Imagine quantas vezes ao ano você faz compras pela internet. Agora, pare para pensar quantas caixas de encomenda ou embalagens de plástico já chegaram no seu endereço. Ou, até mesmo, quanto papel você usa, seja em casa ou no trabalho. Segundo a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), uma única pessoa produz, em média, 343 quilos de lixo por ano. Assustador, não é? Agora, pense na quantidade de resíduos gerados por uma indústria, por exemplo.
Preocupada em ter impacto ambiental positivo, Gabriela Zanim, proprietária da GR21 Empreendimentos Imobiliários, percebeu o quanto era desperdiçado dentro da empresa dela. Além de trocar de copos e garrafas de plástico pelas de vidro, a separação de recicláveis tornou-se indispensável. “Um dos processos que nós implantamos tinha como indicador a sustentabilidade. Como eu sempre me preocupei com a preservação ambiental, fiz questão que fosse um dos pilares da empresa”, explica Zanim.
As mudanças impactaram, até mesmo, a forma de fazer negócios. “Vou usar como exemplo a digitalização dos processos de vendas e locação de imóveis. Contratos, relatórios, recibos e fichas de imóveis passaram a não ser mais impressos, diminuindo consideravelmente o uso de papel na nossa empresa”, conta a empresária. Segundo Gabriela, até atos simples, como juntar as tampinhas de eventuais garrafas PET que aparecem no local, se tornaram algo automático no cotidiano. Zanim conta que toda essa transformação aconteceu após conhecer um pouco mais sobre a logística reversa. Mas, para isso, é essencial saber que nem tudo é lixo.
Quando pensamos em lixo, imaginamos tudo que descartamos após o uso, como restos de comida, embalagens de plástico ou copos de vidros que acabaram quebrando, por exemplo. Mas você acredita que nem tudo que jogamos nas caçambas pode ser chamado de lixo? A professora Sônia Trannin de Mello, do Departamento de Ciências Morfológicas (DCM), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), explica que existe uma diferença importante entre os termos resíduo e lixo.
“Aquilo que é resíduo vale dinheiro e pode ser dividido em duas categorias, os resíduos recicláveis e orgânicos, que também podem ser reciclados e transformados em adubo, por exemplo. Agora, o que não pode ser aproveitado de jeito nenhum é chamado de rejeito, ou lixo. É somente o lixo que deve ser encaminhado para os aterros sanitários, mas, ainda assim, mais de 90% do que é enterrado nos aterros não é rejeito e poderia ser reaproveitado”, explica Trannin. Confira, no vídeo abaixo, como você deve separar seus resíduos e rejeitos.
Você pode estar se perguntando: como o resíduo vale dinheiro e pode ser reaproveitado, então? Se pararmos para pensar, a resposta é simples: devolvendo esses produtos que podem ser reciclados ao ciclo de produção. Assim, eles podem ser transformados em outros produtos, já que voltam para a mesma cadeia que já pertenciam. Isso minimiza os efeitos do descarte desses produtos no ambiente, além de ter um impacto socioeconômico positivo. Essa estratégia tem um nome: a logística reversa, estrela dessa matéria!
Todos somos responsáveis pela logística reversa
Além de destinar corretamente os resíduos, devemos tratá-los previamente. Esse processo começa dentro de casa. Lavar potes de maionese, latinhas de creme de leite, dar uma limpadinha na caixa de pizza antes de descartá-la: tudo isso é fundamental para que os resíduos sólidos cheguem à cooperativa de reciclagem livres de restos de comida. Recicláveis misturados com materiais orgânicos são muito atrativos para animais de rua, que furam os sacos de lixo em busca de comida e acabam se machucando com os resíduos sólidos. Além disso, esses materiais atraem roedores, baratas, escorpiões e formigas quando chegam à cooperativa.
Agora, pergunte a si mesmo: você gostaria de trabalhar em um ambiente com essas condições? Imagino que não, certo? Então, está aí mais um motivo para você começar a prestar atenção nos resíduos que descarta. A logística reversa não beneficia só o meio ambiente, mas todas as famílias que têm o trabalho nas cooperativas como fonte de renda principal.
Então, como você já percebeu, a logística reversa só funciona se você fizer sua parte certinho. Podemos até pensar que a responsabilidade por devolver os resíduos sólidos ao ciclo de produção é exclusiva das grandes indústrias, das cooperativas de reciclagem e do governo. Mas não é bem assim. A partir do momento que vamos ao supermercado comprar uma caixa de sucrilhos para o café da manhã, por exemplo, nós somos os principais responsáveis por descartá-la corretamente, relembra a professora Sônia. O descarte correto é só uma das etapas do ciclo da logística reversa. E nós, consumidores, somos responsáveis por esta etapa. Quem produziu e quem distribuiu também é responsável pela manutenção desse ciclo de reinserção dos produtos na cadeia produtiva. Ou seja, somos todos responsáveis por garantir que a logística reversa funcione bem.
Todos podemos ser super-heróis
E o nosso compromisso com a logística reversa não acaba por aí: quando damos a devida atenção para a reciclagem correta, também ajudamos a minimizar os efeitos das mudanças climáticas. Demais pensar que podemos fazer nossa parte para frear o aquecimento global, né? Soraya Bischoff, analista ambiental no Instituto Brasileiro de Logística Reversa (ILOG), explica que, quando descartamos corretamente nossos recicláveis, eles são encaminhados para cooperativas, que os vendem de volta para as indústrias. Assim, extraímos menos matéria-prima do meio ambiente como petróleo, árvores, carvão e gás na natureza, porque o que já existe na cadeia de produção pode ser transformado em novos produtos. Isso tem um impacto ambiental positivo enorme. E quando deixamos de tirar matéria prima da natureza em excesso, também ajudamos a frear o aquecimento global.
Soraya usa o exemplo das condições climáticas extremas, como as chuvas torrenciais, altas temperaturas e geleiras derretendo, para mostrar o quão importante é a logística reversa. A analista ambiental faz a palestra intitulada “Um olhar além da sua lixeira” em várias escolas e empresas de reciclagem pelo Paraná. “A maioria das pessoas não tem contato suficiente com a educação ambiental na escola ou em casa e não sabe como reciclar, por exemplo. A conscientização ambiental é um trabalho de formiguinha. Demora até as pessoas perceberem que não podemos mais terceirizar para empresas ou cooperativas a nossa responsabilidade de reciclar certo”, relata Soraya sobre o que ela percebe quando conversa com as crianças e adolescentes. Por isso, projetos como as constantes palestras promovidas pelo ILOG são fundamentais para a mudança de comportamento da população, desde crianças até adultos.
A professora Conceição Diniz, da Escola Recanto Infantil, de Curitiba, reflete sobre os impactos positivos que a destinação correta dos resíduos pode gerar: “A logística reversa é um tema atual e importantíssimo. Nós temos que rever os conceitos e fazer com que aquilo que nós já usamos seja reaproveitado e que volte em forma de algum outro produto. O meio ambiente agradece, o planeta agradece e eles, os alunos, mais tarde, verão a diferença que isso faz”, explica a professora.
Palestras como as de Soraya têm efeito dentro e fora das salas de aula. A aluna Pérola Clarice de Barros, da Escola Municipal Lucídio Florência Ribeiro, de Campina Grande do Sul, no Paraná, conta como a palestra a ajudou a entender a diferença entre lixo orgânico e reciclável, além de levar as lições aprendidas para seus familiares. “Quando cheguei em casa, contei tudo para minha família e todos aprendemos muito com o projeto”, conta a garota de nove anos.
A mudança que está ao nosso alcance
Com o objetivo de fazer esse trabalho de formiguinha, a professora Sônia Trannin coordena o projeto “Logística Reversa Coleta e Seletiva: aprendendo com o Juca, mascote do MUDI, sobre sustentabilidade”, com apoio do Museu Dinâmico Interdisciplinar (Mudi), da UEM, e do ILOG. A equipe oferece cursos e palestras para a comunidade interna e externa da Universidade, além de promover várias ações para envolver a população ativamente na logística reversa.
Trannin explica que um coletor de tampinhas foi uma das primeiras iniciativas do projeto. O Coletor surgiu como um ticket simbólico de entrada no Mudi. A proposta era que cada aluno que visitasse o Museu trouxesse, ao menos, uma tampinha plástica. Com o sucesso do projeto, foi firmada uma parceria com a Plaspet, empresa maringaense atuante na área de reciclagem de plástico, para que as tampinhas fossem processadas e vendidas de volta à indústria. Além do coletor de tampinhas, o Mudi também conta com um “papa pilhas”, para que essas baterias possam ser descartadas corretamente.
Seguindo o sucesso do coletor de tampinhas, o projeto foi ainda mais longe e firmou uma parceria com a Nespresso, uma marca da Nestlé com foco em café espresso em cápsulas. Também com o apoio do ILOG, foi disponibilizado à comunidade um coletor de cápsulas descartáveis de café. As cápsulas recebidas são devolvidas, por correio, para a Nespresso, que paga cerca de R$ 1,55 por quilo de material enviado.
A professora Sônia reforça que o coletor de cápsulas é importantíssimo para trabalhar a educação ambiental com alunos, professores, técnicos e população em geral que passa pela UEM, além de dar o destino correto para essas cápsulas, por meio da reciclagem.
O projeto “Logística reversa” da UEM concorreu ao Selo que se refere ao ODS número 12, relacionado à produção e ao consumo sustentável. Esta certificação é prova de que essas iniciativas têm papel fundamental para mudar, aos poucos, os nossos hábitos errados de separação de rejeitos e resíduos. Afinal, somos todos habitantes do mesmo planeta, e é nossa responsabilidade aprender a cuidar dele.
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Texto: Luiza da Costa e Gabrielli Ferreira
Revisão: Silvia Calciolari
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Mariana Muneratti
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior
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A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS: