Mulheres artistas na ciência: um encontro singular

A ilustração apresenta uma figura estilizada e recortada em colagem, composta por texturas de tecidos e papéis. A personagem segura um telescópio e um pincel, representando ciência e arte, enquanto observa um céu estrelado. O fundo em tons de roxo e amarelo cria uma atmosfera sonhadora e inspiradora.
O Especial de Dia das Mulheres do C² mostra quem são as responsáveis por falar de ciência de um jeito criativo no Paraná

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Eu sempre soube que seria artista. Desde criança todos os caminhos me levavam para isso: criar e explorar minha criatividade. Uma coisa, porém, nunca tinha passado pela minha cabeça: fazer arte que falasse de ciência.

Mesmo tendo brincado muito de ‘ser cientista’ quando criança, fazendo misturas e experimentos junto do meu irmão, tinha aquela falsa ideia de que fazer ciência era só usar jaleco dentro de um laboratório – talvez por ter assistido muito “O Laboratório de Dexter” nas tardes de verão – e que aquilo, portanto, não era pra mim.

A imagem mostra uma criança sorrindo ao lado de um desenho e de uma estrutura artesanal feita com papel colorido. A menina tem cabelos cacheados e veste uma camiseta branca com detalhes coloridos. Ela parece orgulhosa de sua criação, que está apoiada sobre uma folha de papel com rostos desenhados e decorados. O fundo da imagem é um sofá de cor vinho.
Camila Lozeckyi, artista visual, quando criança (Foto/Arquivo pessoal)

Durante o colégio, sempre amei literatura, arte, fotografia e tudo que envolvia o universo das linguagens visuais. Depois disso, me graduei em Comunicação e Multimeios. Mas foi somente no final de 2023, ao entrar para a equipe do Conexão Ciência, que eu percebi que também fazia e podia fazer ciência. E o melhor: unir ciência à minha grande paixão que é ser artista.

Um elo entre Arte e Ciência

Não é novidade pra ninguém dizer que a ciência está em toda parte. Desde as relações humanas, a economia, as mídias que consumimos e a política até os medicamentos, o transporte público, os celulares e nossos eletrônicos. A ciência abraça nosso cotidiano e permeia tudo que fazemos.

Mas onde é que a ciência encontra a arte?

A imagem é uma ilustração vibrante e surrealista, destacando um grande olho central com um universo abstrato dentro da íris. O fundo é composto por formas orgânicas e coloridas, incluindo mãos estilizadas, elementos cósmicos e padrões ondulados. No canto superior direito, há um conjunto de pequenos olhos dentro de uma forma azul, sugerindo um olhar múltiplo ou uma percepção expandida. A paleta de cores inclui tons de azul, verde, rosa, roxo e laranja, criando um efeito dinâmico e intrigante. A composição evoca uma conexão entre visão, ciência e o universo.
Arte digital da artista Hellen Vieira para o Conexão Ciência (Foto/Conexão Ciência – C²)

Os artistas atuam no sentido de traduzir conceitos complexos em imagens e representações que facilitem a compreensão daqueles dados. Nesse sentido, é impossível falar de divulgação científica, sobretudo para públicos diversos, sem falar da produção artística também. 

E é nesse lugar tão importante, onde a lógica encontra a estética, que o papel e a presença das mulheres é também tão fundamental. 

Ilustradoras: traduzindo conceitos em imagens

Foi no Conexão Ciência que duas ilustradoras encontraram espaço para criar e fazer divulgação científica, as duas coisas andando lado a lado. 

Mariana Muneratti é artista visual, ilustradora e graduanda do curso de Artes Visuais, da Universidade Estadual de Maringá (UEM). A artista, que está no projeto desde 2023, desenvolve materiais visuais para as matérias aqui do C².

“Trabalhar com arte de divulgação científica pra mim é muito divertido e uma experiência muito enriquecedora… Porque são conceitos e temas que não estão no meu dia a dia, ou que eu não conhecia, e que por meio das matérias do C², eu conheço coisas novas e eu penso em novas formas de produzir…”, explica a aluna de Artes Visuais.

  • A imagem mostra uma mulher sorrindo para a câmera em um ambiente aconchegante. Ela tem cabelos cacheados, usa óculos de armação escura e batom brilhante. Veste uma blusa preta sem mangas.
  •  A imagem é uma ilustração colorida e estilizada que representa elementos de energia sustentável e meio ambiente. No centro, há uma paisagem com turbinas eólicas cor-de-rosa, placas solares inclinadas sobre um telhado, um rio azul fluindo e vegetação verde. Em primeiro plano, uma superfície oval esverdeada contém um símbolo de raio amarelo, possivelmente representando energia. Toda a composição está dentro de uma moldura dourada com formas arredondadas, sobre um fundo laranja-texturizado. A arte transmite uma mensagem de sustentabilidade e inovação energética.
  • A imagem é uma ilustração estilizada de uma paisagem natural, destacando um caminho marrom-terra cercado por vegetação exuberante. O fundo é verde, reforçando a atmosfera de um ambiente natural. Há diversas plantas e flores, algumas roxas e outras amarelas, representadas com traços delicados. No topo, dois pássaros azuis voam em direções opostas, criando um efeito dinâmico na composição. Nas laterais, elementos brancos alongados lembram estruturas decorativas ou fitas trançadas. A arte transmite uma sensação de tranquilidade e conexão com a natureza.

Mariana completa: “eu acredito que  arte desperta o interesse científico nas pessoas e penso que, principalmente, no público mais jovem… Crianças, pré-adolescentes e adolescentes…”.

Hellen Vieira também é artista visual, ilustradora, graduada em Artes Visuais, pela UniCesumar, e supervisora de artes do Conexão Ciência. A ilustradora está no projeto desde o início de 2023.

Hellen já fez dezenas de materiais visuais para o projeto C² e para o NAPI Paraná Faz Ciência, e explica que “a arte tem o poder de tornar a ciência sensível. Em alguns momentos, a linguagem pode parecer muito distante para o público e a arte atua como mediadora, criando uma experiência que desperta interesse e curiosidade.”

  • A imagem combina fotografia e ilustração digital, mostrando uma jovem de cabelos loiros cacheados e olhos esverdeados, iluminada naturalmente. Ela usa uma corrente dourada e faz um leve biquinho. Flores e folhas estilizadas e coloridas emolduram a cena, criando um efeito artístico e lúdico.
  • A ilustração retrata uma pessoa de expressão séria segurando uma câmera decorada com uma estrela. O fundo apresenta tons suaves com estrelas, remetendo a uma atmosfera onírica. A arte usa uma paleta quente e texturizada, evocando um estilo vintage e poético.
  • A ilustração retrata uma cientista vestindo jaleco azul e segurando uma lupa enquanto observa insetos e borboletas em um ambiente exuberante de plantas tropicais. A cena transmite curiosidade e investigação, com uma paleta vibrante e traços que remetem a ilustrações científicas estilizadas.

Hellen ainda argumenta que “há uma necessidade crescente de abordagens inovadoras na comunicação científica e a presença de mulheres nesse campo traz novas perspectivas e percepções…”. Hellen é ilustradora e trabalha como artista visual desde 2016. Hoje, atua como uma das figuras responsáveis por falar de ciência de um jeito novo – mais colorido e lúdico – no Paraná.

O laboratório e o palco

Leila Inês Follmann Freire é pós-doutora em Ciências Exatas e da Terra e atua no departamento de Química, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Leila é coordenadora e supervisora do Grupo de Teatro Científico (GTC), da UEPG e ocupa os espaços da universidade sendo, além de professora de Química, atriz e figurinista.
O GTC nasceu em 2022 como um projeto de extensão e conta com pessoas da comunidade, acadêmicos da graduação e da pós-graduação, além de professores parceiros. A ideia do projeto é fazer uso do teatro para falar sobre temáticas importantes da ciência. A matéria ‘A arte da ciência (ou a ciência da arte)’, do C², fala com mais detalhes sobre o projeto.

A imagem mostra quatro atores caracterizados em trajes teatrais de época, com maquiagem expressiva e roupas detalhadas em tons claros e rendas. Eles estão em cena, apontando e sorrindo, transmitindo entusiasmo e dinamismo. O cenário inclui tecidos e elementos artísticos, sugerindo um ambiente teatral ou performático.
Teatro “Coração em Chagas” – Apresentação do GTC no XII Encontro de Pós-Graduação da FMB/UNESP (Foto/Henrique Orsi)

“As pessoas que diziam assim: ‘não, eu jamais iria, sairia de casa pra ver uma peça que fala sobre doenças de chagas, né? Mas ao assistir essa peça, eu quero saber mais’…”, explica a professora sobre a forma como o teatro científico tem trazido o público para mais perto das universidades.

No que diz respeito à sua experiência enquanto artista, professora e pesquisadora, Leila explica que é uma realização poder unir duas áreas pelas quais é tão apaixonada. A artista ainda explica que poder dividir isso com outras pessoas torna tudo ainda mais interessante.

  • A imagem mostra uma atriz em cena, vestida com um figurino de época que inclui rendas e um colete verde sobre uma blusa branca. Seu rosto tem uma maquiagem teatral marcante, com batom vermelho vibrante e sombras coloridas ao redor dos olhos. Seu olhar é intenso e expressivo, sugerindo um momento dramático da peça.
  • A imagem em preto e branco mostra uma atriz no palco, vestida com roupas de época, expressando emoção intensa por meio de sua postura e gestos. Ela segura um lenço e parece estar falando ou reagindo dramaticamente a algo. No fundo, um tecido drapeado cria um efeito visual marcante, com iluminação destacando a silhueta de uma rosa e sua sombra projetada.

Sobre a manutenção desse trabalho que é tão importante, a professora argumenta que é necessário, primeiro, fazer com que as pessoas conheçam o que vem sendo feito concomitante ao apoio institucional das universidades “Esse é o trabalho que a gente entende que precisa ser feito… Precisamos mostrar o nosso trabalho. E precisamos, nas instituições, organizar minimamente um suporte para que esse tipo de ação possa de fato acontecer.”

🎙️ A professora Leila Freire incentiva que mais meninas e mulheres apostem no encontro entre arte e ciência

A professora de química é uma das figuras importantes da divulgação científica nas universidades paranaenses e incentiva que mais meninas e mulheres integrem esse time.

Escrevendo caminhos possíveis: mulheres artistas (e cientistas!)

Desde 2016, comemoramos uma data importante para o campo científico: o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi definida no final de 2015, em uma Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

O objetivo em firmar essa data é promover a igualdade de gênero na ciência, além de incentivar a participação das mulheres e destacar suas contribuições. O Conexão Ciência – C² falou com mais detalhes sobre isso no texto ‘O futuro da Ciência é delas’.

A intersecção entre arte e ciência oferece um universo de possibilidades para as mulheres se expressarem e contribuírem nesse campo, uma vez que ampliam as formas de conhecimento e também de representação.

Escrever caminhos possíveis para mulheres artistas e cientistas é, acima de tudo, um ato de resistência – mas também uma urgência. Iniciativas que deem destaque ao trabalho de mulheres no campo da ciência, especialmente aquelas que atuam com arte e divulgação científica, é garantir que as próximas gerações tenham mais referências femininas.

Isso garante que meninas artistas – como eu já fui um dia – tenham uma perspectiva diferente de futuro. A de que é possível ser cientista, explorar a criatividade e contribuir para a ciência. Certamente, a Camila de 7 anos está orgulhosa. 

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Texto:
Camila Lozeckyi
Revisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Edição de áudio: Maysa Ribeiro
Arte: Camila Lozeckyi
Supervisão de arte: Hellen Vieira
Edição Digital: Guilherme Nascimento

A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:

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