“Miga”, já fez seu papanicolau esse ano?

É simples, rápido e, feito periodicamente, salva vidas

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Todos os anos, Káthia Shiguemi Shimano Saito, professora de matemática, faz o exame do papanicolau para a prevenção do câncer de colo de útero. Em 2005, não foi diferente. Ela foi até o médico para realizar o exame preventivo, mas, logo em seguida, descobriu que estava com Papilomavírus Humano, também conhecido como HPV. Esse vírus infecta a pele e as mucosas das pessoas, podendo provocar verrugas e, dependendo do tipo, pode causar, até mesmo, câncer.

Káthia Shiguemi Shimano Saito

Com acompanhamento de seu ginecologista, a professora tratou o HPV e conseguiu se curar totalmente, impedindo que o vírus provocasse câncer. “Eu descobri que tinha HPV graças ao exame do papanicolau”, conta Káthia, “consegui curá-lo e logo engravidei. Hoje, sigo minha vida normalmente”. 

Infelizmente, esse comportamento da professora Káthia não é comum a todas as mulheres. No Brasil, ainda temos um alto número de casos e de mortes causadas pelo câncer de útero.  De acordo com a pesquisadora Márcia Edilaine Lopes Consolaro,  do Centro de Ciências da Saúde e professora do Departamento de Análises Clínicas e Biomedicina da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná, a prevenção é a única forma de diminuir esses números.

O exame preventivo, conhecido como papanicolau, é simples, rápido e deve ser feito periodicamente. A professora explica que são coletadas células da parte de fora e de dentro do colo uterino, regiões de grande probabilidade de desenvolvimento de câncer. “Uma característica interessante desse tipo de tumor é que ele tem estágios iniciais e o exame detecta alterações nas células coletadas, verificando se há o que chamamos de pré-câncer. Nesses casos e com tratamento adequado a chance de cura é de 100%”, declara a professora.

Márcia Edilaine Lopes Consolaro (ASC/UEM)

A idade para fazer o exame pode variar de acordo com cada país. O Ministério da Saúde recomenda que o exame de prevenção seja feito entre os 25 e 64 anos. Isso porque jovens menores de 25 são infectadas com bastante frequência pelo HPV, mas têm facilidade de combatê-lo, principalmente com a vacina. Márcia esclarece que “o problema é a infecção persistente por alguns tipos de HPV, que possuem alto risco de causar câncer. Daí a importância de fazer o papanicolau periodicamente”. 

Veja, no infográfico abaixo, algumas informações importantes sobre o HPV e o câncer de colo de útero:

Ao fazer o exame em dois anos consecutivos e obter resultado negativo para pré-câncer e câncer, a mulher pode repetir o papanicolau a cada três anos. Ou seja, a partir de dois resultados negativos, a periodicidade passa a ser trienal. 

Diferente de Káthia, que faz seu exame periodicamente, existem mulheres que se recusam a realizar a triagem, seja por vergonha, falta de informação e acesso ou, até mesmo, por proibição do marido. Isso provoca um cenário preocupante. Estima-se que cerca de 16 mil mulheres apresentam novos casos de câncer uterino, anualmente, e um terço morre. Dados mostram que a maior parte é de mulheres que não realizaram o papanicolau. 

No Brasil, o exame ainda é a única forma de prevenir o câncer de colo de útero, mas, em outros países do mundo, há outras soluções. No áudio a seguir, a professora Márcia Consolaro explica quais são elas.

🎧 A pesquisadora Márcia Consolaro, da UEM, conta sobre as outras formas de prevenção do câncer de colo de útero existentes em outros países

Pensando nessas mulheres que não realizam o preventivo nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), a cientista desenvolveu um projeto piloto, em parceria com uma equipe dos Estados Unidos, de auto-coleta e de conscientização sobre a importância de fazer o exame. Para este trabalho, os agentes comunitários de saúde (ACS) foram treinados e contaram com o apoio de material impresso para realizar a campanha de divulgação. 

O grupo selecionou três Unidades Básicas de Saúde (UBS), de Maringá, no Paraná, para realizar sessões educacionais. Na primeira UBS, os ACS incentivaram as mulheres a fazerem o papanicolau. Na segunda, os agentes foram até as residências para saber se as mulheres aceitariam fazer a auto-coleta do exame. Por fim, na terceira unidade, foram oferecidas as opções de agendar o exame na UBS ou fazer a autocoleta. As duas primeiras unidades tiveram 100% de adesão.  Na terceira, que contou com a opção de escolha, apenas 60% das mulheres aderiram ao programa.

A proposta deste trabalho foi comparar a viabilidade de duas modalidades de rastreio do câncer de colo uterino (exame de Papanicolaou agendado na rede pública de saúde; e autocoleta/teste de HPV) em mulheres não rastreadas, ou seja, que não tenham sido submetidas ao exame de papanicolau nos últimos quatro anos ou mais. 

Para obter recursos, Márcia participou de um edital do Ministério da Saúde que teve 19 projetos aprovados, sendo o da pesquisadora da UEM o único dedicado à prevenção de câncer cervical. “Como parte do projeto foi financiado pelo Ministério da Saúde, fui chamada em Brasília para apresentar esse projeto e de lá para cá o Ministério trabalha para transformá-lo em uma política pública”, conta.

Sob a coordenação da pesquisadora e a participação da equipe americana, o projeto passou a ser multicêntrico e já iniciou o trabalho de aplicabilidade nas cinco regiões do Brasil, que contarão com duas unidades por localidade, uma para o papanicolau e outra para a autocoleta. “A autocoleta é uma opção viável e muito promissora como novo método de triagem”, fala a pesquisadora.

Inicialmente, todas passarão pelas duas unidades de atendimento na tentativa de atingir 100% das mulheres não aderentes ao rastreamento de rotina atual do exame preventivo. 

Márcia explica que analisou a grande incidência de câncer de colo de útero no Brasil, levou a questão com a solução para Brasília e o Ministério da Saúde entendeu a urgência da mudança. “Fico feliz porque esse projeto é a minha contribuição para a ciência”, declara. 

O conteúdo desta página foi produzido por

Texto:  Thamiris Saito, Valéria Quaglio e Isadora Hamamoto
Revisão: Noth Camarão
Edição de áudio: Valéria Quaglio
Arte: Any Caroliny Veronezi
Supervisão de Arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior


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