Paulo Cesar de Oliveira sempre quis dar aula para crianças. Morador da área rural quando jovem, a distância o fez frequentar o ensino primário em uma escola isolada do centro urbano. Fazer o magistério, portanto, não era uma possibilidade. Já adolescente, Paulo pode cursar o ensino médio em Itaúna do Sul graças à uma autorização judicial que garantia a ele o transporte escolar necessário da área rural até a cidade. Logo após a conclusão da escola, veio a tão desejada formação para se tornar professor. Desde 1996, ano da graduação no magistério, Paulo já trabalhou com turmas de ensino fundamental 1 e 2 e ensino médio.
Desde que se formou professor, as relações de Paulo com as viagens nunca mais foram as mesmas. Quando percebeu que viajar é, também, uma forma de aprender e ensinar, ele uniu os passeios turísticos com a prática docente. No início de novos conteúdos, os livros didáticos trazem introduções com imagens e exemplos dos assuntos que serão estudados. Em seguida, o professor vai além das imagens dos livros e elabora apresentações para os alunos, com fotos das próprias viagens feitas por ele. “Assim, o aprendizado é mais divertido e o processo se torna mais gratificante tanto para mim quanto para os alunos”, diz Paulo. Nas aulas de geografia, ele usa imagens da fauna e flora dos lugares pelos quais ele passa nas viagens. Aspectos culturais e artísticos também compõem as demonstrações que o professor faz em sala de aula, para levar o aprendizado além dos livros didáticos. Atualmente, Paulo dá aulas de ciência e matemática para a rede pública de educação em Marilena, cidade no Paraná, que faz fronteira com Mato Grosso do Sul e São Paulo.
Há alguns anos, por meio de uma tia que também cursou o magistério, Paulo conheceu as viagens que a Associação dos Amigos do Mudi (Amudi), ligada ao Museu Dinâmico Interdisciplinar (Mudi), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), promovia. No mesmo ano, participou de uma excursão para o Rio de Janeiro com outros professores do ensino básico e funcionários do Museu. Depois dessa primeira viagem com a Amudi, o professor se tornou constante nas expedições realizadas pelo grupo. Bahia, Sergipe, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco e Paraíba foram outros destinos que ele visitou com a Associação. Fora do Brasil, Paulo também pode conhecer Nova Iorque e a Patagônia.
O professor conta que, depois que começou a viajar com a Amudi, ele não se detinha mais às rotas turísticas padrão que todos os outros viajantes fazem. “Quando viajamos com os Amigos do Mudi, visitamos museus, aprendemos sobre características culturais, artísticas e geográficas, por exemplo. Normalmente, os turistas não se atêm muito a esses aspectos quando viajam. Esse é o diferencial das viagens com a Amudi!”, destaca Paulo. Em meio a outros professores de ensino básico e superior, ele também tem a oportunidade de trocar dicas e experiências sobre a prática docente.
As excursões que hoje são realizadas pela Amudi, foram iniciadas nos anos 90, sendo exclusivas para professores e estudantes que atuavam nos projetos do Centro Interdisciplinar de Ciências (CIC), hoje transformado no Museu Dinâmico Interdisciplinar (Mudi). Atualmente, as viagens são abertas ao público de qualquer lugar do mundo.
Mas, afinal, quem não gosta de viajar? Quando pensamos em um destino, logo imaginamos tudo o que aquele lugar tem para oferecer, tanto na questão das atrações turísticas como também da culinária. Porém, as viagens vão muito além de experiências voltadas apenas para o lazer. Não podemos esquecer da bagagem de conhecimento cultural e científico que trazemos de volta para a casa quando vivenciamos uma viagem.
Todo esse processo de conhecimento começa logo na elaboração do roteiro, quando iniciamos as pesquisas para saber onde vamos nos hospedar, quais os melhores meios de transporte e, claro, o que queremos visitar neste destino. É assim que começamos a aprender mais sobre a localidade que será explorada. Os roteiros das viagens organizadas pela Amudi, por exemplo, são pensados do ponto de vista interdisciplinar, incluindo ciência, artes e história. O professor Marcílio Hubner de Miranda Neto, coordenador das viagens do Amudi, explica como os roteiros feitos pela Associação são elaborados:
Ao longo de toda nossa vida, somos estimulados por imagens, pela literatura e por aquilo que ouvimos, seja de modo físico, com revistas e livros, ou pelos meios digitais. Muitas partes do nosso repertório é formado por esse conhecimento. Aposto que nem todo mundo que está lendo esse texto viu pessoalmente as pirâmides do Egito, mas, se alguém citar uma delas, muitos vão visualizar os monumentos na mente. Agora… imagina poder conhecer essas atrações de perto?
As viagens nos proporcionam esse contato próximo com aquilo que, muitas vezes, só conhecemos por fotos, vídeos ou pela descrição de terceiros, e isso abre portas para um imaginário que não é a realidade. Esse é o caso do sertão nordestino, por exemplo, que na maior parte das mentes é reduzido a algo seco e árido, mas que, na verdade, vai muito além disso. Saiba mais sobre essa região brasileira na matéria “Grande Sertão: cinemas”.
O ato de viajar e conhecer os lugares pessoalmente, possibilita o movimento de nós mesmos desenvolvermos nossas próprias impressões desses ambientes, estando em proximidade com tudo aquilo que eles oferecem, seja a cultura, a paisagem, ou as tradições. A ação de viver esses momentos nos traz a oportunidade de mudarmos nossas opiniões sobre nós mesmos e de tudo aquilo que nos cerca a partir da perspectiva do que nós aprendemos viajando. Por isso, além do lazer, as viagens têm esse papel fundamental de permitir um contato direto com o conhecimento científico e cultural dos lugares visitados.
De acordo com Marcílio Hubner, além de proporcionarem uma reflexão científica, as viagens também desenvolvem o lado social. “É uma experiência que ajuda a desenvolver nos participantes não só o senso de cidadania, mas o seu sentimento de pertencimento à humanidade e a sensibilidade em relação aos múltiplos problemas sociais que precisam de intervenção e políticas públicas adequadas”, conclui o professor.
Benefícios para o corpo
Além de todo esse conhecimento que adquirimos ao viajar, não podemos deixar de citar os diversos estudos que provam que as viagens trazem vários benefícios para o corpo, tanto físicos como mentais. De acordo com site Verywell Mind, especialista em informações de saúde e bem-estar, as viagens estimulam a criatividade, nos ajudando a nos reconectar com nós mesmos, como um veículo de autodescoberta, que faz a gente voltar a se sentir bem.
As viagens também podem nos ajudar a nos mantermos saudáveis. O estudo realizado pelo mesmo site citado anteriormente, comprova que o ato de viajar ajuda a diminuir os níveis de estresse e essa queda não é apenas momentânea. As pesquisas mostram que boas férias podem levar à experiência de menos dias estressantes por pelo menos cinco semanas depois da realização da jornada. Viajar também estimula a produção de alguns hormônios, como a endorfina, hormônio responsável pela felicidade, e a dopamina, hormônio ligado ao prazer.
Você sabia que viajar pode ajudar até na prevenção de doenças neurodegenerativas? A professora Débora Sant’Ana, coordenadora de projetos de Mudi e especialista em neurociência, explica melhor essa relação no vídeo abaixo:
Depois de todas essas informações, duvido que você não ficou com vontade de viajar. A conclusão que nós tiramos é que, tirar um tempo longe do estresse da vida cotidiana pode nos dar a pausa de que precisamos para que possamos voltar às nossas vidas mais revigorados, cheios de conhecimento e mais preparados para lidar com as situações. Porém, reconhecemos que viajar é um privilégio, e nem todos podem tirar vários dias de folga para realizar uma viagem, mas, segundo a pesquisa realizada pela Verywell Mind, até mesmo uma pequena pausa já pode ser restauradora.
Em janeiro de 2023, Paulo Cesar de Oliveira, o professor citado no início do texto, participou de mais uma das viagens organizadas pelo Amigos do Mudi. Dessa vez ele se aventurou nos estados de Pernambuco e da Paraíba, com o roteiro intitulado “Caminhos do Severino”. A programação recebeu esse nome por conta do poema “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto, e a ideia da viagem se baseou em acompanhar o Rio Capibaribe, o mesmo percorrido pelo personagem principal do poema. Após essa viagem, o professor Paulo já pode exemplificar em sala de aula, as formações geográficas da caatinga, as características da flora regional e aspectos culturais da região do nordeste.
Você também pode se aventurar nessa mesma viagem feita pelo professor Paulo. Ficou Curioso? É só dar play na primeira temporada do podcast “Caminhos do Severino”, disponível aqui no C² Conexão Ciência! Além de escutar, você também pode visualizar as viagens do Mudi por meio da playlist “Viagens do Amudi”, disponível do canal do YouTube Amigos do Mudi – UEM.
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Texto e edição de áudio: Luiza da Costa e Milena Massako Ito
Arte: Hellen Vieira e Maylon Correia de Andrade
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição digital: Gutembergue Junior
A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes objetivos ODS: