Novo biofungicida muda a forma de proteger as plantas

Ilustração surreal retrata dois frascos de agrotóxicos sobre um mar azul. Um deles mostra um cientista trabalhando dentro, enquanto o outro tem uma pesquisadora em pé sobre a tampa, observando um dispositivo. Fios vermelhos flutuam pelo céu, sugerindo movimento e conexão. A arte explora a relação entre ciência, controle e observação no contexto agrícola. Obra de Lucas Higashi para o projeto Conexão Ciência.
Pesquisadores da UEL criam o Frontier Control, biofungicida que alia inovação científica e sustentabilidade no combate às doenças agrícolas

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Ao percorrer as estradas do Brasil, é impossível não notar as vastas plantações que se estendem por quilômetros: soja, milho, trigo, café, algodão… A agricultura brasileira evoluiu rapidamente com a ajuda da tecnologia, tornando-se mais moderna e eficiente. Mas com essa evolução da ciência, surge um desafio essencial: como produzir em larga escala sem prejudicar o meio ambiente?

Pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) estão desenvolvendo soluções inovadoras que não só aumentam a produtividade, mas também preservam a saúde do solo, da água e da biodiversidade. Entre essas inovações está o Frontier Control, um biofungicida que promete transformar o controle de doenças agrícolas de forma sustentável.

O que é um biofungicida?

Diferente dos fungicidas químicos convencionais, um biofungicida é um produto biológico feito a partir de organismos vivos que combatem fungos causadores de doenças nas plantas. O termo “bio” remete a sua origem natural, enquanto “cida” indica sua função de eliminação de patógenos.

Nas monoculturas, onde uma única espécie é cultivada em larga escala, o equilíbrio ecológico pode ser comprometido, facilitando o surgimento de doenças. O biofungicida surge como uma alternativa sustentável, protegendo as lavouras sem comprometer a qualidade da produção nem o meio ambiente.

O professor Admilton Gonçalves de Oliveira Jr., coordenador do Laboratório de Biotecnologia Microbiana da UEL, explica que os fungicidas químicos ainda são amplamente utilizados, mas podem trazer consequências negativas, como impactos ambientais e resistência dos patógenos.

A fotografia mostra um homem em pé em um ambiente laboratorial moderno, bem iluminado e equipado com instrumentos científicos.O homem está posicionado no centro da imagem e sorri levemente para a câmera. Ele tem pele clara, cabelo escuro e barba cheia com fios grisalhos. Veste um jaleco branco com um brasão bordado no lado esquerdo do peito. O brasão tem formato circular, com elementos em verde, preto e branco. Por baixo do jaleco, ele usa uma camisa escura.Ao fundo, à esquerda, há um grande equipamento metálico cilíndrico, com várias válvulas, tubos e medidores – um biorreator usado em processos científicos. À direita, um painel eletrônico exibe gráficos em uma tela sensível ao toque, com os nomes "ENGCO" e "BIOENG-P". No topo do painel, uma luz verde indica funcionamento normal. À direita da imagem, vê-se parte de uma bancada com frascos, utensílios de laboratório e uma pia. O ambiente é limpo, organizado e transmite um cenário de pesquisa e tecnologia.
Professor Admilton Gonçalves de Oliveira Jr., coordenador do Laboratório de Biotecnologia Microbiana da UEL (Foto/Sabrina Heck)

“Quando não há controle adequado, as perdas podem chegar a 90% da colheita. No entanto, os produtos sintéticos, além de prejudicarem o meio ambiente, podem se tornar ineficazes com o tempo, pois os fungos desenvolvem resistência”, afirma o professor.

Frontier Control: Uma revolução sustentável

Diante desse cenário, os pesquisadores da UEL, em cooperação com a empresa Simbiose, desenvolveram o Frontier Control, um biofungicida inovador que utiliza biomoléculas para combater doenças de forma natural. Diferente dos produtos sintéticos, ele age através da interação entre bactérias benéficas e os fungos patogênicos, eliminando as ameaças sem prejudicar a planta.

A imagem mostra uma prateleira de madeira clara com três recipientes de produtos agrícolas expostos. À esquerda, há uma caixa retangular da marca Simbiose com o nome “FRONTIER Control” em destaque. No canto superior esquerdo da caixa há um adesivo branco com a inscrição “MATERIAL PARA MOSTRUÁRIO”. No centro da embalagem, um selo dourado diz “ALTA PERFORMANCE no controle da Mancha parda e Mancha branca”. A caixa contém 2 frascos de 5 litros cada, totalizando 10 litros. Abaixo, está escrito “Simbiose – Biociência para o agro”, com o símbolo de uma folha estilizada. Ao lado, no centro da imagem, há um galão branco de plástico com rótulo da mesma marca (Frontier Control), também identificado como “MATERIAL PARA MOSTRUÁRIO”. O rótulo informa que o conteúdo é de 5 litros e o produto é classificado como “PRODUTO MICROBIOLÓGICO”. À direita, há parte de outro galão branco semelhante, mas o rótulo não está totalmente visível na imagem. O cenário é limpo, com os produtos organizados lado a lado em uma prateleira.
Biofungicida Frontier Control inovando no controle sustentável de doenças agrícolas (Foto/Sabrina Heck)

Quer entender melhor como o Frontier Control funciona? Assista ao nosso vídeo explicativo e descubra todos os benefícios desse biofungicida inovador!

Diferenciais do Frontier Control:

O Frontier Control se destaca por sua alta resistência ambiental, suportando temperaturas elevadas e exposição ao sol sem perder a eficácia — ao contrário de outros biofungicidas que exigem refrigeração constante. Outro diferencial é sua longevidade: o produto possui um shelf life de até 36 meses, superando a média do mercado. Além de proteger as plantas contra doenças, o Frontier Control ainda oferece benefícios adicionais, como o estímulo ao crescimento, funcionando como uma espécie de “vitamina” natural.

O caminho da pesquisa à indústria

Criado no Laboratório de Biotecnologia Industrial e Inovação (LABIN), o Frontier Control nasceu de anos de pesquisa. No início, os cientistas focaram no isolamento de microrganismos e na criação de um banco de dados microbiológicos. “Começamos com poucos recursos, mas compensamos com dedicação e ciência”, relembra Admilton.

  • A imagem mostra um laboratório moderno, bem iluminado, com cinco pessoas usando jalecos brancos, indicando que são cientistas ou estudantes realizando atividades de pesquisa. Todos parecem concentrados em suas tarefas. À esquerda, uma pessoa está sentada em frente a uma cabine de fluxo laminar, manuseando placas de Petri. Ao centro, uma mulher de óculos e cabelo ruivo preso está em pé, parecendo supervisionar ou organizar materiais sobre a bancada. À direita, outras três pessoas estão distribuídas entre a bancada e os equipamentos do laboratório, manipulando instrumentos e materiais. Sobre a bancada central há pilhas de placas de Petri, frascos com líquidos, frascos de vidro tipo Erlenmeyer e frascos de spray. O ambiente é limpo, com equipamentos científicos visíveis, como autoclave, capela e refrigeradores. Ao fundo, há janelas de vidro que mostram uma área anexa do laboratório.
  • A imagem mostra a entrada envidraçada de um laboratório identificado como "Laboratório de Biotecnologia Microbiana". Um adesivo com o nome do laboratório e um logotipo com círculos coloridos está fixado no vidro. Ao lado, há uma placa verde com a palavra "SEGURANÇA" em destaque e o aviso: "Uso obrigatório de: jaleco", junto ao desenho de um jaleco de laboratório. Do lado de dentro, é possível ver um ambiente limpo e organizado, com bancadas de trabalho, equipamentos de laboratório e cadeiras. Ao fundo, uma pessoa com moletom preto e calça jeans caminha em direção à porta, segurando a maçaneta de vidro. No topo da imagem, há logotipos de várias instituições de fomento à pesquisa, como Fundação Araucária, CAPES, CNPq, FINEP e Governo do Paraná. O ambiente transmite uma atmosfera profissional e científica, indicando que se trata de um espaço voltado à pesquisa e experimentação microbiológica.

A grande virada veio através da parceria com a empresa Simbiose, que possibilitou investimentos em equipamentos avançados. Essa colaboração foi essencial para acelerar o desenvolvimento e transformar a pesquisa em um produto comercial. Em 2021, o Frontier Control recebeu registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e hoje já está disponível para os agricultores.

O impacto do projeto vai além da produção agrícola: ex-alunos do laboratório criaram startups, como a Bio Três, que desenvolvem novas tecnologias para o setor, mostrando como a pesquisa científica pode impulsionar o empreendedorismo e a inovação.

Paraná: um polo de inovação agrícola

Durante a conversa com o professor Admilton, ficou claro que o Paraná tem um papel estratégico na inovação agrícola nacional. O estado, com forte apoio de universidades e indústrias locais, está desenvolvendo tecnologias que não apenas atendem ao mercado interno, mas também possuem potencial de exportação.

Essa transformação tem sido impulsionada pela parceria entre universidades, empresas e o governo, incluindo incentivos como editais de pesquisa para doutores recém-formados e um ambiente jurídico favorável para a transferência de tecnologia.

Admilton destaca que o LABIN, antes um espaço modesto, se tornou um centro de inovação com infraestrutura completa para pesquisa microbiológica e bioindustrial. O resultado desse esforço conjunto já é visível: um produto biotecnológico desenvolvido na UEL está sendo utilizado em grande escala, beneficiando toda a cadeia produtiva, desde o agricultor até a indústria.

“Essas tecnologias criadas dentro da universidade têm potencial para beneficiar não apenas o Paraná, mas o Brasil e o mundo”, ressalta o professor.

O futuro da agricultura sustentável

Com o avanço da biotecnologia e o fortalecimento das parcerias entre pesquisa e indústria, o Frontier Control representa um grande passo para uma agricultura mais sustentável e produtiva. O desenvolvimento de biofungicidas como esse mostra que é possível aliar inovação e respeito ao meio ambiente, garantindo um futuro promissor para a produção de alimentos no Brasil e além.

A pesquisa científica segue como peça-chave na busca por soluções que conciliem produtividade e sustentabilidade. E, no Paraná, essa revolução já está em curso.

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Texto:
Sabrina Heck e Yumi Aoki
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Revisão de texto: Silvia Calciolari
Edição de vídeo: Yumi Aoki
Arte: Lucas Higashi
Supervisão de arte: Lucas Higashi
Edição Digital: Guilherme Nascimento

A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:

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