A corrupção além das eleições

Por que fiscalizar o poder público é tão importante?

Ao longo da nossa existência, nos deparamos com algumas verdades inabaláveis sobre a vida e o mundo que nos cerca. Essas verdades são capazes de consolidar um mesmo sentimento em toda sociedade. Uma delas, que é consenso geral, é que a corrupção é um mal do ser humano

No mundo antigo, a corrupção foi associada à ideia de decomposição, degeneração e estava ligada ao rompimento do ser biológico. Para Aristóteles, era típica do mundo sublunar – mundo imperfeito, onde vivem os homens e, como seres terrenos, todos estavam sujeitos à corrupção.

Com o tempo, esse conceito biológico vai migrando para o físico e social, nas várias camadas da vida individual e coletiva, e a corrupção, por fim, se torna vinculada à estrutura política. Isso se deu de forma muito forte no povo greco-romano e foi se consolidando até a Idade Média, quando a corrupção ganhou o caráter de degradação e de perturbação da ordem e se tornou diretamente relacionada com a política.

Talvez por isso, em ano eleitoral, esse tema acaba surgindo entre os assuntos mais debatidos. E não podia ser diferente aqui, nas páginas do Conexão Ciência. Tem até convidado especial: o estudioso da área política José Antonio Martins, professor do Centro de Ciências Humanas, Artes e Letras, da Universidade Estadual de Maringá (CCH/UEM), no Paraná.

Autor do livro “Corrupção” (2008), Martins define que esse fenômeno se apresenta como uma apropriação privada de bens públicos, mas que não está associada somente ao roubo do dinheiro. Se configura, também, quando o médico de um posto de saúde público seleciona quais pessoas vai atender ou não; ou quando um agente público beneficia uma pessoa em detrimento de outra.

Outro aspecto que muito se destaca quando procuramos compreender a palavra corrupção é o fato de a associarmos a apenas um indivíduo. Martins nos chama a atenção para o fato de que a corrupção se configura por ações de grupos de indivíduos, tratando-se de uma lógica de comportamento coletivo. Assim, para acabar com a corrupção, é preciso desestruturar esse processo de ação pública e coletiva, uma vez que, detectando apenas um dos indivíduos, ela não terá fim.

Além disso, é comum pensarmos que, em períodos de eleições, a corrupção na esfera política aumenta, mas, de acordo com Martins, é o contrário. “Em períodos de eleição, a população se volta para o campo político, as pessoas começam a prestar mais atenção e denunciam mais. Todas as denúncias de corrupção que vêm no período eleitoral, não foram cometidas no período eleitoral. Foram cometidas antes, quando a maioria da população está cuidando de suas coisas e não presta tanta atenção à vida política”, alerta o professor da UEM. 

É importante que estejamos a par dos acontecimentos nessa esfera da vida, mas é, também, de extrema importância que tenhamos conhecimento a respeito da participação política por parte da população. Quanto mais ela fica atenta ao campo político e fiscaliza o poder público, evita casos de corrupção.

Pensando nisso, a UEM conta com um programa de Educação Fiscal, que tem como principal objetivo conscientizar a população sobre corrupção e o uso correto dos impostos na sociedade. Um dos integrantes desse projeto é o comunicólogo da Rádio UEM, Marcelo Henrique Galdioli.

Marcelo Henrique Galdioli, participante do programa de Educação Fiscal da UEM (Arquivo pessoal)

Marcelo está no projeto desde o início. Para ele, a experiência é  enriquecedora e de muito aprendizado, porque os assuntos são tratados por meio de palestras e entrevistas, que contribuem para que as pessoas possam entender melhor sobre diversas questões. O grupo discute, especialmente,  a conscientização e o combate às ações corruptas, destacando, inclusive, a importância do pagamento correto dos impostos. 

“É uma experiência marcante, inovadora e, acima de tudo, transformadora, já que, a partir do momento que você se envolve com a educação fiscal, você sai dessa condição de indivíduo e se torna cidadão”, comenta Galdioli. O ato de se “tornar cidadão” começa, portanto, no momento em que a pessoa toma consciência do papel dela na sociedade, que contém regras de convivência de vida em grupo e de interesse coletivo, atuando na fiscalização do poder público e da aplicação do dinheiro dos impostos

Um dos recursos utilizados pelo programa para fazer essa conscientização, é o teatro. A peça “O Auto da Barca do Fisco”, encenada pela Trupe Arte, Ética e Cidadania, da Universidade, tem como principal finalidade representar, de forma lúdica, as ações de Educação Fiscal, facilitando seu entendimento.

Na peça, as pessoas são julgadas por um anjo de acordo com a conduta que tiveram em relação ao pagamento de impostos na Terra. Dependendo do veredicto, elas são conduzidas para a barca do céu ou do inferno. Confira a peça online:

Para Marcelo, as iniciativas desse projeto contribuem para a melhoria da sociedade a partir do momento em que a despertam para a participação no âmbito político, isto é, com o pensamento voltado à coletividade. Ele dá mais dicas sobre a importância da Educação Fiscal para a população no áudio abaixo: 

🎧 Marcelo Henrique Galdioli conta um pouco sobre a importância do programa de Educação Fiscal da UEM para o combate à corrupção

Dessa forma, o envolvimento das pessoas na política não deve ser feito apenas por uma questão de gosto, mas pela necessidade em fiscalizar e acompanhar as ações do poder público.

Quem nos ajuda a entender melhor esse envolvimento direto dos cidadãos na política é o professor José Antonio Martins:

“A pessoa não está na política somente porque gosta, mas tem que fazer por interesse, já que isso diz respeito às nossas vidas. Então, decisões como privatização ou não privatização, os preços dos combustíveis, o investimento do dinheiro proveniente dos impostos e muitas outras decisões devem ser observadas pela população, porque elas nos tocam de algum modo e fazem parte do nosso cotidiano”, finaliza Martins. 

O conteúdo desta página foi produzido por

Texto: Isadora Hamamoto, Thamiris Saito, Valéria Quaglio e Beatriz Kruse
Degravação da entrevista: Isadora Hamamoto, Thamiris Saito e Valéria Quaglio
Edição de áudio: Valéria Quaglio
Supervisão: Ana Paula Machado Velho
Arte: Any Caroliny Veronezi
Supervisão de Arte: Tiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior


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