Os queijos paranaenses estão entre os melhores do mundo!

A ilustração mostra grandes fatias de queijo em tons quentes, com garrafas de leite ao fundo. Pequenos personagens interagem com o cenário: um segura um troféu no topo, outro usa um laptop, um relaxa e outro observa. Há uma medalha azul anexada a uma fatia, sugerindo premiação. A cena remete à produção e reconhecimento de queijos, unindo ciência e inovação, assinada por Lucas Higashi.
Três queijos produzidos no Biopark de Toledo se destacam em competição internacional; um deles é eleito o melhor da América Latina

compartilhe

Maria Gelir cresceu com o cheiro do leite fresco misturado ao calor da cozinha. Na infância, o ofício do queijo não era apenas um trabalho, mas um elo entre gerações. Aprendeu com a mãe, repetindo seus gestos pacientes, moldando a massa branca com as mãos firmes e dedicadas. Mas o que era tradição tornou-se também profissão, e Maria decidiu ir além. Buscou conhecimento, aprimorou técnicas, lapidou sua arte. Hoje, à frente da Queijaria Vila Belli, em Toledo, seus queijos atravessam fronteiras e são reconhecidos mundialmente, frutos de uma paixão que se transformou em sustento e orgulho.

A imagem mostra Maria, uma mulher sorridente ao lado de um grande painel iluminado em tons alaranjados, que exibe a inscrição "Prêmio Queijos do Paraná 1ª edição". O painel tem o formato de um queijo, com um desenho do mapa do Paraná contendo furos que remetem a um queijo suíço, além de cinco estrelas acima. Maria usa óculos, uma jaqueta bicolor com tons de cinza e preto, um cachecol, e um crachá pendurado no pescoço.
Maria Gelir Giombelli na 1a edição do Prêmio Queijos do Paraná (Foto/Redes sociais)

Já Cirlei encontrou no queijo um caminho para resgatar suas memórias mais doces. Dona da Queijaria Átani, também em Toledo, cada pedaço produzido carrega um pedacinho de sua história. O aroma do porão de sua avó, onde os queijos repousavam em maturidade silenciosa, ainda vive em sua lembrança. O legado que constrói hoje é um tributo à infância, ao amor incondicional que envolve sua família.

Descrição de imagens e infográficos: Cirlei usa uma touca branca, uma camiseta branca e óculos. Ela segura com as duas mãos um queijo grande e amarelado. Ao fundo, podemos ver alguns queijos espalhados em prateleiras de uma cozinha industrial.
Cirlei Rossi dos Santos, proprietária da Queijaria Átani (Foto/Divulgação Biopark Educação)

Para Márcia Terezinha, a jornada do queijo começou por necessidade — o leite, por si só, parecia insuficiente, era preciso agregar valor, transformar, reinventar. Foi assim que ela mergulhou no mundo dos queijos finos e, logo no primeiro ano de produção, recebeu uma medalha, um símbolo de reconhecimento que acendeu em seu coração o desejo de aprender mais, de aperfeiçoar-se. No Biopark Educação, assim como Maria Gelir e Cirlei, encontrou apoio para expandir seus conhecimentos e seu negócio, mas o queijo lhe trouxe algo ainda mais valioso: reuniu sua família, na Ludwig Queijaria, em Cascavel. Seus filhos voltaram para perto e, juntos, deram forma a um sonho compartilhado.

Três mulheres, três histórias e um mesmo elo: o queijo. Mas o caminho para a excelência não foi trilhado sozinho. A gerente de PD&I do Biopark Educação, Carolina Trombini, explica que o Projeto de Queijos Finos do Biopark estrutura a transferência de tecnologia de maneira individualizada, considerando a realidade de cada produtor. “O processo abrange etapas, como análises da qualidade do leite e da água, orientações sobre adequações necessárias na queijaria e apoio técnico para as documentações regulatórias”, detalha Carolina. Além disso, há um cuidado especial na escolha da tecnologia de queijo fino que melhor se adapta à composição do leite de cada produtor, mas a jornada não acaba por aqui.

Márcia segura um grande queijo Gouda em frente a um refrigerador cheio de queijos. Ela veste uma camisa jeans azul-claro e usa óculos. Seu cabelo está preso em um penteado alto. O ambiente é uma queijaria com prateleiras refrigeradas ao fundo, cheias de queijos semelhantes ao que ela segura. A embalagem do queijo Gouda tem um rótulo em destaque com texto indicando informações do produto.
Márcia Terezinha Seibert Ludwig, que está à frente da Ludwig Queijaria (Foto/Divulgação)

O Projeto de Queijos Finos do Biopark

A equipe do Biopark Educação acompanha a produção dos três primeiros lotes, garantindo que os produtores se sintam seguros para replicar o processo de forma autônoma. “Nosso suporte contínuo assegura que as melhores práticas sejam seguidas e que os padrões de qualidade se mantenham”, afirma Carolina. Cada lote passa por análise laboratorial no Biopark, e os queijos que atendem aos rigorosos critérios recebem o Selo de Excelência do Biopark, um diferencial valioso no mercado.

Para participar do projeto, os produtores precisam estar na região Oeste do Paraná e demonstrar interesse em agregar valor ao leite de suas propriedades. “O compromisso com a execução do plano de ação desenvolvido em conjunto é essencial”, ressalta Carolina. Além disso, é necessário ter ou viabilizar a infraestrutura necessária para a produção de queijos finos. Embora o suporte técnico seja oferecido em todas as etapas, o sucesso do projeto depende do engajamento e da dedicação de cada produtor.

A imagem mostra uma mulher sorridente, vestindo um blazer preto sobre uma blusa de gola alta, em frente a uma parede branca com o logotipo do "BIOPARK". O logotipo consiste no nome "BIOPARK" em letras azuis e um símbolo estilizado que lembra uma figura humana com uma fita vermelha e azul entrelaçada. A cena parece ser em um ambiente corporativo ou institucional, sugerindo que a pessoa possa estar associada à organização.
Carolina Trombini, gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) do Biopark Educação (Foto/Divulgação Biopark Educação)

Os produtores que fazem parte do projeto vêm, em sua maioria, da agricultura familiar. Muitos nunca haviam fabricado queijos para comercialização antes de ingressarem no programa, encontrando na iniciativa uma oportunidade de diversificação econômica. “Esse modelo de negócios requer um menor investimento inicial e permite que os produtores agreguem valor ao leite que já produzem. Alguns, depois de adquirirem experiência, ampliam suas agroindústrias e passam a transformar toda a produção de leite em queijo”, destaca Carolina. 

Essa evolução trouxe impactos que vão além das queijarias: famílias foram reunidas, filhos que estavam longe retornaram para ajudar no negócio da família, e comunidades inteiras se beneficiaram com o crescimento econômico impulsionado pelo projeto.

Reconhecimento mundial

O Paraná, historicamente forte na pecuária leiteira, tem assistido a uma revolução na produção de queijos finos. “Somos o segundo maior produtor de leite do Brasil, com mais de 12 milhões de litros por dia. O leite daqui tem uma qualidade excepcional, ideal para queijos finos, mas até 2020 poucos pequenos e médios produtores tinham condições de estruturar suas queijarias”, explica Carolina. Para ela, a regulamentação do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (SUSAF) foi um divisor de águas, permitindo que pequenas agroindústrias certificassem seus produtos e os comercializassem em todo o estado.

Desde então, a produção de queijos finos no Paraná deu um salto, impulsionada pelo Biopark. Em pouco tempo, o projeto agregou 23 produtores, desenvolveu 26 tipos de queijo e conquistou 46 medalhas em concursos nacionais e internacionais. Entre os destaques, o queijo Passionata, que figura entre os nove melhores do mundo e o melhor da América Latina, segundo a World Cheese Awards. Também produzidos no parque tecnológico, o queijo Láurea foi contemplado com uma medalha de prata e o queijo Entardecer d’Oeste, com um bronze.

A imagem mostra uma mão segurando o queijo Passionata em frente a um painel com o logotipo do BIOPARK EDUCAÇÃO. O queijo tem um formato arredondado e uma aparência diferenciada: a parte superior é lisa e amarelada, com sementes de maracujá, enquanto a base é coberta por um material fibroso.
O queijo Passionata, eleito o melhor da América Latina no World Cheese Awards (Foto/Divulgação Biopark Educação)

O reconhecimento internacional do Passionata colocou o Biopark e o Brasil no mapa da alta queijaria mundial, evidenciando o potencial criativo do Oeste paranaense. Para Carolina, essa premiação foi uma validação do trabalho desenvolvido nos últimos anos: “Conquistar essa premiação inédita para nosso país foi muito além do que esperávamos. Sabíamos da qualidade e diferenciação do que desenvolvemos, mas competir em um cenário internacional e sermos selecionados entre os quatorze melhores queijos do mundo foi surpreendente. Esse reconhecimento destaca o vasto potencial criativo da região e, por extensão, do Brasil, na produção de queijos finos.

Para o pesquisador de PD&I do Biopark Educação, Kennidy Bortoli, a experiência de participar do World Cheese Awards foi incrível: “estar presente na premiação e vivenciar esse reconhecimento de perto tornou tudo ainda mais especial. Esse prêmio reafirma a eficácia dos altos padrões de qualidade aplicados em nosso laboratório e confirma que estamos no caminho certo para a excelência na produção de queijos finos”, relata.

A imagem mostra Kennidy, um jovem sorridente, segurando um troféu em formato de tábua de queijo. O prêmio tem a inscrição "3º Prêmio Queijo Brasil", indicando uma premiação no setor de queijos artesanais. Ele veste um avental cinza com logos de patrocinadores e um adesivo destacando a premiação. Em sua outra mão, ele segura algumas fitas e certificados, possivelmente relacionados ao concurso.
Kennedy Bortoli, pesquisador da área de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) do Biopark Educação (Foto/Redes sociais)

Os queijos autorais

A inovação sensorial e a conexão com a comunidade local fazem parte do desenvolvimento desses queijos autorais. O desenvolvimento do Passionata teve início a partir de uma demanda do concurso de Melhor Queijeiro do Brasil, que exigia a criação de um queijo único, capaz de expressar características tipicamente brasileiras, tanto em sabor quanto em aparência. 

A infusão de maracujá é a grande responsável pela identidade sensorial do Passionata, trazendo um equilíbrio entre a acidez e o dulçor1 da fruta, que se revela gradativamente no paladar. Já a textura do queijo não depende apenas da infusão, mas é resultado do cuidadoso uso de cepas selecionadas e de um processo produtivo específico, que garantem a consistência e a estrutura ideais para que o sabor seja liberado de forma controlada e surpreendente.

Kennidy diz que um dos pesquisadores do laboratório do Biopark iniciou os testes em casa, explorando combinações de cores e aromas inspiradas na diversidade do país. “Após obter um resultado promissor, ele levou o desenvolvimento para o laboratório, onde a equipe aprimorou o produto, refinando suas características visuais e sensoriais até chegar à versão final”, completa.

A imagem mostra um grande evento do World Cheese Awards, um dos concursos de queijos mais importantes do mundo. O espaço é um salão amplo, onde diversas mesas cobertas por toalhas brancas estão repletas de queijos de diferentes formatos, cores e tamanhos, cada um identificado com números em placas vermelhas. Ao fundo, há um público numeroso assistindo às avaliações, e várias pessoas vestindo roupas vermelhas, que parecem ser jurados ou organizadores do evento, circulam pelo local.
O concurso World Cheese Awards, que aconteceu na cidade de Viseu, em Portugal (Foto/Arnaud Sperat Czar)

O Passionata foi concebido para surpreender os sentidos. “Inicialmente, apresenta-se como um queijo sofisticado e equilibrado, mas, em poucos segundos, inunda o paladar com um marcante sabor de maracujá, graças a uma liberação controlada de seus aromas e compostos. Essa característica faz do Passionata uma verdadeira experiência sensorial, estimulando visão, paladar e textura de maneira inesperada e envolvente”, Kennidy destaca.

Os outros dois queijos que também foram destaque na premiação seguem os mesmos princípios. O Láurea foi criado para ser memorável, marcante e versátil, ideal para diversas aplicações gastronômicas. Sua textura expressiva e seus aromas intensos se destacam ao entrar em contato com o paladar, proporcionando uma experiência sensorial única.

Já o Entardecer d’Oeste é uma homenagem ao pôr do sol da região onde foi desenvolvido, especialmente no inverno, quando o céu adquire tons avermelhados vibrantes. Seu visual é notavelmente distinto, apresentando raios de coloração laranja intensa que transmitem uma sensação acolhedora. Além disso, sua formulação inclui uma especiaria que remete ao sabor de carne maturada, proporcionando profundidade tanto no paladar quanto na aparência.

A imagem apresenta um queijo de formato esférico com uma coloração alaranjada intensa e um brilho característico, sugerindo um revestimento especial. O queijo está sobre uma tábua de madeira personalizada, com a marca "Flor da Terra – Queijos Finos" e o logotipo do Biopark, gravados na superfície. O aspecto do queijo remete a um processo de cura ou maturação diferenciada, possivelmente envolvendo um acabamento especial, como banhos em especiarias ou resinas naturais.
O queijo Entardecer d’Oeste, premiado com medalha de bronze no World Cheese Awards (Foto/Redes sociais)

Negócios promissores

O diretor de PD&I do Biopark Educação, Tiago Mendes, enfatiza o impacto do prêmio para a cadeia produtiva do queijo no Brasil: “Esse reconhecimento internacional é uma validação da excelência e dos impactos positivos do projeto. A combinação da pesquisa científica com a valorização da matéria-prima regional resultou em uma tecnologia inovadora que superou décadas de desenvolvimento em um tempo muito curto”.

Tiago destaca o apoio essencial do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR), que auxilia na identificação e capacitação de novos produtores. Além disso, entidades como o Sebrae/PR e o Sistema Faep/Senar oferecem suporte na estruturação dos negócios. “Durante o último Show Rural Copavel, o Governo do Estado do Paraná demonstrou interesse em expandir o projeto para outras regiões, motivado pelos resultados positivos já alcançados”, comenta. Segundo Tiago, essa ampliação está em fase de negociação para garantir que a qualidade e a eficiência do projeto sejam mantidas.

Descrição de imagens e infográficos: A imagem mostra Tiago posando em frente a um painel institucional do governo do Paraná. O painel destaca a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e a Secretaria da Inovação, Modernização e Transformação Digital, sugerindo que ele está participando de um evento ligado a esses temas. Tiago veste um blazer cinza, camisa azul e calça bege, além de um crachá pendurado em um cordão vermelho.
Tiago Mendes, diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) do Biopark Educação (Foto/Milena Massako Ito)

Com o reconhecimento nacional e internacional, a exportação dos queijos finos do Biopark surge como um objetivo de longo prazo. No Brasil, a comercialização exige certificações rigorosas, desde o Sistema de Inspeção Municipal de Produtos de Origem Animal (SIM/POA) até certificações estaduais (SUSAF) e nacionais (SISBI). “A maioria dos produtores do projeto já possui certificações no SIM/POA e no SUSAF”, explica Carolina Trombini. “Além disso, um deles obteve recentemente aprovação no Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI), o que representa um grande avanço.”

Para alcançar o mercado internacional, no entanto, é necessário obter o Serviço de Inspeção Federal (SIF), um desafio que demanda tempo e investimentos. “É um caminho longo a ser percorrido, mas já faz parte do nosso horizonte de futuras conquistas”, afirma Carolina. Enquanto isso, os produtores seguem fortalecendo sua presença em competições e conquistando prêmios, elevando a reputação do queijo fino do Oeste paranaense.

Enquanto isso, os produtores seguem fortalecendo sua presença em competições e conquistando prêmios, elevando a reputação do queijo fino no estado. Cada medalha obtida reafirma o potencial da região e abre novas portas para o futuro do setor. Com um caminho promissor pela frente, o Biopark segue impulsionando uma revolução na queijaria artesanal, unindo produtores e provando que a tradição pode se reinventar sem perder a paixão por queijos.

EQUIPE DESTA PÁGINA
Texto:
Guilherme de Souza Oliveira
Revisão de texto: Silvia Calciolari
Arte: Lucas Higashi
Supervisão de Arte: Hellen Vieira
Edição Digital: Guilherme Nascimento

Glossário

  1. Dulçor – sabor adocicado; doçura. ↩︎

A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:

Gostou do nosso conteúdo? Nos siga nas nossas redes sociais: Instagram, Facebook e YouTube.

Edição desta semana

Artigos em alta

Descubra o mundo ao seu redor com o C²

Conheça quem somos e nossa rede de parceiros