Muito movimento no Pará para a festa da ciência

A UFPA sedia mais uma edição da SBPC, reunindo projetos e ações essenciais para a ciência brasileira

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A escolha da Universidade Federal do Pará (UFPA) para sediar a 76⁠ª  Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) ocorreu em um encontro do Conselho da SBPC e teve aprovação unânime. A festa nacional da ciência já foi realizada por lá em outras duas ocasiões. A primeira em 1983 e, a última delas, há 16 anos, em 2007, quando as atividades foram concentradas no Hangar Centro de Convenções da Amazônia. 

Em 2024, as atividades vão ocorrer no campus-sede da UFPA, em Belém, às margens do Rio Guamá. A programação do evento é recheada de conteúdo. Serão conferências, mesas-redondas, painéis, sessões especiais e mini cursos presenciais e web minicursos. Essa parte é organizada pela SBPC a partir de propostas apresentadas à Comissão Executiva Local e Sociedades e às Associações Científicas afiliadas à SBPC. 

“Desde a definição da UFPA como sede da próxima reunião da SBPC, a comunidade universitária se mobiliza para participar, em todas as modalidades, de atividades do evento”, declarou Emmanuel Tourinho, reitor da UFPA. Ele anunciou, ainda, que “haverá novidades como a SBPC Inovação, SBPC Afro e Indígena e SBPC Educação”.

Programação Pará

A SBPC Jovem é um evento associado à Reunião Anual da SBPC e acontece desde 1993. As atividades buscam incentivar o contato de estudantes e professores dos ensinos fundamental, médio e técnico com o conhecimento científico, despertando o interesse pela ciência, tecnologia e inovação.

Em cada edição, a SBPC Jovem reúne representantes de alguns dos principais movimentos dessas áreas. São projetos destacados, grupos de pesquisa, instituições de CT&I e de ensino, que transformam as Reuniões Anuais em uma grande festa das Ciências. Nestas três décadas, têm desempenhado papel essencial no fortalecimento das atividades de Ensino de Ciências, Popularização da Ciência, Divulgação da Ciência (DC) e Comunicação Pública da Ciência (CPC) no Brasil.

“A SBPC Jovem é um dos espaços mais eficientes de popularização, divulgação e comunicação pública da ciência, atuando ativamente para o Ensino das Ciências. É reconhecidamente uma das mais destacadas agendas nessa área”, diz a coordenadora de projetos do Museu Dinâmico Interdisciplinar, da Universidade Estadual de Maringá (MUDI/UEM), Débora Sant’ Ana.

Mulher branca sorrindo, tem os cabelos grisalhos e usa óculos, está sentada na frente de uma mesa pequena redonda em que apoia as mãos.
Débora Sant’ Ana, coordenadora de projetos do MUDI/UEM, fala sobre a SBPC (Foto/Arquivo Pessoal)

Toda essa “agenda” ocorre em duas principais ambiências: a Tenda da SBPC Jovem e a Avenida das Ciências: Ciência Móvel.

Na Tenda da SBPC Jovem serão organizados bate-papos com oficinas, rodas de conversa com cientistas e Café com Ciência. Conta ainda com estandes de diferentes expositores. Alguns são parceiros históricos da SBPC como, por exemplo: Agência Espacial Brasileira – AEB Escola; Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência – Circo da Ciência; Fundação Oswaldo Cruz – Museu da Vida da Fiocruz; Museu de Astronomia e Ciência Afins – MAST; Museu Ponto da UFMG.

Fazem parte da programação, também, iniciativas da UFPA como o Centro Interativo de Ciência e Tecnologia da Amazônia (Cicta); Ciência e Comunicação na Amazônia (CIECz); Ciência na ilha; Clube de Ciências da UFPA; Manas digitais; Museu de Geociências; Museu do Baixo Tocantins; Museu Virtual Surrupira de Encantarias Amazônicas; Núcleo de Astronomia da UFPA (Nastro/UFPA); e o Projeto Conviva.

Avenida e PRFC

Os projetos de Ciência Móvel (carretas, ônibus, trailers) vão formar um grande espetáculo na SBPC Jovem. É a Avenida das Ciências. As exposições totalmente interativas encantam crianças, jovens e adultos. 

Neste ano, quem for ao Pará poderá conhecer projetos como: Museu Ponto UFMG;  Projeto Missão Gênese – Hospital do Amor (Hospital do Câncer de Barretos); Carreta MT Ciências; Programa Recuperação da Biodiversidade Marinha – Rebimar/MarBrasil; e o Laboratório Móvel de Educação Científica da UFPR – LabMóvel.

E é aqui que entra a mobilização do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) Paraná Faz Ciência, do qual o Conexão Ciência – C² é parte. O PRFC vai levar para Belém, por exemplo, o Laboratório Móvel de Educação Científica da UFPR (LabMóvel).

Este é um programa de divulgação científica que atua desde 2006, com pesquisa, extensão e educação científica no litoral do Paraná, promovendo ações de sensibilização na área de Ciência Cidadã e Educação. O PRFC vai levar à Belém os resultados deste trabalho.

  • Trailer azul-escuro com duas portas que tem rampas para acessibilidade. No interior dele tem mesas com amostras de pesquisas, marinhas e banners de divulgação.
  • Duas pessoas olhando a capa de uma revista. Ao fundo do estande, há a impressão de animais marinhos.
  • Ônibus nas cores azul-claro e verde-claro escrito ZikaBus, com um mosquito dividindo as palavras.

Estarão disponíveis no estande do PRFC jogos didáticos, produções científicas, diversos materiais voltados à educação não formal sobre Mata Atlântica e ambientes costeiros, como, também, a coleção de livros “Beia” e o banner “Abelhas-sem-ferrão”, que retrata as abelhas melíponas1.

Além destes materiais, serão expostas às edições do eComCiência, um jornal que tem como público-alvo professores da Educação Básica, composto por notícias e artigos com intuito de contribuir com abordagens de divulgação científica no espaço formal de ensino. 

A UFPR também conta com o ZikaBus que desenvolve ações voltadas aos estudantes e professores da rede pública do litoral, Curitiba e região metropolitana, com uma visão crítica da dengue e demais arboviroses relacionadas ao vetor Aedes aegypti. Por conta da distância e alto custo para translado, o ZikaBus não poderá ir até Belém. Entretanto, uma amostra da exposição itinerante vai ser apresentada por meio de tablets com quizzes e vídeos interativos, microscópios de celular e placas de Petri com representação do ciclo de vida do Aedes Aegypti.

O Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (REBIMAR) também estará no estande do PRFC. Essa é uma iniciativa da Associação MarBrasil, patrocinada pelo Programa Petrobras Socioambiental. Na SBPC, o grupo vai mostrar como vem utilizando Recifes Artificiais para auxiliar na recuperação da biodiversidade marinha, na manutenção dos estoques pesqueiros e na conservação dos ambientes costeiros. A divulgação da iniciativa vai ficar sob a coordenação do LabMóvel.

“Apesar da estrutura expositiva itinerante de alguns projetos não ter viabilidade para a SBPC, no Pará, serão levados dezenas de materiais didáticos, vídeos subaquáticos exibidos através de óculos VR [realidade virtual, sigla em inglês] e réplicas de espécies marinhas, produzidas nas ações destes projetos”, explica o professor e um dos coordenadores do Rebimar, Emerson Joucoski. Ele estará em Belém como a equipe formada, ainda, pela pesquisadora Tamara Dias Domiciano, a doutoranda Marjorie Chaves Ramos e o bolsista Leonardo Fogaça.

Junto com essa equipe, o C² vai mostrar os seus resultados. A coordenadora-executiva do projeto, a jornalista e pesquisadora Ana Paula Machado Velho, preparou um vídeo sobre o Conexão Ciência e vai conversar com o público sobre a importância da divulgação da ciência. 

O C² e todo o pessoal do Paraná Faz Ciência ainda vai fazer uma homenagem a dois cientistas que estariam completando 100 anos, se estivessem, ainda, entre nós. Um deles é César Lattes (1924/2005), o mais famoso e brilhante físico brasileiro. O centenário será comemorado na SBPC, no dia 11 de julho. 

A outra homenagem é para Carolina Martuscelli Bori. “Ela trabalhou pelo reconhecimento da Psicologia como ciência nas universidades e teve um papel muito importante para a consolidação da ciência brasileira. Bori, inclusive, foi presidenta, vice-presidenta e secretária da SBPC. Um exemplo para as cientistas mulheres brasileiras”, destaca Ana Paula. A jornalista produziu um vídeo falando um pouco da história de Bori e de César Lattes que será exibido no estande do PRFC.

Anatomia

No Circo da Ciência estará o Museu Dinâmico Interdisciplinar, da Universidade Estadual de Maringá (MUDI/UEM), onde o Conexão Ciência – C² tem sede. O MUDI é resultado do amadurecimento do Projeto de Extensão, Centro Interdisciplinar de Ciências (CIC), desenvolvido na UEM desde 1985 com o objetivo de integrar a UEM com os ensinos Fundamental e Médio, além da comunidade em geral. 

No acervo, o Museu conta com peças de conscientização sobre os malefícios do tabaco para a saúde humana e para o meio ambiente; produção de mudas de orquídeas e bromélias a partir de sementes; conscientização sobre o uso, necessidade, cultivo e possibilidades econômicas das plantas medicinais; utilização de métodos alternativos para o aprendizado sobre os fenômenos químicos e físicos presentes no nosso cotidiano; utilização da arte para o ensino de ciências e para a formação cidadã.

Na SBPC, o MUDI vai responder à pergunta: você sabe quais as funções desempenhadas pelos ossos? Apesar do seu aspecto aparentemente inerte, os ossos são estruturas altamente dinâmicas: crescem, se remodelam e se mantêm ativos durante toda a vida de um organismo. E esta estrutura tem muitas funções no organismo humano.

  • Mulher branca sorrindo ao lado de um esqueleto.
  • Três esqueletos expostos em espaços de vidro.
  • Um esqueleto pequeno e um modelo de plástico de uma parte do sistema auditivo.

Esse conteúdo foi escolhido para valorizar a tradição da equipe do MUDI que é expert em anatomia humana. Uma delas é a professora Ana Paula Vidotti. “Vamos falar de sustentação do organismo, proteção dos órgãos vitais, garantia da movimentação, produção de células sanguíneas e linfáticas e armazenamento de alguns sais minerais, tais como cálcio e fósforo. Tudo isso tem a ver com nossos ossos”, adianta Vidotti, que é coordenadora de projetos do Museu.

O reitor da UEM, Leandro Vanalli, disse que um dos projetos mais representativos de itinerância da Universidade é o Mudi. “Por isso, significa muito para a nossa instituição ter a equipe do Museu representando a comunidade acadêmica da UEM. Temos uma tradição muito significativa em extensão e divulgação científica. Neste último caso, além do C², que estará presente em Belém, há inúmeras outras iniciativas que levam o conhecimento produzido nas instituições de ensino superior do Paraná até a sociedade. Esse papel de popularizar informações sobre ciência é imprescindível”, reforça o gestor. 

Ciência Cidadã

O estande do Paraná Faz Ciência ainda vai expor detalhes do Programa Interinstitucional de Ciência Cidadã na Escola (PICCE). A equipe busca implementar um processo formativo pautado em metodologias de ensino e de aprendizagem das Ciências, mais articuladas com os conhecimentos contemporâneos e a inovação. 

O PICCE contribuiu com a inovação cidadã, estimulando o ensino “mão na massa” e o aprendizado conjunto por meio de infraestrutura compartilhada, uso de software livre e uma rede auto-organizada com gestão participativa. É a ciência cidadã, na prática.

Estarão disponíveis no estande do PRFC os resultados das pesquisas do PICCE. São 16 Guias de Campo e dois e-books, voltados para aplicação desses projetos na realidade escolar.

Segundo um dos articuladores do PRFC, o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rodrigo Arantes Reis, “toda essa programação que vai fazer parte do estande integrado do Paraná Faz Ciência tem o objetivo de mostrar a grande Rede de Divulgação Científica paranaense, que o NAPI representa”. 

Imagem de um homem branco usando óculos preto e com cabelo curto preto.
Professor Rodrigo Arantes Reis (Foto/Arquivo Pessoal)

Reis destaca que essa articulação de iniciativas de popularização da ciência em Rede que o Paraná está promovendo é inédita. Na SBPC, essa interação fica clara com a participação conjunta do MUDI, do LabMóvel, do C², entre outros projetos, em um grande espaço  compartilhado.

“A SBPC é um evento-chave, porque é grande. A SBPC Jovem, principalmente, é um evento enorme de divulgação científica, que atrai os principais atores da área, e da ciência e tecnologia no Brasil. Então, é uma grande vitrine poder apresentar as estratégias que provam que o Paraná faz ciência, apoia quem faz e leva o conhecimento produzido por ela para as pessoas, de diferentes formas”, resume Reis.

O professor ainda lembrou que duas importantes figuras da ciência brasileira: Carolina Bori e César Lattes completariam 100 anos, em 2024, se ainda estivessem conosco. Por isso, o PRFC fez homenagens a eles.

A primeira é um vídeo contando a história dos dois, que será exibido na SBPC. Confira abaixo.

A segunda, foi a confecção de um baixo-relevo de César, um paranaense, que o PRFC confeccionou em parceria com a Fundação Araucária. 

A história da confecção do baixo-relevo começou com uma provocação do professor Ildeu Moreira, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ele entrou em contato com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) provocando uma iniciativa e a ‘turma’ do Paraná Faz Ciência topou se mobilizar.

A equipe fez contato com o Instituto João Turin, porque ouviu dizer que havia algum registro de Lattes feito pelo artista plástico paranaense. A dúvida virou realidade. O Instituto encontrou um baixo-relevo em gesso de uma pessoa não-identificada, que, depois, foi confirmado pela museóloga da Instituição como sendo César Lattes. 

“Junto com a Fundação Araucária e o Instituto João Turin, o PRFC produziu uma placa em bronze do baixo-relevo do físico. Além disso, propusemos a criação de um espaço denominado ‘César Lattes’, no planetário do Parque da Ciência Newton Freire Maia. Essa ideia ainda não foi fechada. Mas esperamos que, em breve, a placa seja instalada no Parque”, explica Reis. 

Trabalhos científicos e C&T 

A SBPC vai contar, ainda, com a Agência Cidadã de Comunicação. Uma realização da Universidade Federal do Pará e Secretaria Municipal de Educação de Belém. Estudantes, entre 12 e 17 anos, colocarão em prática o conhecimento construído em encontros prévios,  voltados à formação em diferentes linguagens para as redes sociais como fotografia, rádio/podcast e audiovisual. 

Eles tiveram experiências imersivas durante oficinas ministradas por colaboradores locais da SBPC. Cada sessão buscou promover a expressão criativa, a comunicação cidadã e a reflexão sobre os temas abordados este ano. Agora, durante a 76⁠ª reunião, 120 estudantes vão colocar a mão na massa e se tornar produtores de conteúdo. 

Na grade de programação também consta a Feira da Economia Solidária e da Diversidade. Esse espaço tem como objetivo proporcionar a participação e o envolvimento de pessoas que elaboram e produzem bens diversos, como alimentos beneficiados, artesanato, moda e design, artes, utensílios, produção literária, entre tantos outros. Muitos desses processos são realizados em estreita cooperação com as práticas de pesquisa e de extensão desenvolvidas por instituições acadêmicas.

Falando em Academia, a SBPC ainda terá uma grande Sessão de Pôsteres. As atividades serão de forma virtual e presencial. Faz parte desta programação a Jornada Nacional de Iniciação Científica (JNIC), com a participação dos trabalhos de estudantes indicados e vencedores das jornadas das instituições de ensino e pesquisa brasileiras. Estas indicaram os melhores trabalhos apresentados em 2023.

Por fim, não podemos esquecer da ExpoT&C. Esta é uma mostra de ciência, tecnologia e inovação que reúne diversos segmentos como universidades, institutos de pesquisa, agências de fomento, entidades governamentais, setor empresarial e outras organizações. Para saber mais, assista ao vídeo abaixo.


Nesta semana, produzimos ainda um podcast sobre a história e o papel da SBPC. Ouça!

Serviço

76⁠ª SBPC 

Quando: 7 e 12 de julho. No dia 13 de julho será o Dia da Família na Ciência, com livre acesso ao público em geral.

Para quem: escolas de ensino fundamental, médio e técnico, públicas e privadas. 

Onde: no campus do Centro Guamá da UFPA, em Belém; e virtuais, com transmissão pelo canal da SBPC no YouTube

Participe!

EQUIPE DESTA PÁGINA
Texto:
Ana Paula Machado Velho e Maysa Ribeiro Macedo
Revisão: Silvia Calciolari
Arte: Any Veronezi
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

Glossário

  1. Melíponas: Abelhas-sem-ferrão que se dividem em várias espécies, e muitas são nativas do Brasil. ↩︎

A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:

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