Nesta semana, o Conexão Ciência – C2 traz uma programação especial para a Semana de Combate ao Tabagismo. Com matérias e podcasts cheios de conteúdo, vamos falar sobre essa luta e alguns projetos que fazem uma grande mudança na vida daqueles que buscam parar de fumar.
E falando sobre grandes mudanças, na vida, elas podem vir quando menos se espera. No caso de Rogério Rodrigues de Oliveira, uma das mudanças mais significativas em sua trajetória ocorreu durante um fim de festa, em 2021.
Ao longo de uma conversa despreocupada com seu amigo, ele foi questionado se tinha vontade de parar de fumar, resposta para a qual ele não hesitou em dizer sim. Com a permissão de Rogério, o colega logo o cadastrou na lista de participantes do Projeto Tabagismo realizado na Universidade Estadual de Maringá (UEM), algo que causaria grande impacto no futuro do vendedor.
A decisão de tentar largar o hábito veio antes mesmo desse momento, também por acaso, com um ato que, para muitos, pode parecer até absurdo. Após andar por 20 quilômetros em uma madrugada em busca de apenas um cigarro para preencher a ansiedade de sua noite, ele percebeu que o esforço para manter o vício já havia ido longe demais.
Rogério confessa a falta de crença na sua capacidade de largar o tabaco, no início. Por maior que fosse a vontade, a prática já fazia parte da rotina. Entretanto, com a abordagem proposta pelo projeto, ele percebeu que ter vontade e uma rede de apoio era tudo que iria precisar para tomar essa decisão que lhe rendeu ótimos frutos e uma grande melhora na saúde.
O projeto
A história de Rogério é apenas uma das diversas que foram mudadas pelo Projeto Tabagismo: Tratamento e Acompanhamento de Usuários de Tabaco de Maringá e Região, ao longo de seus quase 20 anos de existência. O professor Celso Ivan Conegero – coordenador do Museu Dinâmico Interdisciplinar (MUDI) da UEM e idealizador da iniciativa – conta que, até o momento, mais de 1500 pessoas já deixaram de fumar graças às ações da equipe que atua com ele.
Mesmo que o projeto de extensão exista oficialmente apenas desde 2005, a relação de Celso com o combate ao tabagismo remete há muito antes, quando ele ainda era aluno de graduação. Atendendo o público em uma exposição de peças anatômicas, começou a falar a respeito do assunto e nunca mais parou, desenvolvendo um interesse pessoal por esta pauta. A partir daí, deu continuidade a sua jornada, sempre expandindo os conhecimentos para escolas, professores e para a comunidade em geral, enfim, para quem se interesse pelo assunto.
Com tantos casos que já passaram pelo professor em seus anos de experiência, o que não falta são exemplos para falar sobre os impactos que esse processo de vencer o tabagismo têm sobre a vida de uma pessoa. As mudanças podem ir desde uma melhora da autoestima até a renovação de vínculos dentro do ambiente familiar. Isso sem citar a óbvia melhora na saúde daqueles que abandonam o cigarro, já que este é responsável por cerca de oito milhões de mortes anuais no mundo todo, segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
Quem nota essas mudanças não é apenas Conegero, mas os próprios ex-fumantes! “Muitas pessoas voltam ao projeto para deixar os seus depoimentos, para colaborar com a gente e passar para os novos participantes o quanto é importante”, ele conta.
Uma grande prova disso é Elizabeth Lima, professora aposentada – formada em psicanálise – que mantém uma relação muito marcante com o projeto. Há mais de dez anos, começou a frequentá-lo como participante, hoje ajuda outras pessoas a passarem por esse processo como psicóloga voluntária! Você pode conhecer mais sobre essa jornada tão curiosa no podcast dessa semana, confira no link.
O tratamento
Esse senso de comunidade construído dentro da participação no projeto é um dos maiores incentivos para que as pessoas se sintam confortáveis em participar do processo. As palavras de Rogério exemplificam bem esse fator: “É muito mais fácil enfrentar um problema em conjunto do que sozinho”. Mas esta não é a única forma de apoio oferecida dentro pelo pessoal do Mudi/UEM.
As atividades realizadas são feitas a partir de um grupo multidisciplinar que inclui assistentes sociais, psicólogos, dentistas, nutricionistas e educadores físicos. Cada indivíduo é direcionado a procurar ajuda dentro dessas áreas disponíveis de acordo com sua necessidade.
Além dessas ferramentas cognitivas e comportamentais, é oferecido também aos participantes a assistência medicamentosa. Ou seja, o paciente passa por uma consulta e, caso haja a necessidade de complementar o tratamento com remédios, são oferecidos os meios indicados para ajudar nos sintomas de abstinência. Já ouviu falar dos famosos adesivos de nicotina? Este é um dos métodos que podem ser aplicados com a ajuda da equipe multidisciplinar.
Todos os tipos de apoio oferecidos têm como objetivo guiar o participante no sentido de que ele possa superar os principais obstáculos na hora de superar o vício. Celso Conegero comenta “que as mais graves dificuldades enfrentadas durante esse caminho se dão por causa da dependência causada pela nicotina – altamente viciante – e a luta em deixar um hábito já muito solidificado para o indivíduo”.
Ainda que o projeto sirva como mentor, quem decide a hora de parar é o próprio participante, sendo este responsável por definir a meta de quando será seu último cigarro.
“É importante reforçar que não há receita universal para parar de fumar, se houvesse, bastaria divulgá-la e todos poderiam chegar ao resultado final como em um passe de mágica. Sendo assim, é importante que antes de qualquer passo se entenda qual a relação do indivíduo com o tabaco, para chegar então até a ferramenta que melhor pode ajudar aquela pessoa”, alerta Conegero.
Como participar
Se ao longo desse texto você ficou interessado em ser atendido pelo Projeto Tabagismo ou conhece alguém que vai se interessar pela iniciativa, saiba que é muito simples se inscrever.
Você pode colocar seu nome na lista entrando em contato com a secretaria do Mudi, por meio do telefone (44) 3011-4940. Se preferir, há também a possibilidade de acessar o site oficial do projeto, no qual, ao deixar seus dados, será feito o contato para início do processo.
Outras formas de tabaco
Quando se pensa em fumar, é comum que logo surja a imagem de um cigarro à mente, já que este se tornou um símbolo muito atrelado ao tabaco. Entretanto, hoje, existem novas tecnologias que vão muito além desta forma de consumo, é o caso dos narguilés, vapes e pods.
Essa é uma batalha constante que ocorre entre aqueles que tentam conscientizar o público sobre os perigos do consumo e a indústria que se beneficia da venda desses produtos, buscando novas roupagens para driblar a conscientização. O Conexão Ciência – C² preparou uma matéria especial focada justamente nesse assunto. Ficou curioso para saber mais? Então confere aqui no link!
EQUIPE DESTA PÁGINA
Texto: Isadora Monteiro
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Mariana dos Santos Muneratti
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior
A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes objetivos ODS: