Museus e centros de ciência: para além da pandemia

Durante o período de isolamento social, os desafios, que já eram grandes, cresceram nesses ambientes

Outubro é marcado como Mês Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, porém a divulgação científica não para durante o ano todo, e com ela vem muitos desafios. Além dos problemas enfrentados normalmente pelas instituições que propagam o conhecimento das ciências, com a pandemia nos rondando em 2020 e 2021, as dificuldades foram ainda maiores, sobretudo nos espaços que recebiam pessoas presencialmente, como os museus. 

“Oportunidades e desafios dos museus de centros de ciências” foi o tema do primeiro painel da 18ª Semana de Ciência, Tecnologia e Inovação do Paraná Faz Ciência, e, diante da importância do assunto, essa também será a temática abordada no Conexão Ciência essa semana. Então, sem mais delongas, vamos conhecer um pouco mais sobre os desafios encontrados por alguns museus e centros de ciências quando se trata de divulgação científica em tempos de pandemia.

Parque da Ciência Newton Freire Maia

O Parque da Ciência Newton Freire Maia, localizado na cidade de Pinhais, é um centro interativo de divulgação científica e tecnológica dedicado à iniciação científica, que conta com seis pavilhões que abordam temas da ciência, divididos por um fator de integração conceitual. O espaço trabalha com astronomia, geologia, história, física, biologia, e as divisões que compõem um currículo escolar formal. 

Conheça mais do parque no vídeo abaixo:  

Marcos Rocha, um dos coordenadores do Parque, conta que, antes de trabalharem sem público, os desafios já eram muitos, pois uma das questões mais pertinentes abordadas pelo centro é a relação da divulgação científica com o currículo escolar. Ele explica que, de todo público recebido pelo espaço, apenas 15% é não escolar, “a gente recebe a escola de forma bem pesada e o desafio que a gente tem a tratar é o que é ciência para esse público. Por isso, nós temos espaços de formação onde discutimos o que é ciência como astronomia e física, com professores.”

Para o coordenador do Parque, o desafio do pós pandemia será de como nós vamos conviver com a presença do vírus. “Nesses quase dois anos de pandemia, a ciência foi muito exposta e essa exposição veio de dois lados. O lado positivo é que nunca tivemos a atuação dela em um desafio tão enorme como a criação das vacinas de forma tão eficaz, e nunca se produziu tanto em tão pouco tempo. Por outro lado, a ciência também foi muito atacada, de forma até injusta, e agora nós vamos voltar a atender o público de forma presencial, um público que vem sedento de questões, por exemplo, como a ciência trabalhou para desenvolver uma vacina tão importante? Como vão nos colocar em um caminho mais perto do que a gente estava em 2019? Por que a ciência foi tão atacada? Por que a palavra ciência apareceu ou de forma positiva ou negativa na mídia em geral? E eu acho que a gente tem que se preparar pra isso já que vamos voltar a conversar presencialmente com esse público”, explica Rocha.

Além dos temas ligados à pandemia, o coordenador do parque também destaca sua preocupação em abordar assuntos que estão afetando a população nos últimos tempos. Confira o que ele tem a dizer sobre isso no áudio abaixo:

🎧 Marcos Rocha fala sobre outros temas que serão abordados na reabertura do parque

O Parque da Ciência Newton Freire Maia está sem público presencial desde março de 2020, porém, durante esse tempo, com a ajuda de contatos com estudantes em projetos de formação em algumas áreas, recebeu novos materiais para o desenvolvimento na área de robótica, na formação de internet das coisas e, também, criaram novos equipamentos.

Museu de Ciências Naturais da Universidade Estadual de Ponta Grossa (MCN – UEPG)

Se já existem desafios para uma instituição que está em funcionamento, imagina para uma que ainda não abriu. Esse é o caso do Museu de Ciências Naturais da UEPG (MCN-UEPG), que não tem experiência com o público, pois ainda não abriu as portas devido à pandemia. A previsão é que comece a receber visitantes ainda esse ano, com a volta das atividades presenciais no campus Uvaranas, em Ponta Grossa, local que o espaço ocupa. 

No vídeo abaixo, é possível ver a apresentação preliminar do Museu de Ciências Naturais da UEPG:

O projeto do MCN – UEPG é iniciativa do professor Antonio Liccardo. Dos dez anos atuando na instituição, dois e meio foram dedicados à montagem do museu. Todo o trabalho começou em 2019, com o objetivo de trazer mais movimento ao campus Uvaranas. Porém, a pandemia freou a implantação e, diante das circunstâncias atuais, o professor já pensa nos desafios que serão encontrados quando o museu abrir para a presença do público.

Liccardo conta que, recentemente, percebeu três eventos que acendem uma luz vermelha na nossa reflexão. O primeiro foi o incêndio do Museu Nacional em 2018, em que um dos maiores acervos de ciência natural do Brasil foi consumido pelas chamas. O segundo é a pandemia da Covid-19 e a contestação em torno da ciência. E o terceiro é a crise climática, a que estão associados a crise hídrica, as queimadas na amazônia, a seca no pantanal e muitos outros acontecimentos. “Tendo em vista esses três eventos, o que se percebe como pano de fundo desse panorama, na minha opinião, é um descaso com o patrimônio cultural científico. Dentro desses momentos, também se percebe uma urgência em sensibilizar e informar melhor a sociedade sobre ciência e meio ambiente”, explica Liccardo.

Para Antonio, existe uma urgência na educação científica e esses eventos trouxeram à tona que a população “sofre” de analfabetismo científico. “Eu acredito que os museus de ciências surgem nesse cenário com o papel fundamental de conectar a sociedade com o estado da arte dos diversos aspectos da ciência”, declara o professor. 

Para os museus desempenharem esse papel, Liccardo lembra das dificuldades financeiras enfrentadas: “nós precisamos de mais recursos e mais pessoas especializadas nisso”. Além disso, os maiores desafios dos museus, segundo o professor, são: a aproximação com a sociedade, a democratização dos conteúdos e a preservação patrimonial das instituições.

“Eu diria, também, que o principal desafio é gerar uma população mais consciente dos processos científicos e ambientais, e sobre o impacto disso no planeta. Por isso, no MCN – UEPG, serão apresentados os aspectos da geodiversidade e biodiversidade que conversam entre si em uma possibilidade de provocar essa reflexão ambiental que é tão urgente”, conclui o professor. 

Aqui você conheceu alguns desafios enfrentados pelos museus e centros de ciência durante o cenário atual da pandemia. No próximo texto, serão apresentadas as oportunidades que esse tempo trouxe para essas instituições. Antes disso, assista o vídeo abaixo e conheça oito tipos de museus e suas principais características:

O conteúdo desta página foi produzido por

Texto: Milena Massako Ito
Edição de áudio: Milena Massako Ito
Roteiro de vídeo: Milena Massako Ito
Edição de vídeo:Karoline Yasmin
Supervisão: Ana Paula Machado Velho
Arte: John Zegobia
Supervisão de Arte: Thiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:


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