“A arte existe porque a vida não basta”. A célebre frase do poeta e escritor brasileiro Ferreira Gullar nos mostra o quanto a arte é essencial para nos fazer experimentar novas sensações, refletir sobre questões mais profundas, entender novos significados para outras realidades, explorar novos contextos da existência, estar diante de novos paradigmas emocionais, filosóficos, ou, ainda, encontrar a simples beleza num riso mais solto.
Uma das formas de arte que nos mostra de forma representativa o quão assertiva é a frase de Ferreira Gullar é o teatro, que se baseia na performance ao vivo para representar, contar histórias, explorar emoções e, por vezes, provocar reflexão. É nessa forma de expressão artística que o teatro surge como um espaço difusor e propulsor da cultura nos mais variados ambientes, entre eles, o universitário.
Na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), existe o Festival de Teatro da Unicentro (Feteco), uma das mais antigas e tradicionais ações culturais da Instituição e que é realizado desde maio de 1990, quando ainda era chamado de Festival Regional de Teatro Amador do Centro-Oeste. Ao longo desse tempo, espaços da Universidade e outros lugares em Guarapuava recebem espetáculos infanto-juvenis e adultos, encenados por companhias teatrais locais, da região e, em algumas edições, de outros estados do país.
A edição deste ano, que é realizada em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, conta com a participação de vários grupos de Guarapuava e da região. Uma novidade é o grupo Uniteatro, da Unicentro, criado recentemente. A peça Reza, do Grupo de Teatro da Unicentro, foi exibida no dia 25 de outubro, no Auditório Francisco Contini, do Campus Santa Cruz, da Unicentro.
Ao longo de todas as edições do Feteco muitos foram os desafios. Mas não há como negar que isso se complicou, nos anos de 2020 e 2021. Para não suspender o Festival durante esses dois anos, devido à pandemia de coronavírus, a Diretoria de Cultura desenvolveu uma série de ações, que foram realizadas de forma remota, como retrospectiva para relembrar alguns espetáculos, apresentações, performances e fotografias. Como apontou a diretora de Cultura da Unicentro naquele momento, a professora Níncia Cecília Ribas Borges Teixeira, “o teatro nos traz a vida reinventada”.
Para a professora Níncia, o evento demonstra a importância do acesso à cultura não só para a comunidade universitária como um todo, mas também para toda a população de Guarapuava e região, que tem entrada gratuita em toda sua programação. “O festival de teatro da Unicentro é um dos que impulsionam a arte, sempre teve como meta trazer a arte teatral para a comunidade, não somente para a comunidade acadêmica, desde os anos 1990. Então, acho que o único que propicia isso na nossa cidade, já que todos os espetáculos são gratuitos. Essa arte, que é tão próxima da nossa realidade, mostra problemática social, mostra dramas, com artistas da região”, ressalta.
A partir deste ano, o Festival instituiu um prêmio em reconhecimento aos artistas de Guarapuava: o prêmio Dody Sanman. Esse é um nome importante na cena cultural e teatral guarapuavana e que, junto de Rita Felchak e seu grupo de artistas, foram precursores na arte teatral da cidade. A professora Níncia lembrou que, “o grupo teve uma das primeiras peças que brilharam aqui no palco da Universidade, tudo começou aqui. Então, esse prêmio é mesmo em reconhecimento de mérito porque, muitas vezes, esses artistas são desconhecidos pela própria comunidade”.
A abertura do evento, em 2023, destaca Níncia, é uma peça dirigida por David Felchak: A Cantora Careca. Essa é uma história icônica, escrita pelo renomado dramaturgo romeno-francês Eugène Ionesco. Situada em uma atmosfera absurda e surreal, se desenrola em uma conversa banal e superficial entre os personagens, que revela um verdadeiro exercício de absurdidade e alienação social.
Outro ponto importante destacado por Níncia é que o Feteco tem como meta fazer com que a universidade se consolide como um polo de formação, de plateia, inclusive. “O festival é pensado para os acadêmicos e para toda a comunidade. Então, é uma oportunidade única. São eventos de altíssima qualidade, totalmente gratuitos. E é importante que, sobretudo os acadêmicos, formem esse repertório artístico-cultural”, ressalta a diretora de Cultura da Unicentro.
Ferreira Gullar tinha razão. A vida, por si só, é insuficiente e é aqui que a universidade desempenha um papel crucial para a difusão da cultura e estímulo às mais variadas formas de arte, entre elas, a arte teatral. Eventos culturais, parcerias com grupos de teatro, formação de artistas nas mais variadas áreas. Arte é expressão e criatividade. Universidade é espaço, movimento, ambiente onde a diversidade cultural deve ser não só valorizada, mas também promovida. E como bem apontaram o grupo Titãs em sua forma de arte, mas desta vez musical, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.
Programação
A programação desta edição começou no dia 21 de outubro, no Teatro Municipal Marina Karam Primak, com a peça Cantora careca, da Felchak Produções e Eventos.
No domingo, dia 22, houve um espetáculo mais voltado para o público infanto-juvenil, com palhaçaria, no Parque do Lago. Intitulado O Melhor Espetáculo de Hoje, da Companhia Os Barbacas, o texto traz em seu enredo os números clássicos de palhaços circenses, em busca de resgatar a magia, o encanto e a ludicidade do circo, atualmente, quase no esquecimento.
Na terça-feira, dia 24, Transições, de Piá/Grupo de Estudos Cênicos, foi encenado no Auditório Francisco Contini, Campus Santa Cruz, da Unicentro. A peça é um apanhado de exercícios propostos durante os estudos do Piá/Grupo de Estudos Cênicos e é descrita pelo grupo como “uma grande amostra das vivências às quais nos propomos o ano todo. Pequenas/grandes ações que mudaram nossa forma de ver e sentir o teatro em nossas vidas”.
Na sequência, entrou em cena Baxô, do Coletivo de Arte Teatro das Catacumbas, com uma história cheia de crença e misticismo como muitas que foram apagadas e silenciadas. O Coletivo de Arte Teatro das Catacumbas trouxe à tona essa discussão como se ela representasse a fala de nossos ancestrais querendo ecoar para além do esquecimento.
A peça Reza, do Grupo de Teatro da Unicentro, encenada no dia 25, também no Auditório Francisco Contini, do Campus Santa Cruz, fala de quando a medicina ainda não era ciência e a cura vinha da natureza e da reza. O texto foi a forma que o grupo encontrou de eternizar memórias e culturas por meio da arte; “nela nos encontramos para celebrar a memória dos benzedores e benzedeiras de nossa cidade – Guarapuava”, diz a sinopse.
A programação encerrou dia 26, no Teatro Municipal, com o grupo de teatro de Ponta Grossa apresentando a peça O que o mordomo viu. O grupo tem apenas quatro anos e foi criado com o objetivo de contribuir para a formação de novos atores, atrizes e técnicos de teatro na cidade, fomentando, assim, a criação de novos grupos e produções.
O espetáculo O que o mordomo viu retrata com fina ironia, um dia no cotidiano de uma clínica psiquiátrica britânica, na década de 1960, a partir da visão típica do humor inglês: ácida e sutil. O título faz referência a uma das maiores instituições britânicas que é o mordomo, profissional conhecedor de todos os pecados de uma família e fiel depositário dos segredos.
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Texto: Andressa Rickli
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Hellen Vieira
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior
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