FEI: lugar de pesquisa e conhecimento

Fazenda Experimental é fonte de informação para a Academia e para a comunidade

“Não quero mais tomar leite!”. Essa foi a frase que eu falei em casa depois de uma aula de ciências do ensino fundamental, em que o professor ensinou sobre a mastite bovina. A mastite é uma doença que se caracteriza pela inflamação da glândula mamária, causada por trauma físico ou infecções por microrganismos. Essa condição pode trazer alterações nas mamas dos animais e vir acompanhada de modificações no leite, como alteração de coloração e presença de coágulos. Por isso, a mastite é considerada um dos principais causadores de prejuízos para os produtores leiteiros.

Existem dois tipos principais de manifestação da mastite. A primeira é a clínica, essa é marcada pelos sinais de inflamação na mama do animal, com sintomas de dor, rubor, calor, tumor e perda de função. O animal também pode apresentar febre, falta de apetite, depressão e até chegar à morte. Neste caso, o leite pode ter alterações, como presença de coágulos. A segunda é a mastite subclínica, que, por sua vez, é caracterizada por não apresentar sinais visíveis no animal ou no leite. Esta forma da doença é mais frequente nas propriedades e, muitas vezes, passa despercebida pelo produtor.

Como aluna do ensino fundamental, me ocorreu o pensamento de que eu poderia estar consumindo leite de uma vaca que tinha mastite, sem o próprio fornecedor do produto saber, o que me deixou aflita. Por um período de tempo, fiquei sem tomar leite, até descobrir que, apesar de não ter sinais visíveis, é possível detectar a contaminação do produto por meio da detecção de células somáticas. Essas são identificadas no procedimento conhecido como Contagem de Células Somáticas (CCS). Este consiste em uma importante ferramenta para indicar a saúde da glândula mamária de vacas leiteiras. Por meio dele, o leite é avaliado e, se for considerado impróprio para consumo humano, ele é descartado. 

Hoje, sei que o leite passa por vários procedimentos para que a qualidade do produto seja garantida, e você pode ler mais sobre isso na matéria publicada pelo Conexão Ciência, “E aí, vai um copo de leite?”. Enfim, existem muitas pesquisas em andamento buscando a garantia da qualidade do leite, incluindo o tratamento da mastite. Uma delas está sendo feita na Fazenda Experimental de Iguatemi (FEI). 

Você sabia que a Universidade Estadual de Maringá (UEM) possui uma Fazenda Experimental? A unidade está localizada no distrito de Iguatemi, a 18 km do câmpus-sede, e conta com rebanhos de bovinocultura de corte e de leite, ovinocultura, caprinocultura, bubalinos, suinocultura, avicultura, cotornicultura, apicultura e cunicultura. A FEI desenvolve atividades de ensino e pesquisa nas áreas de Zootecnia e de Agronomia, e funciona, também, como laboratório.

Além de toda a pesquisa, a Fazenda Experimental de Iguatemi tem conquistado destaque significativo em publicações científicas ao implementar o uso da Terapia Fotodinâmica (TFD) e organogéis fitoterápicos, na segurança microbiológica de alimentos e no tratamento de doenças dos animais. Trata-se de um trabalho multidisciplinar envolvendo pesquisadores dos Departamentos de Zootecnia, Química e Física, que tem gerado excelentes resultados na aplicação de formulações inéditas, eficazes e com grande potencial de mercado.

E o que é a Terapia Fotodinâmica? A TFD é uma modalidade médica em expansão no Brasil. Sua eficácia tem sido cada vez mais reportada nos artigos científicos, o que motivou a sua implementação em muitas clínicas e hospitais restritos aos tratamentos de doenças de pele de natureza microbiana e lesões pré-cancerosas. 

O funcionamento da TFD é resultado da combinação de três fatores: “um fármaco fotossensibilizador, uma luz com comprimento de onda e dose adequados e oxigênio molecular. Essa associação que leva à formação de espécies reativas de oxigênio, chamada de EROS, e em especial o oxigênio singleto [¹O2], que é um poderoso agente oxidante altamente tóxico para as células cancerígenas e para micro-organismos em geral. Além da eficácia no tratamento, a TFD é uma terapia localizada, não invasiva, com toxicidade e efeitos colaterais mínimos para células sadias e não desenvolve efeitos de resistência nos micro-organismos”, detalha a pesquisadora do projeto, Katiele Silva Souza Campanholi, do Departamento de Química.

 Pesquisadoras Katieli S. S. Campanholi (Química) e Profª. Dra Magali S. Santos Pozza (Zootecnista)
Pesquisadoras Katieli S. S. Campanholi e Profª. Dra Magali S. Santos Pozza

Na prática, o Projeto Natugel conta, ainda, com a colaboração dos professores pesquisadores Wilker Caetano e Renato Gonçalves Sonchini, do Departamento de Química; Leandro Dalcin Castilha e  Henrique Leal Perez, do Departamento de Zootecnia; e Leandro Herculano e Luiz Carlos Malacarne, do Departamento de Física. Outros colaboradores são os profissionais em fase final do curso de doutorado: Katieli Campanholi (química pesquisadora), Ranulfo Combuca da Silva Junior (químico pesquisador) e Bruna Barnei Saraiva (zootecnista pesquisadora).  Todos os trabalhos são gerenciados pela professora do Departamento de Zootecnia, Magali Soares dos Santos Pozza, que é coordenadora do projeto.

A equipe planeja protocolos experimentais, desenvolve novas formulações e exerce o monitoramento das evoluções dos animais. Além disso, o grupo conta com quinze alunos de iniciação científica e de trabalhos de conclusão de curso, alunos de mestrado, além de toda a equipe de apoio do FEI (funcionários de cada setor e administração), cuja missão é única: fazer o bem trazendo novas alternativas terapêuticas (de baixo custo e eficazes) ao mercado. Segundo Magali Pozza, “o trabalho tem mostrado um novo horizonte para a terapia de lesões e no tratamento e prevenção de mastite em animais”. 

Estudos de prevenção e tratamento da mastite realizados pela FEI (Divulgação)

Outros trabalhos que vêm sendo desenvolvidos na FEI 

A FEI ainda dispõe de vários rebanhos de animais. Para dar suporte às pesquisas com eles, na área de Zootecnia, a Fazenda possui uma fábrica de rações, em que os produtos são processados de acordo com as necessidades das pesquisas. Como isso funciona? Os professores e estudantes podem balancear a alimentação dos animais de acordo com as necessidades das pesquisas desenvolvidas. Este setor atende às áreas de suinocultura, bovinocultura de leite e de corte, caprinocultura, cunicultura, ovinocultura, cotornicultura, eqüinocultura, poedeiras e frango de corte.

A FEI também abriga um dos laboratórios de controle de qualidade de sementes da UEM, que desempenha atividades de ensino, pesquisa e extensão. A estrutura física do setor é constituída de uma casa de vegetação, na qual são desenvolvidos experimentos em vasos, em bandejas de produção de mudas, dois laboratórios de controle de qualidade, uma câmara com controle de temperatura e de umidade, um posto meteorológico para a coleta diária de dados climáticos, que são utilizados pelos acadêmicos de Pós-graduação em Agronomia, Zootecnia, e Genética e Melhoramento de Plantas, e áreas irrigadas para testes de emergência em solo. 

Cunicultura

Na Fazenda Experimental de Iguatemi também está localizado o setor de Cunicultura, destinado à criação de coelhos, do Departamento de Zootecnia da UEM, que funciona desde 1979, e atualmente é coordenado pelo professor Leandro Dalcin Castilha. Além do animal da produção de carne dessa espécie, os coelhos também são destinados ao desenvolvimento de medicamentos e vacinas, tanto para outros animais quanto para os humanos, a exemplo do soro contra a picada da aranha-marrom.

A partir de um convênio com entre a UEM, AGCO do Brasil e a CAMAGRIL, a FEI abriga o Centro de Treinamento da empresa Massey Ferguson, que vem ao encontro das necessidades dos cursos de Agronomia e Zootecnia, “dando condições aos alunos de graduação e pós-graduação de conhecerem o que há de mais moderno em máquinas e equipamentos agrícolas. Este centro também propicia cursos para técnicos da assistência autorizada da Massey Ferguson, vendedores deste segmento e para os produtores rurais”, acrescenta Pozza.

Centro de Visitantes

Além de tudo isso, a FEI também é aberta à comunidade. O Centro de Visitantes é um projeto viabilizado com recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), que considera a educação ambiental um processo pelo qual os indivíduos adquirem experiência do seu relacionamento com o meio ambiente e se tornam capazes de agir de forma individual e coletiva em sua proteção. Com esse objetivo, a Fazenda Experimental oferece à comunidade a possibilidade de conhecer suas ações e participar de uma caminhada às principais unidades de ensino e pesquisa.

O Centro de Visitantes possui um auditório para projeção de vídeos educativos e realização de palestras, espaço para exposições, escritório, banheiros, área para comercialização de produtos da FEI, um espaço para o desenvolvimento de atividades recreativas e educativas, um parque infantil, um quiosque para lanches, duas trilhas interpretativas na floresta e um pequeno mirante para visualizar as diversas atividades da propriedade. Conheça mais da FEI no vídeo abaixo:

Aliando tecnologia e pesquisa, a Fazenda Experimental de Iguatemi tem produzido muitos estudos e servido de campo para vários experimentos nas áreas de Agronomia e Zootecnia. “Além de acrescentar no processo de formação dos alunos da UEM, com muitos ensinamentos práticos, os resultados obtidos pela FEI têm a possibilidade de impactar muitas pessoas no Paraná, por se tratar de um estado movido pelo setor rural. E, mais uma vez, fica evidente a importância das pesquisas feitas dentro, e fora, da Universidade”, conclui a professora Magali Pozza.

O conteúdo desta página foi produzido por

Texto: Milena Massako Ito e Ana Paula Machado Velho
Roteiro e edição de vídeo: Ingrid Lívero
Arte: Any Caroliny Veronezi
Supervisão de Arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior


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