Neurociências: conectando os neurocientistas do Paraná

Programa busca fortalecer rede entre neurocientistas do estado e possibilitar acesso a técnicas avançadas de neurociências

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Imagina só: poder desbravar os mistérios daquilo que faz todo o nosso corpo funcionar, ou, mais especificamente, daquilo que controla todas as ações dos seres humanos, como falar, andar, respirar, digerir e muito mais. De maneira resumida, esse é o papel do sistema nervoso e a Neurociência surge como a área responsável por investigá-lo, revelando os mecanismos por trás do nosso pensamento, emoções, memória e, até mesmo, da consciência.

Mas, e quem estuda isso? São os chamados neurocientistas que, como parte do universo intrigante de conhecimento que é a Neurociência, desvendam os seus segredos. 

A paranaense Caroline Stefani Plank faz parte desse grupo. Ela é fascinada pela ciência desde criança, fato que a influenciou a cursar Biomedicina, mesmo que, na época, tenha ficado na dúvida também entre cursos como Letras e Medicina Veterinária. Incerteza normal de qualquer adolescente perto de prestar vestibular.

De cara, já no primeiro ano da faculdade, Caroline se aproximou da pesquisa científica e, no segundo, pôde colaborar nos estudos de um de seus professores da graduação sobre a doença de Alzheimer, transtorno neurodegenerativo que afeta, atualmente, em torno de 1,2 milhões de brasileiros, de acordo com dados do Ministério da Saúde. “Na verdade, me interessei em estudar a doença, sobretudo, por causa da minha avó, que tem Alzheimer”, relembra. 

Somando esses dois fatores, a biomédica teve a oportunidade e o anseio por procurar entender mais sobre o Alzheimer. Seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi focado no assunto, que acabou se desdobrando na sua pesquisa de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), na cidade de Cascavel. Agora, Caroline analisa a relação do tratamento com oleoiletanolamida na doença de Alzheimer. Então, você se pergunta: o que isso quer dizer?

O oleoiletanolamida (OEA) é um composto químico produzido no corpo humano e desempenha vários papéis biológicos, porém é mais conhecido por seu envolvimento no controle do apetite e na regulação do metabolismo, influenciando na manutenção da glicemia. O OEA é usado no tratamento da obesidade, patologia que, segundo a mestranda, ainda pode se relacionar ao mal de Alzheimer, bem como à diabetes tipo 2.

Assim, diante da ligação do OEA com essas doenças, Caroline destaca a importância do uso da substância para obter os resultados em sua pesquisa. Além disso, a propriedade neuroprotetora do oleoiletanolamida é um ponto-chave, pois protege os neurônios contra a morte neuronal, que é justamente o que o Alzheimer causa no tecido do cérebro. 

No entanto, Caroline vai precisar sair por um tempo de seu  laboratório atual no Oeste do Paraná para ir à Universidade Estadual de Maringá (UEM) dar prosseguimento ao estudo, já que lá vai aprender técnicas avançadas em neurociências, as quais poderá utilizar a fim de obter resultados que estejam alinhados à hipótese do projeto que a concederá o título de mestre. 

Isso tudo graças ao Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (Napi) Neurociências! Com as atividades previstas para começar em novembro deste ano, o projeto tem como um de seus objetivos fazer essa ponte entre alunos de pós-graduação e metodologias importantes para os estudos da Neurociência, disponibilizando redes de laboratório para pesquisa e capacitação em novas tecnologias. Por meio dele, técnicas de extrema importância para o estudo dessa área chegaram até algumas das principais instituições de ensino superior do Paraná. 

A estruturação dessa rede é feita, basicamente, a partir da disponibilização da infraestrutura e da expertise de três laboratórios de pesquisa em Neurociências sediados em universidades paranaenses, sendo elas: Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Universidade Estadual de Maringá (UEM). Nesses locais, os pesquisadores e estudantes de pós-graduação vão colocar em prática suas missões de trabalho, visando realizar experimentos que utilizem tecnologias não-disponíveis em suas instituições de origem.

A iniciativa do Napi – implantada pelo governo estadual em parceria com a Fundação Araucária – surgiu da importância de garantir o papel da ciência e tecnologia na criação de riquezas, geração de renda, emprego e qualidade de vida para o estado. Não é à toa que o Napi Neurociências busque que seus bolsistas incorporem as técnicas e conteúdos aprendidos não apenas em suas teses e trabalhos publicados, mas também em sua atuação prática como estagiários e, futuramente, como profissionais especializados.

Essa área de pesquisa está presente em diversas especialidades das Ciências da Saúde,  assim como explica Cláudio da Cunha, professor do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do Napi Neurociências. Para ele, “os profissionais atuantes nesse meio precisam de uma formação sólida para que compreendam de forma eficiente as doenças que envolvem o sistema nervoso”. Indo além disso, o conhecimento deve despertar a capacidade de propor novos pontos de vista para os problemas observados na sociedade como um todo. 

Foi por intermédio da professora Sara Sagae, da Unioeste e que é colaboradora do Napi Neurociências, que Caroline ficou sabendo do projeto e decidiu se inscrever no edital para participar, porque seria uma grande chance para desenvolver o trabalho e conhecer outros pesquisadores do campo. A biomédica reconhece a importância do Napi em proporcionar a estrutura e o intercâmbio entre universidades e laboratórios. Segundo ela, “uma iniciativa como o Napi é muito significativa, pois incentiva a pesquisa científica, além de viabilizar trocas de conhecimento entre os pesquisadores”. 

A possibilidade, por exemplo, de ligar ou desligar algum neurônio específico do cérebro para descobrir qual atividade mental ele controla parece distante e até surreal, não acha? Na última década, técnicas como a fotometria e a optogenética causaram uma verdadeira revolução na pesquisa em Neurociências. Apesar de recentes, as ferramentas são utilizadas mundialmente nos laboratórios de pesquisa dessa área que produzem conhecimento a partir de pesquisas de alto impacto, que é o plano a ser concretizado no Napi. 

Porém, devido à grande contribuição proporcionada por essas técnicas, revistas de maior renome passaram a recusar artigos que não utilizem as novas tecnologias em sua produção, um problema considerável para aqueles pesquisadores que ainda não têm acesso às tecnologias por conta de seu elevado custo de infraestrutura, operacionalização e manutenção. Mas, felizmente, essa é uma adversidade a ser resolvida para os cientistas que integram o Napi graças aos recursos disponibilizados pelo projeto.

O biólogo Eduardo Araújo também faz parte dessa equipe de peso que forma o Napi. Além de coordenador adjunto, atualmente é Diretor de Pesquisa na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Ele reforça a proposta anteriormente apresentada aqui: “Nossas pesquisas têm a finalidade de fornecer soluções de problemas relacionados à Neurociência. Fazemos essa entrega para a sociedade por intermédio de cursos, capacitação e material didático.”

A professora da UEM e coordenadora adjunta do projeto, Rúbia Maria Weffort, chama ainda a atenção para a evidência que o Napi pode trazer para esse mundo das pesquisas. Segundo ela, “consolidar uma rede de Neurociências ou de neurocientistas no Paraná ajuda a aumentar a visibilidade dos projetos realizados no nosso estado. Para os alunos dá ainda a possibilidade de melhorar suas pesquisas de mestrado e doutorado e, assim, conseguir também uma publicação em revistas de impacto mais alto”. Como se percebe, benefícios que comprovam a importância do investimento nessas pesquisas não faltam!

Além dos coordenadores, a equipe que fará a magia acontecer dentro da iniciativa nos próximos meses conta com outros 40 nomes de peso. Os colaboradores são professoras e professores doutores na área da Neurociência, o que deixa bem evidente que desse assunto eles entendem bem. 

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Texto: Isadora Monteiro e Maria Eduarda Oliveira
Supervisão de Texto: Ana Paula Machado Velho
Revisão: Silvia Calciolari
Arte: Lucas Higashi
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

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