O Dia Mundial da Saúde é comemorado, anualmente, em 7 de abril. A data foi criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e tem como objetivo trazer à tona questões sérias relacionadas à saúde. A ideia é conscientizar as pessoas sobre esse tema e jogar luz nas políticas que envolvem a área. E é aí que a gente entra no debate maior. Quais os setores envolvidos nas políticas que garantem a saúde da população?
É essa reflexão que o C² quer fazer nesta edição. O que é saúde? Como ela pode ser garantida de forma integral? Que ações precisam ser realizadas para que a população possa viver saudável?
A gente acredita que o Dia Mundial da Saúde tenha sido criado, em 1948, exatamente para chamar atenção para os diferentes fatores que afetam o bem-estar da população. A OMS propõe que “a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.
Em outras palavras, a saúde deve ser vista como uma forma de total bem-estar, que é alcançada não só por meio do tratamento de doenças ou da prevenção delas, mas também pelo nível de qualidade de vida. Isso está relacionado a fatores como a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais.
A professora Cristina Vermelho escreveu, no texto Indivíduo e Sociedade: reflexões sobre a promoção da saúde, que “saúde deve ser vista como um recurso para a vida e não como objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde está relacionada aos recursos sociais, naturais e pessoais, bem como as capacidades físicas. Por isso, garantir esse direito do ser humano não é responsabilidade exclusiva do setor saúde, mas de diversas áreas, inclusive, dos próprios cidadãos”.
Para a professora, que atua no Programa de Pós-Graduação Educação em Ciências e Saúde, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a saúde é um conceito que se estende para além do bem-estar físico, é uma condição do ser, uma qualidade adquirida em função de hábitos, valores e da nossa relação com o social. “Ter saúde, afinal, é também ser feliz”, declara a professora.
Um dos temas que Cristina Vermelho procura entender em suas pesquisas é por que a nossa sociedade, com tantas possibilidades tecnológicas, instrumentos, materiais e técnicas, que poderiam tornar a vida humana mais plena e, portanto, com melhores condições para o bem-estar, ainda lida com problemáticas simples, cotidianas e que trazem sérios problemas de ordem econômica e social. “Por que ainda é preciso se fazer campanhas como a de incentivar a lavagem das mãos, do uso de camisinha, de não beber antes de dirigir, questões simples, mas que trazem grandes prejuízos ao nosso sistema de saúde”, alerta a pesquisadora.
Com isso, ela aponta a necessidade de se promover a saúde, uma tarefa que vai além da dimensão individual, mas uma ação que vai ao encontro de toda dinâmica social. A sociedade, as políticas, o cenário econômico precisam demandar esforços e tempo para garantir esses direitos, porém, as atitudes de cada um influenciam, e muito, quando o assunto é promoção da saúde.
Em 2022, a ONU estabeleceu para o Dia Mundial da Saúde o seguinte tema: Nosso planeta, nossa saúde. Isso reforça o que a gente propõe acima. Nosso ambiente, nosso bem-estar depende muito das nossas ações diárias. Assim, é cada vez mais necessário um dia para que se possa ampliar uma reflexão acerca da nossa responsabilidade em relação a nossa qualidade de vida, não só individual como coletiva, o que nos leva ao tema proposto pela OMS.
Enfim, é necessário promover a saúde e, para isso, precisamos que cada um se responsabilize por si e pela comunidade que o cerca, adotando comportamentos que não prejudiquem o outro nem o ambiente.
Um exemplo é o das vacinas, uma discussão muito importante atualmente. Ao vacinar a população, as autoridades conseguem diminuir a incidência de determinada doença. À medida que toda a população vai sendo vacinada, os índices caem até que nenhum caso seja mais registrado, pois toda a população está protegida. No áudio abaixo, a professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Patrícia Bonfim, explica melhor como esse processo funciona:
Em nosso país, já ocorreu a erradicação da poliomielite e da varíola graças à utilização de vacinas. Além disso, segundo a Fundação Oswaldo Cruz, ocorreu a eliminação da circulação do vírus do sarampo, em 2000, e da rubéola, desde 2009. Outras doenças também tiveram seus casos reduzidos, como é o caso do tétano neonatal. Fora isso, vemos os casos de internação e mortes pela Covid-19 ocorrerem cada vez menos, por causa da vacinação de grande parte da população brasileira.
Informação
Para que a campanha de vacinação contra a Covid-19 tivesse sucesso, foi preciso, mais do que nunca, investir também na comunicação. Estratégias como educação e disseminação de informações sobre saúde são importantes no processo de promoção da saúde. Precisamos compartilhar conhecimentos e práticas que contribuem para a conquista de melhores condições de vida. Oferecer informação de qualidade, no momento oportuno e com utilização de uma linguagem clara e objetiva, é um poderoso instrumento de promover o bem-estar.
Precisamos esclarecer a necessidade de se cuidar de aspectos físicos, psicológicos e sociais da natureza humana. A medicina e o sistema de tratamento das enfermidades não dão conta de promover uma melhor qualidade de vida ao indivíduo, mesmo com avanços fenomenais no desenvolvimento de técnicas ultrassofisticadas e medicamentos para as mais diferentes doenças.
As intervenções biomédicas, embora extremamente úteis em emergências individuais, têm muito pouco efeito sobre a saúde da população como um todo. Se pensarmos bem, concluímos que a saúde do ser humano está mais ligada ao comportamento, à alimentação e às condições do ambiente em que o indivíduo está inserido. Em resumo, as causas da crise na saúde estão fortemente ligadas à crise de natureza social e cultural.
A promoção da saúde prega a importância de se instrumentalizar o indivíduo com informações, para que ele possa ser peça mais atuante na própria qualidade de vida. Isso está descrito, inclusive, nos fundamentos do Sistema Único de Saúde (SUS), que trouxe um novo modelo de política de saúde pública para o nosso país, no qual a disseminação de informação é fundamental.
A Associação Americana de Medicina define esse processo de organização de informação como uma iniciativa de alfabetização em saúde. Consiste exatamente em habilitar o cidadão da capacidade de obter, processar e compreender informação básica em saúde, necessária à tomada de decisões apropriadas e que apoiem o correto seguimento de instruções terapêuticas. A não alfabetização em saúde leva a erros no uso de medicações, a não procura de ajuda médica quando necessário e à dificuldade em assumir hábitos de vida saudáveis. Ações nesta área demandam novas estratégias de reorganização do sistema de saúde, novos investimentos financeiros e também em comunicação, que redundem em mudanças de estilos de vida.
Em resumo, muitos problemas de saúde são gerados por fatores econômicos e políticos, que só podem ser modificados coletivamente, por meio de uma ação que determine o envolvimento de pessoas em larga escala. A responsabilidade individual deve estar acompanhada da responsabilidade social. Os projetos de promoção da saúde devem ser fruto de dinâmicas interdisciplinares, emergir dos saberes e práticas das diferentes áreas da saúde em parceria com os profissionais de comunicação, funcionando como um instrumento de realização do ideal da autonomia cidadã em relação à saúde.
Neste cenário de assistência social à saúde, entram ações como a do C², projetos responsáveis pela circulação de informação em segmentos ligados à educação para a saúde: a Academia, que produz conhecimento; os profissionais de saúde, que aplicam e avaliam este conhecimento; e os profissionais de comunicação, que transformam estes dados científicos em ferramentas para toda a sociedade. E esse é um tipo de ação, reforça o escritor, que não pode ser fornecido, simplesmente, à população, mas deve ser praticado, diariamente, por todos os atores envolvidos neste cenário. Viva a saúde!!!!
O conteúdo desta página foi produzido por
Texto: Ana Paula Machado Velho
Edição de áudio: Valéria Quaglio da Silva
Edição de vídeo: Ingrid Lívero
Arte: Any Caroliny C. Veronezi
Supervisão de Arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior