O primeiro passo no magnífico e curioso mundo da ciência

A ilustração retrata a trajetória do aprendizado, mostrando três fases da vida de um menino: na infância, com mochila; na adolescência, segurando livros; e na vida adulta, usando um laptop. Linhas brancas cheias de símbolos científicos conectam as fases, sobre um fundo abstrato colorido.
Descobrir novos mundos com a pesquisa científica é extraordinário! Quem vai te dar dicas para iniciar esse processo é o Conexão Ciência - C²

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O Conexão Ciência – C², como você deve saber, caríssimo leitor, é um dos mais importantes projetos de divulgação científica do Paraná. Nossa equipe é composta por jornalistas, professores, artistas visuais, programadores e graduandos de diversas áreas do saber.

Os autores deste texto são graduandos do curso de Comunicação e Multimeios, da Universidade Estadual de Maringá (CMM/UEM) e, mais do que dividir a autoria deste texto, também compartilham muitas outras coisas. Como, por exemplo, o mesmo curso de graduação, a mesma gestão de centro acadêmico, diversos projetos de extensão e um mar de curiosidades sobre infinitos assuntos. 

Além de todas essas coisas que fazemos juntos, também dividimos um grande amor pelo C² e pela pesquisa científica. Este, que é um assunto corriqueiro e costumeiro tanto para você, que nos lê por aqui, quanto para nós que fazemos divulgação científica. 

Durante a produção das matérias aqui para o Conexão Ciência, um assunto que sempre deixava uma pulguinha atrás da nossa orelha durante as entrevistas com os pesquisadores era de como tinha sido o primeiro flerte deles com a ciência. Esse é um assunto caro para nós, já que estamos iniciando nossa vida científica, e muitas das respostas deles estava em algo que estamos vivendo agora: a iniciação científica. 

É muito comum na vida dos cientistas que o primeiro contato com a ciência venha durante a graduação, na iniciação científica, e se desdobre na pós-graduação, nas especializações, nas dissertações de mestrado, nas teses de doutorado, nos artigos… enfim. E é nesse magnífico mundo que nós iremos embarcar a partir de agora. O curioso e infinito mar da iniciação científica. 

Mas o que é a iniciação científica?

Para descobrir a resposta para essa e muitas outras perguntas tão importantes para dar os primeiros passos no caminho da pesquisa acadêmica, entrevistamos o professor e chefe do Departamento de Fundamentos da Educação, da Universidade Estadual de Maringá (DFE/UEM), Alessandro Rocha. Por muitos anos, ele ministrou disciplinas de metodologia de pesquisa e carrega consigo diversos orientandos de iniciação científica.

Imagem colorida, de perfil de um homem branco com barba e cabelo na cor preta, ele está sorrindo. Está usando um terno na cor preta e uma gravata também preta.
O professor Alessandro Rocha da Universidade Estadual de Maringá (Foto/Reprodução CPR-UEM)

De bate e pronto, o professor respondeu que a iniciação científica é uma oportunidade de fazer com que o aluno ganhe conceitos necessários, para a formação de todo pesquisador, já que, por muitas vezes, a grade curricular do curso de graduação não tem a oportunidade de oferecer. Afirma ainda que “a iniciação é fundamental para fazer com que o aluno adquira o vocábulo que faz parte da ciência como, por exemplo, o entendimento de objeto de pesquisa, metodologia e objetivos”.

Para além da compreensão de novos conceitos, o estudante que faz parte de um projeto de pesquisa, tem a chance de levar para fora dos muros universitários os conhecimentos que conquista ao longo da iniciação científica. Alessandro destaca que, “a universidade é feita de um tripé, ensino, pesquisa e extensão. E a gente costuma dizer que a pesquisa é o elo entre o ensino e a extensão.” Então, quando um aluno faz iniciação científica ele está fazendo a união entre muitos saberes, para assim, se tornar um pesquisador ou um convicto estudante. 

Existem diversos modos de iniciar essa pesquisa, o aluno pode seguir as indicações do orientador quanto à metodologia ou ambos têm a chance de caminhar em direção a outras formas do processo acadêmico a depender do objeto de pesquisa. O professor Alessandro Rocha afirma que “há muitas formas de elaborar um projeto, vai de acordo com o tipo de pesquisa que o orientando  tem interesse e o que o orientador sugere”. Dê uma olhada em um caminho possível!

A imagem é um infográfico explicativo sobre como pensar em um projeto de pesquisa. Ele apresenta três perguntas essenciais para a construção de um projeto:
O que? – Define o objeto da pesquisa e o que será investigado.
Como? – Indica o método da pesquisa e como ela será conduzida.
Por quê? – Explica o objetivo da pesquisa, seus motivos e propósito.
O design da imagem possui um fundo quadriculado, semelhante ao papel de caderno, com ilustrações de um lápis, uma engrenagem e ícones de pontuação estilizados. Algumas partes do texto estão destacadas em amarelo para enfatizar conceitos importantes. O infográfico foi criado por "Conexão Ciência" e a arte é assinada por Hellen Vieira.

Toda pesquisa se inicia com um projeto de pesquisa. É ele quem vai guiar os rumos dos trabalhos, a metodologia e o objeto de análise. No mundo da pesquisa científica há diversas formas de definir o que será analisado e como. O professor do DFE da UEM sugere a esquematização que está no infográfico acima.

O primeiro passo é perguntar “o quê?”, essa resposta indicará o objeto da pesquisa e o que será investigado, como, por exemplo, a imprensa jornalística, o direito das mulheres, o princípio ativo de um medicamento. Logo em seguida, questione “como?”, nesse passo se estabelecerá o método da pesquisa e como os trabalhos serão conduzidos, como, por exemplo, se a análise se dará por meio de pesquisa de campo, estudo bibliográfico ou análise laboratorial. E por fim, indague-se sobre qual o propósito da investigação se perguntando “por quê”. A resposta indicará o objetivo da pesquisa e, também, os motivos para pesquisar. As conclusões podem ser inúmeras como investigar um fenômeno, avaliar um experimento e comparar relações.

Com as respostas para essas perguntas em mãos é a hora de dar início à trajetória que pode transformar a sua forma de estudar e mais, dar o start para você ver o aprendizado como a chave para abrir novas portas a muitos conhecimentos.

A importância da iniciação científica

Já falamos um pouco sobre quão importante é se fazer uma pesquisa, mas você sabia que a sistematização sobre um determinado tema pode ser desenvolvida na universidade com bolsa (remuneração)? Ou no ensino médio? É isso mesmo!

A imagem é um infográfico sobre os diferentes tipos de programas de iniciação científica. O design possui um fundo quadriculado, semelhante a papel de caderno, com uma ilustração de uma lâmpada e uma caixa de diálogo contendo o título: "Tipos de programa de iniciação científica".
Os programas estão organizados em diferentes cores e incluem:
PIC (Programa de Iniciação Científica) – Em azul claro.
PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica) – Em vermelho.
PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) – Em vermelho.
PIBIT (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação) – Em azul claro.
PIBEX (Programa Institucional de Bolsas de Extensão) – Em azul claro.
PIBIART (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Artística) – Em vermelho.
O infográfico foi criado por Conexão Ciência - C², e a arte é assinada por Hellen Vieira.

Em cada Universidade os programas de iniciação científica funcionam de uma forma. Aqui na Universidade Estadual de Maringá os programas passeiam desde a docência à inovação e tecnologia e vão até as artes. 

A sopa de letrinhas dos programas de iniciação científica podem deixar os iniciantes nesse mundo meio confusos, por isso nós do C² vamos te ajudar a entender um pouco melhor o que está por trás de cada sigla.

O PIC e o PIBIC são os mais conhecidos. O primeiro trata-se do Programa de Iniciação Científica e o outro Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, ambos têm duração de 12 meses e exigem dedicação às atividades de pesquisa, com a apresentação de relatórios e participação em eventos acadêmicos. Entretanto, o que os diferem é que diferente do primeiro o segundo têm incentivo financeiro. 

O PIBEX, Programa Institucional de Bolsas de Extensão Universitária, é um auxílio financeiro concedido a estudantes que participam de projetos de extensão universitária. Esses projetos visam aplicar o conhecimento acadêmico para beneficiar a comunidade, promovendo a interação entre universidade e sociedade. 

Dentro do mundo das bolsas, os alunos de graduação em licenciatura têm um incentivo especial. O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) é um apoio financeiro oferecido a estudantes de licenciatura que participam de atividades em escolas públicas. O programa busca aprimorar a formação de futuros professores, promovendo a experiência em sala de aula desde o início da graduação.

No mundo da tecnologia e arte o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI) é um incentivo a estudantes que desenvolvem pesquisas aplicadas com foco em tecnologia e inovação, sob a orientação de um professor. Enquanto o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Artística (PIBIART) é um financiamento para estudantes que desenvolvem projetos de pesquisa e criação na área das artes, abrangendo música, teatro, dança, artes visuais, entre outras. O programa promove a experimentação e a inovação artística. Ambos são feitos para graduandos que desejam experimentar a inovação e o processo artístico desde os anos iniciais de sua formação.

A professora do curso de Ciências Biológicas, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Fernanda Aparecida Meglhioratti, nos contou como é essencial esse primeiro contato com a ciência. “Os alunos em iniciação científica têm oportunidade de formular e delimitar questões a partir de uma problemática significativa para as suas vivências; elaborar hipóteses, as quais são caminhos para resolver as questões delimitadas; e propor procedimentos metodológicos para testar essas hipóteses”, afirmou a pesquisadora.

Imagem colorida, de perfil de uma mulher branca com barba e cabelo na cor preta, ele está sorrindo. Está usando um terno na cor preta e uma gravata também preta.
A professora Fernanda Aparecida Meglhioratti da Unioeste (Foto/Arquivo pessoal)

Ao longo desse processo, são desenvolvidas diversas habilidades, como: a capacidade de estabelecer correlações entre diferentes fenômenos e articular múltiplos fatores em uma explicação; compreender as relações de causa efeito; e adquirir a capacidade de previsão a partir de dados e conhecimentos elaborados.

A receita da ciência

Bom, muito provavelmente nos últimos dias, você deve ter visto alguma menção ao filme “Ainda Estou Aqui”, do diretor Walter Salles. Isso porque o longa-metragem foi premiado como melhor filme internacional no Oscars 2025. O enredo gira em torno de uma trama familiar que busca desvendar o desaparecimento de Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello, durante a ditadura militar no Brasil. 

Ao longo do filme, uma receita de suflê é citada cinco vezes, um clássico de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, e que durante as sessões deixaram os espectadores com água na boca.

A imagem mostra uma página de caderno com folhas quadriculadas, onde está escrita à mão uma receita de “Sufflé de queijo (mamãe)”. A escrita é cursiva, azul, e parece ter sido feita com caneta esferográfica. O caderno está aberto sobre uma superfície bege com textura discreta. A receita começa listando os ingredientes, como manteiga, leite, farinha de trigo, ovos, queijo salgado, sal e pimenta. Em seguida, há instruções detalhadas sobre o preparo: misturar os ingredientes no liquidificador, cozinhar até engrossar, deixar esfriar e, por fim, incorporar as claras em neve antes de levar ao forno quente. Há também uma sugestão de variação, adicionando presunto picado ou champignons. O papel tem um ar nostálgico, remetendo a receitas de família passadas de geração em geração. A caligrafia, apesar de bem legível, tem leves variações no traço, o que sugere um toque pessoal e afetivo. O título “mamãe” entre parênteses reforça a ideia de uma receita tradicional carregando memórias e significados além do próprio prato.
Receita do suflê de Eunice Paiva, mencionado em “Ainda Estou Aqui” (Foto/Reprodução O Globo)

A receita foi recuperada por uma de suas filhas e divulgada nas redes sociais. Tanto os ingredientes quanto o método de preparo garantem que qualquer um que queira reproduzir essa receita consiga chegar no mesmo resultado obtido por Paiva.

É mais ou menos assim que funciona a metodologia científica. O professor Alessandro considera que “o sucesso de toda pesquisa é a compreensão do método”. Isso porque “uma pessoa pode ter um objeto e outra pode ter outro, eu posso ter ainda outro. Dependendo do método que vamos utilizar, nossos resultados podem ser diferentes. O que irá dizer se esse método está adequado é a forma como você, honestamente, evidentemente, utilizou e aplicou. De modo que, se o método estiver aplicado adequadamente e você seguir o meu método, a sua informação vista no seu resultado deverá ser, no mínimo, similar ou igual”, explica Rocha.

“Entretanto, essa lógica é muito mais fácil para determinadas áreas, que nós vamos chamar mais duras, como exemplo a química. Quando eu faço um determinado experimento químico. Se eu aplicar, por exemplo, uma determinada quantidade de reagente num determinado ambiente para obter uma dada solução, fazendo isso ordinariamente e utilizando o método, o resultado final terá de ser sempre similar a cada vez que o experimento for replicado”, explica o professor.

A ciência para além dos muros da graduação

É comum associarmos a iniciação científica aos cursos de graduação e pós-graduação, contudo, tal prática não se restringe somente a esses espaços. Atualmente, o número de pesquisadores no ensino fundamental e médio vêm crescendo.

O contato com a ciência na educação básica é porta de entrada para o magnífico e curioso mundo da ciência. A Rede de Clubes Paraná Faz Ciência, idealizada pelo NAPI Paraná Faz Ciência, tem hoje 200 clubes em funcionamento no estado do Paraná. “Esses clubes têm pesquisas sendo desenvolvidas nas mais diferentes áreas do conhecimento. Nós estamos produzindo conhecimento e formando pessoas que atuarão de maneira informada na sociedade, o que pode possibilitar a consolidação de uma cultura científica no estado”, considera Fernanda Meglhioratti.

A professora da Unioeste acredita, ainda, que os Clubes colaboram para que os alunos se interessem em dar os primeiros passos no mundo da ciência e na iniciação científica. “Acredito que a elaboração de pequenas pesquisas no contexto escolar, além de trabalhar as habilidades já mencionadas podem aproximar os alunos de um fazer científico genuíno, com produção de conhecimentos, ainda que em uma escala própria do contexto da escola. Além disso, os alunos participantes dos clubes, tanto do Ensino Fundamental como do Ensino Médio, desenvolvem potencialidades para compreender uma sociedade científica e tecnologicamente mediada e avaliar informações a respeito da ciência que são amplamente difundidas pela mídia, tomando decisões informadas a respeito delas. Construir uma sociedade em que as ações são fundamentadas na ciência impacta em diferentes áreas como na saúde e nas questões ambientais”, ressalta a Fernanda, acreditando que os clubes de ciências possibilitam a construção dessa cultura científica. 

Seja no ensino básico, médio ou superior, a iniciação científica é um grande capítulo na carreira científica dos pesquisadores. Esse que é um assunto — quase que infinito — e que encanta boa parte da comunidade acadêmica deve ser tratado com seriedade e incentivado por meio de programas de financiamento à pesquisa. Por aqui, continuamos curiosos tanto em desvendar o mundo por meio das pesquisas dos outros quanto das nossas. 

Ficou interessado em ouvir os relatos de quem faz iniciação científica ou já fez? Ouça agora o podcast “Conexão Iniciação Científica” para entender mais sobre essa parte do mundo científico!

EQUIPE DESTA PÁGINA
Texto:
João Luiz Lazaretti e Maysa Ribeiro Macedo
Supervisão de Texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Any Veronezi e Hellen Vieira
Supervisão de arte: Hellen Vieira
Edição Digital: Guilherme Nascimento

A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:

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