O professor-pesquisador em Clubes de Ciências

Desafios e alegrias na educação contemporânea

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Ser professor, especialmente na contemporaneidade, é desafiador. Não faltam dificuldades: salas de aula com turmas grandes e diversas, infraestrutura inadequada e condições de trabalho que muitas vezes são insuficientes. Isso sem mencionar o enorme desafio de manter o engajamento dos alunos. Mas, como nos lembra o pensador Georges Snyders, a escola não é só para preparar os jovens para o futuro. Ela também deve proporcionar alegria e significado durante os 15 a 20 anos que os estudantes passam dentro dela. Segundo Snyders, é difícil justificar a escola se essa longa jornada não for iluminada por momentos de alegria proporcionais aos esforços e obrigações exigidos.

Encontrar essa alegria em sala de aula pode parecer uma missão impossível, mas há professores e professoras que conseguem fazer isso de forma admirável. Esses educadores não estão necessariamente ligados às metodologias ativas mais modernas ou às últimas tecnologias. Em vez disso, são aqueles que conseguem, de forma simples e envolvente, despertar a curiosidade dos alunos, motivá-los a perguntar, investigar e, acima de tudo, a aprender com prazer. São os professores-pesquisadores, que fazem do seu trabalho uma verdadeira extensão da prática científica.

O professor como pesquisador e transformador

Um exemplo inspirador desse perfil de educador é o professor Guido Valmor Buss, do Colégio Estadual Humberto Castelo Branco, em Pinhais. Ele conta que o Clube de Ciências de Robótica que coordena se tornou um dos principais fatores de motivação para seus alunos. O brilho nos olhos deles, a vontade de chegar a um resultado, de encontrar respostas para problemas complexos – tudo isso faz com que eles venham para a sala de aula com engajamento e entusiasmo. Para Guido, “a parceria com a universidade é fundamental, pois amplia o acesso a recursos e pesquisas que muitas vezes estão fora do alcance da escola.”

A imagem mostra um homem de barba grisalha e cabelo curto, em um ambiente interno com luz suave no teto. Ele está usando uma camisa preta, com uma corda ou cordão branco ao redor do pescoço. Ao fundo, há um vaso decorativo grande e paredes de madeira. Há também janelas de vidro ao lado direito.
Professor Guido Valmor Buss, do Colégio Estadual Humberto Castelo Branco – Pinhais (Foto/Arquivo Pessoal)

E é aqui que o papel do professor-pesquisador se torna tão importante. Ele facilita o acesso ao conhecimento produzido na universidade e populariza a ciência na escola. Ao fazer isso, muda a dinâmica do aprendizado, transformando o ambiente escolar em um espaço vivo de investigação e descoberta. Os alunos passam a perceber que a ciência não é algo distante, feito por pessoas inatingíveis, mas um caminho possível para todos.

O clube de ciências como motor de transformação

Os clubes de ciências são fundamentais nesse processo porque ocupam mais que um espaço extracurricular: são ambientes onde a Ciência se torna acessível, divertida e desafiadora. É no clube que o aluno essencialmente tem acesso ao método científico em ação, testa suas ideias e, muitas vezes, erra – o que é parte essencial de qualquer processo de aprendizagem. O professor, nesse cenário, é o mediador que contribui para transformar a curiosidade dos alunos em perguntas científicas e os guia na busca por respostas.

Como exemplo de incentivo e oportunidade a esse professor, a Rede de Clubes Paraná Faz Ciência chega com o objetivo de fortalecer a conexão entre a escola e a universidade, promovendo o desenvolvimento da educação científica e oferecendo aos professores a oportunidade de realizar pesquisa e, aos alunos, de se enxergarem como futuros cientistas.

O Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação – NAPI Paraná Faz Ciência tem entre seus objetivos organizar 200 clubes de ciências em escolas de Educação Básica da Rede Estadual de Ensino do Paraná. Essa meta se concretizou por meio da criação da Rede de Clubes Paraná Faz Ciência.

O professor que atua nos clubes de ciências é o propulsor desse movimento. Ele é o responsável por despertar nos alunos o interesse pelas carreiras científicas, reconhecendo que o acesso à Ciência é um direito de todos.

É sobre isso que nos conta a professora Ana Paula Pelinson da Fonseca, do Colégio Estadual do Campo Chico Mendes. Ela é professora clubista de escola do campo, localizada em um assentamento no município de Quedas do Iguaçu. Ana Paula vê o clube de ciências como “uma grande oportunidade, uma grande conquista para toda a comunidade, porque o que esses alunos irão aprender aqui poderão replicar lá no lote deles e isso pode se expandir para toda a comunidade.” Além disso, a professora espera que os estudantes se motivem a ponto de seguirem carreiras científicas, sendo cientistas que ‘batalhem pela agroecologia e pela defesa do meio ambiente’”, completa.

A imagem mostra uma mulher de cabelos cacheados e loiros, pele clara, olhos claros e maquiagem suave com batom rosa. Ela está vestindo uma blusa preta e olha diretamente para a câmera, em um ambiente interno com fundo neutro e paredes claras.
Professora Ana Paula Pelinson da Fonseca, do Colégio Estadual do Campo Chico Mendes – Quedas do Iguaçu (Foto/Arquivo Pessoal)

Um chamado ao professor-pesquisador

É fundamental que o professor se veja como um proponente de pesquisa científica em seu próprio território, na sua comunidade escolar. Ao mobilizar, ativar e criar experiências que conectam os alunos ao conhecimento científico, o professor fortalece a educação em prol da transformação da realidade.

“Articular a teoria e a prática vai cooperar muito com o meu trabalho ao poder executar essa produção de conhecimento de maneira reflexiva, sistematizada, interagindo e envolvendo os meus pares,” diz a Professora Ilza Alessandra Francisco, do Instituto Londrinense de Educação de Surdos, em Londrina. Com a peculiaridade de ser uma escola bilíngue, Ilza conta que é a primeira vez que fazem parte de um processo de inclusão dessa magnitude. “Só o fato de termos sido escolhidos para participar já é uma grande vitória e nos trouxe muito orgulho e alegria. Agora, o desafio é ser uma professora-pesquisadora desenvolvendo e adaptando os materiais para Libras e para o português. Nossos alunos também têm o direito de experimentar, conhecer, desenvolver pesquisas, para que eles tomem gosto e se abra um leque de oportunidades e perspectivas para cada um”, complementa Ilza em uma fala emocionada.

A imagem mostra uma mulher com cabelos loiros, ondulados e volumosos, usando uma blusa preta. Ela tem um leve sorriso e batom rosa suave, com a pele clara. O fundo da foto é liso e de cor clara, sem muitos detalhes.
Professora Ilza Alessandra Francisco, do Instituto Londrinense de Educação de Surdos – Londrina (Foto/Arquivo Pessoal)

A Ciência, assim, deixa de ser algo distante e passa a ser parte do cotidiano escolar, inspirando os alunos a buscar soluções para os problemas do seu território e a construir, junto com seus professores, um país mais desenvolvido e inovador.

O momento é de celebração e transformação. Professores-pesquisadores, como os que participam do NAPI Paraná Faz Ciência, já estão fazendo a diferença nas escolas, promovendo uma educação mais significativa e engajada. A coragem e a dedicação desses educadores mostram que, apesar dos desafios, é possível transformar a educação em um espaço de alegria, descoberta e construção de conhecimento. Como se diz em iorubá, Ekun Dayo: torna todo duelo em alegria. Que cada professor e professora se sinta estimulado e confiante para continuar inovando e fazendo o seu trabalho com excelência, sabendo que sua atuação pode ser o motor de mudança para toda uma geração.

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Texto:
Giselle Christina Corrêa
Supervisão de Texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Mariana Muneratti
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

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