Um dos temas de maior preocupação nas discussões sobre Inteligência Artificial (IA) é como ela afetará o mercado de trabalho. As opiniões variam, com algumas prevendo grandes substituições de empregos e outras enxergando novas oportunidades. Apesar dessas divergências, há um consenso crescente de que a IA altera profundamente muitas profissões, o que exigirá que os trabalhadores se adaptem e se requalifiquem, independentemente de ser para o bem ou para o mal.
Mas afinal, o que é Inteligência Artificial?
A IA é um campo da ciência da computação voltado para o estudo e desenvolvimento de máquinas e programas capazes de imitar o comportamento humano em uma ampla variedade de tarefas, desde as mais simples até as mais complexas. Conhecida pelas siglas IA ou AI em inglês (artificial intelligence), o conceito estava em seus estágios iniciais no início da década de 1950, avançando aos poucos à medida que a computação se modernizava. Atualmente, a IA faz parte do dia a dia das pessoas, presente em assistentes de voz, mecanismos de pesquisa, carros autônomos e redes sociais. Apesar de seus benefícios e progressos, muito se debate sobre seus limites éticos e seu papel na sociedade, atualmente.
De forma simplificada, a IA funciona coletando e combinando grandes volumes de dados, buscando identificar padrões nesse conjunto de informações. Essa análise é realizada geralmente por meio de algoritmos pré-programados, permitindo que o software tome decisões e execute tarefas por conta própria.
Existem diversos métodos pelos quais a IA pode imitar o comportamento humano, sendo os principais o machine learning e o deep learning. O machine learning, ou aprendizado de máquina, é um processo automatizado em que a IA reconhece e reproduz padrões com base em sua experiência prévia, adquirida pela utilização de algoritmos. Um exemplo disso são os mecanismos de pesquisa na internet. Já o deep learning, um campo dentro do machine learning, utiliza algoritmos que simulam o cérebro humano para analisar bancos de dados e informações.
Mas, para entendermos o momento atual em que a sociedade se encontra perante à indústria e os empregos em si, precisamos olhar para trás e entender como chegamos até aqui.
Revoluções Industriais
No começo, as mudanças causadas pelo homem eram insignificantes, especialmente antes do surgimento da agricultura. Ao longo da história da humanidade, com o aumento da população, o avanço de técnicas e o desenvolvimento de novos instrumentos de produção fizeram com que as mudanças se tornassem cada vez mais significativas. Nesse cenário, um ponto crucial na interação entre sociedade e natureza foi a Primeira Revolução Industrial.
A Primeira Revolução Industrial começou na segunda metade do século 18 e marcou o surgimento da produção em larga escala. Neste período, os antigos modelos agrícola e artesanal foram substituídos por novos modelos industriais, caracterizados pela substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e pelo uso de máquinas.
Iniciada na Inglaterra e depois estendendo-se pelo restante da Europa Ocidental e Estados Unidos, esse período foi caracterizado pela introdução de máquinas nos processos produtivos, bem como pela expansão da fabricação de produtos químicos e do transporte de pessoas e mercadorias, principalmente através de ferrovias e navios a vapor. Nas fábricas, as máquinas a vapor eram alimentadas por combustíveis fósseis, com destaque para o carvão mineral.
Já na segunda metade do século 19, a Segunda Revolução Industrial viu o desenvolvimento de indústrias químicas, elétricas, de petróleo e aço, além do avanço dos meios de transporte e comunicação. Surgiram navios de aço, substituindo aqueles de madeira, e foram inventados o avião, a refrigeração mecânica e o telefone. A produção em massa, a energia elétrica e o enlatamento de alimentos também se destacaram, assim como a supremacia dos automóveis nas cidades e a expansão das redes rodoviárias.
Por fim, na segunda metade do século 20, a Terceira Revolução Industrial testemunhou aos poucos a transformação da mecânica analógica para a digital, com a ascensão dos microcomputadores e a criação da internet em 1969. Houve uma crescente digitalização de arquivos e o surgimento da robótica. O século 20 foi marcado pela Guerra Fria, impulsionando avanços científicos, como a viagem do homem à Lua em 1969. Nesse período, novas fontes de energia, como a nuclear, solar e eólica, foram introduzidas, juntamente com avanços na engenharia genética e biotecnologia.
Trabalho e automação
Atualmente, a relação entre inteligência artificial e emprego é complexa e não segue uma trajetória linear. Geralmente, a IA tem a tendência de substituir trabalhos que são monótonos, previsíveis e que não demandam muita criatividade. É o que explica Guilherme Bernardi, mestre em Comunicação e bacharel em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). “As novas tecnologias não vêm no sentido de resolver problemas de necessidade da sociedade. Por existirem trabalhos simples, com muita mão de obra disponível, não há incentivos para essas automações”, detalha.
Contudo, são justamente os trabalhos mais monótonos os menos afetados pela IA. “Os incentivos para automatizar, substituir ou para colocar máquinas no lugar de trabalhadores fazem com que estejamos caminhando em direção a uma situação em que os trabalhos mais manuais, enfadonhos e pragmáticos, que poderiam ser automatizados, sejam os menos impactados pela inteligência artificial”, acrescenta Bernardi.
No campo, atualmente, há diversas ferramentas e plataformas que otimizam os processos agrícolas, incluindo controle remoto de maquinários, seleção de sementes, regulação de agro defensivos, sistemas de irrigação e rastreamento de produtos. Essas tecnologias já estão inseridas no campo e impactam os trabalhadores que lá se encontram.
Carlos Eduardo Caldarelli, doutor em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura e professor do Departamento de Ciências Econômicas da UEL, explica que existe uma série de modernizações e mudanças tecnológicas que afetam o campo. Mas isso não afeta o campo como um todo, apenas uma pequena parcela dos produtores, sobretudo os de maior renda e mais bem colocados. “Nesse sentido, isso é um problema, porque intensifica o diferencial de tecnologia entre os mais produtivos e os menos produtivos. Antes de começarmos, as mudanças são muitas em termos de qualidade e gerenciamento. Você tem uma série de aplicativos, uma série de utilizações de agricultura de precisão. Existe inteligência artificial para o uso racional da água, para o uso nas agriculturas convencionais. E mais uma vez, o grande problema é que essas tecnologias não estão disponíveis para todos os produtores, o que cria um desnível entre o maior e o menor produtor”, alerta o professor.
A regulação da tecnologia está crescendo globalmente. Recentemente, a União Europeia alcançou um acordo preliminar sobre as primeiras leis abrangentes para regular o uso da IA. O Parlamento Europeu votará essas propostas no início deste ano, com previsão de implementação em 2025. Enquanto isso, os EUA, o Reino Unido e a China ainda não estabeleceram suas próprias diretrizes. Embora o Brasil tenha iniciado debates no Congresso sobre inteligência artificial, ainda não possui regulamentação específica sobre o assunto.
Carlos Eduardo comenta que o Estado tem um papel fundamental para a regularização da automação no mercado de trabalho. Ele alerta para o fato de que o Estado tem um papel muito importante nas sociedades e que os governos precisam entender a inteligência artificial, os processos de automação, as transformações no mundo do trabalho, de forma bastante ampla.
Para o professor, o Estado tem um papel fundamental em direcionar como essa relação entre inteligência artificial e mercado de trabalho se desenvolve. “Um exemplo muito clássico é a informatização que trouxe novos trabalhadores de aplicativos, a uberização do trabalho. E, hoje, estamos diante de uma necessidade de os governos pensarem como é que essas relações do trabalho se dão. Alguns governos, como por exemplo, o da Dinamarca, proibiram aplicativos como o Uber de circular nas cidades. Alguns governos, como o caso do Brasil, tentam desenhar marcos regulatórios para as relações do trabalho’’, conclui o professor da UEL.
É bom lembrar que atualmente essa discussão está em pauta no Congresso brasileiro, acompanhada de opiniões bastante divergentes. Contudo, sem a regulação do Estado, a IA pode acabar aumentando o abismo de desigualdade entre trabalhadores. Vale a pena acompanhar os próximos capítulos…
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Texto: Fábio Augusto
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Maylon Correia
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior
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