Maringá, no Paraná. Em reunião com o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEP), a instituição decidiu pela volta às atividades no câmpus, em 2022, para dar conta do conteúdo, ainda, do segundo semestre do ano letivo de 2021.

Universidade Estadual de Maringá
Universidade Estadual de Maringá (ASC/UEM)

Diante deste quadro, uma questão importante a ser abordada é a readaptação dos ritmos biológicos dos professores, alunos e servidores. Acostumados ao modelo remoto,agora, eles precisam retomar suas rotinas pensando no ensino presencial. Há, também, aqueles que já entraram na Universidade com o ensino remoto vigente, o que faz das aulas presenciais na UEM uma novidade. Esse é o caso da estudante do 2º ano de Psicologia, Nathalia de Sá Bassani. Ela passou no Vestibular de Inverno da UEM de 2019 e, remotamente, suas aulas iniciaram em março do ano seguinte. Porém, a pandemia prolongou isso ainda mais.

Foi somente em agosto que o calendário acadêmico e as atividades foram retomadas, só que de uma maneira que praticamente ninguém da comunidade universitária estava familiarizado: o ensino remoto emergencial (ERE). A tão sonhada vaga foi conquistada, mas a estudante conta que ficou desanimada ao iniciar sua vida acadêmica por saber que não estudaria presencialmente.  Somado a isso, houve toda uma habituação à nova realidade, visto que ainda estava acostumada à dinâmica do Ensino Médio. Mesmo frequentando as aulas on-line e realizando suas tarefas, Nathalia relata que não se sentia dentro da Universidade (foto abaixo).

No decorrer de seu primeiro ano de faculdade, a estudante foi percebendo que seu rendimento era mais satisfatório no período vespertino e no noturno. O curso de Psicologia é integral e, para a graduanda, caso não houvesse aulas síncronas de manhã, a disposição para os estudos seria bem menor, pelo fato delas a estimularem a acordar mais cedo e estudar em um horário no qual não rende tanto igual aos outros. Durante a tarde e à noite, ela se sente bem mais disposta a realizar suas atividades acadêmicas, como assistir às aulas, ler os textos, fazer fichamentos, entre outras tarefas.

Mas isso não é uma mera escolha individual, visto que cada pessoa possui um ritmo próprio que é condicionado biologicamente. Quem explica o assunto é o professor Marcílio Hubner de Miranda Neto, integrante do Departamento de Ciências Morfofisiológicas (DCM), da UEM. Segundo o docente, todos os seres vivos possuem um relógio biológico, que é uma espécie de gerador de tempo. “Nosso organismo possui um tempo próprio, chamado de tempo endógeno, que é diferente do tempo ambiente em que vivemos, e são os relógios biológicos que o produzem. Para haver harmonia, eles devem conviver em sincronia. Um dos elementos principais para gerar essa sincronia é a luz ambiente.”

O professor acrescenta que, com o aumento do tempo em que estamos em atividade, outro elemento precisou ser utilizado para gerar a sincronização entre o tempo endógeno e o tempo ambiente, que foram os compromissos sociais. As atividades desempenhadas durante a rotina possuem horários específicos para acontecerem e esse é um fator muito importante. Tendo sabedoria dos horários de seus compromissos, um indivíduo consegue programar o horário que irá dormir para poder acordar disposto no dia seguinte, criando uma rotina e, assim, sincronizando seu relógio biológico. A partir dos relógios biológicos, podem existir 3 classificações relacionadas ao tempo endógeno de cada indivíduo: matutino, vespertino ou intermediário.

Tendo isso em vista, com o retorno às aulas presenciais, o grupo que sente mais dificuldade em sincronizar seu tempo endógeno com o tempo ambiente é o dos vespertinos. “No período da manhã, as aulas na UEM iniciam por volta das 7h45, fazendo com que os alunos tenham que acordar cedo para estarem pontualmente presentes. Para os vespertinos, acordar tão cedo é extremamente difícil, já que para eles é como se ainda fosse de madrugada e seus hormônios noturnos ainda não foram substituídos”,  ressalta o professor Marcílio.

🎧 O professor Marcílio explica sobre a readaptação da comunidade universitária para a volta ao ensino presencial

Por ser vespertina, Nathalia acredita que uma de suas maiores dificuldades em se readaptar ao ensino presencial continuará sendo o horário de início das aulas, logo pela manhã. Acordar cedo é uma tarefa complicada para ela e por, agora, precisar se deslocar até a Universidade, o relógio despertará bem antes da hora que despertava quando estudava em casa. Além do mais, a aluna de Psicologia destaca que a volta para o presencial a fará aprender a estudar de novo, já que tudo irá mudar mais uma vez, as aulas serão diferentes, bem como as avaliações e a flexibilidade de tempo para a execução de seus afazeres. 

Diante disso, o professor Marcílio destaca que é importante que os alunos, professores e servidores que reconhecem ser desse grupo, comecem a fazer um arrastamento de seus ritmos, isto é, ajustar seus horários de dormir e de despertar previamente, para que os ritmos biológicos estejam em sincronia com o tempo ambiente e não haja sofrimento com o sono na volta às aulas. “A sincronização é estimulada pelos compromissos sociais e pela falta deles, durante o final de semana, por exemplo. Devemos adotar hábitos que não fujam da rotina comum, é preciso estabelecer uma para que não aconteça outro processo de ressincronização do organismo”, completa Hubner. 

O conteúdo desta página foi produzido por

Texto: Maria Eduarda de Souza Oliveira e Valéria Quaglio
Edição de áudio: Maria Eduarda de Souza Oliveira
Supervisão: Ana Paula Machado Velho
Arte: John Zegobia
Supervisão de Arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior


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