Da Vinci: expondo a genialidade de um homem

Em um espaço único de aprendizado e inspiração, uma exposição interativa celebra Da Vinci e aproxima o público do legado do gênio renascentista

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Na região de Florença, onde hoje conhecemos como parte da bela e turística Itália, viveu um homem curioso e multitalentoso, de nome Leonardo. Berço do Renascimento, Florença foi o lugar em que arte e ciência se entrelaçaram de uma forma jamais vista, graças a este jovem que experimentava o mundo de um jeito único.

A artista Hellen Vieira sempre foi fascinada por este período pitoresco da história da arte, o Renascimento. O que mais a encanta é como esse movimento colocou o ser humano no centro do universo, já que, anteriormente, a arte estava fortemente vinculada à Igreja Católica, com Deus como a figura central e inquestionável de toda criação artística, como visto na arte Bizantina, por exemplo.

Era um tempo em que se começava a ver o mundo com novos olhos, buscando entender e representar a realidade de forma mais fiel. Leonardo da Vinci, com seu espírito inquieto e visionário, ali florescia. Ele não era apenas um pintor, mas um verdadeiro polímata1 – um engenheiro, anatomista, inventor e cientista, que via o conhecimento como multidisciplinar.

Hellen destaca que da Vinci conseguia unir ciência e arte de maneira natural. Para ela, seus rascunhos anatômicos não eram apenas exercícios técnicos, mas verdadeiras obras de arte que revelavam a complexidade do corpo humano. Engenheiro, Leonardo desenhava desde cedo com a precisão de um cientista e a sensibilidade de um artista, demonstrando que a arte podia ser um meio poderoso de investigação científica.

A artista Hellen Vieira está do lado direito da imagem. À esquerda, há um vaso colorido e, atrás da artista, há dois quadros coloridos de sua autoria.
A artista Hellen Vieira e algumas de suas obras (Foto/Arquivo pessoal)

O que motivou a artista paranaense a escolher este tema para sua pesquisa foi, justamente, essa integração fascinante entre ciência e arte, que parece ter se perdido ao longo dos séculos. Durante o Renascimento, figuras como Da Vinci e Andreas Vesalius trabalhavam no encontro dessas duas áreas, criando um diálogo frutífero que enriquecia ambos os campos. Em seu estudo, Hellen procurou entender como essa convergência ocorreu e porque eventualmente se separaram.

Segundo a artista, Leonardo da Vinci é a cara do Renascimento e a personificação da interdisciplinaridade, o que explica a cobiça envolvendo seu trabalho. “Da Vinci conseguia juntar matemática, ciência, física, artes plásticas, tudo em um produto só, o que fazia com que ele fosse cobiçado, até pouco tempo antes de morrer. Todo mundo queria fazer alguma coisa com ele”, diz Hellen.

Até seus últimos dias, Leonardo era procurado por pessoas de poder que desejavam usufruir de seu gênio multifacetado. Hellen lembra que ele elevou o status da pintura a um novo patamar, que além de emocional, agora era também intelectual. 

Por mais valorizado que fosse nos seus anos de vida, o prestígio e a notoriedade de da Vinci só cresceram ao longo dos séculos, em todos os cantos do mundo. Essa foi uma das sensações que tiveram os visitantes da exposição “O Gênio de Leonardo Da Vinci”, realizada no saguão da Biblioteca Central (BCE), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), entre os dias 5 de fevereiro e 2 de março de 2024.

A exposição

A exposição teve como idealizadores e curadores os professores Marcos César Danhoni Neves, da UEM, e Josie Agatha Parrilha da Silva, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), e contou com uma equipe multi e interdisciplinar composta por acadêmicos do curso de Licenciatura em Artes Visuais, das disciplinas Diálogos Interdisciplinares Arte-Ciência I e II, e também pelo grupo do Programa de Educação Tutorial (PET), do curso de Física, ambos da Universidade Estadual de Maringá.

Na foto, o professor Marcos está de perfil, com uma das mãos no rosto e vestindo um casaco azul.
Professor Marcos César Danhoni Neves (Foto/Arquivo pessoal)

Segundo Danhoni, o processo que culminou com a exposição “O Gênio de Leonardo Da Vinci”, teve início no ano de 1996, quando o professor do Departamento de Física, da UEM, participou de uma Semana de Cultura Científica em Roma, numa escola, junto com a La Sapienza Università di Roma, com uma pequena mostra sobre Leonardo. A mostra trazia representações das invenções de Da Vinci, vídeos e hipertextos. Como professor do curso de Licenciatura em Artes Visuais, nas disciplinas de Diálogos Interdisciplinares Arte-Ciência I e II, Danhoni produziu, com seus alunos, diversos objetos artísticos baseados em estudos de Da Vinci. Em especial, o Códice Voo dos Pássaros (1505) e o Códice Atlântico (1478 – 1519), este uma coletânea de estudos sobre Anatomia, Astronomia, Botânica, Matemática, Mecânica, projetos tecnológicos e arquitetônicos, entre outros temas.

  • Nas imagens, existem alguns recortes das coleções de documentos de Da Vinci, com rascunhos, desenhos e palavras não identificáveis.
  • Nas imagens, existem alguns recortes das coleções de documentos de Da Vinci, com rascunhos, desenhos e palavras não identificáveis.

Durante os 27 dias em que a exposição esteve aberta para o público, este pôde conhecer, de forma interativa, algumas das grandes contribuições de Da Vinci para a humanidade. Segundo o professor Marcos Danhoni, a exposição apresentou um percurso multitemático da mente de Leonardo, a partir de mais de 120 peças, produzidas por acadêmicos de Artes Visuais e Física. A exposição foi planejada para apresentar as principais características do gênio Leonardo Da Vinci. Assim, foram criadas peças que representaram os estudos de Aerodinâmica, Engenharia, Astronomia, Música, Pintura e mesmo da escrita própria do mestre renascentista.

Entre as principais atrações da exposição estão: a Ponte autoportante2, a qual os visitantes podiam participar da construção; a Asa (com mais de 4 m de envergadura), uma reprodução de um dos principais estudos de Leonardo sobre o voo dos pássaros; o Paraquedas, em forma de pirâmide com base quadrangular e a Bicicleta, que os historiadores consideram o primeiro projeto da bicicleta que conhecemos, feito por ele em 1492. 

Esses objetos foram confeccionados pelo grupo do Programa de Educação Tutorial (PET) de Física da UEM. Ainda fazem parte da exposição, pinturas, escritos, desenhos, objetos interativos, feitos pelos acadêmicos de Artes Visuais da UEM, utilizando diferentes técnicas de composição visual, tais como: grafite, carvão e aquarela.

  • Na primeira foto, há uma vista panorâmica da exposição, com uma pequena ponte de madeira no centro da imagem. À esquerda, está o quadro “A última ceia”, e à direita, está a “Mona Lisa”.

Para a professora Josie Agatha Parrilha da Silva, docente do curso de Artes Visuais da UEPG, chefe do Departamento de Artes da mesma instituição e uma das curadoras da exposição, o trabalho desenvolvido pelos acadêmicos, em especial os de Artes Visuais, propiciou que estes entendessem os aspectos artísticos das produções de Da Vinci ligados ao conhecimento científico. 

A professora, lembra ainda, que um dos principais papéis da exposição foi o de gerar um espaço de aproximação entre arte e ciência, tanto para os acadêmicos que produziram os materiais expositivos, quanto para o público que visitou o espaço. A professora considera importante “destacar a possibilidade de criação realizada pelos envolvidos na exposição”.

Na foto, em preto e branco, está a professora Josie, sorridente e com o cabelo solto.
Professora Josie Agatha Parrilha da Silva (Foto/Arquivo pessoal)

O professor Danhoni considera que a exposição proporcionou a todos os envolvidos, produtores e visitantes, o desvelamento da técnica e da arte de Leonardo. Ainda segundo o professor, Da Vinci foi, juntamente com Arquimedes e Alhazen , um dos mais importantes polímatas da história da humanidade, que conseguiu na sua vida, um nível inigualável de realizações e equacionamentos da natureza. Ainda, segundo o professor, “o gênio Da Vinci não teve a oportunidade de ter suas grandes ideias realizadas, mas o que fica do homem Leonardo é o seu trabalho inédito em inúmeras áreas do conhecimento científico, artístico e humano. Isso, que nos motivou a reviver, na Universidade Estadual de Maringá, esse grande personagem da nossa história. Ímpar”.

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Texto:
Nelson Silva Junior e Guilherme de Souza Oliveira
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Mariana Muneratti
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

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A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:

Glossário

  1. Polímata – indivíduo que estuda ou que executa muitas ciências ↩︎
  2. Autoportante – uma estrutura cuja estabilidade é assegurada com o apoio em uma única extremidade ↩︎

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