No dia 22 de abril, celebramos o Dia Mundial do Planeta Terra, a nossa casa! Aqui, além de nós, vivem entre 10 e 50 milhões de espécies de animais e vegetais, mas até hoje apenas 1,5 milhão foi classificada e estudada. Impressionante, né? A biodiversidade do nosso planeta é simplesmente gigantesca, e o Brasil é um verdadeiro santuário da natureza, que abriga 20% das espécies conhecidas no mundo. O nosso título de país megadiverso não é à toa!
A vida humana e de todos os seres vivos está ligada diretamente à preservação da biodiversidade e dos recursos naturais que a Terra nos oferece. E é exatamente por isso que o Dia da Terra existe: para reforçar a urgência da luta pela preservação do meio ambiente, despertar reflexões sobre a importância do nosso planeta e incentivar o desenvolvimento de uma consciência ambiental.
Entre as milhões de espécies que habitam o planeta, algumas se destacam por características surpreendentes. Um exemplo? Os anfíbios! Com mais de oito mil espécies ao redor do mundo, esses animais vivem entre dois mundos: a terra e a água. Dependem do ambiente aquático para sobreviver e se reproduzir, e a pele fina e úmida deles não é apenas uma característica curiosa, mas essencial para a respiração. Além disso, costumam ser mais ativos à noite, o que evita a perda de água durante o dia.
Não estou te contando todas essas curiosidades sobre os anfíbios de cabeça. Conversei, antes, com o professor Rodrigo Lingnau, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) de Campo Mourão, biólogo por formação e doutor em Zoologia, para entender melhor sobre esses animais que são importantíssimos para o meio ambiente.

“Entre o grupo de vertebrados terrestres, os anfíbios são o grupo mais ameaçado de extinção. Muitas populações de anfíbios, que antes eram encontradas em grandes números, estão diminuindo drasticamente ou até mesmo desaparecendo”, explica Lingnau, que estuda anfíbios desde a graduação e aprofundou seus conhecimentos sobre o tema durante o mestrado e doutorado.
Os anfíbios enfrentam este problema porque eles também respiram pela pele, o que chamamos de respiração cutânea. Isso os torna muito sensíveis, pois perdem água e calor com mais facilidade. Como eles são ectotérmicos, ou seja, não conseguem controlar a temperatura do corpo sozinhos, dependem do ambiente para regular sua temperatura e têm que aproveitar fontes externas de calor.
Por causa da pele fina e sensível, os anfíbios são extremamente vulneráveis às mudanças no ambiente, como a devastação de florestas, alterações climáticas, chuvas ácidas e a poluição da água. Essa alta sensibilidade faz com que eles sejam considerados e utilizados em estudos como bioindicadores importantes da qualidade ambiental, já que reagem rapidamente à presença de contaminantes, fragmentação de habitats, introdução de espécies exóticas, efeitos do clima ou uso de poluentes químicos.

O professor destaca que, por causa da grande sensibilidade, a extinção de uma população pode ocorrer com facilidade: “Muitos desses animais possuem uma distribuição geográfica extremamente restrita. Às vezes, um grupo habita apenas um riacho, em um trecho de 200 metros, e em muitas situações, uma população pode existir exclusivamente nesse pequeno espaço”.
Lingnau lembra de um caso exemplar de preservação que aconteceu em 2013, na cidade de Arvorezinha, no Rio Grande do Sul. Lá, foi descoberto o sapo-de-barriga-vermelha, que mede menos de cinco centímetros, cabe na palma da mão, e só existe no interior de Arvorezinha, mais especificamente em uma área de 700 metros às margens do Rio Forqueta, onde se concentra toda a população da espécie. Na época, pesquisadores e ambientalistas lutaram pela não liberação da construção de uma hidrelétrica na cidade, que cruzaria o habitat dessa população de sapos e os colocaria em risco de extinção.
Aqui, no Paraná, Lingnau coordenou o projeto Anfíbios Ameaçados da Floresta com Araucárias e Ecossistemas Associados, com financiamento da Fundação Araucária e do Grupo Boticário, além de parcerias com universidades do Paraná, São Paulo e Santa Catarina. O professor, que atualmente participa do NAPI Sudoeste e do NAPI Biodiversidade: Serviços Ecossistêmicos, explica que “o objetivo do projeto era pesquisar sobre espécies de anfíbios, realizar expedições para registrar novas espécies e, por fim, criar um portal interativo”. A ideia do portal era simples, e muito parecida com a nossa aqui no C²: tornar as informações sobre os anfíbios mais acessíveis e atraentes para o público em geral.
No portal, os visitantes encontram informações sobre diferentes animais, incluindo suas características gerais, importância, ameaças e curiosidades. Há também uma página dedicada às diversas espécies de anfíbios, onde é possível clicar na foto de cada uma para descobrir mais detalhes. Cada espécie é identificada com selos que alertam se está ameaçada, é exótica ou é uma espécie-alvo do projeto. Além disso, um mapa do Sul do Brasil mostra as áreas onde essas espécies podem ser encontradas, complementado por uma descrição em texto e um exemplo sonoro do canto de cada anfíbio.
“O nosso mascote é o Rústico, uma perereca que acompanha os visitantes pelo site. Os três jogos disponíveis no portal têm o Rústico como tema central”, lembra o professor. A escolha do mascote se deu porque a espécie Pithecopus rusticus foi descrita em 2016 como rara, em risco de extinção e restrita a uma pequena área. Naquele momento, o projeto estava em desenvolvimento, e decidiram fazer essa homenagem à espécie. A boa notícia é que pesquisadores estão criando essas pererecas no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, para garantir a segurança e a reprodução delas.

A perereca Curupira (Boana curupi) é uma espécie-alvo considerada ameaçada, e o projeto conseguiu localizá-la também. No entanto, Lingnau ressalta que o panorama geral dos anfíbios nas florestas com araucárias é preocupante, devido à destruição de grandes áreas de cobertura florestal, principalmente para o agronegócio e a expansão urbana. Por estarem presentes em quase todas as cadeias alimentares, os anfíbios se alimentam de uma grande variedade de organismos, principalmente dos insetos. “Às vezes, reclamamos do aumento de insetos nas cidades, mas raramente paramos para refletir sobre onde estão os principais predadores desses mosquitos, por exemplo”, observa o professor, que aproveita para enfatizar a importância dos anfíbios.
Por fim, Lingnau faz um alerta: “Já sabemos o quão importantes os anfíbios são para o meio ambiente e o equilíbrio biológico. Na verdade, as ações de preservação mais impactantes vêm das grandes empresas e dos poderes públicos, mas isso não significa que não possamos fazer nossa parte também. Uma das principais atitudes que podemos adotar é evitar jogar sal nos sapos que aparecem em casa, por exemplo. Como já mencionamos, eles têm a pele muito sensível, e o sal pode matá-los”.
Além disso, existe muita confusão sobre sapos e veneno. “Muitas pessoas acreditam que sapos esguicham veneno em cachorros, por exemplo, mas na maioria das vezes eles não atacam. O que provavelmente acontece é que o cachorro morde o sapo, e este, em ato de defesa, libera o veneno. Resumindo, o sapo não ataca e não representa riscos”, acrescenta o pesquisador.E aí, ficou a fim de continuar se aprofundando no mundo dos anfíbios e entender mais sobre a importância da preservação da biodiversidade? Não deixe de conferir, então, o Portal Anfíbios da Floresta com Araucárias. Lá, você encontrará informações interativas, curiosidades e até jogos sobre as espécies que habitam as florestas com araucárias!
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Texto: Luiza da Costa
Revisão de texto: Silvia Calciolari
Arte: Lucas Higashi
Supervisão de arte: Lucas Higashi
Edição Digital: Guilherme Nascimento
A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:

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