Educação do Futuro: a inovação já começou

O projeto é moldado em três eixos e dá conta do cenário digital e analógico

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Quando eu nasci, há 27 anos, as coisas mais tecnológicas que tinham na minha casa eram a televisão – de tubo -, o rádio e a batedeira. Fui crescendo junto com a inclusão de novas tecnologias no dia a dia das pessoas e, claro, com o barateamento dessas inovações e a maior facilidade de acesso

Lembro sempre de achar engraçado como minha mãe ficava surpresa com a minha facilidade em mexer em novos equipamentos – que eu não tinha tido nenhum contato anterior – e de entender as ferramentas e aplicativos dos computadores e celulares. Mas, foram movimentos quase naturais para mim, que fui amadurecendo conforme as tecnologias foram avançando e trazendo cada vez mais novidades.

Hoje em dia, as crianças têm o próprio celular e tablet, possuindo contato com essas tecnologias e equipamentos desde os primeiros anos de vida. E essas interações não se restringem apenas ao ambiente domiciliar, mas também ao escolar. 

Vemos, cada vez mais, a inserção do digital nas escolas e no aprendizado. O Governo do Paraná tem seguido muito essa linha. O aluno e morador de Londrina – PR, Jonathan Pires, de 12 anos, está no Ensino Fundamental, da Rede Pública Estadual, e tem aprendido muito com a ajuda das novas tecnologias. O aluno conta que muitas das atividades de casa só podem ser feitas com o auxílio do computador, já que são utilizadas vias educativas como aplicativos, jogos e plataformas on-line.

Dentro de casa, a garotada pode continuar aprendendo de uma forma divertida e que prende a atenção. Ao invés de apenas se conectarem a jogos sem um viés educacional, os estudantes podem jogar partidas que os façam pensar sobre temáticas e ensinamentos discutidos na escola. 

Jonathan afirma que gosta muito das atividades on-line que faz em casa, porque elas são legais e divertidas para aprender o conteúdo da aula. O fato de as tarefas também serem em casa é outro ‘bônus’. “Eu me sinto bem fazendo as atividades porque eu estou no conforto da minha casa”, afirma Jonathan. Ou seja, é uma forma efetiva para agradar os alunos e manter um ensino de qualidade. 

Pensando o futuro

O Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) Educação do Futuro surge nesse cenário, em um período pós-pandemia, que gerou grandes mudanças no entendimento do acesso à educação e no comportamento humano. “O Arranjo nasceu em uma perspectiva de nós atuarmos frente a todos os desafios que se colocam em termos educacionais para o século 21. A ideia já aparece no próprio nome, ‘Educação do Futuro’, concebendo que essa é uma educação do futuro do presente, porque ela já está acontecendo a todo tempo”, afirma a coordenadora do projeto, professora Maria Aparecida Crissi Knuppel.

Prof. Dra. Maria Aparecida Crissi Knuppel apresentando o NAPI Educação do Futuro na II Semana Geral dos NAPIs (Foto/Arquivo Pessoal)

Knuppel é professora associada da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), onde coordena o programa Universidade Aberta do Brasil (UAB), no âmbito da instituição, trabalhando junto ao Núcleo de Educação à Distância. Além disso, coordena a Universidade Virtual do Paraná (UVPR), ou seja, está inserida diretamente em aspectos educativos associados às tecnologias e meios digitais. 

A professora explica que, assim como a cidade de Jonathan, muitos municípios do Paraná já estão fazendo essa conexão entre o espaço escolar físico e o espaço escolar digital, adotando práticas educativas que mesclam essas duas realidades, fazendo com que cada uma enriqueça a outra. 

“Contudo, há a necessidade de formação de professores para as competências pedagógicas digitais, em um mundo cada vez mais interconectado e dependente de recursos tecnológicos avançados. No entanto, é igualmente importante não negligenciar as tecnologias analógicas e ancestrais, que possuem valor inestimável e aplicações práticas diversas”, afirma Knuppel. 

Essas tecnologias analógicas e ancestrais são as que conhecemos com a palma da mão. Aprender com o uso de lápis, caneta, papel, giz no quadro e um professor frente a frente, dentro das salas de aula. Ou seja, unir essa rica forma de aprendizado às inovações modernas. 

No entanto, a coordenadora do NAPI alerta para uma questão super importante: não privilegiar apenas as inovações tecnológicas e esquecer dos métodos tradicionais – e ainda muito efetivos – de ensino. “A ideia é promover uma educação equilibrada, que valorize a diversidade de ferramentas e conhecimentos disponíveis, proporcionando aos alunos uma formação completa”, explica Knuppel. 

A professora explica que o NAPI Educação do Futuro foi articulado em três eixos, possuindo uma estruturação específica e muito especial. O primeiro eixo é o Observatório da Educação Básica Pública, o qual reunirá os Repositórios Institucionais das universidades paranaenses, tornando acessível à população os dados, as informações e os diagnósticos referentes à Educação Básica do Estado do Paraná.

Evento de lançamento do NAPI Educação do Futuro (Foto/Arquivo Pessoal)

Será possível acessar, em um só lugar, pesquisas, boas práticas, ações, discussões e debates ricos em relação à educação, para que professores e comunidade estejam a par dos avanços e dinâmicas da educação do Estado. De igual forma serão realizadas pesquisas para deixar público painéis com dados da educação do Paraná, como por exemplo, os dados do ensino técnico, para monitoramento de novos entrantes, painel do perfil dos professores da educação básica ou mesmo o painel de atratividade dos cursos superiores presenciais e em educação a distância.

“A nossa ideia é que esse Observatório congregue todos os Repositórios que nós vamos trabalhar das universidades que estão envolvidas dentro do projeto. Nos Repositórios já tem toda uma perspectiva de conteúdos, de recursos educacionais abertos, bem como de boas práticas, além de discussões e debates em relação à educação. Então, qualquer projeto que a gente veja que está sendo desenvolvido dentro do Estado, a gente quer trazer essas boas práticas, desenvolvendo uma ciência aberta”, afirma Knuppel.

Mas a ciência pode ser ‘fechada’? Bom, quando ela não é acessível e partilhada, podemos, sim, ter esse olhar! Uma ciência aberta, de acordo com a coordenadora, é trabalhada com dados e estudos disponíveis para que outros pesquisadores possam retroalimentar as suas próprias pesquisas. Dessa forma, uma mão lava a outra. As pesquisas avançam, os estudos se desenvolvem e a ciência cresce, e aparece!

“Nós estamos trabalhando dentro da Universidade Virtual do Paraná e com as universidades no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). Esses dados, de atuação prática do professor na sala de aula, também serão colocados no Observatório, bem como as pesquisas dos nossos estudantes, como as iniciações científicas, e dos nossos professores. Além de todas as discussões que permeiam o ensino e a educação básica como um todo, dos nossos municípios”, exemplifica Knuppel sobre uma prática de ciência aberta. 

Equipe do NAPI Educação do Futuro reunida com membros da Fundação Araucária na Universidade Aberta (UAb) de Portugal (Foto/Arquivo Pessoal)

Segundo eixo

O segundo eixo no qual o NAPI está estruturado é chamado de Competências Digitais dos Professores. As ações têm por objetivo avaliar as competências digitais de docentes da Educação Básica e do Ensino Superior de 100 municípios paranaenses, estimando um público-alvo de 50 mil pessoas.

O processo prevê diversas etapas: mapeamento e avaliação de proficiência digital de professores; análise dos modelos de formação e das ações de capacitação; design de novos modelos; ações de capacitação e produção de Recursos Educacionais Abertos; avaliação e divulgação de resultados, dentre outras.

“Nós vamos fazer o mapeamento a partir de um framework 1que estamos adaptando e ampliando, que é a DigCompEdu, criado pela União Europeia. Este framework tem seis categorias e nós vamos trabalhar mais três: a da inteligência artificial, da educação aberta e da educação digital. Essas dimensões serão trabalhadas com os professores, para compreender em que eles estão mais preparados ou quais categorias precisam ser fortalecidas, para, a partir daí, a gente fazer um amplo programa de formação. Então, cada professor vai saber quais os cursos dentro dessa formação ele precisa praticar para aprimorar as suas competências pedagógicas digitais”, afirma a coordenadora geral do Arranjo.

Mas, é preciso lembrar que esse é um framework desenvolvido especialmente para a União Europeia, considerando as realidades da educação de lá e suas necessidades, as quais divergem grandemente da situação brasileira. Por isso, Knuppel explicou que a plataforma foi adaptada. A versão brasileira está sendo desenvolvida por pesquisadores da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e Universidade Aberta de Portugal.

Estabelecimento da parceria entre o NAPI Educação do Futuro e a Universidade Aberta (UAb) de Portugal (Foto/Arquivo Pessoal)

Terceiro eixo

Por fim, o eixo 3, é o da Educação Básica Pública e Desenvolvimento Endógeno Sustentável. “A ideia é entender quais políticas públicas já estão sendo implementadas nos municípios que atuaremos e quais estão em falta. Assim, a gente compreende a realidade do nosso Estado e esse eixo pode contribuir na formulação de novas políticas públicas, bem como no seu mapeamento e monitoramento. E isso se entrelaça, porque, a partir dessas políticas, também surgem questões que precisam ser debatidas em todo o Observatório e assim por diante”, afirma Knuppel. 

E o desenvolvimento endógeno é essa potencialização do próprio local de atuação. Os pesquisadores entenderão, a partir do levantamento de dados, quais as potências de nossos professores, de que forma eles podem se capacitar ainda mais e, toda essa força educacional, será reaplicada aos alunos paranaenses.

Equipe NAPI Educação do Futuro (Foto/Arquivo Pessoal)

Trabalho no campo

Já deu pra perceber que toda estrutura teórica do Arranjo está perfeitamente construída, não é mesmo? Para partir para a prática, será feita a seleção de 100 municípios para a aplicação das diretrizes do NAPI Educação do Futuro. A seleção virá a partir da adesão das Prefeituras às propostas do projeto, além de levar em consideração um importante indicador, que é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), gerado a partir de dados do fluxo escolar e das médias de desempenho nas avaliações dos alunos. Assim, as cidades com Ideb mais baixo são um melhor alvo para a aplicação do Arranjo. 

No entanto, antes mesmo da seleção desses municípios, é fundamental a realização de um teste piloto, para avaliar toda a eficiência da dinâmica e aprimorar o que for necessário antes de sua aplicação real. Afinal, imagine lançar uma plataforma para cerca de 50 mil pessoas e que não atende as necessidades do público?!

Por isso, serão avaliadas a adesão dos professores, a facilidade ou não com a navegabilidade das plataformas, bem como as próprias estruturas das escolas e, até que ponto, elas serão capazes de comportar o digital. 

Equipe NAPI Educação do Futuro durante lançamento do Arranjo (Foto/Arquivo Pessoal)

A professora indica que, em seu modo de ver, melhorou muito a consciência dos professores a respeito da necessidade das tecnologias educacionais e digitais dentro da escola. É algo mais difícil, pois há um mesmo sistema de educação em vigor, há anos. Mas, aos poucos, os professores vão percebendo uma coisa: “nas nossas práticas pedagógicas, sempre usamos tecnologias. Pode ser que elas não fossem as digitais, mas eram analógicas e nós podemos trabalhar na união dessas duas frentes”, afirma Knuppel.

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Texto:
Mariana Manieri Pires Cardoso
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Revisão: Maria Eduarda Oliveira
Arte: Hellen Vieira
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

Glossário

  1. Framework: é uma planta para o desenvolvimento de um software, uma sequência de instruções para serem interpretadas por um computador. ↩︎

A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:

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