Verde é vida: um oásis no meio do espaço urbano

Parques e praças são ferramentas de saúde mental, física e ambiental

A ciência explica e, por isso, as cidades, desde sempre, incorporam resquícios da natureza como forma de garantir a qualidade da paisagem, do ambiente e lazer para a população. Em outras palavras, os espaços livres públicos têm papel fundamental na organização da cidade e pesam na hora da gente avaliar se um município é “saudável” ou não. 

O aniversariante do mês, na cidade de Maringá, Paraná, vem nos lembrar sobre a importância de se discutir o papel dessas áreas para os cidadãos e para o ambiente. Na verdade, Maringá se apresenta como um cenário propício para se estudar as questões do planejamento da paisagem, porque é uma cidade projetada na década de 1940 com inspiração nas cidades-jardim inglesas.

O planejamento, projeto e implementação desses espaços são tão importantes que acabam contribuindo com a identificação das pessoas com a cidade. Deste modo, o projeto da cidade, e, consequentemente, dos espaços públicos, deve levar em consideração os aspectos ambientais e sociais.

O ambiente agradece

A presença das áreas com vegetação exerce influência direta no clima das cidades: na temperatura e na umidade, pela evaporação e transpiração das plantas e pelo sombreamento. O verde ainda funciona como barreira natural contra os ventos intensos ou fontes de resfriamento das correntes de ar e faz o controle da água da chuva, diminuindo os impactos das águas pluviais.  

“A qualidade do ar está fortemente ligada à existência de maciços arbóreos e mesmo a arborização das vias contribui para uma tentativa de equilíbrio na produção do dióxido de carbono. Inclui-se, ainda, entre as contribuições advindas da vegetação na cidade, a questão da permeabilidade do solo, fundamental para o abastecimento dos lençóis de água subterrânea e a contribuição negativa na captação da água pluvial de superfície”, registra o texto “A natureza no cotidiano urbano de Maringá – o projeto da paisagem na cidade”, dos professores da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Karin Schwabe Meneguetti, Renato Leão Rego e Paulo Renato Mesquita Pellegrino. 

O professor Bruno De Angelis, também da Universidade Estadual de Maringá, lembra, ainda, que essas de vegetação arbórea, praças, jardins e parques devem servir a toda população para os anseios de lazer. Na verdade, devem satisfazer três objetivos: ecológico-ambiental; estético; e de lazer. “Ecológico-ambiental em relação à manutenção do microclima local, abafamento de ruídos, controle de erosão, melhoria da qualidade do ar e proteção de mananciais. Em relação aos efeitos estéticos, são visíveis na modificação do ambiente urbano, tornando-os mais agradáveis às vistas das pessoas”, destaca o docente da UEM. 

Além disso, as áreas verdes nas cidades são muito importantes, porque permitem a preservação de uma parte da paisagem natural garantindo a manutenção do valor estético, como também facilitam o contato direto entre indivíduos e o meio ambiente natural.

Equipamentos de lazer e turismo

Além de tornarem as cidades mais agradáveis visualmente, os parques estão na base das discussões dos equipamentos urbanos quando se fala em lazer. Pesquisadores registram que essas áreas propiciam a prática de exercícios, socialização e contemplação. A maior parte das pesquisas em relação a esses espaços mostra que os parques somente atingem sua função se a população se apropriar deles de forma efetiva; sem o envolvimento da população estes espaços tendem a ser desprezados e acabam marginalizados.

Esse envolvimento da população com as áreas verdes fazem parte de uma área de estudo chamada de percepção ambiental. O termo percepção, derivado do latim perception, é definido na maioria dos dicionários da língua portuguesa como o ato ou efeito de perceber. É a combinação dos sentidos no reconhecimento de um objeto.

Este objeto de estudo mobiliza diferentes áreas do conhecimento, que buscam entender os fatores e processos que levam as pessoas a terem determinadas opiniões sobre o meio no qual estão inseridas.

Prova são os achados do trabalho “Avaliação da Qualidade Paisagística para o Uso Turístico do Parque do Ingá, Maringá (PR)”, de 2016, que entrevistou 191 pessoas com o objetivo de compreender qual a percepção dos frequentadores do Parque do Ingá enquanto ferramenta de lazer.

Os questionários foram aplicados no sábado e domingo, porque são os dias em que há um maior número de frequentadores no Parque, já que as ruas do entorno dele ficam interditadas aos carros. O texto mostra que o Parque do Ingá é frequentado por usuários de diversas localidades da cidade de Maringá, bem como por moradores de outros municípios. Em geral, é utilizado para a prática de exercícios físicos e para lazer como a família.

Na verdade, as respostas mostraram uma “grande satisfação” por parte dos usuários pela natureza que o parque apresenta, sendo destacada a presença do lago e da arborização. Mas as pessoas apontaram algumas limitações ligadas, principalmente, à infraestrutura, sugerindo melhorias no Parque do Ingá, em geral, na manutenção dos espaços, no combate à poluição e na melhoria da iluminação.

“No aspecto positivo, embora boa parte dos entrevistados utilizasse o parque para a prática de esporte, quando questionados sobre o que destacaria de mais interessante na reserva apontaram elementos ligados à natureza e não à infraestrutura. Desta forma, fica claro que os usuários veem no Parque do Ingá uma oportunidade de contato com a natureza como um lugar agradável para se frequentar. Assim, os parques urbanos, no contexto atual, não são apenas áreas de conservação e lazer para a população, mas uma ambiente de resgate do convívio com ambiente natural”, destacou o professor De Angelis.

Por fim, os pesquisadores apontam que esse detalhe de percepção ambiental pode, de alguma forma, se configurar como um aspecto de interesse econômico para os municípios, já que essas áreas ganham relevância turística. Em outras palavras, os parques podem viabilizar e incentivar a atividade, “pois dá certa identidade ao espaço urbano, constituindo-se uma ‘imagem’ a ser exibida e consumida como mercadoria, propiciada pela beleza cênica, tanto para quem passa na região do entorno, quanto para quem o adentra”. 

E quando se fala em beleza e identidade do Parque do Ingá, a resposta é quase unânime. A última pergunta do questionário foi: “se você tivesse que indicar o parque para um turista ou vizinho, o que você destacaria como algo mais interessante no Parque do Ingá?”. Os usuários responderam que destacariam como interessante o lago no interior do Parque. Quer saber mais sobre esse recurso hídrico famoso. Tá tudo aqui neste texto

GLOSSÁRIO

Cidade jardim

Este é o termo utilizado para definir um modelo de cidade concebido por Ebenezer Howard, no final do século XIX, consistindo em uma comunidade autônoma cercada por um cinturão verde num meio-termo entre campo e cidade.

O conteúdo desta página foi produzido por

Texto: Ana Paula Machado Velho
Edição de áudio: Ana Paula Machado Velho
Arte: Murilo Mokwa
Supervisão de Arte: Thiago Franklin Lucena
Edição Digital: Gutembergue Junior

A pesquisa que mencionamos contribui para os seguintes ODS:


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