É pic, é pic: Parque do Ingá faz 50 anos

O que a ciência vem fazendo para manter saudável o símbolo mais famoso da cidade de Maringá, no Paraná?

Quando eu cheguei por aqui logo fui informada que Maringá era uma cidade planejada. Quer dizer, sua fundação foi fruto da aplicação de um monte de informações científicas ligadas ao urbanismo e ao meio ambiente. Era a Cidade Canção, mas também a Cidade Verde. E eu, vinda do litoral, logo fiz uma relação deste último título com o Parque do Ingá.

Esse espaço foi, por um tempo, uma benção para quem tinha um filho pequeno que vivia jogando futebol, solto, na areia da praia. Chegando por aqui… Onde gastar as energias? No Parque do Ingá, onde tinha também algo que ele sempre amou: bichos. Naquela época tinha um pequeno zoológico na reserva verde, que foi muito visitado pelo carioca recém-chegado à cidade. 

É essa imagem inicial que fica na lembrança da família. Mudamos para uma cidade, a qual a localização, o desenho e diversos componentes do território que ocupa foram determinados para que ela pudesse ser chamada de Cidade Verde, ou Cidade Jardim. Nessa história, um dos elementos do planejamento ganhou destaque, o Parque do Ingá. Ele completa 50 anos, neste dia 15 de outubro, e há 25 alegra a família migrante que usa a reserva para ter contato com a natureza e fazer exercício físico.

A gente sabe, porém, que manter esse lugar em boas condições não é fácil. Precisa de muita ciência, muito estudo, muita informação. Aliás, é bom marcar que a própria data do aniversário que estamos comemorando mereceu pesquisa para ser determinada. Em princípio, a comemoração era no dia 10 de outubro. Uma lei de 2008 instituiu nova data: 13 de outubro. No dia 26 de agosto deste ano, um projeto de lei determinou o dia 15 de outubro. A autora da proposta, a professora Ana Lúcia Rodrigues, disse que esta é a data de criação do parque, assim é a mais adequada para que se comemore o aniversário.

🎧 Vereadora explica a definição da data do aniversário do Parque

Como a lei foi aprovada por unanimidade, na Câmara Municipal, o Conexão Ciência vai respeitar, até para não criar uma polêmica grande em torno desta reserva. Afinal, ela vem sofrendo com alguns problemas sérios, como a estiagem que reduziu o volume de água do lago que ela abriga, de maneira assustadora.

O Lago do Parque no Ingá (Heitor Marcon)
O lago do parque em dois momentos

Porém, antes de falar sobre os desafios, é preciso contar a história do parque. Voltemos, então, à formação de Maringá. A região do município paranaense foi colonizada pela Companhia Melhoramentos do Norte do Paraná, por volta de 1943. Maringá teve sua localização privilegiada, especialmente pela topografia, com relevo suave e vários cursos d’água. Por isso, o planejamento obedeceu rigorosamente à legislação de proteção de mananciais, em vigor na época.

Neste grande território, foram demarcadas 19 reservas florestais e parques, totalizando uma área verde de aproximadamente 156 hectares. Foi o urbanista Jorge de Macedo Vieira, autor do projeto urbanístico de Maringá, que estabeleceu, entre outras áreas verdes, o Parque do Ingá (Bosque 1), para mostrar às futuras gerações o tipo de vegetação que ocorria na região. Isso sem contar as criação de praças e uma grande preocupação em arborizar as ruas da cidade, onde, hoje, estão distribuídas cerca de com 123.468 árvores, em 132 diferentes espécies.

Estrutura

O parque do Ingá possui uma área de 473.300 m2 de extensão de com cobertura remanescente da Mata Atlântica e está situado na área central da cidade de Maringá. O Córrego Moscados, que tem sua nascente no interior do parque, foi represado, formando um lago que ocupa cerca de 1/5 da área. 

Declarado como Área de Proteção Permanente, em 1991, em janeiro de 2017, a área foi definida como uma Unidade de Conservação na categoria de Área de Relevante Interesse Ecológico, depois da sanção pelo prefeito Ulisses Maia, por meio da lei 10.353, de autoria do vereador Humberto Henrique.

O Lago do Parque no Ingá (Heitor Marcon)
O Lago do Parque no Ingá (Heitor Marcon)

A estrutura foi organizada como área de preservação que se destinada ao lazer. Além do lago, o parque já contou até com um zoológico, como dito no início do texto. Atualmente, oferece à população várias atividades de entretenimento, ou melhor, oferecia até a suspensão desses serviços por causa da pandemia da Covid-19.

Normalmente, quem visita o parque pode andar de pedalinho, apreciar um Jardim Japonês, rezar na gruta de Nossa Senhora Aparecida, comer algo na lanchonete e, recentemente, ganhou o privilégio de comprar souvenirs na lojinha da área de entretenimento.

Há, ainda, uma pista para caminhada, playground, abrigos, e uma locomotiva em exposição, sem contar com um pequeno museu e instalações especiais como a Associação de Defesa e Educação Ambiental de Maringá (Adeam) e Administração Central do Parque. 

A área foi declarada de preservação permanente em 1990, pelo artigo 174, da Lei Orgânica do Município. Para o atual prefeito de Maringá, Ulisses Maia, o Parque é parte da memória da cidade e pulmão da cidade. Veja no vídeo!

O Prefeito Ulisses Maia fala sobre o que representa o Parque

O artigo “Percepção ambiental dos frequentadores de parques urbanos na cidade de Maringá, região sul do Brasil”, mostra que essas áreas são essenciais na melhoria da qualidade de vida da população das cidades. O artigo, produzido por pesquisadores da UEM e da UniCesumar, Luiz Felipe Machado Velho, Felipe Rafael Oliveira e Silvio Alexandre Santos (além da jornalista que redige essa reportagem) buscou compreender a percepção dos cidadãos sobre a importância de parques urbanos e os aspectos ambientais que envolvem a relação deles com as áreas verdes. 

O grupo fez a pesquisa no Parque do Ingá e no Parque Municipal Alfredo Werner Nyffeler, ambos amplamente frequentados pela população maringaense e da região. Foi aplicado um questionário, que abrangiam questões referentes ao perfil do usuário, percepção ambiental e sobre a estrutura dos parques. Foram entrevistadas 212 pessoas, sendo 106 em cada parque. O sentimento de bem-estar, assim como os benefícios relacionados à saúde física e mental e o contato com a natureza foram os atributos mais altamente valorizados. 

“Pode-se constatar que essas áreas verdes tornam o ambiente urbano mais agradável e exercem um papel fundamental na melhoria da qualidade de vida do público pesquisado. As pessoas vão aos parques passear com a família, fazer atividade física e ter contato com a natureza. Essa percepção subjetiva desenvolvida nos visitantes de áreas verdes em centros urbanos evidencia a importância do desenvolvimento de políticas públicas direcionadas à implantação, conservação e gestão de parques urbanos, com aspectos fundamentais para a melhoria da sustentabilidade urbana”, disse o biólogo do Núcleo de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura (Nupélia), docente e pesquisador no Programa de Pós-graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais (PEA), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Luiz Felipe.

Qualidade de vida

Além da investigação feita em Maringá, há inúmeras pesquisas que apontam que a existência de áreas verdes nos centros urbanos está diretamente relacionada a altos níveis de qualidade de vida. Se uma cidade é arborizada, possui parques e praças, tem mais valor, mas essa é uma questão que requer conhecimento técnico-científico para ser resolvida. A ciência precisa ser empregada para que a população possa usufruir efetivamente destes benefícios.

 O professor Bruno de Angelis, da UEM (arquivo pessoal)

O professor do Centro de Ciências Agrárias, Bruno Luiz Domingos De Angelis, foi titular da disciplina Planejamento de Áreas Verdes. Ele alerta que são vários pontos que devem ser abordados dentro da técnica, entre os quais destaca a qualidade, a distribuição e a manutenção das áreas verdes.

De acordo com De Angelis, se não for levado em consideração o fator qualidade na implantação de áreas verdes, já se sai perdendo alguma coisa. Quantidade sem qualidade pode significar geração de problemas. O segundo ponto mais importante, a distribuição, tem a ver com a gestão democrática do poder público. 

“Não basta você ter essas áreas verdes concentradas nas áreas nobres da cidade, onde moram pessoas de um maior poder aquisitivo, ou então na área central da cidade; muito pelo contrário, tem que ter uma distribuição bastante heterogênea, que atinja, inclusive, aquelas regiões mais pobres da cidade, onde as pessoas não têm condições de possuir uma cota de um clube, não têm acesso ao cinema, ao teatro e ao shopping”, recomenda.

Ouvindo a população

 O planejamento de áreas verdes também deve pressupor a participação popular, principalmente dos moradores que serão mais diretamente beneficiados. De Angelis afirma que é comum o engenheiro ou arquiteto desenvolver um projeto de revitalização ou mesmo de implantação de uma praça ou parque sem ouvir a quem vai fazer uso, o que é um erro. 

A manutenção é outro problema grave. Os bosques de Maringá precisam de atenção urgente. No Parque do Ingá, por exemplo, já foram registradas enormes erosões por causa do excesso de água das chuvas, coletadas por galerias pluviais canalizadas para dentro da floresta. Com a água são transportados lixo e produtos químicos poluentes, comprometendo, também, a qualidade da água do lago.

E mais: o excesso de água despejada nos parques, em dias de chuva, contrasta com a falta do mesmo líquido para manter o nível do lago do Parque do Ingá em tempos de estiagem. Com ruas pavimentadas, calçadas e terrenos também impermeabilizados, o lençol freático que abastece o lago tem uma vazão cada vez menor. 

A Prefeitura de Maringá informou ao C², que a manutenção do Parque do Ingá é realizada por servidores operacionais, dedicados todos os dias da semana nos serviços de cuidado da estrutura. São ao menos três secretarias envolvidas neste trabalho, a de Meio Ambiente e Bem-Estar Animal e Limpeza Urbana fazem o trabalho cotidiano de limpeza, análise e cuidado da fauna e flora local e outras demandas diárias. A Secretaria de Infraestrutura, por sua vez, age em ações maiores e que demandam operacional mais complexo, de acordo com a necessidade interna. 

Mas, não se engane. Para dar conta disso tudo, é preciso muita ciência. Veja o que a Universidade Estadual de Maringá fez e vem fazendo pelo Parque mais querido da cidade, nas outras matérias desta edição especial.

O conteúdo desta página foi produzido por

Texto: Ana Paula Machado Velho
Edição de áudio: Ana Paula Machado Velho
Roteiro de vídeo: Prefeitura de Maringá
Edição de vídeo: Thamiris Saito
Supervisão: Ana Paula Machado Velho
Arte: Murilo Mokwa
Supervisão de Arte: Thiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:


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