Talvez você não se dê conta, mas a palavra guia pode ter vários significados, formatos e gêneros, como os que compreendem tipos de formulários, colar na umbanda e até fileiras de pedras que indicam a direção de uma calçada. Há também uma guia na equitação: correia comprida para adestramento de cavalos, entre outros.
Embora tenha o mesmo sentido de conduzir, não é nenhum desses tipos de guia que vamos tratar no Conexão Ciência – C².
Aqui, guia representa uma publicação organizada por especialistas que reúne informações para servir de apoio às pessoas sobre 133 espaços de divulgação científica, com uma diversidade de temas, digamos, quase que enciclopédica, e organizado a partir do vasto universo do conhecimento. É exatamente este o espírito da publicação “Espaços de Divulgação Científica do Estado do Paraná”, lançada durante o Paraná Faz Ciência, evento realizado no campus da Universidade Estadual de Maringá (UEM), entre 7 e 10 de outubro de 2024. Após meses de busca ativa, foi possível reunir informações sobre os museus de ciência, planetários, herbários, parques e reservas, ou seja, espaços e detalhes dos acervos existentes em 46 cidades paranaenses, que agora serão mais fáceis de encontrar.
Em pouco mais de 200 páginas, a publicação é a primeira pensada e elaborada pela equipe do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação Paraná Faz Ciência (NAPI PRFC) para popularizar a ciência e mostrar todos os espaços onde há projetos para serem divulgados.
Originalmente, já havia o Programa Interinstitucional de Ciência Cidadã na Escola (PICCE), Agência Escola da Universidade Federal do Paraná (UFPR), este Conexão Ciência – C², entre outros projetos de divulgação científica. Na sequência, vieram o próprio NAPI PRFC, a Rede de Clubes Paraná Faz Ciência e, futuramente, as Quintas da Ciência.
“Quando começamos a organizar o conteúdo, percebemos que não havia informações de quais museus efetivamente estariam recebendo estudantes, porque a ideia é que todos os projetos se interrelacionassem”, explica o pesquisador da UFPR, Jailson Rodrigo Pacheco, doutor em Educação e integrante do NAPI Paraná Faz Ciência.
O pesquisador reforça que a ideia da publicação foi mapear todos os espaços que efetivamente tem alguma ação ou de ensino ou de divulgação científica. A ideia é auxiliar professores de escolas públicas e privadas no momento de pensar em atividades com os estudantes, como, por exemplo, uma visita técnica. “Foi preciso mapear os mais de 400 espaços para que a gente pudesse atender todos os elementos da rede de ensino do Paraná”, completa.
Espaços de ciência
Desde fevereiro deste ano, um grupo de 20 pessoas iniciou o levantamento para identificar todos os projetos de extensão. Com uma lista de aproximadamente 200 iniciativas na mão, surgiu a dificuldade em localizar e determinar quais delas dialogavam com as escolas por meio da divulgação científica.
“Fizemos um recorte para manter projetos da área de ciências da natureza e ou tecnologia e que atendem e divulgam a ciência para a comunidade em geral”, relembra Jailson.
Os museus e centros de memória são espaços de divulgação científica que atraem o interesse da comunidade. Muitas vezes, as pessoas nem chegam ao local pelo projeto de extensão, e sim pela comunicação.
“Não é que a extensão não seja importante, pelo contrário, é muito importante e é graças à extensão que a gente constrói esses espaços. Mas esses ambientes sobrevivem, criam vida própria, além da extensão. Então, a ideia é pensar quais espaços promovem essa extensão com a divulgação científica no Paraná”, ressalta.
O que chama a atenção no guia publicado pela Gráfica e Editora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) é que a maioria dos espaços de divulgação científica está vinculado a instituições públicas de ensino superior. Também foram incluídos os espaços mantidos pela iniciativa privada que puderam ser identificados na busca.
“Nós não privilegiamos um ou outro. Mas, ao final, a gente percebe realmente a diferença da divulgação das informações e do perfil científico dos museus vinculados às universidades públicas. Porque os museus das universidades públicas, além da extensão, praticam ainda ensino e pesquisa”, destaca Jailson.
Além de Jailson e Letícia, também assinam o guia a coordenadora do Conexão Ciência, a jornalista e professora da UEM Ana Paula Machado Velho; o integrante do Museu de Ciência Naturais da UFPR (MCN/UFPR), Dhiego Cunha da Silva; a professora da UEM e articuladora do NAPI PRFC, Débora de Mello Gonçales Sant’Ana; o articulador do NAPI PRFC, Rodrigo Arantes Reis; e o professor e coordenador da Rede Estadual de Museus, Centros de Memórias, Documentação e Acervos Universitários do Paraná (Remup), Renê Wagner Ramos.
Conteúdo organizado
Como todo bom guia, o “Espaços de Divulgação Científica do Estado do Paraná” apresenta uma estrutura que facilita a compreensão no manuseio e a navegação na versão digital. Cada um dos sete capítulos é identificado por uma cor, separando em blocos as categorias contempladas, com ilustrações autorais de Guille Cordeiro da UFPR. No total, estão listados 50 museus e centros de ciência separados por cidades dispostas em ordem alfabética; 05 itinerâncias com as ações no estado do Paraná; 8 planetários; 5 jardins botânicos; 17 herbários; 44 bosques, parques e reservas; e 2 zoológicos e 2 aquários.
O começo de cada capítulo traz uma apresentação de um pesquisador da área, uma estratégia adotada para introduzir e contextualizar os espaços como forma de destacar as principais características e funções e dar uma prévia a partir de particularidades de cada local.
Popularização da ciência
A política pública de valorização da ciência e os espaços museais adotada a partir de 2019, no estado do Paraná, representa um momento ímpar para a pesquisa científica. O secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) e autor do prefácio do guia, Aldo Nelson Bona, enfatiza que o guia “simboliza a criação da Rede de Museus de Ciências, um braço da REMUP, oriundo do trabalho do NAPI Paraná Faz Ciência”.
Já o presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig, destaca na apresentação que a obra “é uma iniciativa fundamental para a popularização da ciência, apresentando uma vasta gama de espaços dedicados à divulgação científica por diferentes regiões do Paraná”.
Financiadores do projeto, os dois dirigentes reforçam que o guia, além de facilitar o planejamento de visitas guiadas ou espontâneas, contribui para popularizar a ciência e inspirar a participação da sociedade nas atividades científicas.
Que tal fazer turismo científico em seu próprio país?
Os museus e centros de ciência têm a apresentação da professora e pesquisadora da UEM, Débora de Mello Gonçales Sant’Ana, e do professor da UFPR, Marcelo Valério, que enfatizam que, atualmente, estes espaço são entendidos como base para a educação e cultura de toda a sociedade. Infelizmente, nem sempre foi assim. Tanto que muitas pessoas que viajam para destinos internacionais, sempre priorizam visitas a museus renomados, enquanto tal atividade nem sempre é sequer pensada quando se trata do turismo interno.
Mas este cenário está se transformando, na medida em que os museus se “apresentam como espaço dinâmicos, interdisciplinares, dialógicos e democráticos, cada vez mais utilizando tecnologias para criar experiências imersivas e interativas no engajamento do público”, destacam os especialistas.
Com o objetivo de ampliar o público a ter a oportunidade de conhecer os museus universitários, ou pelo menos parte dos acervos, há projetos de extensão que promovem a itinerância no Paraná. A coordenadora do projeto de extensão do MUDI/UEM, Ana Paula Vidotti, o vice-coordenador do Laboratório Móvel de Educação Científica (LabMóvel), da UFPR, Emerson Joucoski, e o organizador do guia, Jailson Rodrigo Pacheco, assinam o capítulo das ações itinerantes.
Para eles, “os resultados são expressivos, como a ampliação dos horizontes de informação e conhecimento em relação ao status científico e seu significado para a vida social, econômica e cultural das comunidades”.
Sucesso de público e crítica, o guia apresenta também os planetários existentes no Paraná no texto assinado pelo diretor do parque da Ciência Newton Freire Maia e pesquisador do NAPI PRFC, Anisio Lasievicz, e Jailson Rodrigo Pacheco, também pesquisador do PRFC. De acordo com os autores, “os planetários são um dos principais recursos da Astronomia para comunicar seus avanços e abordar conceitos fundamentais da área”.
Na sequência, temos a relação dos jardins botânicos, com apresentação dos professores da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Lucken Bueno Lucas, Priscila Caroza Frasson Costa e Rodrigo de Souza Poletto. Mais que refúgios ecológicos, os jardins também são espaços de pesquisa botânica e conservação da biodiversidade, elevando ainda mais sua importância social e ambiental.
Para os autores, “são ambientes múltiplos capazes de promover, ao mesmo tempo, cultura, lazer, turismo, contato com a natureza, pesquisa e aprendizagem científica. Portanto, é preciso conhecê-los!”.
Na parte final do guia, o leitor/futuro visitante pode encontrar informações sobre os diversos herbários que existem nas universidades paranaenses, com texto introdutório assinado pela curadora do Herbário UNOP da UNIOESTE, Lívia Godinho Temponi; e as articuladoras institucionais do NAPI Paraná Faz Ciência, Maria Aparecida Bologna Soares Andrade e Fernanda Aparecida Meglhioratti.
“As visitas aos herbários, em especial pelas escolas, contribuem para o processo de divulgação científica, impactando na compreensão da ciência pelos alunos, no desenvolvimento de atitudes de respeito à biodiversidade e no aumento da percepção botânica no seu dia a dia”, escrevem os autores.
Muita gente não se dá conta, mas os bosques, parques e reservas naturais também são espaços educativos e são constituídos e mantidos exatamente para dar conta da educação cidadã para a ciência. Para a colaboradora da Rede de Clubes de Ciência e pesquisadora do NAPI Paraná Faz Ciência, Giselle Christina, para além das fábulas infantis e a mística, há uma urgência do debate sobre a preservação dos recursos naturais em tempos de extremos climáticos.
“Se as pessoas não souberem a importância de uma área natural ou de como os ecossistemas estão ligados ao ar que respiramos, à água que bebemos, não vão se mobilizar, mesmo estas áreas estejam em risco”, alerta a pesquisadora.
Informações sobre zoológicos e aquários como espaço de divulgação científica encerram o volume. Apesar da maioria do público considerar um espaço de lazer, a pesquisadora do NAPI PRFC, Ednalva Oliveira, entende que tais ambientes representam um espaço de alto valor educacional, cultural e científico.
“Convide a família e seus amigos, compartilhe com eles as vivências que certamente vão trazer belas memórias e muitos aprendizados”, aposta.
Informações complementares
Além de informações gerais como contato, endereço, horário de abertura e fechamento e redes sociais, o guia traz ainda outras informações importantes para o público e que elevam a sua relevância. Ícones indicam se o espaço é registrado no Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e também à Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciências (ABCMC).
Há ainda a indicação de pertencimento de cada espaço à Rede de Museus e Centros de Ciências do Paraná Faz Ciência, uma garantia do compromisso com a integração e fortalecimento da comunidade científica regional.
Na parte inferior de cada página, há uma descrição das ações de ensino e pesquisa desenvolvidas no local, oferecendo dados sobre sua contribuição para a comunidade científica e educacional. E para encerrar, o guia traz no final uma lista completa das referências bibliográficas que foram citadas nas apresentações dos capítulos, demonstrando que a publicação também pode ser útil para aqueles que estudam ou que tenham interesse em conhecer mais sobre a ciência e os cientistas.
Por fim, agora que detalhamos como o guia “Espaços de Divulgação Científica no Estado do Paraná” foi elaborado, não há desculpas para não conhecer os espaços e centros de ciência, algum, com certeza, na sua cidade ou bem próximo.
Portanto, antes de sair de casa, consulte a versão digital do guia e visite um dos inúmeros espaços de divulgação científica. A diversão é garantida e você vai amar!
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Texto: Silvia Calciolari
Revisão: Ana Paula Machado Velho
Edição de áudio e imagens: Maysa Ribeiro Macedo
Arte: Mariana Muneratti
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior
A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:
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