Dá para acreditar que já estamos no final de 2024? Não sei como foi por aí, mas, aqui, eu pisquei e o tempo voou. Porém, independente se passou rápido ou devagar, a verdade é que o encerramento de mais um ano chegou e, com isso, está na hora de ver se cumprimos as metas estabelecidas lá em janeiro, além de já começar a traçar os objetivos de 2025.
Sei que nas metas de muitas pessoas estão coisas como: ler mais livros, assistir mais filmes, viajar mais, aprender alguma coisa nova, praticar algum esporte e, claro, ter hábitos mais saudáveis. Pensando nesse último item, podemos incluir a qualidade do nosso sono, a frequência da prática de exercícios físicos e o tipo de alimentos que consumimos.
Já é de conhecimento popular que, para manter nossa saúde em dia, é preciso ingerir, diariamente, porções de frutas, vegetais e proteínas, e diminuir o consumo de doces, frituras e alimentos ultraprocessados, que são ricos em substância artificiais como corantes, aromatizantes e gorduras.
Mas você sabia que não para por aí? Uma alimentação saudável vai além dos valores nutricionais que vemos nas embalagens e etiquetas. Também é preciso pensar na cadeia produtiva desses alimentos, para garantir a qualidade e segurança dos produtos que nós, consumidores, estamos colocando na nossa mesa.
É por isso que pesquisadores paranaenses estão reunidos no Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) Alimentos Saudáveis, uma iniciativa fundada em parceria com o Biopark Educação, uma instituição de ensino, pesquisa e extensão, localizada no Oeste do Paraná.
Um dos objetivos do Arranjo é entender quais são as principais demandas das indústrias, cooperativas e empresas que compõem o setor alimentício do Paraná. O NAPI também busca desenvolver soluções inovadoras em alimentos, de modo a garantir diferencial competitivo às indústrias e longevidade aos consumidores nos mercados mundiais.
E além de organizar uma rede de pesquisadores em prol de pesquisas na área de alimentos saudáveis, o Arranjo trabalha para integrar as empresas do setor produtivo, os grupos acadêmicos, os órgãos públicos e a sociedade. O intuito é desenvolver produtos e serviços que impactem a população paranaense.
Para isso, o NAPI Alimentos Saudáveis se organiza em quatro linhas de pesquisa. A primeira foca os estudos de sanidade animal, vegetal e de solo, enquanto, a segunda, pesquisa novos produtos e agregação de valor. As restantes se aprofundam em genômica funcional e proteínas alternativas.
A equipe responsável por dar andamento em todo o trabalho planejado pelo Arranjo é formada pelos pesquisadores principais: o médico veterinário, Dr. Alberto Gonçalves Evangelista, responsável pela área de microbiologia, atuando, principalmente, com enterobactérias e análises de amostras de campo; e o bioquímico, Dr. Renato Lima Senra, encarregado pelas áreas de biologia molecular, biotecnologia e formulação de produtos.
Além deles, a médica veterinária Angela Maiara Tomasi Bilibio faz o apoio técnico e também é responsável pela validação de tecnologias em ambientes reais da cadeia produtiva de aves e suínos. O farmacêutico Bruno Rosset Vieira é o supervisor das atividades do NAPI Alimentos Saudáveis.
Quem completa esse time é a Gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Biopark Educação, a farmacêutica Carolina Balera Trombini; o Diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Biopark, o também farmacêutico, Dr. Tiago Mendes; e, por último, mas não menos importante, o Coordenador Geral do NAPI Alimentos Saudáveis, o administrador Paulo Roberto Cordeiro Rocha, que também é Vice-presidente do Biopark Educação.
Atualmente, a equipe do NAPI está direcionando seus esforços no projeto de controle eficiente da salmonela (Salmonella ssp.) na cadeia produtiva de aves e suínos. Esse tema foi definido como prioridade nas demandas discutidas com a instituição coordenadora do Arranjo, o Biopark Educação, e as empresas e cooperativas participantes do NAPI.
O pesquisador Dr. Alberto Evangelista conta que apesar da elevada qualidade dos produtos de origem animal da região Oeste paranaense, a salmonela ainda é um dos principais patógenos que afetam a produção animal mundial. “Além disso, por ser uma bactéria muito presente no trato gastrointestinal, são frequentes as situações de resistência antimicrobiana, o que pode gerar riscos na cadeia produtiva”, acrescenta ele.
Esse projeto do NAPI propõe o desenvolvimento de pesquisas inovadoras que atendam uma série de fatores críticos para a sustentabilidade e eficácia do controle da salmonela, como a redução de resíduos no ambiente, biodegradabilidade, especificidade para essa bactéria, não toxicidade para animais e humanos, facilidade de aplicação, além de soluções personalizadas para o perfil epidemiológico1 do Oeste do Paraná.
“É importante ressaltar que o Brasil possui uma das produções animais mais seguras do mundo, e já existem diversas alternativas de controle para salmonela. Entretanto, as bactérias possuem um potencial de adaptação muito grande, o que nos força a estar sempre atentos para a situação e abordar o problema com soluções multifatoriais para manter a qualidade dos alimentos produzidos no Brasil”, explica Dr. Renato Senra.
Ainda, o projeto visa a produção nacional de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs), ou seja, a substância que faz com que um determinado medicamento funcione, e produtos biotecnológicos, reduzindo a dependência de importações e promovendo o desenvolvimento da biotecnologia brasileira.
Saiba mais sobre a salmonela no vídeo abaixo:
A realização desse projeto envolve as áreas de Microbiologia, Biologia Molecular, Biotecnologia, Química Analítica e Medicina Veterinária. Além da equipe do Biopark, o estudo conta com participantes de outras instituições, atuando como consultores. Esses outros grupos estão nas Universidades Federais do Paraná (UFPR), do Rio Grande do Sul (UFRS) e de Viçosa (UFV), e também na Embrapa Suínos e Aves.
Impactos para a sociedade
Dr. Alberto Evangelista afirma que é responsabilidade de todo produtor de alimentos levar um produto seguro e que não vá gerar nenhum tipo de prejuízo ao consumidor. “O Brasil já realiza essa prática com maestria, mas como dito anteriormente, as bactérias estão em constante adaptação. Uma prática realizada hoje pode não funcionar mais daqui um ou dois anos. Um exemplo bem claro disso é o uso de antibióticos. Antes, eles revolucionaram a medicina e aumentaram exponencialmente a expectativa de vida da humanidade. Hoje, embora eles ainda sejam instrumentos importantes, a resistência antimicrobiana avança a largos passos. Então, entender a situação é de extrema importância, assim como estabelecer métodos de controle”, informa o pesquisador.
Com o incentivo à produção e ao consumo de alimentos de alta qualidade, o projeto ajuda a reduzir a incidência de riscos na cadeia produtiva, que estão relacionados a doenças transmitidas por alimentos. A abordagem integral da saúde, neste estudo do NAPI, tem foco no fortalecimento da segurança dos alimentos produzidos e consumidos, trazendo benefícios para toda a sociedade.
Desafios que geram inovação
Para desenvolver métodos de controle bacteriano, é preciso pensar em inúmeras variáveis. Por exemplo, quanto menor o número de estratégias de controle, mais rápido a bactéria desenvolve algum tipo de adaptação. E, atualmente, o ambiente produtivo é muito dinâmico, o que favorece essas mutações e adaptações, tornando a pesquisa um verdadeiro desafio, principalmente, por se tratar de um estudo envolvendo a alimentação e a saúde da população. “Não podemos esquecer que o alimento é algo que não pode faltar, então as soluções desenvolvidas devem servir para melhorar a produtividade, e não para inviabilizá-la”, declara Dr. Renato Senra.
Porém, nesse ponto, o NAPI Alimentos Saudáveis conta com parcerias firmadas com grandes empresas e cooperativas da área, além de terem, dentro da equipe, profissionais de diversas áreas do conhecimento com muita experiência de campo para conseguirem abordar o problema a partir de diferentes frentes. O trabalho também foi apresentado para uma ampla rede de consultores, composta de pesquisadores renomados no setor, que possibilitou a reunião do máximo de informações externas para tudo ser sintetizado em um plano de trabalho que seja viável e que produza soluções práticas e possíveis de serem aplicadas no mundo real.
A pesquisa ainda é recente, iniciou no segundo semestre de 2024. No momento, a equipe está na fase de coleta de amostras e análises iniciais, mas só esse passo já trouxe animação para os pesquisadores. “Essa parte é muito importante para validarmos todo o processo e entendermos todos os caminhos que podem se desdobrar em nossa frente. Com a validação primária sendo concluída, estamos prontos para começar com as análises oficiais”, conta Dr. Alberto Evangelista.
O estudo e os objetivos do NAPI Alimentos Saudáveis
Como já citado anteriormente, a salmonela continua sendo um desafio significativo para a produção animal e para a segurança alimentar. No Oeste do Paraná, embora haja um controle eficiente do patógeno2, novas tecnologias são demandas para acelerar a obtenção de resultados e reduzir custos, principais limitações das atuais tecnologias.
“O nosso projeto visa superar essas limitações ao desenvolver soluções biotecnológicas que sejam tanto eficazes, quanto personalizadas e sustentáveis. O diferencial será o desenvolvimento de não apenas uma alternativa isolada, mas o conjunto das melhores soluções para o controle da salmonela, desde a etapa inicial do manejo, a melhoria da proteção imunológica e saúde geral, passando por transporte e deslocamento desses animais, até as etapas finais de produção e processamento para o consumidor”, afirma Dr. Renato Senra.
A utilização de ciência de ponta para criar soluções que envolvem todas as etapas de criação e produção animal, sendo simultaneamente eficazes, sustentáveis e adaptadas às realidades locais, demonstra o caráter promissor dessa pesquisa. Ao integrar os protocolos inovadores e eficientes, desenvolvimento de IFAs e produtos biotecnológicos nacionais, o projeto visa também fortalecer a capacidade científica e econômica do Brasil no cenário global.
“O Paraná é um dos maiores produtores de alimentos do Brasil, então, é muito importante que essa iniciativa parta do nosso Estado. Investir em ciência, e sim, uma ciência inovadora, é condição primordial para mantermos nosso status produtivo, e mais do que isso, responsáveis por uma produção de qualidade. Algumas pessoas podem pensar que trabalhar com salmonela já é algo repetitivo, muito porque essa é uma bactéria que já caiu no conhecimento amplo da população. Mas, o fato de ser um problema que já está no dia a dia do brasileiro, torna essa pesquisa ainda mais importante. E o Paraná tem condições para ser um estado pioneiro em diferentes métodos para o controle desse patógeno!”, conclui Dr. Alberto Evangelista.
Conheça outra pesquisa inovadora que também é voltada para o combate da salmonela e está, aqui, no C²: “O vidro no combate de infecções bacterianas”.
E assim, o Paraná segue produzindo ciência com o propósito de melhorar a vida da população! Para que a alimentação que chega na mesa da minha e da sua casa possa ser um diferencial para uma vida saudável que todos desejamos.
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Texto: Milena Massako Ito
Revisão: Silvia Calciolari
Supervisão de Texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Hellen Vieira
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior
Glossário
- Perfil epidemiológico – Análise detalhada para identificar o quadro geral de saúde de uma população específica. ↩︎
- Patógenos – Organismos que podem causar doenças, como vírus, bactérias, fungos e outros ↩︎
A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:
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