Tem ciência no palco, tem sim senhor

Conhecimento científico se aprende na escola e… no teatro

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Quem discutiu o conteúdo do nosso título conosco, em abril deste ano, em uma reportagem aqui no C², foi a professora do Departamento de Química, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Leila Inês Follmann Freire. Ela atua na formação de professores e ama a área de divulgação científica. Foi Leila quem nos alertou para o fato de que, nos meses de outubro e novembro deste ano, Ponta Grossa, município do interior do Paraná, será um grande palco para as Artes Cênicas. A cidade recebe dois importantes eventos de teatro: o primeiro tem tudo a ver com o Conexão Ciência. É o XVI Ciência em Cena: encontro de teatro e divulgação científica, uma mostra sobre o teatro científico. Mas a cidade ainda organiza o 51º Festival Nacional de Teatro – Fenata. 

Em outras palavras, entre os dias 29 de outubro a 9 de novembro, palcos, praças, escolas, ruas, recebem diferentes profissionais, estudantes, pesquisadores e público, que têm no teatro uma forma de fruição artística e, também, de aprendizagem e ensino. O C² não podia ficar de fora deste cenário e decidimos registrar esses acontecimentos.

Para começar, precisamos marcar que a história do Ciência em Cena é longa. Desde 2007, grupos de teatro de temática científica do Brasil e do exterior encontram-se para divulgar a ciência e trocar experiências. O evento surgiu com o objetivo inicial de reunir grupos que utilizam o teatro para a divulgação científica  Saiba mais sobre o que é divulgação científica nesta matéria do C².

O encontro é itinerante. Já foi sediado em São Carlos-SP (2007, 2008, 2011, 2014,  2017), Mossoró-RN  (2009, 2022), Fortaleza-CE (2010), Caxias-MA (2012), Pacoti-CE (2013), Itapipoca-CE (2015), Salvador-BA (2016), Macaé-RJ (2018), Matinhos-PR (2019), além de uma edição on-line (2021), sendo recebido por grupos teatrais de temática científica da UFSCar, UERN, UFERSA, UFC, UEMA, UECE, UFBA, UFRJ e UTFPR. 

Grupo de Teatro Científico da UEPG no espetáculo ‘Coração Em Chagas’ (Foto/Arquivo Pessoal)

Esta é a décima sexta edição do Ciência em Cena e, pela primeira vez, o evento será sediado em uma universidade estadual paranaense. A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) abriga o evento. A  programação é composta por apresentações de trabalhos científicos com foco na divulgação científica, mesas-redondas, apresentações teatrais de temáticas científicas, oficinas de teatro, música, ciências e dança. 

O Ciência em Cena tem características científicas, extensionistas e artísticas. Segundo o professor doutor da UEPG, Jocemar de Quadros Chagas, coordenador geral da edição 2023, “o evento vem ganhando notoriedade ao longo dos anos e já está consolidado. A cada edição, aumenta o alcance de público e vem recebendo cada vez mais apoio de órgãos de fomento. O objetivo é promover espaços e momentos de reflexão coletiva, discussão e apresentações de espetáculos teatrais cuja temática principal é a ciência”.

A organização está a cargo de docentes e estudantes da UEPG, em parceria com dois grupos de teatro científico da cidade: o Grupo de Teatro Científico da UEPG e o grupo independente Flogisto. Ambos foram foco da reportagem feita pelo C², em abril, citada no início da reportagem. 

“A metodologia adotada pelo XVI Ciência em Cena foi pensada com o objetivo de atrelar a popularização da ciência, através da promoção de apresentações  teatrais de temática científica a um público majoritário de estudantes do ensino básico. Ao mesmo tempo, a mostra promove o fortalecimento artístico e científico dos grupos de teatro científico voltados à divulgação científica, e do  próprio evento”, informou o professor Chagas.

Grupo de Teatro Científico da Seara da Ciência – Mossoró, Rio Grande do Norte (Foto/Divulgação)

Dinâmica

Durante a Mostra, os grupos participantes devem apresentar necessariamente espetáculos de temática  científica e seus integrantes participam de oficinas ou minicursos formativos. Além disso, a programação conta com mesas-redondas e sessões de apresentações de trabalhos científicos sobre divulgação científica e as contribuições do teatro para a popularização da ciência. 

Escolas de ensino médio e fundamental da cidade sede e região foram convidadas para assistirem aos espetáculos e às discussões. O público estimado para o evento é de 2.500 pessoas, entre atores, diretores, técnicos, estudantes, pesquisadores e comunidade em geral. 

O professor Jocemar Chagas espera que, “com a realização da 16ª edição do Ciência em Cena, o teatro como possibilidade de divulgação científica possa se fortalecer, ampliando a divulgação da ciência no Brasil e contribuindo com a  formação inicial e continuada dos participantes, nas áreas científica e artística”.

Logo do Ciência Em Cena (Foto/Arquivo Pessoal)

A comissão organizadora do XVI Ciência em Cena: encontro de teatro e divulgação científica ressalta que o evento traz a divulgação de resultados de  pesquisas desenvolvidas nos centros de referência e nos novos âmbitos de estudos científicos.

“A ideia é promover o reconhecimento e significação da identidade profissional de professores e professoras que trabalham com divulgação científica frente às atuais demandas de formação de educadores. O objetivo é contribuir para a incorporação do processo do Teatro de temática científica e a utilização dos resultados como indicadores da qualidade de novas estratégias de divulgação  e popularização da Ciência”, disse a professora Leila Inês Follmann Freire, coordenadora do projeto teatro científico da UEPG.

Na edição de 2023, destaca-se a presença da professora Karina Omuro Lupetti, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), pesquisadora da Alfabetização e Divulgação Científica a partir de atividades artístico culturais, como o teatro; e do professor Leonardo Maciel Moreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq, além de ator e diretor de teatro. 

Festival Nacional de Teatro

Mas a ciência se une à cultura em geral e acende a programação do Festival Nacional de Teatro – Fenata. O evento nasceu em 1973, em plena ditadura militar, como Festival Nacional de Teatro Amador, pelas mãos do ator e diretor Telmo Faria (José Faria Moritz – 1918/1997), então diretor do Grupo de Teatro Universitário (GTU), da UEPG. 

Naquele mesmo ano, durante a realização do primeiro Fenata, a UEPG teve o seu reconhecimento como Universidade, pelo Conselho Federal de Educação. O anúncio foi feito pelo então reitor, Álvaro da Cunha Rocha, que, ao final da notícia, disse que a Universidade Estadual de Ponta Grossa nascia, institucionalmente, sob o signo do teatro. A frase ficou marcada como símbolo da profunda relação entre a UEPG e a prática teatral. 

De lá para cá, foram 50 edições ininterruptas de um dos maiores festivais de teatro do Brasil. O termo amador foi retirado do nome do festival em 2003, na sua 31ª edição, como um reconhecimento ao alto nível que o evento, desde seu início, apresentou. 

Julia Lemmertz na peça Tudo, uma das atrações do Fenata 2022 (Foto/Flávia Canavarro)

Pelo Fenata, já passaram atores e atrizes como Grande Othelo, Bibi Ferreira, Henriette Morineau, Ary Fontoura, Umberto Magnani, Luiz Fernando Guimarães, Letícia Sabatella, Matheus Nachtergaele, Júlia Lemmertz, Vladimir Brichta, Guta Stresser. O festival também revelou nomes como Mario Bortoloto, Adriano Garib, Cássia Kiss, Jorge Fernando, Silvero Pereira, entre outros. Na cena paranaense, destaque para a diretora e professora da UEL, Nitis Jacon, e a atriz e professora da PUC, Silvia Monteiro.

Todos os estados brasileiros já estiveram, em algum momento,  presentes no festival, assim como algumas peças internacionais, a exemplo da edição de 2023, que receberá a peça argentina Cuidado: um palhaço mau pode arruinar sua vida, com os palhaços Chacovachi e Maku Fanchulini. 

Segundo o professor Nelson Silva Junior (UEPG), coordenador geral do Fenata, “a edição de 2023 traz como novidade a mudança no caráter não competitivo do evento. Desde seu início o festival premiou as categorias de Melhor Espetáculo Adulto, Melhor Espetáculo Infantil, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Ator coadjuvante, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Figurino, Melhor Cenografia e Melhor Iluminação. Em 2023, o festival deixa de ser competitivo, atendendo às demandas da própria classe dos artistas teatrais”. 

A formação do ator é um dos focos do Fenata. (Foto/William Clarindo, Fábio Ansolin, Julio Cesar Prado e Jéssica Natal)

Em 2022, na 50ª edição, o público que assistiu às peças superou a casa dos 25 mil espectadores, entre as 85 apresentações. A expectativa para 2023 é a de que esse número seja superado. “A diversidade de gêneros teatrais que o Fenata apresenta, considerando que os espetáculos, geralmente, representam as 5 regiões do país, propicia a formação de plateias e públicos que, junto aos debates posteriores às apresentações, vivenciam a experiência artística e estética dos grupos responsáveis pelas produções, ampliando suas visões sobre o fazer artístico teatral no Brasil”, acrescenta o professor Nelson. 

Destaca-se também, o importante papel integrador do Festival, que, ao reunir uma grande gama de produtores da arte e da cultura, provoca o intercâmbio entre estes, resultando em experiências formativas, a partir da vivência durante o evento. O evento conta com ações de formação e qualificação para os profissionais envolvidos no planejamento e produção.

A seleção das peças é feita por uma equipe de curadores, composta pelos artistas e professores, Adba Cuba (SP), Gilvan Balbino (RJ) e Fátima Ortiz (PR), que, em 2023, analisaram mais de 170 peças e grupos inscritos.

Que se faça a festa da ciência e do teatro, no palco chamado Ponta Grossa.

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Texto:
Nelson Silva Junior
Supervisão de texto: Ana Paula Machado Velho
Arte: Lucas Higashi
Supervisão de arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

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