Eu sempre soube que seria artista. Desde criança todos os caminhos me levavam para isso: criar e explorar minha criatividade. Uma coisa, porém, nunca tinha passado pela minha cabeça: fazer arte que falasse de ciência.
Mesmo tendo brincado muito de ‘ser cientista’ quando criança, fazendo misturas e experimentos junto do meu irmão, tinha aquela falsa ideia de que fazer ciência era só usar jaleco dentro de um laboratório – talvez por ter assistido muito “O Laboratório de Dexter” nas tardes de verão – e que aquilo, portanto, não era pra mim.

Durante o colégio, sempre amei literatura, arte, fotografia e tudo que envolvia o universo das linguagens visuais. Depois disso, me graduei em Comunicação e Multimeios. Mas foi somente no final de 2023, ao entrar para a equipe do Conexão Ciência, que eu percebi que também fazia e podia fazer ciência. E o melhor: unir ciência à minha grande paixão que é ser artista.
Um elo entre Arte e Ciência
Não é novidade pra ninguém dizer que a ciência está em toda parte. Desde as relações humanas, a economia, as mídias que consumimos e a política até os medicamentos, o transporte público, os celulares e nossos eletrônicos. A ciência abraça nosso cotidiano e permeia tudo que fazemos.
Mas onde é que a ciência encontra a arte?

Os artistas atuam no sentido de traduzir conceitos complexos em imagens e representações que facilitem a compreensão daqueles dados. Nesse sentido, é impossível falar de divulgação científica, sobretudo para públicos diversos, sem falar da produção artística também.
E é nesse lugar tão importante, onde a lógica encontra a estética, que o papel e a presença das mulheres é também tão fundamental.
Ilustradoras: traduzindo conceitos em imagens
Foi no Conexão Ciência que duas ilustradoras encontraram espaço para criar e fazer divulgação científica, as duas coisas andando lado a lado.
Mariana Muneratti é artista visual, ilustradora e graduanda do curso de Artes Visuais, da Universidade Estadual de Maringá (UEM). A artista, que está no projeto desde 2023, desenvolve materiais visuais para as matérias aqui do C².
“Trabalhar com arte de divulgação científica pra mim é muito divertido e uma experiência muito enriquecedora… Porque são conceitos e temas que não estão no meu dia a dia, ou que eu não conhecia, e que por meio das matérias do C², eu conheço coisas novas e eu penso em novas formas de produzir…”, explica a aluna de Artes Visuais.
Mariana completa: “eu acredito que arte desperta o interesse científico nas pessoas e penso que, principalmente, no público mais jovem… Crianças, pré-adolescentes e adolescentes…”.
Hellen Vieira também é artista visual, ilustradora, graduada em Artes Visuais, pela UniCesumar, e supervisora de artes do Conexão Ciência. A ilustradora está no projeto desde o início de 2023.
Hellen já fez dezenas de materiais visuais para o projeto C² e para o NAPI Paraná Faz Ciência, e explica que “a arte tem o poder de tornar a ciência sensível. Em alguns momentos, a linguagem pode parecer muito distante para o público e a arte atua como mediadora, criando uma experiência que desperta interesse e curiosidade.”
Hellen ainda argumenta que “há uma necessidade crescente de abordagens inovadoras na comunicação científica e a presença de mulheres nesse campo traz novas perspectivas e percepções…”. Hellen é ilustradora e trabalha como artista visual desde 2016. Hoje, atua como uma das figuras responsáveis por falar de ciência de um jeito novo – mais colorido e lúdico – no Paraná.
O laboratório e o palco
Leila Inês Follmann Freire é pós-doutora em Ciências Exatas e da Terra e atua no departamento de Química, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Leila é coordenadora e supervisora do Grupo de Teatro Científico (GTC), da UEPG e ocupa os espaços da universidade sendo, além de professora de Química, atriz e figurinista.
O GTC nasceu em 2022 como um projeto de extensão e conta com pessoas da comunidade, acadêmicos da graduação e da pós-graduação, além de professores parceiros. A ideia do projeto é fazer uso do teatro para falar sobre temáticas importantes da ciência. A matéria ‘A arte da ciência (ou a ciência da arte)’, do C², fala com mais detalhes sobre o projeto.

“As pessoas que diziam assim: ‘não, eu jamais iria, sairia de casa pra ver uma peça que fala sobre doenças de chagas, né? Mas ao assistir essa peça, eu quero saber mais’…”, explica a professora sobre a forma como o teatro científico tem trazido o público para mais perto das universidades.
No que diz respeito à sua experiência enquanto artista, professora e pesquisadora, Leila explica que é uma realização poder unir duas áreas pelas quais é tão apaixonada. A artista ainda explica que poder dividir isso com outras pessoas torna tudo ainda mais interessante.
Sobre a manutenção desse trabalho que é tão importante, a professora argumenta que é necessário, primeiro, fazer com que as pessoas conheçam o que vem sendo feito concomitante ao apoio institucional das universidades “Esse é o trabalho que a gente entende que precisa ser feito… Precisamos mostrar o nosso trabalho. E precisamos, nas instituições, organizar minimamente um suporte para que esse tipo de ação possa de fato acontecer.”
A professora de química é uma das figuras importantes da divulgação científica nas universidades paranaenses e incentiva que mais meninas e mulheres integrem esse time.
Escrevendo caminhos possíveis: mulheres artistas (e cientistas!)
Desde 2016, comemoramos uma data importante para o campo científico: o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi definida no final de 2015, em uma Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
O objetivo em firmar essa data é promover a igualdade de gênero na ciência, além de incentivar a participação das mulheres e destacar suas contribuições. O Conexão Ciência – C² falou com mais detalhes sobre isso no texto ‘O futuro da Ciência é delas’.
A intersecção entre arte e ciência oferece um universo de possibilidades para as mulheres se expressarem e contribuírem nesse campo, uma vez que ampliam as formas de conhecimento e também de representação.
Escrever caminhos possíveis para mulheres artistas e cientistas é, acima de tudo, um ato de resistência – mas também uma urgência. Iniciativas que deem destaque ao trabalho de mulheres no campo da ciência, especialmente aquelas que atuam com arte e divulgação científica, é garantir que as próximas gerações tenham mais referências femininas.
Isso garante que meninas artistas – como eu já fui um dia – tenham uma perspectiva diferente de futuro. A de que é possível ser cientista, explorar a criatividade e contribuir para a ciência. Certamente, a Camila de 7 anos está orgulhosa.
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Texto: Camila Lozeckyi
Revisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Edição de áudio: Maysa Ribeiro
Arte: Camila Lozeckyi
Supervisão de arte: Hellen Vieira
Edição Digital: Guilherme Nascimento
A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:

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