Ao percorrer as estradas do Brasil, é impossível não notar as vastas plantações que se estendem por quilômetros: soja, milho, trigo, café, algodão… A agricultura brasileira evoluiu rapidamente com a ajuda da tecnologia, tornando-se mais moderna e eficiente. Mas com essa evolução da ciência, surge um desafio essencial: como produzir em larga escala sem prejudicar o meio ambiente?
Pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) estão desenvolvendo soluções inovadoras que não só aumentam a produtividade, mas também preservam a saúde do solo, da água e da biodiversidade. Entre essas inovações está o Frontier Control, um biofungicida que promete transformar o controle de doenças agrícolas de forma sustentável.
O que é um biofungicida?
Diferente dos fungicidas químicos convencionais, um biofungicida é um produto biológico feito a partir de organismos vivos que combatem fungos causadores de doenças nas plantas. O termo “bio” remete a sua origem natural, enquanto “cida” indica sua função de eliminação de patógenos.
Nas monoculturas, onde uma única espécie é cultivada em larga escala, o equilíbrio ecológico pode ser comprometido, facilitando o surgimento de doenças. O biofungicida surge como uma alternativa sustentável, protegendo as lavouras sem comprometer a qualidade da produção nem o meio ambiente.
O professor Admilton Gonçalves de Oliveira Jr., coordenador do Laboratório de Biotecnologia Microbiana da UEL, explica que os fungicidas químicos ainda são amplamente utilizados, mas podem trazer consequências negativas, como impactos ambientais e resistência dos patógenos.

“Quando não há controle adequado, as perdas podem chegar a 90% da colheita. No entanto, os produtos sintéticos, além de prejudicarem o meio ambiente, podem se tornar ineficazes com o tempo, pois os fungos desenvolvem resistência”, afirma o professor.
Frontier Control: Uma revolução sustentável
Diante desse cenário, os pesquisadores da UEL, em cooperação com a empresa Simbiose, desenvolveram o Frontier Control, um biofungicida inovador que utiliza biomoléculas para combater doenças de forma natural. Diferente dos produtos sintéticos, ele age através da interação entre bactérias benéficas e os fungos patogênicos, eliminando as ameaças sem prejudicar a planta.

Quer entender melhor como o Frontier Control funciona? Assista ao nosso vídeo explicativo e descubra todos os benefícios desse biofungicida inovador!
Diferenciais do Frontier Control:
O Frontier Control se destaca por sua alta resistência ambiental, suportando temperaturas elevadas e exposição ao sol sem perder a eficácia — ao contrário de outros biofungicidas que exigem refrigeração constante. Outro diferencial é sua longevidade: o produto possui um shelf life de até 36 meses, superando a média do mercado. Além de proteger as plantas contra doenças, o Frontier Control ainda oferece benefícios adicionais, como o estímulo ao crescimento, funcionando como uma espécie de “vitamina” natural.
O caminho da pesquisa à indústria
Criado no Laboratório de Biotecnologia Industrial e Inovação (LABIN), o Frontier Control nasceu de anos de pesquisa. No início, os cientistas focaram no isolamento de microrganismos e na criação de um banco de dados microbiológicos. “Começamos com poucos recursos, mas compensamos com dedicação e ciência”, relembra Admilton.
A grande virada veio através da parceria com a empresa Simbiose, que possibilitou investimentos em equipamentos avançados. Essa colaboração foi essencial para acelerar o desenvolvimento e transformar a pesquisa em um produto comercial. Em 2021, o Frontier Control recebeu registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e hoje já está disponível para os agricultores.
O impacto do projeto vai além da produção agrícola: ex-alunos do laboratório criaram startups, como a Bio Três, que desenvolvem novas tecnologias para o setor, mostrando como a pesquisa científica pode impulsionar o empreendedorismo e a inovação.
Paraná: um polo de inovação agrícola
Durante a conversa com o professor Admilton, ficou claro que o Paraná tem um papel estratégico na inovação agrícola nacional. O estado, com forte apoio de universidades e indústrias locais, está desenvolvendo tecnologias que não apenas atendem ao mercado interno, mas também possuem potencial de exportação.
Essa transformação tem sido impulsionada pela parceria entre universidades, empresas e o governo, incluindo incentivos como editais de pesquisa para doutores recém-formados e um ambiente jurídico favorável para a transferência de tecnologia.
Admilton destaca que o LABIN, antes um espaço modesto, se tornou um centro de inovação com infraestrutura completa para pesquisa microbiológica e bioindustrial. O resultado desse esforço conjunto já é visível: um produto biotecnológico desenvolvido na UEL está sendo utilizado em grande escala, beneficiando toda a cadeia produtiva, desde o agricultor até a indústria.
“Essas tecnologias criadas dentro da universidade têm potencial para beneficiar não apenas o Paraná, mas o Brasil e o mundo”, ressalta o professor.
O futuro da agricultura sustentável
Com o avanço da biotecnologia e o fortalecimento das parcerias entre pesquisa e indústria, o Frontier Control representa um grande passo para uma agricultura mais sustentável e produtiva. O desenvolvimento de biofungicidas como esse mostra que é possível aliar inovação e respeito ao meio ambiente, garantindo um futuro promissor para a produção de alimentos no Brasil e além.
A pesquisa científica segue como peça-chave na busca por soluções que conciliem produtividade e sustentabilidade. E, no Paraná, essa revolução já está em curso.
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Texto: Sabrina Heck e Yumi Aoki
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Revisão de texto: Silvia Calciolari
Edição de vídeo: Yumi Aoki
Arte: Lucas Higashi
Supervisão de arte: Lucas Higashi
Edição Digital: Guilherme Nascimento
A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:

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