Muitas vezes, quando falamos sobre museus, as pessoas acabam imaginando um cenário antigo, sem tecnologia ou inovação. Mas, hoje, estamos aqui para provar que também são espaços recheados de inovações tecnológicas. Visitação on-line, scanners e até um museu viajante são algumas dessas propostas encontradas em museus universitários que foram apresentadas no Painel 11, do Paraná Faz Ciência, versão paranaense da 18ª Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Museu Histórico de Londrina
Quem contou tudo sobre o Museu Histórico de Londrina foi a diretora da Instituição, Edméia Aparecida Ribeiro. De acordo com a professora, a organização do acervo histórico começou por meio de trabalhos acadêmicos de graduandos do curso de História, que consistiam na coleta e catalogação de objetos recolhidos entre 1968 e 1969, sob a orientação do professor Padre Carlos Weiss.
“A primeira coleção foi formada com o término da disciplina do professor Weiss e, nesse período, precisavam de uma sala onde pudessem guardar e conservar esse material”, conta Edméia, “então, foi cedido o porão do Colégio Hugo Simas para guardar o material”. Em 1970, nasceu o Museu Geográfico e Histórico do Norte do Paraná, que, hoje, é chamado de Museu Histórico de Londrina. Em 1974, passou a ser Órgão Suplementar da Universidade Estadual de Londrina (UEL), e, atualmente, se encontra no prédio da antiga Estação Ferroviária da cidade.
Segundo Edméia, o museu possui mais de 1 milhão de itens salvos, entre eles, o acervo tridimensional, documentos, periódicos, imagens e som. Justamente por ter essa grande quantidade de dados, muitos pesquisadores de dentro e de fora da universidade, procuram pelo museu. E essa procura, inclusive, acontece de forma virtual.
Antes mesmo da pandemia, em 2017, o Museu Histórico de Londrina foi inscrito no Sistema Estadual de Museus, que lhe deu acesso à Rede Museus Paraná e à base de dados Pergamum Museus, uma plataforma tecnológica para a gestão de coleções de museus, que possibilita a formação de um banco de dados para a consulta pública. Essa tecnologia facilitou a gestão dos acervos e, ao mesmo tempo, permitiu uma socialização das informações sobre as coleções guardadas no museu histórico.
“Não podemos negar que a contemporaneidade trouxe consigo a era digital”, comenta a professora, no painel, “a rapidez e a agilidade são o centro desse mundo virtual, que mudou a forma de comunicação e expandiu as fronteiras da informação. Os museus viram nessa potência do mundo digital uma forma de levar para longe e, com agilidade, os seus acervos e demais informações.”
Desse modo, Edméia conta que, com o início da pandemia, foi lançado o projeto “Conhecendo o Museu por Dentro”, que tem como objetivo apresentar o museu para o público de maneira virtual, passando por cima dos problemas causados pelo distanciamento social, que tornou a visita presencial ao museu inviável.
Por meio desse projeto, a equipe do museu começou a produzir conteúdos para as redes sociais. “Nós percebemos que aproximamos do museu muitas outras pessoas, que, por distância, desconhecimento ou falta de interesse, não conheciam o espaço nem a riqueza do que pode ser encontrado ali”, conta a professora.
Desde a criação do projeto, as pessoas envolvidas têm criado vídeos, cartões postais, textos com imagens, divulgação de eventos e concursos, séries e postagens nas redes sociais. “Vimos como uma oportunidade de mostrarmos para muitas pessoas, itens que ficam arquivados e que só seriam acessados por quem nos procura para fazer uma pesquisa”, comenta a diretora.
A visita virtual ao Museu Histórico estará disponível, de acordo com Edméia, em breve, no canal do youtube do museu e nas redes sociais. “Ficou mais simples do que gostaríamos, mas, com muita garra, fizemos”, declara a professora.
Assista abaixo um dos vídeos criados pelo projeto “Conhecendo o Museu por Dentro”, no canal do Youtube da Instituição, que conta sobre as peças de vestuário guardadas no acervo tridimensional.
Museu Campos Gerais
O Paraná Faz Ciência também contou com a presença do professor Niltonci Batista Chaves. Ele apresentou o museu vinculado à Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), o Museu Campos Gerais, do qual é diretor desde 2018.
Segundo Niltonci, a história do museu começa no ano de 1948, no Centro Cultural Euclides da Cunha, um núcleo de intelectuais da cidade, que começou a juntar as primeiras coleções. Porém, foi em 1950 que o museu foi fundado oficialmente e, quase 20 anos mais tarde, em 1969, passou para o domínio da UEPG.
No entanto, foi somente em 1983 que a entidade recebeu a denominação de Museu Campos Gerais e passou a ter uma sede própria no prédio do primeiro Fórum de Ponta Grossa. Porém, em 2003, devido à má conservação, foi realocado para a localização atual, na mesma quadra do prédio original do Museu.
A relação do museu com a questão virtual começou em 2015, quando um dos colegas de departamento de Niltonci, o professor Edson Armando Silva, ganhou um edital da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia. A proposta do professor Edson era digitalizar documentos históricos por meio de softwares de livre acesso. O edital financiou o projeto e comprou um Scanner Mark 2, da marca Atiz. Esse scanner foi colocado em um projeto piloto pelo Departamento de História, no Museu Campos Gerais, e, aos poucos, todo o acervo histórico do museu foi digitalizado: documentos institucionais, jornais, revistas, fotografias e negativos.
Em 2018, quando Niltonci assumiu a diretoria do museu, o projeto piloto se tornou um Núcleo de Digitalização. Com o apoio da reitoria e da pró-reitoria, foram comprados mais equipamentos, como scanners e computadores. Ao mesmo tempo, o núcleo passou a desenvolver projetos de scanners artesanais com celulares.
Em 2020, com o início da pandemia, o Museu precisou fechar para o público. “Como manter as pessoas no espaço do museu, se não pode ter atendimento físico”, comenta o diretor, “essa questão acabou sendo colocada para gestores de museus do mundo todo”.
Desse modo, a equipe realizou uma gestão interna, uma manutenção preventiva dos acervos e passou a fornecer “atrativos virtuais” com práticas educativas, fotos em 360° e visitas guiadas on-line. Também foram ofertados acervos documentais digitalizados. A disponibilidade dos materiais se encontra no Repositório Memórias Digitais, que já possui diversas coleções de jornais, coleções pessoais, documentos institucionais e acervos de imagens.
Segundo Niltonci, o museu também passou a investir mais no Instagram e no canal do youtube. Assista, abaixo, um dos vídeos do museu, uma homenagem feita ao aniversário de Paulo Leminski:
Museu Viajante (MuVis)
Para finalizar a exibição dos museus universitários que estão de cara nova, a professora Mayara Elita Braz Carneiro apresentou uma ideia diferente: o Museu Viajante, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Idealizado pelo professor Rodrigo Reis, o projeto MuVis – Museus Viajantes – tem por objetivo a transmissão do conhecimento científico, em especial, a divulgação das pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo de Fixação de Nitrogênio e pelo Laboratório Central de Nanotecnologia, da UFPR.
“Esses são temas que, num primeiro momento, parecem complexos”, conta a professora, “então, foi a partir do desafio de divulgar esse conhecimento para a sociedade que nós produzimos a concepção dos museus viajantes”.
A estrutura dos MuVis é de um totem, com módulos, baseado no conceito de micro museu, ou seja, possui autonomia e facilidade na mobilidade. Além disso, o projeto também busca promover a acessibilidade, a fim de se conseguir a interação tanto de crianças, quanto de adultos.
Segundo a professora, para ter um maior contato com o público, os museus viajantes recorrem a alguns artifícios, como a “materioteca interativa”, que apresenta explicações e expõe materiais para a comunidade a respeito dos temas divulgados pelo museu viajante. “Tem um material digital produzido pensando na questão da acessibilidade”, comenta Mayara, “com fones e tablets dentro da estrutura do museu”.
Há, até mesmo, um holograma, que fica localizado na parte de baixo da estrutura, na altura das crianças. “Utilizamos esses hologramas para mostrar, por exemplo, quais os benefícios que as nanoestruturas trazem para a sociedade”, conta a professora, “as crianças ficam encantadas vendo as mudanças dos hologramas”. O MuVis também possui impressões em 3D, o que permite o visitante pegar e visualizar o material.
“Nós não temos o histórico, o acervo que os outros museus possuem”, declara Mayara, “mas estamos construindo esse acervo”.
Assista o vídeo abaixo, do canal do youtube do MuVis, que apresenta a composição do museu viajante.
Todas essas inovações permitem que, especialmente neste momento de pandemia, os museus universitários possam sobreviver, já que esses espaços dependem do público para que existam. As tecnologias também colaboraram para que houvesse uma ampliação do público: pessoas de diferentes lugares do mundo podem ter acesso aos museus universitários de forma virtual.
“A virtualização dos museus não é momentânea e não vai acontecer só agora, na pandemia. Ela é definitiva e permite a democratização das informações”, comenta o professor Niltonci, ao fim do painel.
Ouça no áudio abaixo, um trecho da discussão realizada no painel, em que o mediador da mesa e professor orientador do C2, Tiago Franklin Lucena, comenta sobre o assunto.
Os museus são, então, muito mais do que simples espaços de exposição. Eles são lugares formados por pessoas que buscam compartilhar o conhecimento de forma mais ampla e democrática, usando as inovações tecnológicas a seu favor. A 18ª Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação pode ter acabado, mas a mente desses cientistas não para nunca.
O conteúdo desta página foi produzido por
Texto: Isadora Hamamoto e Thamiris Saito
Edição de áudio: Milena Massako Ito
Roteiro de vídeo: Milena Massako Ito
Edição de vídeo:Karoline Yasmin
Supervisão: Ana Paula Machado Velho
Arte: John Zegobia
Supervisão de Arte: Thiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior
A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS: